Desde que emergiu no noticiário nacional como provável presidente da Comissão de DH, há duas semanas, o pastor Marco Feliciano esteve envolvido diariamente em polêmicas
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Agência Câmara
O deputado e pastor Marco Feliciano na primeira reunião da
Comissão: sua indicação veio a público há pouco mais de duas semanas e daí
foram só polêmicas
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São Paulo – No dia 28 de fevereiro, o Brasil ficou
sabendo que era provável que um pastor que já havia dados declarações
controversas assumisse o comando da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
Cinco dias depois, o nome de Marco Feliciano foi mesmo confirmado pelo partido. Desde então, a Casa do Povo, em
Brasília, as redes sociais,
os grupos ativistas de direitos humanos e até grupos evangélicos não tiveram
mais sossego. O Brasil parece dividido.
Em um período
aproximado de apenas duas semanas, inúmeros protestos tomaram as ruas e a
Câmara, antigos vídeos do deputado voltaram à tona e ninguém sabe como será o
final da história. O PSC chegou a rediscutir a situação de Feliciano, mas optou
por mantê-lo no cargo.
Veja
abaixo todas as polêmicas que surgiram neste curto período e que deram
combustível ao episódio, ainda inconcluso.
1) Twitter é o começo de tudo
As posições dos lideres evangélicos em
relação ao casamento gay e aborto são amplamente conhecidas, mas o que causou
celeuma foram dois tuítes do deputado publicados muito antes dele assumir a
comissão.
Em 2011, Feliciano
publicou no Twitter que “africanos descendem de ancestral
amaldiçoado de Noé” e que a “podridão dos sentimentos dos homoafetivos levam ao
ódio, ao crime, a rejeição”.
Há, no
entanto, pelo menos outras 11 declarações
polêmicas no microblog.
2) Vídeos
Pelo menos dois
vídeos de Marco Feliciano repercutiram na internet e começaram a circular no
período.O primeiro foi o caso do cartão, em que Feliciano pede a senha de um fiel durante um culto.
Cartão
Posteriormente, o caso foi explicado por Feliciano
como sendo uma “brincadeira”. O fiel que doou o cartão deu uma entrevista à assessoria do pastor afirmando que “na ocasião não tinha
nenhum recurso para ofertar” e fez um ato simbólico.
Em outro vídeo, o pastor dirige suas palavras ao
"ativismo gay",
a que acusa de usar “os mesmos mecanismos que Stálin usou no seu comunismo
nazista” para atacar adversários.
O material também causou constrangimento ao
deputado no Congresso,
já que nele Feliciano diz que “existe uma ação de Satanás contra a santidade da
família brasileira dentro de nosso governo”.
3) Processos no STF
Em meio às controvérsias, descobriu-se que
Feliciano responde a um inquérito e a
uma ação penal no
Supremo Tribunal Federal.
O inquérito se refere
justamente a sua mensagem no Twitter.
Ele é acusado pelo Ministério Público de discriminação. O processo ainda não
foi aceito pela Corte, então Feliciano não pode ser considerado réu.
Em
compensação, corre contra ele – ou seja, este ele já responde oficialmente –
ação penal em que é acusado de estelionato por não ter comparecido a um show
gospel em uma cidade do Rio Grande do Sul pelo qual já havia sido pago.
O estelionato teria
ocorrido porque, segundo a autora da ação, Feliciano teria faltado para ficar
no Rio para ganhar mais em outro evento. Ele nega tudo e fala em mal-entendido,
já que não teria ido por motivos de saúde.
4) Petições online
Há várias petições contra e a favor da permanência
do deputado a frente da Comissão de Direitos Humanos.
A que pede sua
renúncia, no Avaaz, conseguiu mais de 430 mil assinaturas até o momento.
O deputado, para
fazer frente a esta, criou uma em
seu próprio site, onde são mostrados hoje o apoio de 235 mil
pessoas.
5) Denúncias
Duas denúncias relevantes sobre o
trabalho de Marco Feliciano como deputado surgiram no período.
Segundo a Folha de S. Paulo, ele emprega em seu gabinete cinco
pastores que não cumprem expediente por lá, mas nas cidades onde a Assembleia
de Deus Catedral do Avivamento, criada por Feliciano, tem igrejas espalhadas,
no interior de São Paulo.
O deputado veio a
público defender os que trabalham com ele. “Tenho 5 secretários parlamentares
que têm a vocação pastoral. Isso não impede deles cumprirem tarefas
parlamentares durante o dia”, escreveu no
Twitter.
