Dona de uma personalidade forte e profundos conhecimentos técnicos, ela consegue falar as linguagens empresarias e políticas e transformar ideias em ações administrativas. A supersecretária dá a “cara de desenvolvimento” que o Mato Grosso do Sul passou a ter nos últimos anos.

jornalista Martins: Conta muito para o
sucesso da sua administração essa descendência de políticos?
Teresa Cristina: Não foi uma experiência, foi viver numa família política. Terminou
com o meu avô. Meu pai era único filho homem e não quis a política. Meus irmão
e primos não foram para a política.
É fundamental para se
tratar os negócios de Estado, essa vivência, por menor que seja, pois você transita
entre a área técnica, com a amplitude que tem sua secretaria, e a política numa
miscelânea de linguagens.
Minha oportunidade de vida, também me proporcionou isso. Aos
12 anos nos Estados Unidos, aprendi o idioma, vivi no meio diplomático, fui
morar com a minha tia que era casada com cônsul em Nova York, isso me deu uma
abertura de visão de vida, de mundo. Regressei, morei aqui mais um tempo, fui para
Brasília morar com o meu avô, que era senador, para poder estudar. Participei do
dia a dia na casa, aquele ambiente do senado. Era um homem que vivia muito o
Senado. Naquela época não havia avião tão fácil, não se vinha todas as semanas
para cá.
Não quer dizer que me deu experiência política, mas uma
bagagem de vida. Depois fui estudar agronomia, e o que aconteceu? Voltei e fui
trabalhar na minha profissão, mas apareceu uma oportunidade de ir para uma
empresa em São Paulo onde pude ter uma experiência riquíssima. Montei uma ampla
rede de conhecimentos, pois trabalhava com um ex-presidente da Camargo Correa,
a maior empreiteira do Brasil, na época. Era uma “trade company”, a primeira a exportar
um navio carregado para o Japão. Até então o Brasil exportava para a Europa,
para o porto de Roterdã, e de lá a soja ia para a Ásia, com a qual o Brasil não
tinha acordos comerciais. Tive a oportunidade de vivenciar essa abertura de
mercado, as dificuldades daquela época. Participei da logística, de como
embarcar uma soja no porto. Fazer a soja “door to door”. Comprar do produtor,
embarcar no navio e fazer a entrega lá no país final.
Talvez por isso tenha assumido esta Secretaria de tamanha
multiplicidade. Não vou dizer que foi fácil, mas não me assustou. Muitas coisas
eu gostaria de ter feito, e hoje no final, eu fico pensando se poderia ter feito
isso diferente.
Tem a consciência de
ter feito o melhor?
O melhor que eu pude e que eu achei que podia. Tentei dar o
melhor de mim. É uma secretaria importante sob o ponto de vista de
desenvolvimento, da parte econômica do Estado. A maior parte do PIB do Mato
Grosso do Sul chega nessa secretaria, ela é meio, não uma secretaria fim, a
gente abre as portas. Tem a parte de incentivos fiscais, de levar para o
município certo, para o lugar certo, a logística certa. Tratamos de
agricultura, pecuária, desenvolvimento agrário – grandes e pequenos produtores
–, indústria e comércio, turismo. Também as vinculadas: a Iagro, que é a
agência de defesa sanitária; a Agraer, que é agência de extensão rural, que
achamos liquidada e estamos tentando colocá-la em pé.

O conhecimento
político aliado ao adquirido em São Paulo, deu embasamento para tratar melhor
negócios do governo, que envolvem uma linguagem política, outra empresarial para
atrair investimentos?
Eu acho que isso foi fundamental para o perfil que um
secretário do Mato Grosso do Sul precisa ter. O próximo secretário tem que ter
a linguagem empresarial. Porque do Estado você tem que entender as
tecnicidades, a burocracia, a legalidade do ato que você vai fazer, mas você
precisa ter a “consciência do negócio”. Porque ninguém vem para um estado onde
não se entende de negócio e ai você fica pondo barreiras para aquilo não
acontecer. O empresário chega aqui e quer para ontem.
No jargão é não
investir dinheiro bom em cima de terreno ruim...
Isso. Precisa dar condições. O Estado precisa fazer o quê?
Atrapalhar pouco, como diz o governador. Quanto menos a gente atrapalhar,
melhor. Se a gente não atrapalhar, está bom. Agora, você pode ajudar de várias
maneiras. Mostra os caminhos e o empresário vai buscar, porque ele chega aqui
sem muitas vezes nunca ter vindo a Mato Grosso do Sul.
