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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Sobre monstros que se escondem no escuro


Schimene Weber

Eu não sei direito quando as coisas começaram a ficar assim. Agora, por exemplo, o relógio marca 22h20 e, apesar da dose de calmante, eu só não consigo dormir. É estranho quando nem teu próprio quarto consegue ser abrigo.
Talvez tenha sido no momento em que minha mãe se lembra. Domingo, numa missa matutina, no meio do ofertório. Eu simplesmente senti meu corpo congelar, como se eu estivesse com muito medo.
Na época, eu não entendia. Hoje, eu gostaria de não entender.
O medo que me assombra em todas as madrugadas é devastador. É como se algo estivesse me esperando no momento seguinte. Como se o “amanhã” viesse no próximo segundo. E é terrível se sentir assim. É terrível perder o controle sobre aquilo que se conhece. Que se sabe. Que se é.
Agora, eu me encontro perdida. E não importa quantas vezes eu tente voltar ao começo, eu não consigo achar o rumo de casa. Minha cabeça funciona como uma bomba-relógio e eu juro que, algumas vezes, eu sinto o peso do mundo inteiro nas minhas costas.
Quando você encara a ansiedade de frente, é ameaçador. E é extremamente frustrante. Cansativo. Irritante. Dá raiva. Deixa o coração disparado. Faz com que você não sinta o ar correndo pelos seus pulmões. Deixa os olhos cheios de lágrimas e te desaba a qualquer instante.
Tens noção do quão isso é apavorante?
Enquanto não encontro uma solução completa, eu vou tentando. Tentando afogar a sombra da morte. Tentando afugentar todos os receios. Tentando acabar com toda a insegurança. Tentando dissipar qualquer sombra de maldade.
Eu vou tentando ser paciente comigo mesma.
E, assim, eu vou tentando chegar lá.
Jornalista diplomada. Qualquer hora, escrevo um livro. Textos sobre tudo e sobre nada, aqui. Contato: schimeneweber@gmail.com