Já o Correio Braziliense publicou reportagem afirmando que o deputado emprega na
Câmara um advogado e um assessor que prestam serviços não relacionados ao
mandato, apesar de receberem dinheiro público. Dentre as tarefas, estaria a
produção de programas de televisão.
6) Apoio evangélico?
No dia 11 de março, segunda-feira, Marco Feliciano
convocou oficialmente líderes evangélicos e até católicos para apoiá-lo no que
chama de “batalha contra a família brasileira” orquestrada por grupos “de
bandeira LGBT“.
Mas o pastor não é
unanimidade na diversificada comunidade evangélica.
Um grupo de 150 de líderes que
se dizem envolvidos com a agenda dos Direitos Humanos publicou carta aberta
pedindo a indicação de outro parlamentar para presidir a comissão.
O Conselho Nacional
de Igrejas Cristãs do Brasil, que inclui vertentes evangélicas, fez ação
parecida com uma nota de repúdio.
As reações contra ele fizeram o pastor Silas
Malafaia – que confessa ter alguns desentendimentos com Feliciano – publicar texto em favor do deputado reprovando o comportamento de certos
religiosos evangélicos.
“Vamos
assinar documento para favorecer gays, lésbicas, anarquistas, humanistas,
ateístas? Isto é uma vergonha!“, escreveu Malafaia.
7) Protestos
Desde o final de semana passado tem havido
protestos diários contra o pastor Marco Feliciano.
Primeiro, foram
manifestações em várias capitais durante o sábado e domingo. No Rio, o movimento reuniu 400 pessoas.
Já no decorrer da
semana, o alvo foram as reuniões da Comissão de Direitos Humanos e a própria Catedral do Avivamento, em
Ribeirão Preto e Franca. Marco Feliciano considerou as manifestações violentas.
"O Pastor estava
acompanhado de sua família, inclusive com suas crianças que aos choros se
apavoraram quando os manifestantes atacaram o carro onde estavam", disse a nota oficial em seu site.
A eleição dele, no
dia 7 de março, já havia ocorrido a portas fechadas por causa dos
manifestantes.
8) Racismo?
Há tempos, o pastor tem repetido à exaustão que não
é homofóbico nem racista.
Sobre esta última acusação, uma das provas utilizadas por ele foi a publicação
de uma fotografia em que aparece abraçado ao padrasto e à mãe, ambos negros.
9) Brigas
Em meio a esta história toda, Marco Feliciano teve
uma rápida briga com a apresentadora Xuxa, que o chamou de “monstro” no
Facebook.
O deputado disse no
Twitter que iria processá-la, mas depois voltou atrás, afirmando que a declaração havia sido
escrita em um “momento de angústia”.
10) Pauta da Comissão
Após as semanas tensas no Congresso, a primeira
reunião da Comissão de Direitos Humanos de fato presidida por ele, na última
quarta-feira, foi marcada por um clima tenso que não se vê sempre na Casa, com
briga entre deputados, bate-boca e protestos.
As cenas foram
consideradas “lamentáveis” pelo presidente da Câmara,
Henrique Eduardo Alves.
Mas a polêmica mesmo
nem é essa: a pauta dos assuntos que seriam abordados na comissão foi trocada
em cima da hora.
Saíram os projetos
que pediam, por exemplo, a realização de um plebiscito sobre a união civil de
pessoas do mesmo sexo e outro que tornava crime a “heterofobia”.
A mando de Feliciano,
já como presidente, foram analisadas apenas requerimentos dele e de outros
deputados com pedido de audiências publicas, principalmente.
11) Situação atual
Na Câmara, continua a oposição contra ele.
Deputados ligados aos Direito Humanos, como Erika Kokay (PT-DF) e Chico Alencar
(PSOL-RJ), foram à tribuna pedir sua renúncia na última semana.
Um grupo de parlamentares entrou com um mandado de segurança no STF para que a eleição dele à presidência
da Comissão de Direitos Humanos seja anulada, alegando que ela não poderia ter
ocorrido a portas fechadas. O STF ainda
não se manifestou.
A situação permanece
incerta e aberta para a próxima semana.
Na primeira reunião
da comissão, Marco Feliciano pediu uma chance. “Peço a todos e a todas que
se sentiram ofendidos por alguma colocação minha, em qualquer época, peço as
mais humildes desculpas. Peço a todos um voto de confiança”, disse.
Mas os próximos dias
não prometem ser menos explosivos. Segundo Jean Wyllys, as manifestações irão
continuar. “Tem que continuar até porque eles costumam enterrar as coisas
assim”, disse o deputado conhecido
pela defesa dos direitos gays.
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