
Toda a população, por todo o tempo, estava consciente da
corrupção generalizada na política. Foi necessário que um juiz, nesse caso
específico o Sérgio Moro, desse prosseguimento às denúncias do Ministério
Público e um ministro – ainda não acidentado – do Supremo Tribunal Federal,
acatasse essas denúncias contra aquela pequena minoria que detém foro
privilegiado, para que a voz do povo ganhasse corpo e, se justiça houver, se
torne efetivamente na voz de Deus.
Foro privilegiado é concebível – ainda que discutível –
quando em períodos ditatoriais, quando qualquer denúncia vazia levada adiante
por amigos e apaniguados dos ditadores de plantão impedem o livre exercício das
ideias. Não é o caso, hoje, do Brasil.
Foi preciso que se divulgasse a fala de Marcelo Odebrecht, “não
conheço nenhum político que não tenha se elegido com caixa dois”, para que,
surpreendentemente, a população tivesse noção disso? A mesma população cuja
parcela considerável recebe, ela também, propina para definir seu voto. A
diferença é de valores. A corrupção pelo voto atinge de R$ 20 a R$ 200 por
cabeça; a corrupção dos eleitos vai muito, mas muito além.
Mas hipócrita é acreditar que o financiamento público de
campanha vai determinar o fim do caixa dois nas campanhas. O dinheiro – não contabilizado
– vai permanecer correndo solto, porque os negócios espúrios entre o público e
o privado também continuarão.
Apenas a penalização em forma de prisão dos envolvidos dará
início à mudança necessária de uma falsa democracia dominada pela máfia
política seja contida “em parte”.
Passamos a viver uma segunda fase da democracia, uma vez que
os eleitores, vítimas da ausência da “educação”, continuarão votando embasados
na corrupção que praticam e da qual são vítimas. Agora, terão que optar entre
os que se mantiverem aptos a exercer seus direitos políticos e, quiçá, livres
da prisão, o que reduz em muito o contingente de 513 deputados federais, 81
senadores, membros do executivo.
Fazer cara de espanto não cabe em qualquer brasileiro. O
povo sempre soube como se faz política por aqui, apenas não acreditava que
haveria um momento em que a Justiça passasse a exercer sua soberania
abandonando o chicote de compadrio dos outros poderes. Parece que a coisa “começa
lentamente” a mudar.
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