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domingo, 10 de novembro de 2013

As mãos que conduzem Mato Grosso do Sul ao Desenvolvimento


O Progresso tem nome: Teresa Cristina

Dona de uma personalidade forte e profundos conhecimentos técnicos, ela consegue falar as linguagens empresarias e políticas e transformar ideias em ações administrativas. A supersecretária dá a “cara de desenvolvimento” que o Mato Grosso do Sul passou a ter nos últimos anos.




jornalista Martins: Conta muito para o sucesso da sua administração essa descendência de políticos?

Teresa Cristina: Não foi uma experiência, foi viver numa família política. Terminou com o meu avô. Meu pai era único filho homem e não quis a política. Meus irmão e primos não foram para a política.

É fundamental para se tratar os negócios de Estado, essa vivência, por menor que seja, pois você transita entre a área técnica, com a amplitude que tem sua secretaria, e a política numa miscelânea de linguagens.

Minha oportunidade de vida, também me proporcionou isso. Aos 12 anos nos Estados Unidos, aprendi o idioma, vivi no meio diplomático, fui morar com a minha tia que era casada com cônsul em Nova York, isso me deu uma abertura de visão de vida, de mundo. Regressei, morei aqui mais um tempo, fui para Brasília morar com o meu avô, que era senador, para poder estudar. Participei do dia a dia na casa, aquele ambiente do senado. Era um homem que vivia muito o Senado. Naquela época não havia avião tão fácil, não se vinha todas as semanas para cá.

Não quer dizer que me deu experiência política, mas uma bagagem de vida. Depois fui estudar agronomia, e o que aconteceu? Voltei e fui trabalhar na minha profissão, mas apareceu uma oportunidade de ir para uma empresa em São Paulo onde pude ter uma experiência riquíssima. Montei uma ampla rede de conhecimentos, pois trabalhava com um ex-presidente da Camargo Correa, a maior empreiteira do Brasil, na época. Era uma “trade company”, a primeira a exportar um navio carregado para o Japão. Até então o Brasil exportava para a Europa, para o porto de Roterdã, e de lá a soja ia para a Ásia, com a qual o Brasil não tinha acordos comerciais. Tive a oportunidade de vivenciar essa abertura de mercado, as dificuldades daquela época. Participei da logística, de como embarcar uma soja no porto. Fazer a soja “door to door”. Comprar do produtor, embarcar no navio e fazer a entrega lá no país final.

Talvez por isso tenha assumido esta Secretaria de tamanha multiplicidade. Não vou dizer que foi fácil, mas não me assustou. Muitas coisas eu gostaria de ter feito, e hoje no final, eu fico pensando se poderia ter feito isso diferente.

Tem a consciência de ter feito o melhor?

O melhor que eu pude e que eu achei que podia. Tentei dar o melhor de mim. É uma secretaria importante sob o ponto de vista de desenvolvimento, da parte econômica do Estado. A maior parte do PIB do Mato Grosso do Sul chega nessa secretaria, ela é meio, não uma secretaria fim, a gente abre as portas. Tem a parte de incentivos fiscais, de levar para o município certo, para o lugar certo, a logística certa. Tratamos de agricultura, pecuária, desenvolvimento agrário – grandes e pequenos produtores –, indústria e comércio, turismo. Também as vinculadas: a Iagro, que é a agência de defesa sanitária; a Agraer, que é agência de extensão rural, que achamos liquidada e estamos tentando colocá-la em pé.

Precisa melhorar e crescer? Sim, o estado cresceu, a agricultura cresceu nesses sete anos. O desafio para o próximo governo é fazer essa Agraer mais forte, maior, capilarizada, porque as demandas são enormes. Se a Agraer fosse três vezes maior do que hoje, teria demanda e mesmo assim não conseguiríamos atender a tudo. São setenta mil pequenas propriedades, cujas quarenta e cinco mil necessitam dessa extensão. Na hora que conseguir essa massa de gente produzindo de maneira eficiente, o estado vai ter um salto.

O conhecimento político aliado ao adquirido em São Paulo, deu embasamento para tratar melhor negócios do governo, que envolvem uma linguagem política, outra empresarial para atrair investimentos?

Eu acho que isso foi fundamental para o perfil que um secretário do Mato Grosso do Sul precisa ter. O próximo secretário tem que ter a linguagem empresarial. Porque do Estado você tem que entender as tecnicidades, a burocracia, a legalidade do ato que você vai fazer, mas você precisa ter a “consciência do negócio”. Porque ninguém vem para um estado onde não se entende de negócio e ai você fica pondo barreiras para aquilo não acontecer. O empresário chega aqui e quer para ontem.

No jargão é não investir dinheiro bom em cima de terreno ruim...