Aqui o empresário chega e fala comigo: eu quero... Eu respondo
que a minha autonomia vai até aqui, daqui para a frente é com o governador. Consigo
marcar com o governador no outro dia, às vezes até no mesmo dia. Esse acesso é o
diferencial que não tem em outros Estados. É lógico que a gente procura não
levar problemas, mas quando chega ao nosso limite, temos facilidade de não
parar o processo porque precisa de uma decisão maior. Acessamos o governador,
que é uma pessoa que tem uma vontade de trabalhar enorme, trabalha que nem um
leão, então ele abre essas oportunidades. Ele não põe obstáculos.
Como fica o contraste
de um estado de histórico de agronegócio para a atual industrialização?
Isso é um sucesso.
Mas existem agentes
complicadores...
Ainda é complicado. É difícil, mas é simples. Culturalmente
é difícil. Você não tem uma mão de obra preparada para a indústria, porque nossa
cultura era para o comércio, estamos tendo dificuldade para capacitação. O povo
tem que entender que quando a indústria chega em determinado local, quer
resultados. Se em São Paulo ela costura 40 calças jeans por hora, aqui ela quer
fazer também. Se a gente consegue fazer 20, é uma deficiência porque ela vai
ter que colocar mais gente para fazer o mesmo trabalho.
Houve um trabalho de
atração de indústrias e acabou-se perdendo algumas em função da falta de mão de
obra?
Não é que se perdeu, algumas não expandiram na velocidade
que desejavam porque tiveram que investir mais. Mas aqui tem a facilidade de
termos uma logística, se não excelente, mas bem planejada. Hoje com a duplicação
de rodovias, com as ferrovias que estão nascendo, vai melhorar.
E a agroindústria foi bem-vinda porque ela nada mais é do
que a parte final da produção de insumos. Comprar os produtos e transformá-los
aqui. Veio e está forte. Esperamos atrair a terceira geração. O que é? O
produtor planta o milho, colhe, seca e armazena. Eles vão processar, mas não é
só retirar o óleo e o farelo, vão além, fazem a glucose, ácido cítrico, uma
série de produtos que são colocados na alimentação pronta, nos países desenvolvidos,
onde o milho entra em quase todos os alimentos.
Subprodutos do milho?
Subprodutos do milho. Trazendo estas indústrias para cá nós
agregamos valor a esses produtos. Ao invés de sair o milho in natura, já vai
sair um produto acabado. Isso é o sonho que nós tínhamos e que nós estamos
vendo realizado. Tomamos consciência de que exportar apenas commodities é
complicado. Tem que agregar valor.
Falta de
infraestrutura atrasou o plano de governo?
O empresário sempre pede mais, diz que para poder se instalar
precisa de asfalto. É por isso que governador tem essa fixação em fazer
infraestrutura, porque facilita e atrai as empresas para o nosso estado.
É um investimento
para o estado, nunca um custo.
Com certeza um investimento fundamental.
E o turismo está indo
a reboque do desenvolvimento aqui no estado?
O atual governo fez muito pelo turismo, a Fundetur tem
trabalhado muito, mas o turismo leva tempo, ele é um segmento que tem de
amadurecer. E a infraestrutura é importantíssima. Vamos tomar como exemplo Bonito, que é uma
maravilha. Precisa de um hospital, pista (de pouso) iluminada e homologada. Tudo
isso custa caro. Então, chega num ponto em que se essa infraestrutura não vier fica
complicado. E ai você vê todos falando: ah, nós temos outras belezas. Realmente
temos.
Parcerias para
desenvolver?
Precisa de infraestrutura e precisa da iniciativa privada. O
governo faz a estrada, a ponte, o hospital, o aeroporto, agora, a iniciativa
privada tem que vir, acreditar e fazer acontecer.
A infraestrutura está
na marca do pênalti para o próximo governo chutar para o gol?
Isso, se Deus quiser.
Vamos para um assunto
menos feliz: a crise da aftosa. Quais marcas deixou?
Foi uma crise e assustou porque nós entramos achando que ela
estava controlada e, dois meses depois do governo assumir a gente teve a
infelicidade de ter vírus circulante, animais afetados etc. etc. Isso foi
realmente um problema seriíssimo, que atinge todo o estado.
Nos municípios
afetados diretamente foi terra arrasada...
Foi. Éramos o estado que mais abatia animais para
exportação. Perdemos completamente esse mercado. Hoje nós retomamos 40%. Também
o trauma para aquela região. Nós não podemos prescindir da fiscalização enquanto
a gente não tiver a América do Sul limpa de aftosa. Ganhamos a conscientização
dos produtores rurais porque, até então, alguns eram conscientes e outros sem
consciência alguma, e eles sentiram no bolso, na própria pele, o que é ter essa
doença na região, que não é uma doença no homem, mas é econômica. Traz prejuízos
econômicos desastrosos.
