Estes
males que afligem a população cada vez mais urbana, mais exposta a diversos
fatores de estresse e outros, exigem mais que um acompanhamento medicamentoso,
demandam cuidados especiais de
alimentação.
O
problema que costuma acompanhar o tratamento destas doenças em pessoas em
condições de vulnerabilidade social ou mesmo daquelas de baixa renda é o custo
desta dieta.
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Imagem: Natal do Rico e do Pobre - site: filosofiahoje.com |
Como está o corpo que suporta o medicamento?
A
alimentação e, mais ainda, a boa alimentação ganham especial importância nesta
época em que as doenças causadas pelo modo de vida urbano e moderno se proliferam.
Nosso viver atropelou o tempo, conforme o conheciam nossos pais e avós, mesmo
os urbanos. Café da manhã é um exercício de caminhada entre procurar a pasta,
as chaves, o retoque na maquiagem ou na gravata, verificar as condições de
segurança da casa. Almoço já não se almoça e o jantar em família, momento do
relaxamento necessário ao bom sono, é hora-extra forçada do planejamento para o
novo dia que já está ali.
Se desta forma é difícil manter uma dieta equilibrada, quando doenças surgem e o corpo passa a ser bombardeado com drogas medicinais, esse regime alimentar deixa de ser o sustento ao corpo para se tornar um importante aliado da doença.
Se desta forma é difícil manter uma dieta equilibrada, quando doenças surgem e o corpo passa a ser bombardeado com drogas medicinais, esse regime alimentar deixa de ser o sustento ao corpo para se tornar um importante aliado da doença.
Some-se a
isso a imensa parcela da população que não consegue manter qualquer educação
alimentar, nenhum alimentar. A grande parcela da população que não se alimenta,
apenas come o que lhe é possível, o que lhe cai nas mãos.
Imensa massa de brasileiros acorre todos os dias aos postos
de saúde, padecendo dos mais diversos males. Muitos dos atendimentos dizem
respeito a doenças como as diversas diabetes, hipertensão arterial, doenças do
sistema gástrico. Males que exigem mais que o tratamento medicamentoso, devendo
ser acompanhado de dietas alimentares mais ou menos rigorosas.
O brasileiro é reconhecidamente um povo que abusa no sal,
fundamental para a vida, mas um carrasco quando extrapola os níveis
recomendados, principalmente no caso da hipertensão arterial e doenças
relacionadas aos rins. Portanto, as dietas alimentares exigem, num primeiro
momento, a desintoxicação de todo este cloreto de sódio transformado em outros
tantos agentes químicos e, posteriormente uma alimentação balanceada. Este
auxílio e complementação de tratamento pede legumes e verduras das mais
diversas espécies, substituição de óleos por azeite, arroz comum por integral,
fibras, chás.
Se isto representa um aumento imediato de custos da cesta de
alimentos da classe média que abala suas finanças, pode-se inferir o quanto
isso destoa dos gastos de uma família de baixa-renda. Não afeta em nada suas
finanças, porque a dieta não é feita, é proibitiva, impossível.
Diversas
questões
Mesmo que alguns nutricionistas insistam na viabilidade
desta dieta por ela conter alimentos cultiváveis em hortas, portanto acessível
até à camada social mais desfavorecida, ou pobre – que me perdoem os
politicamente corretos –, a complexidade social somados ao custo de um canteiro
de múltiplas espécies desmentem essa ideia. Pesa, também, na desobediência da dieta o arraigado “modus” alimentar. O
próprio paciente diz não estar “alimentado” e imagina que daí sobrevenha uma
fraqueza, no seu entender, mais prejudicial do que a própria dieta.
Some-se a isso o fato que as famílias são constituídas por
mais que a pessoa afetada pelo mal, exigindo,
portanto, que a alimentação específica da dieta seja feita à parte de
outra, que sirva a família. E novamente entram em cena os conselhos dos
nutricionistas para que todas as pessoas obedeçam à mesma dieta como forma de
manterem-se, também saudáveis todas elas. Mas, em que pese a razão destes
profissionais, seria alterar padrões alimentares de todo um povo, semelhante a
um maestro querer substituir de uma só vez e totalmente o padrão musical
popular pelo clássico
A obesidade já é considerada uma epidemia e, sabidamente é a
doença que necessita de uma dieta alimentar rígida para seu tratamento. O
Brasil, mesmo não sendo o país com o maior consumo de carne vermelha per
capita, é um dos que pior utiliza desta fonte de proteínas em sua alimentação.
Em que pese o parco conhecimento econômico, questões de
oferta e procura, ainda acredito inexplicável o alto custo do pescado,
principalmente em nossa região. Senão, vejamos a diferença entre o valor pago
ao pescador e o preço pago pelo consumidor final. Outra, no caso do pecuarista,
existem os custos de terra, pasto, complementos alimentares, medicamentos,
tempo de engorda, impostos, embate com os frigoríficos etc. (se bem que eles
sejam também responsáveis pelo assoreamento dos rios que reduzem a reprodução
dos peixes). Bem, quais os motivos que equiparam o preço das carnes de peixes e
gado?
Retomando à obesidade, não é difícil imaginar o custo real
de um tratamento alimentar para todos aqueles que enfrentam esta doença. Mas é
certo que é impraticável o tratamento, bem como é impensável que tantos deixem
de lotar nossos postos de atendimento médico com sintomas que provêm do
sobrepeso e demais males desta doença.
Que se
preze a saúde
Em nosso imenso leque de amparos sociais proporcionados
pelos três níveis de governo, seria o momento de iniciar estudos que permitam
oferecer aos que padecem de doenças crônicas, ou que estejam acometidos de
males pontuais, e que necessitem da dieta alimentar, uma cesta de alimentos
balanceados, controlados por nutricionistas e acompanhados em seu uso por,
talvez, agentes de saúde.
Os ganhos econômicos, excetuando-se todo o desvio criminoso
que acompanha os projetos públicos, seriam sensíveis por quaisquer dos lados
que se aprecie a questão. A agricultura familiar ganharia um grande incentivo
de consumo caso os governos municipais decidam por adquirir destes, os produtos
a serem consumidos; as secretarias de saúde seriam as grandes beneficiadas com
a redução do número de atendimentos médicos, pois que muitas das consultas
derivam de outros males causados pelo tratamento incompleto e incorreto das
doenças crônicas, e com a consequente redução da quantidade de medicamentos
distribuídos pelas farmácias públicas. Também seria beneficiada a economia
privada com a redução de faltas ao trabalho e maior disposição para o trabalho
que advém da qualidade de vida. É uma questão a pensar.
Até lá, a dieta rica em fibras, balanceada em termos de
proteínas, carboidratos, sais minerais passarão longe das toscas mesas do
pobre, que continuarão acumulando doenças, dores, males e sobrelotando o
sistema público de saúde que sempre foi e continuará mal gerido. O melhor
remédio ainda é a alimentação sadia, quando existe alimentação, quando o
alimento está presente em todas as mesas. Até lá, a doença que fará mais
vítimas é a indigência social a que grande parte de nossa população está
fadada.