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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Desfaçatez é causa-mortis da oncologia do Hospital Universitário

Ausência ou falta de vergonha, descaramento, estes motivos, mais do que má gestão ou falta de recursos levaram o caos ao setor de oncologia do Hospital Universitário. Responsáveis?

Pelo que se pode apurar das cinco horas de acareação e depoimentos à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde da Câmara Municipal de Campo Grande, realizada na tarde de quinta-feira (4) no plenário da Câmara de Vereadores de Campo Grande, entre a reitora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Célia Maria Silva Correa Oliveira, o ex-diretor do Hospital Universitário, José Carlos Dorsa e a física médica do serviço de radioterapia do HU, Regina Borges Prestes César, é que foi forçada a omissão e o jogo de responsabilidades que permitiram o desvio de recursos à clínica Neorad.

 Com a divulgação das conversas telefônicas gravadas com autorização da justiça que deixam a descoberto o esquema de desvios, o que restringe a possibilidade de comunicação direta que permita a montagem de uma defesa articulada, pode-se observar durante a acareação o nítido desconforto demonstrado pelo nervosismo da reitora e do ex-diretor, em contraposição à calma e firmeza de Regina Borges em sua explanação.

Contradições foram muitas entre uma reitora sem controle da gestão Universitária, que reputa à sua equipe os erros administrativos sem, no entanto, conseguir explicar os motivos de haver assinado autorizações de imensa responsabilidade sem que tivesse conhecimento dos acontecimentos, mesmo que constantemente divulgados pela mídia, informados por servidores daquela instituição, de conhecimento comum. Tudo era claro e incontroverso de que o diretor imediato do hospital era um dos principais beneficiários de um esquema que sucateia o equipamento público e remete os pacientes à sua própria clínica.

Também não pode ou soube explicar porque a escala de comando permitia que a ex-administradora do Hospital do Câncer e da Neorad, e sem vínculo profissional com o HU, Betina Siufi, filha de Adalberto Siufi, sócio de Dorsa na empresa, determinava “o que o HU deveria comprar”, extrapolando suas funções e se sobrepondo à real responsável, Regina Borges.

A reitora Célia preferiu responsabilizar o vice-reitor João Ricardo Tognini pela administração do Hospital. Dorsa se disse o maior interessado pelo bom funcionamento do Hospital e culpou a administração anterior pelo caos. Num mar de enganos, parece que todos são inocentes, exceto os pacientes e funcionários.

CPI necessária

Sempre defendemos a CPI como melhor forma de divulgação do encaminhamento das questões, exatamente pela exposição pública, e isto ficou patente quando a física médica Regina Borges fez uso da acareação para apresentar novas denúncias. Entregou documentação do Instituto Nacional do Câncer (Inca), recebida e assinada pela reitora Célia Maria, que a nomeava responsável pela manutenção do serviço, mas, estranhamente, não foi informada. “A reitora Célia Maria assinou este documento, [...] e mesmo assim não me falou nada”.

Outra questão a ser esclarecida – ou ser reputada ao excesso de afazeres de uma reitora que a impedem de acompanhar a instituição que dirige ou causam lapsos de memória por estresse de funções – é em relação ao relatório do Conselho Nacional de Energia Nuclear (CNEN) que apontava 22 irregularidades que impediriam o funcionamento da radioterapia no Hospital; sendo que havia um relatório da Vigilância Sanitária Estadual garantindo que a situação estava regularizada, os problemas haviam sido resolvidos. A reitora, de posse desses documentos, não os enviou ao CNEN. Regina Borges fez a comunicação e o serviço foi liberado, mas até o momento, conforme relata Regina, “pessoas estão na fila aguardando atendimento porque a direção do hospital, não sabemos por quais motivos, não libera a radioterapia”.

Com relação à antiga administração, a física relatou que a radioterapia funcionou bem no período em que o Dr. Norberto trabalhava na unidade. “Ele poderia não ser contratado com dedicação exclusiva, mas era isso que ele fazia lá. O serviço funcionava entre as 6h e 20h. Se fosse preciso, ele dormia no hospital”, elogiou.
Mesmo os integrantes da CPI, que num primeiro momento pouca atenção deram ao caso, demonstraram indignação e chegaram à conclusão conforme dita por Flávio Cesar, seu presidente: Houve um direcionamento dos administradores do hospital para a inviabilização da oncologia do HU para atender interesses ou empresas privadas”. Ainda serão ouvidos o ex-diretor do Hospital do Câncer, Adalberto Siufi e o vice-reitor da UFMS, João Ricardo Tognini.

A reitora Célia afirmou que fará o que nunca parece ter feito, “trabalhará arduamente para reativar a ala de oncologia, se empenhará para contratação de novos rádioterapeutas, que se demitiram recentemente, inviabilizando o tratamento no HU/UFMS e que agora atuam somente na Neorad, empresa do médico Adalberto Siufi”.  
A física Regina Borges relatou que “ouve-se dizer pelos corredores que Dorsa permanece no hospital opinando e que somente ‘não assina’ os documentos da diretoria do Hospital, influenciando decisões”. Neste mar de inocência, deve ser apenas malendicência popular.



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