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sábado, 19 de outubro de 2013

Em 90 dias, o Resultado das Eleições 2012 em Campo Grande/MS

Vereadores Edil Albuquerque, Flávio César e Alceu Bueno
A capacidade de análise, e suportar pressões diversas, de Edil Albuquerque (PMDB), Flávio César (PTdoB) e Alceu Bueno (PSL), mais o julgamento e voto dos outros 26 vereadores, vai encerrar a apuração das eleições 2012.

Campo Grande conhecerá aquele que comandará os destinos da capital dos sul-mato-grossenses até dezembro de 2016.

Alcides Bernal ou Gilmar Olarte?



Golpe ou equilíbrio democrático? A culpa de cada um


Bernal só vencerá o “terceiro turno”
se retirar o biombo que encobre sua administração
Histórias contam que em caso de ameaça a ordem era disparar um tiro, de aviso, para o alto e se não bastasse o segundo seria disparado em direção ao agressor. Na realidade, na penumbra da noite, fazia-se o contrário do estabelecido. Não importa, para todos os efeitos os sons dos dois disparos ouvidos pelas testemunhas correspondiam às ordens dadas, e cumpridas. E tudo ficava dentro da legalidade. Assim está se desenhando um golpe, para todos os efeitos, legalmente democrático.

Alexandre Bastos
Foi preciso o jurista e advogado Alexandre Bastos, ao comentar em entrevista sobre os procedimentos da Câmara Municipal de Campo Grande, esclarecer a legalidade das ações, para que o senso comum de mero Golpe adquirisse a base jurídica das ações da oposição. Segundo Bastos: “o que você tem agora é o equilíbrio do Estado, lato sensu [em sentido amplo] falando. Porque do jeito que povo concedeu voto para que se gerenciasse a cidade, ele também elege o poder legislativo, uma Câmara Municipal, e entrega para essa Câmara os poderes que o poder legislativo tem. Dente esses poderes está o de processar o chefe do executivo. Então nós temos o equilíbrio democrático e nada disso está fora das linhas do jogo. Tudo está dentro do conforme.”

Que é uma das tentativas legais de retirar o comando de Bernal, ou "enquadrá-lo" a antigos esquemas, parece que é, mas  é legal.

Também precisa foi nossa matéria publicada ainda nos primeiros seis meses da gestão Bernal, e que veio a ser, de certa forma comprovada agora. Dizia: “Paira no ar uma campanha difamatória de baixo nível contra o prefeito Alcides Bernal, alimentada por opositores vorazes e desesperados face ao infortúnio do PMDB e seus coligados nas eleições de 2012.

É real que Alcides Bernal não tem cacoete democrático ou capacidade de negociação e convivência políticas, e deve urgentemente adquirir o hábito de conversar com apoiadores e oposição além de aprender e confiar em delegar funções aos seus auxiliares. (...)

Durante vinte anos o governo peemedebista (...) acumulou diversos erros administrativos e de gestão social. Os problemas não surgiram a partir da abertura das urnas que apontaram a vitória de Alcides Bernal (...). No entanto, as cobranças pelos problemas, em sua maioria herdados, partem daqueles que sempre encontraram justificativas para as falhas. Chega a ser patético o esforço da, agora oposição, em colocar empecilhos ao andamento da máquina pública. (...)

Vereadores, vocês aprovaram no apagar das luzes diversos contratos, muitos com validade de tantos anos que muitos de vocês não viverão para ver seu final. Quais foram suas motivações para, neste caso, agirem tão celeremente? Vocês cortaram o acesso do prefeito a verbas que sempre ofereceram em bandejas ao antigo gestor.”

E retomamos o chamamento em matéria de 6 de março: “Ninguém torce pelo pior, em se tratando de administração pública o pior sempre sobrecarrega as costas da população. Queremos que o prefeito Alcides Bernal acerte o pulso e inicie uma administração melhor possível. A se instalar a ingovernabilidade, todos seremos vítimas da desordem social e da impotência do não poder fazer por si. Ou Bernal assume o comando, reconhece seus erros e parte para um entendimento que lhe governabilidade ou corremos o sério risco de caos social com ele ou, o que é mais temeroso, com Gilmar Olarte.”

Premonição? Não, apenas a lógica pura.

Neste ponto, além da incapacidade como administrador, reside a culpa de Alcides Bernal. Lançou às águas o apoio do PSDB e a força dos votos conquistados por Reinaldo Azambuja. Não soube aproveitar a estrutura mais coesa e experiente dos partidos que lhe emprestaram apoio para o segundo turno, PT e PSDB. Escolheu mal parte de seu secretariado, por não ter quadros competentes a lhe acompanhar, por estar num partido incipiente e por não contar com profissionais de excelência no seu contexto político-social.

Bernal foi correto ao romper contratos que agraciavam partícipes de um esquema entranhado nos escaninhos da coisa pública, mas sua inconsistência e inexperiência não lhe permitiram perceber que após consagrada sua eleição deveria montar de imediato uma equipe de apoio para analisar contratos e estruturar o “Plano B” para o atendimento das necessidades imediatas e de forma legal e transparente. Surgiram do nada a Salute, a Jagaz e outras, trazendo suspeita ao seu discurso de moralidade.