Trouxe o entendimento
do pertencimento à classe produtora?
Isso. Àquela época o pessoal comprava a vacina e jogava
fora. A gente achava em beira de córregos. Vou dizer que acabou? Não sei. Mas
eu acho que hoje, se existe um ou outro ai, é muito pouca gente. Esse pessoal
entendeu o tamanho do problema que é você voltar a ter uma aftosa no estado.
Acaba com a pecuária.
Os pecuaristas
passaram a fiscalizar o contrabando de gado?
Falar que acabou o contrabando, eu estaria sendo ingênua.
Acabou, mas a fronteira vai ser sempre a fronteira, por isso a imunização, os
cuidados que a gente tem com a fronteira, e nós somos muito exigentes.
Hoje eles estão
cobrando esse rigoroso controle?
Muitos já cobram e já colaboram.
Antes a política até
dos bons produtores era a do “eu não compro, mas se souber quem compra...
Eu não vou denunciar”. Mas, hoje, já existe esse tipo de
denúncia.
O desenvolvimento
industrial é um processo irreversível mesmo sob um outro governo, ou pode haver
uma administração temerária que reverta essa tendência?
Não sei quem será o próximo governador, mas pelos nomes que
estão postos para serem pré-candidatos, acho que são pessoas que entendem o
desenvolvimento como uma mola mestra para o estado, e que irão querer dar
continuidade. Agora, tem administradores e administradores, a gente não conhece
profundamente cada um, mas eu tenho a impressão de que ninguém vai querer esse
retrocesso. Acho que a sociedade vai pedir isso.
Houve regiões menos
beneficiadas nesse processo de desenvolvimento?
Temos regiões que não conseguimos dar a mesma velocidade do
desenvolvimento que outras. Nós temos problemas no norte, porque o Pantanal que
é patrimônio da humanidade. Tem provocado problemas, não no Pantanal porque não
é para ser mesmo diferente, mas no que se chama Bacia do Alto Paraguai tem
muitos lugares que poderiam estar produzindo e que a legislação federal
engessou investimentos na região. Então nós estamos dando tratos à bola para
ver o que nós podemos levar para lá.
Respeitando o que ela
pode comportar.
Claro, dentro das vocações dela, fazer o desenvolvimento,
romper essa desigualdade. Não podemos ter uma região pobre no estado. Nós temos
que achar, estamos trabalhando com seringais, que hoje é chamado de ouro
branco, com processamento de milho, para que essa região tenha desenvolvimento
dentro da sua aptidão e da sua vocação.
Também a região sudoeste, com a Serra da Bodoquena, que tem
suas limitações e que a gente precisa levar o desenvolvimento. Tanto que hoje,
eu ficaria muito feliz se ao sair aqui do governo, com a hidrovia do Paraguai,
funcionando. Eu acredito que é o que vai
trazer desenvolvimento para aquela região, de Corumbá a Porto Murtinho, até o
Uruguai. Também o desenvolvimento pode estar por ai.
E a pecuária? Do
maior rebanho para o melhor rebanho?
Mato
Grosso do Sul, em genética, está anos luz à frente dos outros. Temos
suinocultura, avicultura. O Brasil é um grande produtor de ovinos, só que de
maneira muito desorganizada. Temos mais do que o dobro de cabeças do que possui
o Uruguai, e importamos deles, porque não temos essa atividade como comercial,
organizada, profissionalizada. Temos uma empresa interessada e muito a fazer,
acredito que o governador André Puccinelli deixará o estado num bom caminho.
Uma rota de desenvolvimento.
A quantas anda o comércio?
Alta rotatividade é o pior problema, não conseguir fidelizar
o funcionário porque tem uma praça demandada de mão de obra e o funcionário
acaba não se fixando. Por um salário pouco maior ele vai embora. Isso é ruim. Os
comerciantes têm uma Federação forte e deveriam se reunir mais, fazer
capacitação.
Mas ainda mantém a
visão de que a capacitação é custo?
Pois é, eles têm que enxergar como investimento. Não tem
nada pior do que você entrar em uma loja e ser mal atendido. Para o vendedor tanto
faz como tanto fez, não vestiu a camisa. Precisa se profissionalizar mais, do
dono ao funcionário. Nós temos um sistema “S” que disponibiliza excelentes
cursos, mas o pessoal precisa se interessar e fazer. Nós chegamos ao ponto de
abrir cursos e não ter pessoas interessadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário