
A avaliação do governo da
presidente Dilma Rousseff, antes de causar inveja a políticos de mamando a
caducando, desmoronou. Restou um monturo de escombros, 31,3% de aprovação,
segundo pesquisa CNT/MDA divulgada na terça-feira (16). O levantamento foi
realizado entre os dias 7 e 10 de julho, quando as manifestações que varreram o
país já haviam esfriado.
Alguns erros explicam – ou tentam
explicar – essa avaliação. Dilma não tem o DNA petista que transforma o feio em
belo, o mensaleiro em injustiçado, o corrupto em abnegado senhor das lutas
pró-minorias, através de um discurso bem articulado. Dilma é uma mulher de
gabinete, nunca uma líder, mas uma chefa que só pode comandar os sabidamente
inferiores. Não convive com os iguais, se impõe. Se ouve, não assimila.
Tentou governar com a escória
política parasitando a uns tantos e poucos políticos de práticas sérias, mas
sem o viés do ex-presidente, não soube lhes dar além das benesses financeiras,
o carinho, a proximidade do poder. Conta com a obediência impingida pelo terror
de seus destemperos, mas não com o apoio (e digo apoio, porque estes políticos não
conhecem respeito). Dilma não é Lula, que soube dividir verbas: mais para os
mais poderosos, aqueles que pesam a mão no parlamento; menos para
aproveitadores do parlamento; a esmola para seus eleitores.
Dilma não percebeu que o PT se
afastou do povo, que não anda de ônibus, que vai de Land Rover. Ofereceram
brioches para uma população faminta de pão, mas não saciaram sua fome por não
haver pão e, menos ainda, brioches. Não souberam ler que a revolta consistente
e salutarmente apartidária colocava em xeque décadas de uma maneira política de
agir, que já não cabe. E esta repulsa pela política minúscula, tal qual é praticada,
abrange, também, os dez anos de governo petista.
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Dilma chefia, mas não lidera |
E quem não sabe e nunca soube
ouvir a população, apelou para sua equipe mais próxima, que recitou a mesma
cartilha carcomida de um marketing político fincado em promessas, projetos e
depoimentos falsos. E da Luz fez-se os pactos em favor do Brasil, que se somou
aos projetos não cumpridos de transposição do Rio São Francisco; Ferronorte;
Minha Casa, Minha Vida; Mobilidade Urbana; Infraestrutura.
E a presidenta faz discurso e
reuniões, por fim defendendo a realização de um plebiscito “para que a
população decida sobre a necessidade de uma reforma política”. Ei, atenção, a
questão chave das manifestações é uma alteração na política, em sua forma, em sua
concepção. Quer que desenhe?
Os políticos foram eleitos
“representantes” de seus eleitores e os eleitores querem que os seus escolhidos
(à força, numa democracia em que a participação popular é uma obrigação e não
um direito) representem seus anseios. Mudar as regras da política, nesse momento,
é a principal vontade e cabe a eles discutirem com seriedade os projetos que
dormem modorrentos nas gavetas do legislativo por anos a fio. Parlamentares,
cheguem a uma reforma que contemple aos eleitores, à população, não a este ou
aquele partido.
O reiterado uso do termo “meu
governo”, na fala da presidenta, a coloca diretamente no cerne das questões
postas nas ruas: “Não queremos um governo que seja seu, ou de outro. Exigimos
um governo “do povo, com o povo e para o povo”. Se você diz, presidenta Dilma,
“quero repetir principalmente que meu governo está ouvindo as vozes
democráticas” (grifo meu) é porque não faz parte deste universo democrático que
reivindica. Aprenda a agir e dizer “esse governo”, por que é transitório.
Questões
pontuais
No quesito educação pública,
afirma que “Meu governo (novamente o dela) tem lutado para que 100% dos
royalties do petróleo e 50% do pré-sal sejam investidos na Educação”.
Investidos como, presidenta? Faltam recursos para a educação, mas o nó górdio é
como é feito o investimento em educação? Os professores são mal pagos, as
escolas estão, em geral, sem condições de abrigar e educar nossos jovens, os
profissionais não são contemplados com cursos de reciclagem e aprimoramento. Os
investimentos, quando chegam ao seu principal destino, têm servido para
satisfazer estatísticas. O ensino privado sem qualidade tem sido salvo da
bancarrota através da inserção de estudantes oriundos de um segundo grau
capenga, eles também quase que analfabetos funcionais e entranhados nestes
cursos formadores de diplomados, não de profissionais; pagos com o dinheiro
público na forma de bolsas.
