Em entrevista ao jornalista Ginez Cesar, da TV Morena, o advogado
e jurista Alexandre Bastos, explica como funciona, na prática, uma Comissão
Processante:
Ginez: O que é uma
Comissão Processante?
Alexandre Bastos:
É um momento singular do Poder Legislativo. É um momento em que o poder
Legislativo, a Câmara Municipal, se torna um Tribunal. Ela vai efetivamente proceder
a um julgamento.
Ginez: Na prática,
isso pode acabar em cassação, por exemplo?
Alexandre Bastos: Esse
é o fundamento do dispositivo legal que permite que a Câmara faça isso. Então,
na verdade, a essência do poder investigatório ele exerce agora, levando ao
auge esse poder, inclusive podendo culminar com a cassação do mandato.
Ginez: Nós temos a
posição do prefeito Alcides Bernal, dizendo que vai recorrer à Justiça, contra
a criação da Comissão Processante. Isso também é possível do ponto de vista
legal?
Alexandre Bastos:
Todo cidadão tem o direito de recorrer à justiça. O que eu posso dizer é que a
matéria sobre a qual a Câmara vai fazer o julgamento agora, é uma matéria
exclusiva dela. E também para corrigir, a Câmara, na verdade, não vai processar
o prefeito por uma prática de crime, o objeto daquilo que eles vão investigar
agora é se ele cometeu, ou não, infrações político-administrativas.
Ginez: Na condução da
cidade?
Alexandre Bastos:
Exatamente. Com relação às suas atribuições no cargo de prefeito, o legislativo
pode apurar, ou não, se houve quebra dessa infração político-administrativa.
Ginez: Na prática,
você tem conhecimento de que alguma Comissão Processante serviu para afastar
algum governante em alguma situação?
Alexandre Bastos:
Outra curiosidade. A Comissão, em si, salvo melhor juízo, não afasta. Ela pode
chegar ao ponto da cassação. O afastamento pode vir por meio do Judiciário.
Acho que o grande exemplo que o Brasil tem, sobre Comissão Processante, sobre o
Legislativo julgar e cassar o mandato de alguém, é o do ex-presidente Fernando
Collor de Mello, que foi cassado justamente por uma comissão processante do
Congresso Nacional.
Ginez: O processo de
impeachment de Collor foi semelhante a um processo de ...
Alexandre Bastos:
É exatamente isso, porque o Poder Legislativo recebe o poder de julgar e
decidir, e efetivamente cassar, ou não, o mandato do governante.
Ginez: O prefeito tem
dito em várias declarações, que isso seria uma afronta porque ele foi eleito pela
maioria dos votos das pessoas, 270 mil e, no caso, a Câmara com 29
parlamentares decidiria se ele continuaria, ou não, no poder. Essa análise é
bem-vinda nesse momento?
Alexandre Bastos: Na
verdade, o que você tem agora é o equilíbrio do Estado, lacto sensu falando. Porque do jeito que povo concedeu voto para
que se gerenciasse a cidade, ele também elege o poder legislativo, uma Câmara
Municipal, e entrega para essa Câmara os poderes que o poder legislativo tem.
Dente esses poderes está o de processar o chefe do executivo. Então nós temos o
equilíbrio democrático e nada disso está fora das linhas do jogo. Tudo está
dentro do conforme.
Evidente que qualquer quebra de legalidade, por exemplo, com
relação ao direito de defesa, com relação à formação da própria comissão, tudo
isso pode se arguir no judiciário; a formalidade. O que não pode se levado ao
judiciário é dizer que a Câmara, ou poder legislativo, pode ou não proceder
assim. Essa competência é privativa, ela
é exclusiva da Câmara Municipal.
Ginez: Na prática,
como essa comissão, trabalha? Nós temos ai, simultaneamente, além da CPI da
Inadimplência, a CPI da Saúde e outros pontos sendo investigados por outros
órgãos públicos, eles levam em consideração todo esse apanhado de investigação
ou a comissão é mais direta e já avalia se vai ou não cassar? Como funciona?
Alexandre Bastos:
É importante. Ela é específica. Ela pode, até considerar essas outras coisas,
mas é como se agora o jogo está zerado; tudo vai começar agora. O investigado
tem todo o direito de defesa. É um processo, como todo processo regular. A
diferença, como eu disse no início, é que a Câmara se torna, nesse momento, em
Tribunal e os vereadores eles se tornam, se investem na qualidade de
julgadores.
Então, tudo o que se exige de um juiz, como a
imparcialidade, por exemplo, nesse momento se exige deles. Por mais que seja um
julgamento de natureza político-administrativa, e quando se fala política é
porque não é no âmbito do poder judiciário, mas nesse momento eles deixam de serem
legisladores e passam a serem julgadores. Então, tudo o que se exige de um
julgador, vai ser exigido agora, e toda a garantia de qualquer processado, ou
investigado, no caso o prefeito, ele tem. Tem que ser respeitado esse direito
de ampla defesa. Tudo isso vai acontecer: ampla defesa, inclusive sustentação oral
no momento do julgamento. Um quórum especial para aprovar esse relatório, ou
não... É um processo, como qualquer processo que ocorre no judiciário.
Ginez: Pensando na
administração da cidade, caso aconteça a cassação, quem assumiria?
Alexandre Bastos: É
o sucessor natural que no caso é o vice-prefeito.
Ginez: Tem um prazo
para esse trabalho ser concluído?
Alexandre Bastos: Tem.
O prazo é de noventa dias e dentro desses noventa dias isso deve ser concluído.
Caso contrário a comissão encerra, não há prorrogação. Pode até ser aberta nova
comissão, mas o prazo dessa é de noventa dias.
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