Isso. Precisa dar condições. O Estado precisa fazer o quê? Atrapalhar pouco, como diz o governador. Quanto menos a gente atrapalhar, melhor. Se a gente não atrapalhar, está bom. Agora, você pode ajudar de várias maneiras. Mostra os caminhos e o empresário vai buscar, porque ele chega aqui sem muitas vezes nunca ter vindo a Mato Grosso do Sul.

Aqui o empresário chega e fala comigo: eu quero... Eu respondo que a minha autonomia vai até aqui, daqui para a frente é com o governador. Consigo marcar com o governador no outro dia, às vezes até no mesmo dia. Esse acesso é o diferencial que não tem em outros Estados. É lógico que a gente procura não levar problemas, mas quando chega ao nosso limite, temos facilidade de não parar o processo porque precisa de uma decisão maior. Acessamos o governador, que é uma pessoa que tem uma vontade de trabalhar enorme, trabalha que nem um leão, então ele abre essas oportunidades. Ele não põe obstáculos.

Como fica o contraste de um estado de histórico de agronegócio para a atual industrialização?

Isso é um sucesso.

Mas existem agentes complicadores...

Ainda é complicado. É difícil, mas é simples. Culturalmente é difícil. Você não tem uma mão de obra preparada para a indústria, porque nossa cultura era para o comércio, estamos tendo dificuldade para capacitação. O povo tem que entender que quando a indústria chega em determinado local, quer resultados. Se em São Paulo ela costura 40 calças jeans por hora, aqui ela quer fazer também. Se a gente consegue fazer 20, é uma deficiência porque ela vai ter que colocar mais gente para fazer o mesmo trabalho.

Houve um trabalho de atração de indústrias e acabou-se perdendo algumas em função da falta de mão de obra?

Não é que se perdeu, algumas não expandiram na velocidade que desejavam porque tiveram que investir mais. Mas aqui tem a facilidade de termos uma logística, se não excelente, mas bem planejada. Hoje com a duplicação de rodovias, com as ferrovias que estão nascendo, vai melhorar.

E a agroindústria foi bem-vinda porque ela nada mais é do que a parte final da produção de insumos. Comprar os produtos e transformá-los aqui. Veio e está forte. Esperamos atrair a terceira geração. O que é? O produtor planta o milho, colhe, seca e armazena. Eles vão processar, mas não é só retirar o óleo e o farelo, vão além, fazem a glucose, ácido cítrico, uma série de produtos que são colocados na alimentação pronta, nos países desenvolvidos, onde o milho entra em quase todos os alimentos.

Subprodutos do milho?

Subprodutos do milho. Trazendo estas indústrias para cá nós agregamos valor a esses produtos. Ao invés de sair o milho in natura, já vai sair um produto acabado. Isso é o sonho que nós tínhamos e que nós estamos vendo realizado. Tomamos consciência de que exportar apenas commodities é complicado. Tem que agregar valor.

Falta de infraestrutura atrasou o plano de governo?

O empresário sempre pede mais, diz que para poder se instalar precisa de asfalto. É por isso que governador tem essa fixação em fazer infraestrutura, porque facilita e atrai as empresas para o nosso estado.
 
É um investimento para o estado, nunca um custo.

Com certeza um investimento fundamental.

E o turismo está indo a reboque do desenvolvimento aqui no estado?

O atual governo fez muito pelo turismo, a Fundetur tem trabalhado muito, mas o turismo leva tempo, ele é um segmento que tem de amadurecer. E a infraestrutura é importantíssima.  Vamos tomar como exemplo Bonito, que é uma maravilha. Precisa de um hospital, pista (de pouso) iluminada e homologada. Tudo isso custa caro. Então, chega num ponto em que se essa infraestrutura não vier fica complicado. E ai você vê todos falando: ah, nós temos outras belezas. Realmente temos.

Parcerias para desenvolver?

Precisa de infraestrutura e precisa da iniciativa privada. O governo faz a estrada, a ponte, o hospital, o aeroporto, agora, a iniciativa privada tem que vir, acreditar e fazer acontecer.

A infraestrutura está na marca do pênalti para o próximo governo chutar para o gol?

Isso, se Deus quiser.

Vamos para um assunto menos feliz: a crise da aftosa. Quais marcas deixou?

Foi uma crise e assustou porque nós entramos achando que ela estava controlada e, dois meses depois do governo assumir a gente teve a infelicidade de ter vírus circulante, animais afetados etc. etc. Isso foi realmente um problema seriíssimo, que atinge todo o estado.

Nos municípios afetados diretamente foi terra arrasada...

