Fez-se justiça e da aplicação da Lei veio o prejuízo da
população. Estranho fato esse que grassa pelas terras de Pindorama sem que
nunca se alcance o país Brasil.
Se é difícil para a população, até de mediana cultura,
entender os trâmites legais e os escaninhos da justiça, fica impossível
compreender leis que, após intensas discussões e debates, são aprovadas
permeadas de lacunas ‘jurídicas’. Seu exemplo mais bem acabado, e que pese a
antítese, é a Lei da Ficha Limpa.
Quando tudo parecia resolvido, quando o caminho natural dos
corruptos, corruptores e afins parecia tender para o ostracismo político,
quando a população parecia defendida do massacre midiático e publicitário das
campanhas políticas que veste e vende lobos em pele de cordeiro... vimo-nos
impotentes.
Acreditamos – porque é prática do brasileiro acreditar –
nesta lei, na sua observância e aplicação. Em vão. Acreditamos desta vez, que
os candidatos aprovados pelas mais diversas instâncias da justiça eleitoral,
seriam os de passado incólume, limpo, honesto. Outra vez nos enganamos.
A confusão é a única que Reina na República.
Afinal, quem nos governa se os prefeitos eleitos veem e vão
numa constante? Quantas administrações municipais estão paradas aguardando o
round final entre determinações e liminares. A questão colocada em cada balcão
de bar, cada barraca de feira, cada conversa sem ritmo nos comércios é: por que
a justiça permitiu que tantos se candidatassem sem uma terem em mãos um carta
de alforria de seus pecados? E aqueles que praticaram crime eleitoral no
transcorrer da campanha, afinal são tão inocentes e ingênuos que lhes cabe a
dúvida?
Afinal, por que tantos prefeitos eleitos foram cassados por
crimes cometidos antes de se colocarem como candidatos? Por que tardiamente a
Justiça se pronuncia? E por que sua pronúncia é gaguejante, pois ora cassa, ora
inocenta e os prefeitos ficam num vai e vem? Quantos municípios acordam sem
saber qual o político que ocupará, naquele dia, a prefeitura?
O último reduto de proteção dos cidadãos e da própria
cidadania, a justiça eleitoral, mais do que as leis, também está corroída e
tomada de lacunas. Resta pouco para acreditar.
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