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Carlos Brickmann |
(*) Especial, Observatório da Imprensa,
Circo da Notícia, 22 de outubro/2013
Um grande jornalista, Humberto Werneck, um grande livro, uma fonte ideal
para copiar o título desta coluna. Os acontecimentos que se discutem abaixo só
podem ser avaliados como desatinos; jornalismo é que não são.
1 - Revistas de fofocas (e jornais que exploram o tema)
aproveitaram o Dia da Criança e destacaram "o corpão" que uma menina
de 13 anos, de biquíni, "exibia na piscina". São revistas de fofocas,
portais de fofocas, colunas de fofocas; mas certos valores não podem ser
esquecidos. Por exemplo, explorar em notas, reportagens e fotos o corpo em
formação de uma adolescente que sem dúvida é bonita, mas continua sendo uma
adolescente. Terá sido combinado com a garota, com a mãe, artista de fama, com
algum empresário artístico? Não muda nada: a quebra de decoro continua
existindo, mesmo com o consentimento da menor, mesmo com o consentimento da mãe
da menor, mesmo com apoio do empresário da mãe da menor, mesmo com o
consentimento do pai da menor ou de todos juntos. Tudo tem limite; e a
adolescência usada para despertar erotismo em adultos é absolutamente
inaceitável.
2 - É absolutamente inaceitável em matérias, é absolutamente inaceitável em anúncios. Uma loja de calçados do Ceará fotografou uma criança de três anos, só de calcinha, em poses que imitam imagens sensuais de publicidade. Colares, maquiagem adulta, pernas abertas, tudo sugerindo erotismo - e, repetindo, a garota tem três anos de idade. A mãe afirma que as fotos, todas com o mesmo tipo de apelo sensual infantil, foram feitas de graça, sem que ela nada recebesse. E diz que não entende a má repercussão do caso (a campanha foi retirada do ar, o anunciante pediu desculpas e jurou que as fotos tinham sido mal interpretadas, os anúncios foram levados ao Conar). "Não vi erotização no resultado", disse Mamãe. Já a coordenadora do Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia da Universidade Federal do Ceará, Inês Vitorina, diz que a campanha desrespeita as crianças. "A marca é para consumo de adultos e coloca a criança extremamente erotizada (...) em situação vexatória, de calcinha, se maquiando".
3 - Como todos sabem, é mentira que o homem tenha chegado à Lua: aquilo tudo é coisa de Hollywood, efeitos especiais, entende? Também não é verdade que o Japão tenha perdido a Segunda Guerra Mundial. Há duas correntes:
uma acha que a guerra continua (é cada vez mais minoritária, e há alguns anos
foi encontrado um de seus últimos representantes, escondido numa ilha do
Pacífico e pronto para lutar contra os Aliados); outra acha que o Japão venceu
a guerra e os americanos, que controlam a imprensa internacional - às vezes; a
imprensa internacional também é controlada pelos judeus e pelos sionistas, conforme
o caso - inventaram uma vitória inexistente, com a foto forjada da rendição do
imperador Hiroíto. Um grupo black bloc dessa corrente foi o Shindo-re-mei, que
andou matando japoneses e descendentes que, no Brasil, acreditaram na mentira
da vitória aliada na guerra (Corações Sujos, de Fernando Morais, é um
esplêndido livro sobre este tema).2 - É absolutamente inaceitável em matérias, é absolutamente inaceitável em anúncios. Uma loja de calçados do Ceará fotografou uma criança de três anos, só de calcinha, em poses que imitam imagens sensuais de publicidade. Colares, maquiagem adulta, pernas abertas, tudo sugerindo erotismo - e, repetindo, a garota tem três anos de idade. A mãe afirma que as fotos, todas com o mesmo tipo de apelo sensual infantil, foram feitas de graça, sem que ela nada recebesse. E diz que não entende a má repercussão do caso (a campanha foi retirada do ar, o anunciante pediu desculpas e jurou que as fotos tinham sido mal interpretadas, os anúncios foram levados ao Conar). "Não vi erotização no resultado", disse Mamãe. Já a coordenadora do Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia da Universidade Federal do Ceará, Inês Vitorina, diz que a campanha desrespeita as crianças. "A marca é para consumo de adultos e coloca a criança extremamente erotizada (...) em situação vexatória, de calcinha, se maquiando".
3 - Como todos sabem, é mentira que o homem tenha chegado à Lua: aquilo tudo é coisa de Hollywood, efeitos especiais, entende? Também não é verdade que o Japão tenha perdido a Segunda Guerra Mundial. Há duas correntes:
Malucos e maluquetes agora discutem se as Torres Gêmeas foram mesmo derrubadas pela Al Qaeda ou pelos próprios americanos. Detalhe: esta discussão se trava entre filiados à Abraji, entidade que reúne jornalistas investigativos. As proclamações da própria Al-Qaeda, comemorando a derrubada das Torres Gêmeas, não são levadas a sério: importantes mesmo são os depoimentos de jornalistas ocidentais que decidiram mudar-se para países muçulmanos por motivos ideológicos. Falta de notícia? Talvez. E, mais ainda, falta de bom senso.
Como diria um amigo do colunista, "ô, gente chata!"
4- Mas a falta de notícias também integra os desatinos da rapaziada. Este é um caso que se tornará clássico: um fotógrafo inglês notou que um casal, na praia de Eastbourne, com roupas de banho de estampa parecida. E criou o título Casal combina roupa ao tomar banho de sol na Inglaterra.
Até aí, vá lá. Mas dar a notícia na primeira página, com foto imensa? Os portais brasileiros de notícias certamente exageraram. Talvez nem houvesse tantas notícias assim, mas não precisavam ir tão longe.
5 - Chico Buarque expôs sua opinião sobre censura a biografias. Acredita este colunista que ele falou muita bobagem; e, concretamente, chegou a negar que tivesse sido entrevistado pelo biógrafo de Roberto Carlos, quando a entrevista tinha sido filmada, fotografada e gravada. OK; mas a reação contra Chico nos meios de comunicação - tanto em editoriais como em entrevistas e artigos - está sendo desmedida. Embora em posição difícil de explicar, Chico não está com as faculdades mentais alteradas pela idade, nem tem interesses escusos, nem deixou de ser um dos monumentos da música popular brasileira. Ele não mudou de um mês para cá - nem mesmo modificou sua posição política, já que sempre defendeu regimes em que a liberdade de expressão é restrita (e, por favor, não lhe peçam que tenha um apartamento em Havana, em vez de Paris. Chico tem suas preferências ideológicas, um inalienável direito seu, mas sabe o que é bom).
Que a posição de Francisco Buarque de Holanda no caso da censura às biografias seja discutida, contestada, desmontada, mas que se evite o patrulhamento. Crítica, sim; patrulha ideológica, não.
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