Escutas
telefônicas revelam que investigados tentaram calar imprensa.
Em 2012, TV Morena exibiu reportagens denunciando problemas em hospitais.
Novos trechos de escutas telefônicas, gravadas com autorização da
Justiça e que fazem parte do inquérito sobre a Operação Sangue Frio,
mostram que investigados tentaram manipular informações e até calar a imprensa.
Trechos dos diálogos foram mostrados em reportagem do Bom Dia MS desta
quarta-feira (8).
Em um dos trechos, gravados em junho de 2012, o
vice-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul (UFMS),
João Ricardo Tognini, e o então diretor do Hospital Universitário, José Carlos
Dorsa, conversam sobre uma série de reportagens produzida pela equipe da TV
Morena.
Tognini: O pessoal da TV Morena ligou aqui. Eles foram fazer
imagens de vários hospitais aqui para mostrar as precariedades.
Dorsa: Você acha que é isso?
Tognini: Não, mesmo que não for, a gente usa pra isso, né! A
gente diz que o hospital, está sendo feito um resgate muito grande, etc. Nem
falando bem, nem falando mal. Porque negar que existe o problema é pior, né?
Dorsa: É.
Tognini: Porque inclusive, a gente pode usar depois, dizendo
no jornal da universidade, no site. A gente usa isso a nosso favor.
Dorsa: É. Muito bem! Então eu vou pegar em cima disso.
Tognini: Nós pegamos eles (reportagem) na curva, né! E aí,
na hora que eles chegarem, você já pega, Dorsa, e já deixa em cima da sua mesa
a planta do PAM. O empenho, já. E esfrega tudo na cara deles. Essa coisa toda.
Você tem habilidade de sobra, mas eu acho que que seria interessante estar
munido, assim, de um material para dar a volta neles.
No
dia da reportagem, Dorsa admitiu as dificuldades de atendimento aos pacientes.
Durante a entrevista, pareceu usar a estratégia combinada. "Onde
colocaríamos esses pacientes senão nos corredores? Não atenderíamos esses
pacientes? Talvez fosse pior a gente fechar as portas e atender somente dentro
da nossa capacidade instalada", afirmou à equipe.
À
época, o diretor da faculdade de medicina da UFMS, Aurélio Ferreira, também foi
procurado pela reportagem. Mas antes da gravação, ele conversou com Dorsa:
Aurélio: A TV Morena quer fazer uma entrevista com a gente. Eu quero conversar
com você para a gente falar uma língua só. Não ficar falando...
Dorsa: Tá. Tudo bem.
Quando
as reportagens começaram a ser exibidas, Dorsa e o então diretor do Hospital do
Câncer, Adalberto Siufi, reagiram diante das notícias e dos pedidos de
esclarecimentos.
Dorsa: Ah, agora todo dia. Até ia ligar para o senhor, tem que fazer alguma
coisa. Temos que fazer alguma coisa com essa porcaria dessa TV Morena, aí. Tem
que agir de alguma forma, ou política ou alguma influência, para bloquear esse
pessoal aí. Reporterzinho falando aí...
Adalberto: O que você acha... porque amanhã é outra equipe que
vai pegar no pé, né?
Dorsa: Tem que ser alguma coisa acima disso. Tipo, quem
manda nessa TV Morena, tem que mandar fechar essa TV Morena. Não adianta falar
com o subalterno, não. O senhor tem influência política, tem influência com
algumas pessoas que podem ajudar a gente de alguma maneira para bloquear, para
acabar.
Adalberto: Eu vou falar amanhã com um amigo meu pra ver
o que conseguimos segurar.
Dorsa: Cadê os políticos para ir lá e mandar acabar? A
gente est[a sem pai nem mãe aqui, estamos abandonados.
Em
outra ligação, uma mulher fala com o então diretor do Hospital Universitário
após a entrevista dele, ao vivo, no MSTV 1ª edição do dia 2
de julho de 2012.
Mulher: Tô ligando para te parabenizar pela sua participação no jornal.
Dorsa: Aquele lixo, né!
Mulher: É. Você falou bem, defendeu lá nosso hospital.
A
vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso do Sul, Liane
Pereira, mostrou-se indignada com a revelação das conversas. "É uma
afronta à sociedade. São pessoas que estão cometendo crimes contra a sociedade.
Nós, jornalistas, é lógico que ficamos indignados, porque cabe a nós
denunciarmos isso", afirma.
No
relatório sobre a Operação Sangue Frio, a Polícia Federal destacou o
comportamento dos investigados diante das cobranças relativas à gestão da saúde
pública. Para os analistas da PF, ficou visível o descaso de Adalberto e Dorsa
com os questionamentos, por vaidade ou por segurança e crença na
impunibilidade.
O
documento aponta que, com a divulgação na mídia sobre os problemas no HU,
muitas ilegalidades vieram à tona nas ligações entre os investigados. Ficou
visível, segundo a polícia, a preocupação dos entrevistados em manter um
discurso único para esconder os problemas e a falta de providências para
solucioná-los.
Procurado
para comentar o assunto, o ex-diretor do Hospital Universitário, José Carlos
Dorsa, não retornou as ligações. O ex-diretor do Hospital do Câncer, o médico
Adalberto Siufi, também não atendeu à reportagem.
O
diretor da faculdade de medicina da UFMS, Aurélio Ferreira, informou que sempre
que alguma matéria vai a público é preciso usar de uma mesma linguagem para não
haver má interpretação do que se pretende dizer e da verdade que está expondo.
Ferreira diz ainda que a faculdade de medicina, em termos administrativos, não
tem a ver com a administração hospitalar do HU.
Em nota, o vice-reitor da UFMS, João Ricardo Tognini, disse que orientou a direção do Hospital Universitário a explicar os problemas enfrentados e destacar as melhorias que poderiam ajudar a melhorar a imagem da instituição.
Em nota, o vice-reitor da UFMS, João Ricardo Tognini, disse que orientou a direção do Hospital Universitário a explicar os problemas enfrentados e destacar as melhorias que poderiam ajudar a melhorar a imagem da instituição.
Veja o vídeo da matéria: clique aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário