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segunda-feira, 11 de março de 2013

O Dilema de Delcídio


O senador Delcídio do Amaral (PT), candidato certo e inquestionável ao governo do estado de Mato Grosso do Sul nas eleições de 2014, de certa forma foi beneficiado pela dengue que lhe colocou de molho, afastando-o de suas atividades normais e permitindo-lhe um tempo precioso em conversas com os botões de seu pijama. E não são poucos os dilemas com os quais se debate.

Não bastassem os obstáculos reais de uma candidatura, somados àqueles criados pelos adversários, Delcídio, por fina ironia do destino e por pertencer a um partido dividido em facções que convivem em constante combate pelo comando da legenda, tem seu maior desafio em conseguir obter, senão a totalidade, ao menos a maioria dos votos da militância petista.

O comando regional da legenda está em suas mãos, na gestão Marcus Garcia, porém não representa – graças a um intrincado jogo de poderes onde uma quantidade enorme de correntes forma um arco de cores que vai do vermelho-final-de-tarde-de-outono ao vermelho intenso, que permite um comando sem poder –, que sua candidatura possa contar com a maioria dos votos da militância.

Problemas, dos menores

O Partido dos Trabalhadores é o maior, mas não o único empecilho em sua caminhada ao Parque dos Poderes. O muro, local de pouso de tucanos de todos os matizes, por mais baixo que seja deverá ser vencido.

Neste caso, e ainda que pese o diferencial de o partido vir do comando forte de Reinaldo Azambuja – que ficará sem cargo oficial – e passar para a autoridade do deputado estadual Márcio Monteiro, vem com a forte intenção de conquistar o governo ou fazer valer o peso que a legenda retomou nas eleições de 2012. Mas para poder contar com este importante apoio – em especial no que representa de votos na Capital, maior colégio eleitoral – tem que vencer não apenas a oposição das correntes estaduais, também o ranço federal que mantém os partidos em trincheiras opostas numa guerra sem tréguas.

Caminhar por entre estas trincheiras e, ao mesmo tempo, desviar-se do fogo de artilharia...

Some-se a isso a candidatura peemedebista, seja ela representada pelo ex-prefeito de Campo Grande, Nelson Trad Filho – e seus “mosqueteiros” Fábio Trad (irmão e deputado federal), Marquinhos Trad (irmão e deputado estadual) e Otávio Trad (sobrinho e vereador na Capital), tendo por Dartagnan, Henrique Mandetta, (primo, deputado federal e nome mais forte do DEM) –; que traz para 2014, mais de 80% de aprovação de seu governo na Capital; seja pela vice-governadora Simone Tebet, nome ainda sem consistência suficiente para voo tão alto.

Nelsinho, Simone ou qualquer outro nome que surja das mangas do governador André Puccinelli – candidato ao Senado, que amargou uma derrota no momento exato, nas últimas eleições para a prefeitura de Campo Grande, o que lhe permite pesar erros e lhe dá dois anos para correção de rumos –, serão sempre os candidatos do mais forte partido político de Mato Grosso do Sul.

André e Delcídio?

O governador, estudioso aplicado de Maquiavel e outros pensadores da política e do poder, parece não acertar a mão quando a questão é construir um candidato, mas é fatal na desconstrução de imagens e sonhos. É sempre bom lembrar que Puccinelli perdeu a indicação de seu tutelado em 2004, vencido pelo mesmo Nelsinho Trad na convenção que o escolheu como candidato, em substituição ao então prefeito André.

Em 2012, impôs a ferro e fogo o nome de Edson Giroto. O próprio partido, então, lançou água fria na indicação, o que fez apagar o fogo e enferrujar o ferro. Agora, depois do período necessário em que lambeu suas feridas em confortável, providencial e paradisíaco ressort no interior de São Paulo, articula uma coligação com Delcídio do Amaral.

Canalizaria parcela significativa de seus votos ao candidato Delcídio – outra parcela certamente iria para o candidato tucano ou que fosse apoiado por Reinaldo Azambuja –, e receberia parcela dos votos petistas, além da benção da candidatura Dilma/Michel Temer, que vêm de um governo bem avaliado pela população e toda a máquina pública a seu favor.

A questão ainda é vencer Nelsinho e seus mosqueteiros dentro do Partido. Em último caso, trabalhar nas sombras contra o candidato peemedebista, durante a campanha.

PT versus PT

Mais um degrau que leva a glória: manter o comando regional do partido e anular as forças do ex-governador Zeca do PT. Esse trabalho vem sendo desenvolvido, em silêncio e paulatinamente. Prova disso é a recente declaração do deputado estadual Pedro Kemp que intimou, ou insinuou uma chantagem de rompimento ao apoio petista dado ao prefeito eleito, Alcides Bernal(PP). Se existe uma bancada de vereadores, e se esta bancada tem um líder do naipe de Zeca do PT, qual motivo leva um deputado estadual a ingerir nos negócios do legislativo municipal?

De toda e qualquer forma, não é de boa praxe bulir com a verborrágica metralhadora de Zeca do PT, escolado nas lides sindicais e fã ardoroso de Lula e Chávez...

Aposta errada em Bernal

O último e mais perigoso degrau para Delcídio, revela-se na péssima aposta feita em Bernal. Para derrotar um partido, evitar seu fortalecimento, colocou-se em risco a qualidade de vida de quase um milhão de cidadãos campo-grandenses. E, a se manter a arrogante vaidade do alcaide, esse apoio será cobrado nas urnas. Neste caso, o esforço pelos benefícios de uma dobradinha André/Delcídio revelar-se-ia inútil. Os votos tenderiam a André/Nelsinho ou André/Reinaldo e até André/Nulo.

Restam, então, duas opções amargas: retirar o apoio formal ao prefeito da Capital mantendo o trabalho em busca de verbas federais, ou falar grosso e enquadrar a prima-dona do executivo.

A dengue que acometeu o senador e as férias que restauraram as forças do governador jogaram luz sobre esse intrincado jogo de xadrez. Das estratégias a serem adotadas, apenas podemos supor. Delas sabem apenas os envolvidos e as moscas das salas de reuniões e conchavos.

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