Foi. Éramos o estado que mais abatia animais para exportação. Perdemos completamente esse mercado. Hoje nós retomamos 40%. Também o trauma para aquela região. Nós não podemos prescindir da fiscalização enquanto a gente não tiver a América do Sul limpa de aftosa. Ganhamos a conscientização dos produtores rurais porque, até então, alguns eram conscientes e outros sem consciência alguma, e eles sentiram no bolso, na própria pele, o que é ter essa doença na região, que não é uma doença no homem, mas é econômica. Traz prejuízos econômicos desastrosos.

Trouxe o entendimento do pertencimento à classe produtora?

Isso. Àquela época o pessoal comprava a vacina e jogava fora. A gente achava em beira de córregos. Vou dizer que acabou? Não sei. Mas eu acho que hoje, se existe um ou outro ai, é muito pouca gente. Esse pessoal entendeu o tamanho do problema que é você voltar a ter uma aftosa no estado. Acaba com a pecuária.

Os pecuaristas passaram a fiscalizar o contrabando de gado?

Falar que acabou o contrabando, eu estaria sendo ingênua. Acabou, mas a fronteira vai ser sempre a fronteira, por isso a imunização, os cuidados que a gente tem com a fronteira, e nós somos muito exigentes.

Hoje eles estão cobrando esse rigoroso controle?

Muitos já cobram e já colaboram.

Antes a política até dos bons produtores era a do “eu não compro, mas se souber quem compra...

Eu não vou denunciar”. Mas, hoje, já existe esse tipo de denúncia.

O desenvolvimento industrial é um processo irreversível mesmo sob um outro governo, ou pode haver uma administração temerária que reverta essa tendência?

Não sei quem será o próximo governador, mas pelos nomes que estão postos para serem pré-candidatos, acho que são pessoas que entendem o desenvolvimento como uma mola mestra para o estado, e que irão querer dar continuidade. Agora, tem administradores e administradores, a gente não conhece profundamente cada um, mas eu tenho a impressão de que ninguém vai querer esse retrocesso. Acho que a sociedade vai pedir isso.

Houve regiões menos beneficiadas nesse processo de desenvolvimento?

Temos regiões que não conseguimos dar a mesma velocidade do desenvolvimento que outras. Nós temos problemas no norte, porque o Pantanal que é patrimônio da humanidade. Tem provocado problemas, não no Pantanal porque não é para ser mesmo diferente, mas no que se chama Bacia do Alto Paraguai tem muitos lugares que poderiam estar produzindo e que a legislação federal engessou investimentos na região. Então nós estamos dando tratos à bola para ver o que nós podemos levar para lá.

Respeitando o que ela pode comportar.

Claro, dentro das vocações dela, fazer o desenvolvimento, romper essa desigualdade. Não podemos ter uma região pobre no estado. Nós temos que achar, estamos trabalhando com seringais, que hoje é chamado de ouro branco, com processamento de milho, para que essa região tenha desenvolvimento dentro da sua aptidão e da sua vocação.

Também a região sudoeste, com a Serra da Bodoquena, que tem suas limitações e que a gente precisa levar o desenvolvimento. Tanto que hoje, eu ficaria muito feliz se ao sair aqui do governo, com a hidrovia do Paraguai, funcionando.  Eu acredito que é o que vai trazer desenvolvimento para aquela região, de Corumbá a Porto Murtinho, até o Uruguai. Também o desenvolvimento pode estar por ai.

E a pecuária? Do maior rebanho para o melhor rebanho?

Mato Grosso do Sul, em genética, está anos luz à frente dos outros. Temos suinocultura, avicultura. O Brasil é um grande produtor de ovinos, só que de maneira muito desorganizada. Temos mais do que o dobro de cabeças do que possui o Uruguai, e importamos deles, porque não temos essa atividade como comercial, organizada, profissionalizada. Temos uma empresa interessada e muito a fazer, acredito que o governador André Puccinelli deixará o estado num bom caminho. Uma rota de desenvolvimento.

A quantas anda o comércio?

Alta rotatividade é o pior problema, não conseguir fidelizar o funcionário porque tem uma praça demandada de mão de obra e o funcionário acaba não se fixando. Por um salário pouco maior ele vai embora. Isso é ruim. Os comerciantes têm uma Federação forte e deveriam se reunir mais, fazer capacitação.

Mas ainda mantém a visão de que a capacitação é custo?

Pois é, eles têm que enxergar como investimento. Não tem nada pior do que você entrar em uma loja e ser mal atendido. Para o vendedor tanto faz como tanto fez, não vestiu a camisa. Precisa se profissionalizar mais, do dono ao funcionário. Nós temos um sistema “S” que disponibiliza excelentes cursos, mas o pessoal precisa se interessar e fazer. Nós chegamos ao ponto de abrir cursos e não ter pessoas interessadas.


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