Loading

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

FELICIDADE, TE DESEJO

por Vanda Ferreira

“Sonharei meus sonhos, investirei em meus desejos, na construção do melhor para a alegria em mim. Um ser feliz certamente que emana o bem global de uma árvore.”
Vanda Ferreira.

Na véspera do dia primeiro de janeiro, data sugestiva para mudança, encerramento ou inicio de ciclo de vida, um festival de mensagens inflama a comunicação amigável, social e comercial. Com claves comuns são distribuídos votos de desejos generalizados, expressos automaticamente, repetindo clichês como a máquina do estacionamento de shopping. São desejos não desejados, votos sem intenções, mensagens desprovidas de sentimentos. 

Robotizadamente embarcamos no comum para a torrencial chuva de leva de mensagens recheadas de palavras obvias para formatar votos adequados a qualquer um ou para todos. Mas, convenhamos, cumprimento generalizado dispensa carinho, despreza a relação humana, os desejos íntimos e pessoais sonhados pelo cumprimentado. Desejo sincero é adequado ao desejo particular. 

Gosto de mensagens diretas, que se harmonizam à minha intimidade, à minha realidade, aos meus verdadeiros desejos. 

Mergulhada nesta reflexão, eis que me flagro cheia de desejos egoísticos, e desejo somente o tudo que diretamente promova-me o bem para a comodidade da alegria e paz em mim. Estou ambiciosa e egoísta. Desejo ser boa pra mim. Sei de minhas vontades, conheço minhas verdades, o gráfico delineado de bem e de mal, singular à minha sagrada individualidade. Farei justiça limpando a ignorância. Condeno o mau ao castigo de acordo com seu grau de lesionamento e retiro-me de sonhos coletivos. 

Desejo protagonizar sonhos particulares. Decido investir, dedicadamente, para cultuar a verdade individual repousada em mundo intimo e ser feliz em espaço universal. Nada mais que envolva os sonhos de outros porque é necessário tomar a decisão por descobrir nossas necessidades para sermos felizes respeitando a peculiaridade individual. Felicidade é um compromisso pessoal, um direito e dever intransferível e até mesmo incompartilhável. 

Desejo a cura, o livramento do amaldiçoado coletivo que grita diferenças. Desejo o encontro com os iguais para a plenitude da igualdade. Desejo o reino da cura, o exorcismo daquilo que impede a florescência da particular felicidade individualizada.

Gosto demasiadamente do meu sincero desejo de plenitudes que decido compartilhar com os demais viventes, desejando a todos que sonhem sem medo, sejam generosos e exerçam com valentia a arte de sonhar soberania sobre os quereres de verdades particulares ao universo individual.

Desejo os benefícios de viver ritmos impacientes porque paciência é uma prova de autocompadecimento, autoflagelo. Paciência é um aspecto da covardia, da preguiça que quase sempre é o descaso com a felicidade. Paciência é um cartão amarelo, um semáforo eternizando a espera que prolonga expectativa, promove duvidas, multiplica pontos interrogativos e causa sofrimento que dói na carne, e na alma, e no coração, igualitariamente. 

Estar paciente é cegar-se para possibilidades, é caminhar em exclusivo jeito acanhado, em doloroso compasso para amenizar poder e anular vibração.

Indico banir a paciência, esta é uma fórmula de felicidade e alegria. Desinpacientecializar-se é vestir o figurino de luz para entoar canção tântrica da liberdade e dançar em perfumado jardim.

Desejo o choro para agitar o lodo do mar de tristeza acumulada por covardia. Desejo o banho com o sal santificado em bolsa lacrimal, a brancura de olhos e a luz emitida das exclusivas meninas mensageiras das luas dançantes em coreografia matuta de sagrada paisagem campestre.

Desejo o saudável grau raso de esperança, necessário para iluminar e manter a lucidez da impaciência, porque o profundo grau de esperança é dormência diretamente atada à paciência, condição relacionada ao estacionamento no semáforo amarelo, eternizado na esquina da dúvida, lá onde a impaciência pausa, adormece, enquanto a vida prossegue em ritmo vital.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Por que a favor das cotas para negros

Juiz federal, mestre em Direito e ferrenho opositor das cotas explica as razões que o fizeram mudar de ideia

Por William Douglas*, no Pragmatismo Político

Não representa necessariamente a opinião de jornalista Dirceu Martins, mas se presta a abrir a discussão entre os leitores do blog Imprensa'in'prensa


O escritor e Juiz Federal William Douglas
 (Foto: Divulgação/Pragmatismo Político)
Roberto Lyra, Promotor de Justiça, um dos autores do Código Penal de 1940, ao lado de Alcântara Machado e Nelson Hungria, recomendava aos colegas de Ministério Público que “antes de se pedir a prisão de alguém deveria se passar um dia na cadeia”. Gênio, visionário e à frente de seu tempo, Lyra informava que apenas a experiência viva permite compreender bem uma situação.

Quem procurar meus artigos, verá que no início era contra as cotas para negros, defendendo – com boas razões, eu creio – que seria mais razoável e menos complicado reservá-las apenas para os oriundos de escolas públicas. Escrevo hoje para dizer que não penso mais assim. As cotas para negros também devem existir. E digo mais: a urgência de sua consolidação e aperfeiçoamento é extraordinária.

Embora juiz federal, não me valerei de argumentos jurídicos. A Constituição da República é pródiga em planos de igualdade, de correção de injustiças, de construção de uma sociedade mais justa. Quem quiser, nela encontrará todos os fundamentos que precisa. A Constituição de 1988 pode ser usada como se queira, mas me parece evidente que a sua intenção é, de fato, tornar esse país melhor e mais decente. Desde sempre as leis reservaram privilégios para os abastados, não sendo de se exasperarem as classes dominantes se, umas poucas vezes ao menos, sesmarias, capitanias hereditárias, cartórios e financiamentos se dirigirem aos mais necessitados.

Não me valerei de argumentos técnicos nem jurídicos dado que ambos os lados os têm em boa monta, e o valor pessoal e a competência dos contendores desse assunto comprovam que há gente de bem, capaz, bem intencionada, honesta e com bons fundamentos dos dois lados da cerca: os que querem as cotas para negros, e os que a rejeitam, todos com bons argumentos.

Por isso, em texto simples, quero deixar clara minha posição como homem, cristão, cidadão, juiz, professor, “guru dos concursos” e qualquer outro adjetivo a que me proponha: as cotas para negros devem ser mantidas e aperfeiçoadas. E meu melhor argumento para isso é o aquele que me convenceu a trocar de lado: “passar um dia na cadeia”. Professor de técnicas de estudo, há nove anos venho fazendo palestras gratuitas sobre como passar no vestibular para a EDUCAFRO, pré-vestibular para negros e carentes.

Mesmo sendo, por ideologia, contra um pré-vestibular “para negros”, aceitei convite para aulas como voluntário naquela ONG por entender que isso seria uma contribuição que poderia ajudar, ou seja, aulas, doação de livros, incentivo. Sempre foi complicado chegar lá e dizer minha antiga opinião contra cotas para negros, mas fazia minha parte com as aulas e livros. E nessa convivência fui descobrindo que se ser pobre é um problema, ser pobre e negro é um problema maior ainda.

Meu pai foi lavrador até seus 19 anos, minha mãe operária de “chão de fábrica”, fui pobre quando menino, remediado quando adolescente. Nada foi fácil, e não cheguei a juiz federal, a 350.000 livros vendidos e a fazer palestras para mais de 750.000 pessoas por um caminho curto, nem fácil. Sei o que é não ter dinheiro, nem portas, nem espaço. Mas tive heróis que me abriram a picada nesse matagal onde passei. E conheço outros heróis, negros, que chegaram longe, como Benedito Gonçalves, Ministro do STJ, Angelina Siqueira, juíza federal. Conheço vários heróis, negros, do Supremo à portaria de meu prédio.

Apenas não acho que temos que exigir heroísmo de cada menino pobre e negro desse país. Minha filha, loura e de olhos claros, estuda há três anos num colégio onde não há um aluno negro sequer, onde há brinquedos, professores bem remunerados, aulas de tudo; sua similar negra, filha de minha empregada, e com a mesma idade, entrou na escola esse ano, escola sem professores, sem carteiras, com banheiro quebrado. Minha filha tem psicóloga para ajudar a lidar com a separação dos pais, foi à Disney, tem aulas de Ballet. A outra, nada, tem um quintal de barro, viagens mais curtas. A filha da empregada, que ajudo quanto posso, visitou minha casa e saiu com o sonho de ter seu próprio quarto, coisa que lhe passou na cabeça quando viu o quarto de minha filha, lindo, decorado, com armário inundado de roupas de princesa. Toda menina é uma princesa, mas há poucas das princesas negras com vestidos compatíveis, e armários, e escolas compatíveis, nesse país imenso. A princesa negra disse para sua mãe que iria orar para Deus pedindo um quarto só para ela, e eu me incomodei por lembrar que Deus ainda insiste em que usemos nossas mãos humanas para fazer Sua Justiça. Sei que Deus espera que eu, seu filho, ajude nesse assunto. E se não cresse em Deus como creio, saberia que com ou sem um ser divino nessa história, esse assunto não está bem resolvido. O assunto demanda de todos nós uma posição consistente, uma que não se prenda apenas à teorias e comece a resolver logo os fatos do cotidiano: faltam quartos e escolas boas para as princesas negras, e também para os príncipes dessa cor de pele.

