Até mesmo quando faz um
discurso sobre a realidade, no exato momento em que esta se manifesta e está
sob os olhares e análises de especialistas, o PT utiliza de um discurso
escamoteante para contemplar sua oposição interna. Sem analisar, agora, os
acertos e desacertos do leilão do pré-sal, vamos anotar algumas das falas.
A presidente Dilma Rousseff,
em discurso sobre o leilão afirmou que “85% da renda gerada pelo campo ficará
com a União ou com a Petrobras. Para as empresas parceiras, restará o lucro
compatível com o risco que correm.” Ainda segundo Dilma, e num outro
momento, “as empresas privadas parceiras também serão beneficiadas, pois, ao
produzir essa riqueza, vão obter lucros significativos, compatíveis com o risco
assumido e com os investimentos que estarão realizando no país. Não podia ser
diferente”.
O pronunciamento da presidente na TV foi gravado para
acalmar esses setores. O maior temor é o de que cole no governo o carimbo de
incoerência com bandeiras históricas do PT, mas força a realidade quando
procura afirmar que apenas 15% da renda gerada será partilhada entre as
empresas parceiras do consórcio. Reverte a lógica capitalista, insulta a
realidade.
O PT abandonou seu compromisso com o discurso ideológico. Bom por um
lado, porque não se pode pretender administrar um país, calcado em posições
ideológicas que avançam para a modernidade a passos de preguiça, ruim para o
país porque utiliza e faz crescer alguma ideologia retrógrada através de
discursos irreais.
No campo econômico, e fazendo um apanhado de opiniões das mais diversas,
também uma dicotomia. A maioria dos economistas vê como boa a parceria entre
Petrobrás e o consórcio de empresas multinacionais, e garante ser a única
fórmula capaz de romper a estagnação da produção. No entanto salientam a
péssima gestão da empresa nacional que se colocou num perigoso jogo político
que sucateou seu patrimônio em todos os aspectos, do social ao econômico.
Parece que a nova gestão, mais profissional e pragmática, saiu do discurso que
contemple grupos internos retrógrados.
Essa retomada de gestão teve repercussões no exterior que, por gerar
análises, controversas que sejam, despertam a atenção do mercado internacional,
atuando positivamente em termos de (re)valorização da Petrobrás. Nesse caso,
também, controversas as avaliações.
A revista alemã Der
Spiegel diz que o Brasil leiloou um "tesouro por uma pechincha". a
revista afirma que para extrair o petróleo da camada pré-sal haverá riscos
ambientais "enormes" para o mar, fauna e praias "em uma das mais
bonitas e populosas regiões litorâneas do Brasil", mas que "a
ganância por recursos naturais" foi maior.
Já o Wall Stret Journal diz que o país deu um passo rumo ao
patamar das grandes nações produtoras de petróleo.
Nossa parte
O grande e grave problema é o discurso direcionado ao
público interno do PT, como se a presidente Dilma governasse para um partido
político e não para a totalidade de seu povo, com sua parcela natural de
oposição. Para que tanto discurso vazio e irreal? Dizer que 85% da renda gerada pelo campo ficarão com a União é
provocar reação e risos.
Com muita propriedade, Jânio
de Freitas, em sua coluna na Folha de S. Paulo, sob o título “Sem coluna do
meio”, diz: “Hoje se sabe que o leilão de Libra foi decepcionante, com uma só
proposta, pela qual a Petrobras arcará com 40% dos R$ 15 bi de taxa para o
Estado e dos custos subsequentes, estando já muito endividada.
Hoje se sabe que o leilão de Libra foi
muito positivo, porque a proposta trouxe a surpresa das presenças de Shell e
Total, empresas privadas que avalizam e contribuem com suas experiências não
estatais, e a Petrobras conseguiu deter 40% do lucro da sociedade, além dos 41%
do lucro líquido a serem passados ao Estado.”
Pega
pela discurso
Mesmo que consiga acertar muito,
principalmente na gestão econômica – e há esperança dos economistas de uma
guinada no último ano de governo –, fica comprometido o esforço de reeleição se
Dilma mantiver um discurso para o palanque e ações opostas no comando do
governo.
Não é a primeira vez (e não é exclusividade
do PT) que discursos utilizados em campanha, como forma de cooptar corações e
mentes, são contrapostos durante o exercício do governo com outros
diametralmente opostos.
Só para lembrar, e que cada leitor faça
sua leitura, segue o vídeo de campanha que trata do leilão de privatização e antigo poster de campanha de Lula (vice Mercandante). Em
tempo, a privatização, para ser explicada, deixou de ser privatização no Novo
discurso de governo.
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