Mas o Diabo não é como lhe pintam. Apesar dos desencontros causados pela sua inabilidade política, incapacidade gerencial e aspectos psicológicos estranhos, a Capital caminha serena e mais saudável.

Foi aterrorizador constatar o estado de total sucateamento da Saúde Pública deixado pela antiga gestão do prefeito Nelson Trad Filho, aquele que tudo aprovava na Câmara Municipal graças ao apoio incondicional e cego dos vereadores, muitos dos quais, hoje, demonstram um cuidado sem limites com os mesmos erros de gestão que eram praticados com o seu aval.

O equilíbrio democrático, o cuidado com a coisa pública vem de uma Casa de Leis que corre o risco de, cassado o prefeito Bernal, dar posse ao seu sucessor Gilmar Olarte, nas calçadas da Avenida Ricardo Brandão, pois está sendo despejada por falta de pagamento de aluguéis durante as gestões de Paulo Siufi (PMDB), primo do ex-prefeito e um dos maiores críticos do atual.

E quem são os membros da Comissão Processante? Edil Albuquerque (PMDB), vice-prefeito de Nelson Trad Filho e secretário da Sedesc (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Turismo e do Agronegócio), Flávio César (PTdoB), líder do ex-prefeito e Alceu Bueno (PSL) exercendo seu mandato sub judice pois foi cassado por compra de votos e recorreu da sentença, além de haver sido flagrado em gravações vendendo vagas em seu partido para candidatos do interior do estado.

Falta de base

Oito vereadores votaram a favor do prefeito e contra a instauração da Comissão Processante: Zeca, Alex e Ayrton (PT), Cazuza (PP), João Rocha (PSDB), Luiza Ribeiro (PPS), Carlão (PSB) e Gilmar Neri (PRB). Surpresas? Sim. Edson Shimabukuru (PTB), que retirou seu apoio na votação; Waldecy Chocolate (PP), até há pouco o vereador mais próximo do prefeito; Rose Modesto (PSDB); e, talvez, Juliana Zorzo (PSC).


Dos que compõem a base de apoio, os vereadores do PT, mesmo críticos e com ressalvas à atual administração, sabem bem o poder de pressão e articulação do grupo que comanda (ou comandava) a política nesse estado, sentiram na pele durante a gestão Zeca no governo. Cazuza é do mesmo partido do prefeito e preza a unidade do partido; o voto de Carlão foi em revolta contra a virulência dos ataques ao prefeito; Gilmar Neri é base de apoio e tem uma atuação, no mínimo, discreta; João Rocha foi contemplado de forma pessoal na administração e como tem certa no mínimo uma reprimenda do PSDB por isso, manteve-se firme; Luiza Ribeiro tem uma trajetória de fidelidade que lhe permite tecer críticas internas, apresentar soluções, mas sair em defesa do seu grupo.

Daqueles que causaram surpresa, Rose Modesto tenta se safar de sanções impostas pelo PSDB e, diferente de João Rocha dispensou uma postura mais ética em benefício do irmão, Rinaldo Modesto que será candidato à reeleição em 2014; Edson Shimabukuro vem de um partido ligado umbilicalmente ao governador André Puccinelli e com tempo de propaganda partidária suficiente para torna-lo valioso; Juliana Zorzo, novata e sob o fio afiado de ser suplente de um vereador guinado à secretário de uma pasta inexpressiva, portanto descartável se assim entender o governador; e Waldecy Chocolate que, esquecido e desvalorizado por Bernal, tem ouvido o canto da sereia (ou uivo dos lobos) e, em sua inocência, acredita que está sendo reconhecido por seus pares.

Mais forte ou mais preparado

De qualquer forma, a vitória foi do mais forte e mais preparado para a batalha. Os melhores generais, o exército mais coeso está armado desde há muito. O governador André Puccinelli detém as rédeas, ainda que lute pelo controle com o clã dos Trad. Não luta por si, não está sozinho, é a ponta de lança de um grupo poderoso que não vai largar o terreno conquistado sem derramar muito sangue.

Os que acreditaram em uma mudança, foram o eleitor, o próprio prefeito eleito e algumas forças de oposição. Bernal não entendeu que a união destes exércitos eram fundamentais, preferiu entender que eram tropas mercenárias dispostas a lhe trair a qualquer momento, e as rechaçou. Afastou a mídia e foi traído por alguns, repulsou aliados políticos, sequer sua base de apoio soube respeitar.

Caso se confirme o boato de que está sucumbindo à pressão e deve renunciar para concorrer ao governo como o grande injustiçado, retornando nos braços do povo e com poderes plenos, lembramos que este filme produzido anteriormente e com um mato-grossense teve um final infeliz para toda uma nação. As forças são fortes mas não são ocultas. Leve em conta dois conselhos, procure um psicólogo e leia “O Príncipe”, de Maquiavel.

Todos têm seu grau de culpa, mas o mais penalizado será o povo, que errou tentando acertar. Mostrou seu poder pelo voto, mudou e mudará novamente, mas não merece Gilmar Olarte agindo sob a batuta daqueles que foram derrotados e que poderão virar o jogo.

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