Não que tenha nada contra o bem estar da minha menina: os avós e os pais dela deram (e dão) muito duro para ela ter isso. Apenas não acho justo nem honesto que lá na frente, daqui a uma década de desigualdade, ambas sejam exigidas da mesma forma. Eu direi para minha filha que a sua similar mais pobre deve ter alguma contrapartida para entrar na faculdade. Não seria igualdade nem honesto tratar as duas da mesma forma só ao completarem quinze anos, mas sim uma desmesurada e cruel maldade, para não escolher palavras mais adequadas.

Não se diga que possamos deixar isso para ser resolvido só no ensino fundamental e médio. É quase como não fazer nada e dizer que tudo se resolverá um dia, aos poucos. Já estamos com duzentos anos de espera por dias mais igualitários. Os pobres sempre foram tratados à margem. O caso é urgente: vamos enfrentar o problema no ensino fundamental, médio, cotas, universidade, distribuição de renda, tributação mais justa e assim por diante. Não podemos adiar nada, nem aguardar nem um pouco.

Foi vendo meninos e meninas negros, e negros e pobres, tentando uma chance, sofrendo, brilhando nos olhos uma esperança incômoda diante de tantas agruras, que fui mudando minha opinião. Não foram argumentos jurídicos, embora eu os conheça, foi passar não um, mas vários “dias na cadeia”. Na cadeia deles, os pobres, lugar de onde vieram meus pais, de um lugar que experimentei um pouco só quando mais moço. De onde eles vêm, as cotas fazem todo sentido.

Se alguém discorda das cotas, me perdoe, mas não devem faze-lo olhando os livros e teses, ou seus temores. Livros, teses, doutrinas e leis servem a qualquer coisa, até ao nazismo. Temores apenas toldam a visão serena. Para quem é contra, com respeito, recomendo um dia “na cadeia”. Um dia de palestra para quatro mil pobres, brancos e negros, onde se vê a esperança tomar forma e precisar de ajuda. Convido todos que são contra as cotas a passar conosco, brancos e negros, uma tarde num cursinho pré-vestibular para quem não tem pão, passagem, escola, psicólogo, cursinho de inglês, ballet, nem coisa parecida, inclusive professores de todas as matérias no ensino médio.

Se você é contra as cotas para negros, eu o respeito. Aliás, também fui contra por muito tempo. Mas peço uma reflexão nessa semana: na escola, no bairro, no restaurante, nos lugares que freqüenta, repare quantos negros existem ao seu lado, em condições de igualdade (não vale porteiro, motorista, servente ou coisa parecida). Se há poucos negros ao seu redor, me perdoe, mas você precisa “passar um dia na cadeia” antes de firmar uma posição coerente não com as teorias (elas servem pra tudo), mas com a realidade desse país. Com nossa realidade urgente. Nada me convenceu, amigos, senão a realidade, senão os meninos e meninas querendo estudar ao invés de qualquer outra coisa, querendo vencer, querendo uma chance.

Ah, sim, “os negros vão atrapalhar a universidade, baixar seu nível”, conheço esse argumento e ele sempre me preocupou, confesso. Mas os cotistas já mostraram que sua média de notas é maior, e menor a média de faltas do que as de quem nunca precisou das cotas. Curiosamente, negros ricos e não cotistas faltam mais às aulas do que negros pobres que precisaram das cotas. A explicação é simples: apesar de tudo a menos por tanto tempo, e talvez por isso, eles se agarram com tanta fé e garra ao pouco que lhe dão, que suas notas são melhores do que a média de quem não teve tanta dificuldade para pavimentar seu chão. Somos todos humanos, e todos frágeis e toscos: apenas precisamos dar chance para todos.

Precisamos confirmar as cotas para negros e para os oriundos da escola pública. Temos que podemos considerar não apenas os deficientes físicos (o que todo mundo aceita), mas também os econômicos, e dar a eles uma oportunidade de igualdade, uma contrapartida para caminharem com seus co-irmãos de raça (humana) e seus concidadãos, de um país que se quer solidário, igualitário, plural e democrático. Não podemos ter tanta paciência para resolver a discriminação racial que existe na prática: vamos dar saltos ao invés de rastejar em direção a políticas afirmativas de uma nova realidade.

