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sábado, 22 de dezembro de 2012

A doença que mata é a indigência social

Em que pesem os avanços da medicina na cura de doenças e de outras tantas ciências na melhoria da qualidade de vida, pessoas continuam morrendo por falta de condições mínimas de obedecerem as mais diversas dietas, que são indispensáveis no tratamento de males como diabetes, hipertensão arterial, gastrites, hepatites etc.
Estes males que afligem a população cada vez mais urbana, mais exposta a diversos fatores de estresse e outros, exigem mais que um acompanhamento medicamentoso, demandam cuidados especiais  de alimentação.
O problema que costuma acompanhar o tratamento destas doenças em pessoas em condições de vulnerabilidade social ou mesmo daquelas de baixa renda é o custo desta dieta.

Imagem: Natal do Rico e do Pobre - site: filosofiahoje.com

Como está o corpo que suporta o medicamento?

A alimentação e, mais ainda, a boa alimentação ganham especial importância nesta época em que as doenças causadas pelo modo de vida urbano e moderno se proliferam. Nosso viver atropelou o tempo, conforme o conheciam nossos pais e avós, mesmo os urbanos. Café da manhã é um exercício de caminhada entre procurar a pasta, as chaves, o retoque na maquiagem ou na gravata, verificar as condições de segurança da casa. Almoço já não se almoça e o jantar em família, momento do relaxamento necessário ao bom sono, é hora-extra forçada do planejamento para o novo dia que já está ali.

Se desta forma é difícil manter uma dieta equilibrada, quando doenças surgem e o corpo passa a ser bombardeado com drogas medicinais, esse regime alimentar deixa de ser o sustento ao corpo para se tornar um importante aliado da doença.

Some-se a isso a imensa parcela da população que não consegue manter qualquer educação alimentar, nenhum alimentar. A grande parcela da população que não se alimenta, apenas come o que lhe é possível, o que lhe cai nas mãos.


Imensa massa de brasileiros acorre todos os dias aos postos de saúde, padecendo dos mais diversos males. Muitos dos atendimentos dizem respeito a doenças como as diversas diabetes, hipertensão arterial, doenças do sistema gástrico. Males que exigem mais que o tratamento medicamentoso, devendo ser acompanhado de dietas alimentares mais ou menos rigorosas.

O brasileiro é reconhecidamente um povo que abusa no sal, fundamental para a vida, mas um carrasco quando extrapola os níveis recomendados, principalmente no caso da hipertensão arterial e doenças relacionadas aos rins. Portanto, as dietas alimentares exigem, num primeiro momento, a desintoxicação de todo este cloreto de sódio transformado em outros tantos agentes químicos e, posteriormente uma alimentação balanceada. Este auxílio e complementação de tratamento pede legumes e verduras das mais diversas espécies, substituição de óleos por azeite, arroz comum por integral, fibras, chás.

Se isto representa um aumento imediato de custos da cesta de alimentos da classe média que abala suas finanças, pode-se inferir o quanto isso destoa dos gastos de uma família de baixa-renda. Não afeta em nada suas finanças, porque a dieta não é feita, é proibitiva, impossível.

Diversas questões

Mesmo que alguns nutricionistas insistam na viabilidade desta dieta por ela conter alimentos cultiváveis em hortas, portanto acessível até à camada social mais desfavorecida, ou pobre – que me perdoem os politicamente corretos –, a complexidade social somados ao custo de um canteiro de múltiplas espécies desmentem essa ideia. Pesa, também, na desobediência  da dieta o arraigado “modus” alimentar. O próprio paciente diz não estar “alimentado” e imagina que daí sobrevenha uma fraqueza, no seu entender, mais prejudicial do que a própria dieta.

Some-se a isso o fato que as famílias são constituídas por mais que a pessoa afetada pelo mal, exigindo,  portanto, que a alimentação específica da dieta seja feita à parte de outra, que sirva a família. E novamente entram em cena os conselhos dos nutricionistas para que todas as pessoas obedeçam à mesma dieta como forma de manterem-se, também saudáveis todas elas. Mas, em que pese a razão destes profissionais, seria alterar padrões alimentares de todo um povo, semelhante a um maestro querer substituir de uma só vez e totalmente o padrão musical popular pelo clássico

Pior mal, a obesidade



A obesidade já é considerada uma epidemia e, sabidamente é a doença que necessita de uma dieta alimentar rígida para seu tratamento. O Brasil, mesmo não sendo o país com o maior consumo de carne vermelha per capita, é um dos que pior utiliza desta fonte de proteínas em sua alimentação.

Em que pese o parco conhecimento econômico, questões de oferta e procura, ainda acredito inexplicável o alto custo do pescado, principalmente em nossa região. Senão, vejamos a diferença entre o valor pago ao pescador e o preço pago pelo consumidor final. Outra, no caso do pecuarista, existem os custos de terra, pasto, complementos alimentares, medicamentos, tempo de engorda, impostos, embate com os frigoríficos etc. (se bem que eles sejam também responsáveis pelo assoreamento dos rios que reduzem a reprodução dos peixes). Bem, quais os motivos que equiparam o preço das carnes de peixes e gado?

Retomando à obesidade, não é difícil imaginar o custo real de um tratamento alimentar para todos aqueles que enfrentam esta doença. Mas é certo que é impraticável o tratamento, bem como é impensável que tantos deixem de lotar nossos postos de atendimento médico com sintomas que provêm do sobrepeso e demais males desta doença.

Que se preze a saúde

Em nosso imenso leque de amparos sociais proporcionados pelos três níveis de governo, seria o momento de iniciar estudos que permitam oferecer aos que padecem de doenças crônicas, ou que estejam acometidos de males pontuais, e que necessitem da dieta alimentar, uma cesta de alimentos balanceados, controlados por nutricionistas e acompanhados em seu uso por, talvez, agentes de saúde.

Os ganhos econômicos, excetuando-se todo o desvio criminoso que acompanha os projetos públicos, seriam sensíveis por quaisquer dos lados que se aprecie a questão. A agricultura familiar ganharia um grande incentivo de consumo caso os governos municipais decidam por adquirir destes, os produtos a serem consumidos; as secretarias de saúde seriam as grandes beneficiadas com a redução do número de atendimentos médicos, pois que muitas das consultas derivam de outros males causados pelo tratamento incompleto e incorreto das doenças crônicas, e com a consequente redução da quantidade de medicamentos distribuídos pelas farmácias públicas. Também seria beneficiada a economia privada com a redução de faltas ao trabalho e maior disposição para o trabalho que advém da qualidade de vida. É uma questão a pensar.

Até lá, a dieta rica em fibras, balanceada em termos de proteínas, carboidratos, sais minerais passarão longe das toscas mesas do pobre, que continuarão acumulando doenças, dores, males e sobrelotando o sistema público de saúde que sempre foi e continuará mal gerido. O melhor remédio ainda é a alimentação sadia, quando existe alimentação, quando o alimento está presente em todas as mesas. Até lá, a doença que fará mais vítimas é a indigência social a que grande parte de nossa população está fadada.