O
senador Delcídio do Amaral (PT), candidato certo e inquestionável ao governo do
estado de Mato Grosso do Sul nas eleições de 2014, de certa forma foi
beneficiado pela dengue que lhe colocou de molho, afastando-o de suas
atividades normais e permitindo-lhe um tempo precioso em conversas com os
botões de seu pijama. E não são poucos os dilemas com os quais se debate.
Não
bastassem os obstáculos reais de uma candidatura, somados àqueles criados pelos
adversários, Delcídio, por fina ironia do destino e por pertencer a um partido
dividido em facções que convivem em constante combate pelo comando da legenda,
tem seu maior desafio em conseguir obter, senão a totalidade, ao menos a
maioria dos votos da militância petista.
O
comando regional da legenda está em suas mãos, na gestão Marcus Garcia, porém
não representa – graças a um intrincado jogo de poderes onde uma quantidade
enorme de correntes forma um arco de cores que vai do
vermelho-final-de-tarde-de-outono ao vermelho intenso, que permite um comando
sem poder –, que sua candidatura possa contar com a maioria dos votos da militância.
Problemas, dos menores
O
Partido dos Trabalhadores é o maior, mas não o único empecilho em sua caminhada
ao Parque dos Poderes. O muro, local de pouso de tucanos de todos os matizes,
por mais baixo que seja deverá ser vencido.
Neste
caso, e ainda que pese o diferencial de o partido vir do comando forte de
Reinaldo Azambuja – que ficará sem cargo oficial – e passar para a autoridade
do deputado estadual Márcio Monteiro, vem com a forte intenção de conquistar o
governo ou fazer valer o peso que a legenda retomou nas eleições de 2012. Mas
para poder contar com este importante apoio – em especial no que representa de
votos na Capital, maior colégio eleitoral – tem que vencer não apenas a
oposição das correntes estaduais, também o ranço federal que mantém os partidos
em trincheiras opostas numa guerra sem tréguas.
Caminhar
por entre estas trincheiras e, ao mesmo tempo, desviar-se do fogo de
artilharia...
Some-se
a isso a candidatura peemedebista, seja ela representada pelo ex-prefeito de
Campo Grande, Nelson Trad Filho – e seus “mosqueteiros” Fábio Trad (irmão e
deputado federal), Marquinhos Trad (irmão e deputado estadual) e Otávio Trad
(sobrinho e vereador na Capital), tendo por Dartagnan, Henrique Mandetta, (primo,
deputado federal e nome mais forte do DEM) –; que traz para 2014, mais de 80%
de aprovação de seu governo na Capital; seja pela vice-governadora Simone
Tebet, nome ainda sem consistência suficiente para voo tão alto.
Nelsinho,
Simone ou qualquer outro nome que surja das mangas do governador André Puccinelli
– candidato ao Senado, que amargou uma derrota no momento exato, nas últimas
eleições para a prefeitura de Campo Grande, o que lhe permite pesar erros e lhe
dá dois anos para correção de rumos –, serão sempre os candidatos do mais forte
partido político de Mato Grosso do Sul.
André e Delcídio?
O
governador, estudioso aplicado de Maquiavel e outros pensadores da política e
do poder, parece não acertar a mão quando a questão é construir um candidato,
mas é fatal na desconstrução de imagens e sonhos. É sempre bom lembrar que
Puccinelli perdeu a indicação de seu tutelado em 2004, vencido pelo mesmo
Nelsinho Trad na convenção que o escolheu como candidato, em substituição ao
então prefeito André.
Em
2012, impôs a ferro e fogo o nome de Edson Giroto. O próprio partido, então,
lançou água fria na indicação, o que fez apagar o fogo e enferrujar o ferro.
Agora, depois do período necessário em que lambeu suas feridas em confortável,
providencial e paradisíaco ressort no interior de São Paulo, articula uma coligação
com Delcídio do Amaral.
Canalizaria
parcela significativa de seus votos ao candidato Delcídio – outra parcela
certamente iria para o candidato tucano ou que fosse apoiado por Reinaldo
Azambuja –, e receberia parcela dos votos petistas, além da benção da
candidatura Dilma/Michel Temer, que vêm de um governo bem avaliado pela população
e toda a máquina pública a seu favor.
A
questão ainda é vencer Nelsinho e seus mosqueteiros dentro do Partido. Em
último caso, trabalhar nas sombras contra o candidato peemedebista, durante a
campanha.
PT versus PT
Mais
um degrau que leva a glória: manter o comando regional do partido e anular as
forças do ex-governador Zeca do PT. Esse trabalho vem sendo desenvolvido, em
silêncio e paulatinamente. Prova disso é a recente declaração do deputado
estadual Pedro Kemp que intimou, ou insinuou uma chantagem de rompimento ao
apoio petista dado ao prefeito eleito, Alcides Bernal(PP). Se existe uma
bancada de vereadores, e se esta bancada tem um líder do naipe de Zeca do PT,
qual motivo leva um deputado estadual a ingerir nos negócios do legislativo
municipal?
De
toda e qualquer forma, não é de boa praxe bulir com a verborrágica metralhadora
de Zeca do PT, escolado nas lides sindicais e fã ardoroso de Lula e Chávez...
Aposta errada em Bernal
O
último e mais perigoso degrau para Delcídio, revela-se na péssima aposta feita
em Bernal. Para derrotar um partido, evitar seu fortalecimento, colocou-se em
risco a qualidade de vida de quase um milhão de cidadãos campo-grandenses. E, a
se manter a arrogante vaidade do alcaide, esse apoio será cobrado nas urnas.
Neste caso, o esforço pelos benefícios de uma dobradinha André/Delcídio
revelar-se-ia inútil. Os votos tenderiam a André/Nelsinho ou André/Reinaldo e
até André/Nulo.
Restam,
então, duas opções amargas: retirar o apoio formal ao prefeito da Capital
mantendo o trabalho em busca de verbas federais, ou falar grosso e enquadrar a
prima-dona do executivo.
A
dengue que acometeu o senador e as férias que restauraram as forças do
governador jogaram luz sobre esse intrincado jogo de xadrez. Das estratégias a
serem adotadas, apenas podemos supor. Delas sabem apenas os envolvidos e as
moscas das salas de reuniões e conchavos.
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