Se você não concorda, respeito, mas só se você passar um dia conosco “na cadeia”. Vendo e sentindo o que você verá e sentirá naquele meio, ou você sairá concordando conosco, ou ao menos sem tanta convicção contra o que estamos querendo: igualdade de oportunidades, ou ao menos uma chance. Não para minha filha, ou a sua, elas não precisarão ser heroínas e nós já conseguimos para elas uma estrada. Queremos um caminho para passar quem não está tendo chance alguma, ao menos chance honesta. Daqui a alguns poucos anos, se vierem as cotas, a realidade será outra. Uma melhor. E queremos você conosco nessa história.

Não creio que esse mundo seja seguro para minha filha, que tem tudo, se ele não for ao menos um pouco mais justo para com os filhos dos outros, que talvez não tenham tido minha sorte. Talvez seus filhos tenham tudo, mas tudo não basta se os filhos dos outros não tiverem alguma coisa. Seja como for, por ideal, egoísmo (de proteger o mundo onde vão morar nossos filhos), ou por passar alguns dias por ano “na cadeia” com meninos pobres, negros, amarelos, pardos, brancos, é que aposto meus olhos azuis dizendo que precisamos das cotas, agora.

E, claro, financiar os meninos pobres, negros, pardos, amarelos e brancos, para que estudem e pelo conhecimento mudem sua história, e a do nosso país comum pois, afinal de contas, moraremos todos naquilo que estamos construindo.

Então, como diria Roberto Lyra, em uma de suas falas, “O sol nascerá para todos. Todos dirão – nós – e não – eu. E amarão ao próximo por amor próprio. Cada um repetirá: possuo o que dei. Curvemo-nos ante a aurora da verdade dita pela beleza, da justiça expressa pelo amor.”

Justiça expressa pelo amor e pela experiência, não pelas teses. As cotas são justas, honestas, solidárias, necessárias. E, mais que tudo, urgentes. Ou fique a favor, ou pelo menos visite a cadeia.

*William Douglas, juiz federal (RJ), mestre em Direito (UGF), especialista em Políticas Públicas e Governo (EPPG/UFRJ), professor e escritor, caucasiano e de olhos azuis

Fonte:  Revista Forum - in revistaforum.com.br

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Predadores

Publicado em  por joaocamposonline


Os piores predadores gostam das sombras da noite. É quando as presas têm menos chances de escapar. Assaltantes costumam “trabalhar” com suas gazuas e pés-de-cabra em feriados e fins de semana, quando a família sai a passeio ou férias, ou quando a polícia trabalha de má vontade.
Agora a Capital conhece outra espécie de malandros, travestidos de vereadores que resolveram concluir um processo de cassação do Prefeito precisamente no período de festas de fim de ano, quando o Judiciário está atuando por plantões e, de modo geral, a cidade está em ponto-morto.
No passado recente, o prefeito Nelsinho Trad fez tramitar no dia 28 de dezembro um processo licitatório (do lixo, salvo engano), envolvendo milhões e milhões de reais e uma concessão de mais de 25 anos. Em 28 de dezembro, sem uma alma viva na cidade, ninguém para contestar ou discutir a concessão, a ilegalidade campeou solta.
Deu no que deu: processo obstado pelo Ministério Público, cidade cheia de lixo enquanto o ex-prefeito culpado, na maior desfaçatez, trafega todo pimpão em sua campanha eleitoral pelo governo do Estado.
Então, já se sabe, os vereadores tiveram com quem aprender, embora, pelo histórico de alguns deles, políticos emplumados de vários mandatos, essa malandragem é hábito que já está no sangue.
A professora Gizeli Costa, no Facebook, disse sobre o processo de cassação: “Esse povo conta com a inércia da maioria popular. Cem pessoas se manifestando contra alguma coisa é nada diante do número de eleitores que votaram no prefeito. Ano passado, quando da licitação do lixo, ninguém sabia de nada. Estavam preocupados unicamente em liquidar com a “ceia” de Natal e em comprar o carvão pra assar o gato na passagem do ano. Logicamente, os políticos sabem disso e por isso agem como ratos”.
No fórum “Fala, Campo Grande” (facebook), Marco Aurélio Barbosa d’Oliveira acentuou: “O que é preciso é urgente uma agenda positiva para Campo Grande, com melhoria nos serviços públicos, mais cuidado e limpeza da cidade, uma renovação na sinalização semafórica que está um caos, mais investimos e fomento à produção, mais preparo e qualificação da “máquina pública”, dentre outras ações de responsabilidade da boa, eficaz e responsável gestão pública”.
Nem se trata de defender o prefeito, que já tem seus próprios defensores. Se ele errou, e não conheço prefeito e ex-prefeito inocentes, há sanções na lei de responsabilidade fiscal (que é precisamente o caso tratado na Câmara!). Há o Ministério Público, há o Tribunal de Contas e a própria Câmara pode obstar os projetos do Executivo enquanto ele não cumpre com a lei. A cassação é recurso extremo, quando não há conserto, o processo é desgastante e a cidade não recebe qualquer benefício em trocar seis por meia dúzia.
Um “novo” prefeito representa a troca de secretários, a paralisação da máquina pública, com enormes custos para a cidade, que já está mais do que parada. Ainda mais ao preço que os edis estão cobrando para votar assim ou assado, o que, por si só, já é uma indignidade.
Afinal, o campo-grandense está abandonado nos postos de saúde, nos terminais de ônibus, nas esquinas e ruas sujas de lixo, no centro depauperado pela feiura e pelo descaso urbano, e ninguém notou nenhum traço de piedade por parte de qualquer dos vereadores. É como se o sofrimento do povo lhes fosse algo estranho. Para eles, povo que é povo sofre calado.
Seu único objetivo, sua única missão, é trocar o prefeito por alguém que lhes ofereça cargos (e vencimentos, mordomias, prestígio) como moeda de troca. Uma vergonha da qual ninguém será absolvido: nem os vereadores que se oferecem para compra, nem o prefeito que se dispõe a pagar o vergonhoso e indigno preço.
Predadores. Nada mais são do que isso. São pseudo-funcionários públicos que trabalham em seu próprio interesse, alguns com processos de cassação pendentes de recursos junto ao TSE, maus inquilinos com aluguel em atraso, ocupando indevidamente propriedade alheia, na maior desfaçatez.
Qual é a autoridade dos senhores vereadores? Que estranho tipo de moral reveste seus atos? Que apreço têm pela res publica e pelos votos que receberam de tantos pobres-diabos que votaram por camisetas, churrascos com mandioca ou promessas de empregos? A resposta é: apreço zero.
Não me emociona esse processo de cassação. Todos estão no mesmo barco, o alvo e o atirador. O prefeito não escolheu bem seus assessores, não criou uma agenda positiva de governo e provocou a sanha ambiciosa de seus algozes. Os vereadores, desocupados a maior parte do ano, encontraram um brinquedinho lucrativo de fim de ano. Com um mínimo de esforço, que lhes reconheço por hábito, darão mais uma mordida no bolo municipal, no patrimônio da viúva.
A verdade é que, registre-se para a história, a casa e a cidade estão à mercê dos predadores, sejam eles assaltantes de fim de ano ou parlamentares dedicados ao enriquecimento ilícito.
O povo está só.


