A cidade
parou, deixou seus problemas em segundo plano e tem acompanhado com especial
atenção ao embate entre os vereadores, muitos deles defensores do antigo
governo municipal, que a tudo o que lhes enviasse o executivo, aprovavam sem
análises, discussões ou críticas. A Câmara Municipal de Campo Grande parece ter,
agora, um único projeto para a Capital: cassar o prefeito Alcides Bernal. E
para isso empenha todos os seus esforços.
Por seu
turno, o executivo aplica toda a sua energia em desqualificar os vereadores,
protelando a resolução de tantos problemas que afligem a população no seu todo,
sem distinção de classes, de regiões, de importância e intensidade.
Não vamos narrar de forma linear os “acontecimentos” da
semana, não temos essa intenção. Entendemos que as notícias têm se atropelado
como capítulos de novela de baixa audiência onde apenas o público mais fiel
formado por parentes e amigos dos atores e da equipe de produção ainda tenham a
sacrossanta paciência e o excessivo tempo ocioso para observar e discutir.
Mesmo que dê em alguma coisa diferente da dormida pizza de nossa política de
ontem, nossa sonolenta justiça terá sua decisão final somente depois de
decorrido o período de gestão. Então.... para quê?
O título que encima esta matéria é o que melhor sintetiza as
agruras a que está sujeita uma população que nos últimos onze meses foi posta à
margem das atenções dos nossos políticos. É o que talvez possa sensibilizar os
eleitos pelo povo para em seu nome e por ele, governar. Foi pensado de forma
proposital buscando acender alguma sensibilidade nos eleitos que se arrogam a
posição de senhores do povo e não, como preconiza a democracia, servidores
destes.
É o fiel retrato de intriga de vizinhas, ou melhor, briga
entre marido e mulher como nos moldes da sociedade arcaica de antes, onde
bastava que o marido abrisse “as burras”, despejando o sagrado dinheiro nas
mãos ávidas de suas esposas impedidas de ação, para que a paz reinasse no lar. E
como nesses entreveros, quem veste a roupagem clássica da fofoqueira que
insufla a discórdia é a que deveria, por dever de ofício, ser a mais sensata e
isenta: a imprensa local. Seria bom termos uma reedição dos debates parciais e
acalorados dos tempos de Getúlio Vargas, entre o jornal Última Hora e a Tribuna
da Imprensa, mas não temos sequer a mínima sombra do brilhantismo de Samuel
Wainer e Carlos Lacerda, o que temos é um festival de matérias pagas e matérias
a serem pagas.
As eleições possibilitam a escolha de representantes e governantes que fazem e executam leis que interferem diretamente em nossas vidas. Escolher um péssimo governante pode representar uma queda na qualidade de vida. São os políticos os gerenciadores dos impostos que nós pagamos. Precisamos acompanhar com atenção e critério tudo que ocorre em nossa cidade, estado e país. Devemos votar em políticos com um passado limpo e com propostas voltadas para a melhoria de vida da coletividade.
Já não nos importa sabermos o momento exato do início desta
disputa por espaço e poder, ou espaço de poder. Queremos, exigimos que se
retome a governabilidade. Não nos importa que as tarifas dos ônibus coletivos
tenham reduzido seu valor em momento que se aguardava uma alta nos preços das
passagens, queremos também que eles trafeguem por vias em boas condições,
existam em número suficiente para nos acomodar com o mínimo conforto, obedeçam
horários, passem por manutenção preventiva, que possamos trafegar dentro dos
terminais sem sermos tangidos por “biscateiros” que desafiam as leis, sem a
menor cerimônia e com a conivência de Prefeitura, Câmara, Agetran, Assetur,
Guarda Municipal e Polícia Militar, nos impingindo todos os tipos de bugigangas
e alimentos de procedência duvidosa.
Gostaríamos de sonhar com a realização de projetos que
modernizem, tragam empregos e renda, propiciem lazer, melhorem a educação,
abriguem e defendam nossas crianças. Não existem projetos, tudo está engessado,
seja porque parte do tempo destinado a criar esteja sendo usado em reunir
provas de inocência, seja porque existe uma fragilidade administrativa
representada por cada um dos secretários escolhidos dentro do possível, num
universo de amigos confiáveis ou de extremamente obedientes aos gritos e uivos
do alcaide.
Cortina de fumaça
Amparados na premissa de que a melhor defesa é o ataque, os
vereadores de oposição, desde o princípio desta legislatura, buscam indícios de
irregularidade no governo Bernal – função que cabe ao legislativo, mas que não
é única – impedindo que se traga à luz da verdade os desmandos e
irregularidades da gestão anterior que sucatearam a saúde, deram prosseguimento
a obras de infraestrutura de péssima qualidade, favoreceram amigos e parentes
em detrimento da população.
Senão, vejamos. A empresa MDR Distribuidora de Alimentos, de
Mamed Dib, não comprovada empresa de fachada, mas favorecida na República Médio
Oriental do clã dos Trad, não compareceu perante a Comissão Processante sem que
isso causasse qualquer ardor cívico da imprensa ou dos membros de tal comissão,
a saber: Edil Albuquerque (PMDB), ex-presidente da Câmara, vice-prefeito da
gestão Trad; Flávio César (PTdoB), ex-lider do governo Trad na Câmara Municipal
e pertencente a partido de clara vinculação ao governador André Puccinelli
(PMDB) e considerado um time “B” do PMDB; e Alceu Bueno (PSL) que exerce seu
mandato através de liminar, uma vez que foi condenado por compra de votos, e
que já havia sido notícia quando foi flagrado em escutas telefônicas vendendo a
R$ 10 mil, o partido para coligações no interior do estado e declarou que isso
“é normal”.
O outro lado
Por outro lado, inquiridas pela Comissão Processante, as
empresas Jagás, Megaserv e Salute, contratadas pelo governo Bernal, através de
seus representantes deixaram claro que houve mais que erros administrativos e
ingenuidade nestas “contratações”. Foi algo mais do que romper com o “suposto”
esquema montado em governos que se sucediam há vinte anos, foi trocar “seis por
meia dúzia”, no jargão popular.
O que se pode supor é que alguns deixaram de ganhar, outros
passarão a ganhar a partir de agora, e apenas a população permanece na posição
que lhe cabe: perder.
Nova composição
A partir de agora, Bernal, num raro lampejo de lucidez
trouxe para o seu quartel-general um homem experimentado nos campos de batalha,
Pedro Chaves Filho, que deverá compor com Luiz Carlos Santini, um conselho
político-administrativo imediato que consiga orientar Bernal em suas funções e
principalmente em seus limites. Pedro Chaves começou citando Martin Luther
King, talvez para que Bernal saia do “Eu tenho um sonho” e passe a ter ações
coerentes.
O que se deve esperar de bom nesta nova feição de governo? A
troca de alguns “secretários-nomes” por “secretários capacitados”, o que
permitirá governar com propostas e projetos e sair das promessas vazias de
campanha; ampliação da base de apoio na Câmara que lhe permita “ar para
respirar”; composições políticas sólidas e plausíveis com o PSDB e PT, além de
PDT e PSB; diálogo democrático com o legislativo e novo perfil nas comunicações
que respeite a imprensa isenta – mesmo que rara.
O que não se deve esperar? Que os erros, desvios e
malservações passados, inclusive deste 2013, sejam trazidos à luz, julgados, os
responsáveis punidos e a população ressarcida. A roupa suja não será lavada.
Numa época em que os “escândalos” são meras notas de rodapé
dada a sua constância, pelo menos a paz e a esperança de que o cidadão volte a
ser o centro das atenções e que por ele se trabalhe.
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