
Pelo que se pode apurar das cinco
horas de acareação e depoimentos à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da
Saúde da Câmara Municipal de Campo Grande, realizada na tarde de quinta-feira
(4) no plenário da Câmara de Vereadores de Campo Grande, entre a reitora da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Célia Maria Silva Correa
Oliveira, o ex-diretor do Hospital Universitário, José Carlos Dorsa e a física
médica do
serviço de radioterapia do HU, Regina Borges Prestes César, é que foi forçada a omissão e o jogo de responsabilidades
que permitiram o desvio de recursos à clínica Neorad.
Com a divulgação das conversas telefônicas
gravadas com autorização da justiça que deixam a descoberto o esquema de
desvios, o que restringe a possibilidade de comunicação direta que permita a montagem
de uma defesa articulada, pode-se observar durante a acareação o nítido
desconforto demonstrado pelo nervosismo da reitora e do ex-diretor, em
contraposição à calma e firmeza de Regina Borges em sua explanação.
Contradições foram muitas entre
uma reitora sem controle da gestão Universitária, que reputa à sua equipe os
erros administrativos sem, no entanto, conseguir explicar os motivos de haver
assinado autorizações de imensa responsabilidade sem que tivesse conhecimento
dos acontecimentos, mesmo que constantemente divulgados pela mídia, informados
por servidores daquela instituição, de conhecimento comum. Tudo era claro e
incontroverso de que o diretor imediato do hospital era um dos principais
beneficiários de um esquema que sucateia o equipamento público e remete os
pacientes à sua própria clínica.
Também não pode ou soube explicar
porque a escala de comando permitia que a ex-administradora do Hospital do
Câncer e da Neorad, e sem vínculo profissional com o HU, Betina Siufi, filha de
Adalberto Siufi, sócio de Dorsa na empresa, determinava “o que o HU deveria
comprar”, extrapolando suas funções e se sobrepondo à real responsável, Regina
Borges.
A reitora Célia preferiu
responsabilizar o vice-reitor João Ricardo Tognini pela administração do
Hospital. Dorsa se disse o maior interessado pelo bom funcionamento do Hospital
e culpou a administração anterior pelo caos. Num mar de enganos, parece que
todos são inocentes, exceto os pacientes e funcionários.
CPI necessária
Sempre defendemos a CPI como
melhor forma de divulgação do encaminhamento das questões, exatamente pela
exposição pública, e isto ficou patente quando a física médica Regina Borges
fez uso da acareação para apresentar novas denúncias. Entregou documentação do
Instituto Nacional do Câncer (Inca), recebida e assinada pela reitora Célia
Maria, que a nomeava responsável pela manutenção do serviço, mas,
estranhamente, não foi informada. “A reitora Célia Maria assinou este documento, [...] e mesmo
assim não me falou nada”.
Outra
questão a ser esclarecida – ou ser reputada ao excesso de afazeres de uma
reitora que a impedem de acompanhar a instituição que dirige ou causam lapsos
de memória por estresse de funções – é em relação ao relatório do Conselho
Nacional de Energia Nuclear (CNEN) que apontava 22 irregularidades que
impediriam o funcionamento da radioterapia no Hospital; sendo que havia um
relatório da Vigilância Sanitária Estadual garantindo que a situação estava
regularizada, os problemas haviam sido resolvidos. A reitora, de posse desses documentos,
não os enviou ao CNEN. Regina Borges fez a comunicação e o serviço foi
liberado, mas até o momento, conforme relata Regina, “pessoas estão na fila
aguardando atendimento porque a direção do hospital, não sabemos por quais
motivos, não libera a radioterapia”.
Com relação à antiga
administração, a física relatou que a
radioterapia funcionou bem no período em que o Dr. Norberto trabalhava na
unidade. “Ele poderia não ser contratado com dedicação exclusiva, mas era isso
que ele fazia lá. O serviço funcionava entre as 6h e 20h. Se fosse preciso, ele
dormia no hospital”, elogiou.
Mesmo os integrantes da CPI, que
num primeiro momento pouca atenção deram ao caso, demonstraram indignação e
chegaram à conclusão conforme dita por Flávio Cesar, seu presidente: Houve um
direcionamento dos administradores do hospital para a inviabilização da
oncologia do HU para atender interesses ou empresas privadas”. Ainda
serão ouvidos o ex-diretor do Hospital do Câncer, Adalberto Siufi e o
vice-reitor da UFMS, João Ricardo Tognini.
A reitora Célia afirmou que fará o que
nunca parece ter feito, “trabalhará arduamente para reativar a ala de
oncologia, se empenhará para contratação de novos rádioterapeutas, que se
demitiram recentemente, inviabilizando o tratamento no HU/UFMS e que agora
atuam somente na Neorad, empresa do médico Adalberto Siufi”.
A física Regina Borges relatou que “ouve-se dizer pelos corredores
que Dorsa permanece no hospital opinando e que somente ‘não assina’ os
documentos da diretoria do Hospital, influenciando decisões”. Neste mar de
inocência, deve ser apenas malendicência popular.
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