Mobilidade urbana é uma piada bem
contada. Mola mestra das grandes fortunas e com as empresas envolvidas como
reais mandatárias de grande parte dos executivos municipais, estaduais e de
parcela importante dos legislativos dos três níveis de governo. Não,
definitivamente não será resolvido com mais um Conselho Nacional, como nada tem
sido resolvido com 39 ministérios ou secretarias com status de. É mais um
órgão, que não será recebido pela presidenta ou pelos seus ministros diretos,
mas que abraçará com imensos carinho e verbas mais uns tantos aliados políticos
alugados.
A saúde, Dilma Rousseff, não
merece ser discutida neste espaço. Afinal, não nos faltam médicos assim como
não nos faltam doentes. As inúmeras denúncias de desvio de verbas nos mostram
claramente isso, há tempos. A saúde morre pela corrupção. A saúde morre por
movimentar imenso volume de verbas. A saúde morre por incompetência dos
diversos governos que se dizem “seus governos”, nunca, em tempo algum, um “governo
do povo”.
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Presidenta, prazer, eu sou um de seus ministros. |
Senhora presidenta, dona deste
governo, não tome isso como uma picuinha pessoal. Afinal acompanhamos aplausos
e vaias durante seu encontro com os prefeitos, senhores do poder municipal cuja
melhor definição se encontra em Dias Gomes: “uns safardanas”, com raríssimas
exceções. Mas até ai é impossível separar joio e trigo porque as verbas, ah, as
verbas, são distribuídas ao bel prazer da Federação. Não bastasse a inoperância
federal, temos legislativos apodrecidos quase em sua totalidade. Para fechar o
cerco, um judiciário também permeável à corrupção, que pouco consegue agir
dentro de sua independência porque não a entende.
Então, em nossa desesperança,
perguntamos: por que considerar crime hediondo a corrupção se os corruptos
jamais serão condenados? Por que acreditar que as mudanças serão implementadas
se nunca temos acesso ao real teor dos projetos em votação – quando chegam a
ser votados? Por que acreditar num executivo maior do que se pode administrar?
Por que acreditar em quem nunca se mostrou digno dos votos que receberam?
Numa coisa, Dilma, você acertou. O povo está nas ruas dizendo que quer que as
mudanças continuem [...] que quer mais cidadania [...] serviços públicos de
qualidade, querem representação política permeável [...] que o cidadão, e não o
poder econômico, esteja em primeiro lugar.
Por isso, presidenta Dilma
Rousseff, por não acreditar mais em seu governo, em seu pífio discurso, sua
gerência incompetente, sua popularidade forjada de discursos, promessas e
projetos vazios, por isso sua popularidade e aprovação caíram. Por ver seu
discurso ser desmentido pelo uso de jatinhos da FAB por seus ministros, pelos
desacertos e descaramento dos erros assumidos em desdém ao povo, pela sua
política econômica catastrófica, pelo desvio de recursos para outros países em
detrimento de nossas mais básicas necessidades, pela sangria de nossos cofres
para bancar arroubos megalomaníacos de quem compra um lugar na história... por
isso.
Um comentário:
Estranhamente, quase não vejo comentários em suas postagens, Dirceu. Apesar disso, quero parabenizá-lo pelas questões abordadas e pela clareza com a qual avalia e pontua assuntos políticos. Até onde tenho visto, é um dos poucos jornalistas que não têm compactuado ou mesmo tentado abafar o atual e estarrecedor quadro político de nosso país, com ênfase a Campo Grande e ao Estado de Mato Grosso do Sul. Afinal, nossa imprensa (salvo exceções) encontra-se compromissada com este ou aquele poder e isso a impede de levar informações à população de forma isenta. Vale tanto para proprietários de veículos quanto para alguns jornalistas, que podem ser encontrados quase que diariamente garimpando recursos junto às mais diversas instituições públicas. Claro que um veículo mantido exclusivamente pelo departamento comercial é quase uma utopia, mas sempre é possível realizar um trabalho útil à sociedade sem, necessariamente, obrigar-se a pedir bênçãos aos poderosos antes de cada publicação. A mordaça econômica é um dos maiores males do nosso jornalismo. Quando o poder econômico não impõe suas vontades, presenciamos ocorrências como a que recentemente atingiu o Midiamax.
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