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Charge: Lézio Junior - S1 Notícias |
O PMDB talvez, e apenas talvez, seja o único partido a quem interessa o impeachment da presidente.
O
propalado, divulgado e exorbitado pedido de impeachment para a
presidente Dilma Rousseff (PT) é a exata tradução do “bicho
papão”, usado para atemorizar criancinhas penalizando-as em caso
de malfeitos, traquinagens ou aporrinhações não suportadas por
adultos. No caso Dilma, o bicho papão está sendo usado para
mantê-la acuada, desestabilizada, refém.
O
presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ainda que o
tenha feito em outro contexto, acertou ao dizer que o povo brasileiro
é conservador. A partir dessa assertiva é fácil quantificar o grau
de conservadorismo da Casa que comanda e do próprio Congresso, como
um todo. E os retrógrados têm por hábito criar temores e aventar
improváveis golpes contra o mundo.
Mas,
e o impeachment?
Em
caso de impedimento da presidente assumiria um PMDB meia-boca,
conivente e participativo de todos os esquemas de corrupção neste e
nos governos anteriores. Não seria definitivamente o bem, quando
muito, uma mal menor, hoje, porque no futuro, com certeza provocaria
um retrocesso maior em nossa claudicante democracia.
E
o modo de pensar desse eleitorado “conservador” é o seguinte:
“Se
mudar as estruturas, muda grande parte da máquina pública, de
ministros até os convocados ou nomeados. Isso gera custo e um
séquito de pessoas que pretendam se locupletar, desviando ainda mais
o dinheiro público, afinal, querem ganhar o que os outros já
ganharam, tirar sua parte no quinhão”.
Não
deixam de ter razão. Para quem observa a política brasileira que
vai além dos políticos, é comum observar que as marolas do mar de
lama são provocadas pelos que caminham ou se instalam no arredor do
político, aquele que ocupa os holofotes.
E
o impeachment beneficiaria um único partido e algumas agremiações
nanicas e negociáveis. Sequer para a oposição seria vantagem. Para
a democracia seria um desastre.
Impedida
a presidente Dilma, assumiria o posto seu vice, Michel Temer
(PMDB-SP) escudado pela comoção popular, que arrastaria consigo
pelo menos a grande massa de deputados do baixo-clero, menos
esclarecidos e mais adeptos do “tudo pelo voto e abaixo as
verdades”.
Michel
Temer teria, a princípio, um cheque em branco passado pelas
manifestações das ruas; seja sobre caminhões, automóveis,
tratores, motos, bicicletas, ou mesmo a pé; e todas as suas ações,
possível de retrocessos nos avanços conquistados a trancos e
barrancos. E para tudo teria uma explicação lógica e o benefício
da dúvida.
Para
as medidas econômicas duras, porém necessárias, o apoio de todos.
Pior do que uma derrota nas urnas, seria a satanização imposta ao
governo petista de Dilma. Eles destruíram com o apoio do voto que
vocês deram, agora teremos que reconstruir ainda que utilizando dos
excessos que nos permite a ciência econômica.
O
fato de o PMDB ser copartícipe de todos os escândalos, e caso se
comprovem nomes da alta cúpula partidária, seriam lançados como
boi de piranha para um bem maior: o poder.
E
não se pode negar que o PMDB possui em seus quadros pessoas
capacitadas para as mais diversas áreas, o suficiente até para
deixar o céu carregado e pintar nele um lindo arco-íris.
E
depois?
Mas
e o futuro da democracia? Quanto de atraso isso representaria no
caminhar por suas próprias pernas a nossa democracia que ainda
gatinha? Estas são as questões a se pensar quando se pretende
compor um samba do criolo doido, dando, por meio do impeachment, uma
característica de parlamentarismo para um regime presidencialista.
E
as eleições? Como se poderá julgar o trabalho de um grupo que veio
para determinado fim sem que isso indique que implique ou signifique
as mudanças que o país necessita. Buscando um pouco do expediente
apreciado pelo ex-presidente Lula, e partindo para um comparativo
elucidativo, é como buscar um técnico de futebol para uma equipe de
futebol em vias de rebaixamento e acreditar que este mesmo técnico
tenha condições de comandar o time para conquistar o campeonato
mundial interclubes.
Estamos
sendo levados a confundir alhos com bugalhos. Que os envolvidos
respondam à Justiça pelos seus erros, e que a Justiça consiga se
desvencilhar de quaisquer laços com os outros dois poderes.
Em
fevereiro, o jornal Britânico Financial Times listou 10 motivos para
o impeachment de Dilma, entre os quais a Petrobras, crise econômica,
problemas hídricos e de energia, desmantelamento das bases no
Congressos etc. No entanto, economista é radicalmente lógico,
diferente dos cientistas sociais que possuem uma visão mais
abrangente e descartam essa possibilidade. “Incompetência, por si
só, não é motivo para o impeachment”, diz acertadamente Peter
Hakim, presidente
emérito do instituto de análise política Inter-American Dialogue,
em Washington.
Oposição
Para
a oposição, o melhor cenário é com Dilma Rousseff no poder,
desgastando sua imagem e, mais importante que isso, desgastando a
imagem do PT. No momento, é vantagem para a oposição; e até para
o PMDB, se o partido não tivesse uma sede insaciável de estar no
poder ou perto dele; que Dilma tome as impopulares e difíceis
medidas de austeridade e seja responsabilizada por elas.
Some-se
a isso os erros na política externa, as perigosas parcerias com
pseudo-ditaduras esquerdistas do continente americano e das ditaduras
africanas, aos escândalos que se sucedem, as críticas generalizadas
até de antigos aliados, as benesses aos amigos com dinheiro do BNDES
etc., não há motivo para que se apague o holofote que ilumina e
destaca os erros do governo Dilma Rousseff (PT).