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O símbolo da manjedoura

Não posso nomear cada um dos amigos,
espero poder falar com todos os que lerem esta mensagem...


Estivéssemos sozinhos e seríamos corpos viajadores, sem noções, sem teor, sem conteúdo. Apenas e talvez apenas uma réstia humana sem o clarão das luzes do espírito. Mas não existe uma sequer espécie de um único animal ou vegetal. Extingue-se pela mais pura razão de que antes que dividir-se, os seres multiplicam-se, sempre, é a vida, assim simples.

E os corpos humanos jazem mortos após suas jornadas, curtas ou longas. Apenas eles, matérias úteis para carregar um turbilhão de emoções, ideias e luzes. Somente os corpos vão reciclar-se em novas e diferentes formas de vida. Mas repartiu-se e multiplicou-se tanto, através do deixar um tanto de si, no outro. Lembrado para a eternidade da infinitude dos outros...

Mas o que realmente importa, e o Natal nos serve para que num dia, único dia ao menos, pensarmos e pesarmos o deixamos em cada um dos que cruzaram nossos caminhos. Luzes? Trevas? Amor? Ódio? Esperança? Desesperança?

O maior bem do ser humano não é bondade plena, mas a capacidade do aprender-se. Que possamos estar atentos a isso, exercitando a sabedoria de nos desculparmos de nossos erros, até e principalmente para nós mesmos.

Sejamos maiores em humildade e melhores em sabedoria. Possamos crescer em 2014, e nos dividirmos e nos multiplicarmos.

jornalista Dirceu Martins


Revezes de ética e trabalho na batalha dos perdedores

Nos nossos revezes, queremos antes passar por infelizes, do que por imprudentes, ou inábeis. – Marquês de Maricá.

Um ano infeliz para a política, ou o contrário? Julgamento do mensalão com condenações dos envolvidos, personalidades tidas até então como impolutas. Denúncias de superfaturamento e desvios nos Metrôs de São Paulo, de supercaixinha de fiscais no governo Kassab.

Ano infeliz para a política. Sarney continua na ativa, Renan Calheiros, também. Dilma Rousseff é uma excelente ministra no posto de presidente, Ideli Salvati não é excelente em nada, mas continua ministra, temos mais ministros do que podemos lembrar, temos menos um país do que deveríamos ter.

Aqui para nós

Bernale Mario Cesar (Foto: Deurico Brandão / Capital News)
Mais próximo de casa, ano ruim para Mato Grosso do Sul que mantém sua Assembleia sob ordens do trio de ferro: deputados Londres Machado e Jerson Domingos, e governador André Puccinelli. Despontam como fortes oponentes o clã dos Trad, que passou a ser capitaneado pelo deputado federal Fábio Trad – que herdou as sanhas e manhas de seu pai – depois que seu irmão ex-prefeito da Capital e atual secretário de Estado de Articulação, Desenvolvimento Regional e dos Municípios, foi derrubado pela população de seu sonho de força e poder; Marquinhos Trad, que ataca o governador a varejo, mas não apresenta muito mais que isso e, como troco, o mais jovem membro do clã, vereador Otavio Trad. Mas essa acirrada disputa se dá dentro do PMDB, que segue rachado pela insistência de Nelsinho se postar como candidato ao cargo de governador do Estado, tendo contra si, Esacheu Nascimento e seu grupo e o pouco esforço do governador. Nelsinho quer, mas não pode.

A ponta do iceberg da vergonha política foi a CPI da Saúde que não apresentou resultados, pois responsáveis foram blindados e ações diversionistas lançadas em todas as frentes para evitar uma análise mais acurada sobre a administração da capital durante a gestão de Nelson Trad Filho (ele aqui, novamente), familiares e amigos. Não bastasse, foram gastos aproximadamente R$ 350 mil, ainda não explicados pelo presidente da comissão, Amarildo Cruz do PT (olha o partido ai com seus gastos insondáveis). Provou-se tudo, menos que haviam culpados. Antigamente era voz comum que o erro do médico a terra encobria, agora, o erro da saúde a burocracia (bem dirigida), enterra.

Em termos de eleições, Delcídio deve levar tranquilo e sagrar-se governador do Estado, se não ceder às insânias petistas e acertar de vez e rápido uma dobradinha com o inimigo federal PSDB, atraindo Reinaldo Azambuja para uma parceria que pode e deve render grandes frutos para o Mato Grosso do Sul. Todo o resto é juntar lenha para vender na hora que precisar de mais fogo.

Mas a pérola lançada aos porcos estava na Capital. Não foram uma ou duas ou dez questões que levaram a política a ser comentada de forma séria apenas pelas vizinhas dependuradas em janelas a observar a vida alheia. O próprio andar manco de legislativo e executivo atraía a atenção menos pela direção enviesada e mais pela estranha dança de bêbados que traçam as pernas enquanto caminham.

Salvo por vereadores que permitiram honrosas exceções, a grande maioria se direcionou mais para impedir que o atual prefeito Alcides Bernal, governe, do que exercer suas funções em todas as suas amplitudes. Alguns, nem isso. São nomes perdidos na inoperância.  Cinco dos vereadores foram cassados por compra de votos, quatro em segunda instância, suplentes convocados e a cavalaria da justiça entra na última cena do filme para salvar temporariamente seus mandatos até que julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Suplentes desconvocados, contas apagadas.

Triste é a posição do presidente da Mesa Diretora, Mario Cesar (PMDB), de rara inteligência e bom articulador se colocar a serviço de alguns, capitaneando o período mais improdutivo, conturbado e vexatório da Casa. Ele também acusado de compra de votos, segue no cargo por liminar da justiça, corre o risco de administrar uma Câmara sem local de trabalho, vendo esvair seu último prazo antes do despejo judicial. Enfim, joga tudo na esperança de que as eleições de 2014 mantenham o poder nas mãos do grupo, por conquista de cadeiras na Assembleia estadual (ele mesmo pretendente a uma delas), Senado e Câmara dos Deputados.

"A batalha consiste em procurar cobrir o inimigo com a titica que se pode lançar."


Para escolher quais peripécias tem atrasado o andamento dos negócios da capital, podemos escolher entre CPI do Calote, da Saúde, Comissão Processante... Todas em mãos do antigo grupo dominante blindando envolvidos do mesmo grupo. A mesma Câmara que aprovou tudo o que lhe era enviado, agora vai contra tudo que possa permitir a governabilidade e não investiga todas as falcatruas cometidas no passado. Dos 30% de remanejo de verbas permitidos a Nelsinho, permitiram 5% a Bernal e, na última sessão deste ano, queriam lhe dar ZERO %. Não fossem políticos, sentiriam vergonha pelo papel que desempenham.

A voz que não faz

Como diz o dito que “desgraça pouca é bobagem”, Bernal que sempre se mostrou incompetente politicamente, se mostrou inoperante administrativamente. Apontar erros é para muitos, capacidade para solucioná-los é para raros. Bernal não é raro. Construiu sua carreira política através de seu programa de rádio, apontando problemas e cobrando soluções, por vezes mágicas. Passou despercebido como vereador e como deputado. Por questões que não nos cabe analisar, jamais conseguiu fazer o be-a-bá da política, articular e participar, discutir ideias e aceitar sujeições em seus projetos. Bernal nunca teve projeto, apenas a ânsia pelo poder. Se o legislativo atua como uma raposa a acuar as galinhas, o executivo atua como a avestruz que enterra a cabeça no solo e acredita-se livre do perigo.

Com uma equipe de secretários que vai de raros competentes, alguns servíveis e vários estultos, prejudicado ainda pelo orçamento comprometido pela sanha desarticuladora da Câmara, sem capacidade administrativa e com neuroses de articulações e golpes contra si, não consegue trabalhar bem e, pior, não permite que os que podem, consigam. O medo da traição engessa suas ações.

O grande temor é que esta política capenga se prolongue por mais três anos. Pedro Chaves, suplente de senador, inteligente, articulado, gestor experimentado e, por tudo isso respeitado nos meios empresariais e políticos do estado, usa da diplomacia e tudo o mais que possa para carrear apoios ao prefeito. Para tanto usa os princípios básicos da Democracia, o governo da maioria. O que Bernal parece não entender é que as articulações exigem parcerias no poder, que significam “Partidos Políticos” em sintonia comandando a máquina pública, não nomes esparsos que agregam apenas a si e a seu grupo. Tem medo de... que pareçam mais competentes do que ele? Que seja, que sejam, mas o povo elegeu a ele para governar a Capital por quatro anos e espera que tenha a inteligência e humildade de montar uma boa equipe.

Esses três próximos anos prometem perdas, derrotas de ambos os lados. Quem se sairá melhor, porque vitorioso nenhum deles? Não busquem as respostas entre si. Lembrem-se das últimas eleições e de quanto elas despertaram a noção do poder do eleitor, entre os próprios eleitores. Lembrem-se que as forças latentes que levaram as massas às ruas nas manifestações de junho, ainda habitam corações e mentes. Não se julguem vencedores de nada por antecipação. Se pensarem que essa exposição na mídia pelo excesso de acusações vai lhes garantir as eleições de 2014, não se esqueçam de combinar com o eleitor, que derrubou um grupo e está atento aos acontecimentos.


domingo, 22 de dezembro de 2013

Os mortos têm os políticos que merecem

Senhores absolutos das verdades, das almas e do nosso abjeto cotidiano, os políticos e, neste caso, os vereadores, pairam acima do bem, do mal, das investigações, do conhecimento público, de tudo o mais e se arrogam o poder divino do julgamento... Inocentaram TODOS os envolvidos no caso de desvios, e até prisões, da Saúde Pública de nossa Capital.

Repetindo a CPI da Saúde da Assembleia, a culpa única para uma saúde que consome milhões de Reais sem apresentar resultados, atendimento digno e tudo o mais que se espere, é da doença e dos doentes. 

Em nossa ingenuidade e temor pela justiça dos homens e divinas, chegamos a acreditar. Estávamos, novamente, enganados.

Afinal, o que esperar de um grupo de vereadores que foi coautor das mesmas falcatruas que hoje fingem julgar? Esses mesmos vereadores que durante os últimos vinte anos, por formarem maioria na Câmara de Vereadores de Campo Grande, aprovou tudo o que os prefeitos Juvêncio César da Fonseca, André Puccinelli e Nelsinho Trad, todos do PMDB -- aquele partido que é base de governo de quem quer que tenha o poder, seja PSDB, PT, ou o Diabo -- sem questionamentos, sem investigações, sem alterar uma vírgula sequer dos projetos do executivo enviados àquela Casa e ainda elaborando eles próprios projetos de interesse único do prefeito de plantão...


Coringa (PSD), Flávio César (PTdoB) e Carla Stefanini (PMDB)
Acordaram agora, impedindo a governabilidade da Capital, apenas porque esse grupo, enorme, maior, foi derrotado. Não por Alcides Bernal, que ainda não está a altura de ser um bom prefeito, mas pela população que, nas urnas, deu um basta, elegendo quem mais apresentava condições de vitória, não importando tanto se tinha ou não cacife para bancar essa empreitada.

Em relação à CPI da Saúde da Câmara Municipal de Campo Grande, não vou tecer as críticas que gostaria. Certamente não vou conseguir conter o verbo e manter um mínimo grau de civilidade e, para não me nivelar com o próprio resultado da CPI e correr o risco de baixar ao nível chulo dos vereadores que compuseram a Comissão, prefiro reproduzir, na íntegra, o desabafo da vereadora Luiza Ribeiro (PPS), divulgado pela rede social Facebook.

Os mortos, por fim os únicos culpados pelo caos na saúde, conforme decidiram as CPIs da Assembleia e da Câmara, têm o governo que fizeram por merecer. Será? Essa é a conclusão que os senhores políticos nos deram para velar e chorar.

Membro da CPI, Flávio César (PTdoB, partido com dono e todos sabem quem é), Coringa (PSD - Partido que está para perder o dono e também todos sabem quem é) e Carla Stephanini (PMDB- que nem merece comentários).


Luiza Ribeiro


A absolvição da mafia do câncer pela CPI do HC e HU da Câmara Municipal de CG. Inacreditável. Incrível mesmo. Como pode a maioria dos integrantes da CPI (Vereadora Carla Stefanini, Flavio Cesar e Junior Coringa Das Moreninhas) em sã consciência, aprovarem um relatório que absolve de responsabilidades pelos desvios e má aplicação dos recursos públicos do SUS para tratamento do cancer todos os gestores públicos envolvidos na chamada "máfia do câncer". Eu disse todos ! A CPI, pelo relatório aprovado, livra de qualquer responsabilidade (a não ser aquela que se cobra no juízo final ) o ex-Prefeito Nelson Trad Filho, os ex-Secretários de Saúde de CG, Luiz Henrique Mandeta, Leandro Mazina e a própria Reitora da UFMS Célia Maria e o Vice-Reitor João Tognini. Vergonha ! Vergonha mesmo, sinto dessa descabida, injusta, nefasta decisão ! Quanto poderia ter sido diferente, para a democracia e para a qualidade dos servicos públicos se a tal CPI (a primeira CPI da Camara de CG) demonstrasse mais compromisso com aqueles desafortunados que sao acometidos por essa doença tão séria como é o câncer e que precisam de tratamento pelo SUS. Como renovar as esperanças nesse ano que se inaugura ? Como acreditar ? Nem consigo escrever mais, nesse momento sobre isso! Estou me sentindo muito mal ! Parabens Vereador Alex e Cazuza Cidade, pela decência. Deus nos abençoe !

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Cassação de vereadores e a torre de babel da Justiça

O texto foi rearranjado em função do atropelo das notícias.


Vereadores da Capital, cassados, são descassados; suplentes aguardam


Quatro horas após o Tribunal Regional Eleitoral (TRE/MS) anunciar os vereadores que substituiriam os cassados por compra de votos nas eleições de 2012, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acata liminar e concede efeito suspensivo às cassações dos vereadores Paulo Pedra (PDT), Delei Pinheiro (PSD) e Thais Helena (PT). Apenas Alceu Bueno (PSL) permanece com o mandato casado e dará lugar a Saci (PRTB), os outros suplentes continuarão no aguardo de uma decisão superior.

Saci (Francisco Luis do Nascimento) do PRTB, cria do ex-prefeito Nelsinho Trad que o fez administrador do assoreado e erodido Parque Sóter, assume na vaga de Alceu Bueno. Nada muda, sem projetos fica na oposição agindo conforme ditar seu chefe. Não bastasse, corre o risco de ser, ele também, cassado, pois responde a processo por compra de votos, pois foram flagrados veículos com vales e adesivos seus em posto de combustível.

Pouco muda até que sejam julgados os recursos e até que seja definitivamente julgado o atual presidente da Câmara, Mario Cesar (PMDB) que exerce o mandato e a presidência com liminar da Justiça, cassado em primeira instância também por compra de votos.


O que impede que as justiças conversem entre si? Estranho que o TSE mantenha os mandatos até a sentença final daquela corte? Obedece aos trâmites? Sim, mas fica sempre a impressão de inoperância, enfim, de injustiça. Como explicar que alguns juízes são mais juízes que outros num caso tão banal quanto a comprovada compra de votos? Se era previsto que os vereadores seriam mantidos em seus cargos até julgamento final, não era necessário esse exercício de recontagem, acionando toda a estrutura judicial. Enfim, coisas de nossa justiça que fala tantas línguas quanto sejam as instâncias. E a impressão de “conchavo” que já adjetiva o legislativo, começa a se ligar perigosamente ao termo judiciário.

Vade Retro. Feliciano deixa a Comissão de Direitos Humanos

O deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) sabe que os acordos políticos variam conforme o peso de cada um dos partidos políticos e que, portanto não será reconduzido à presidência da comissão em 2014. Este posto é cobiçado por partidos de esquerda, pois permitem grandes discursos, espaço em mídia, geram discussões acaloradas e não resultam em nada. Bem ao gosto da insípida esquerda brasileira.

Não fará falta a presidência da comissão ao pastor Marco Feliciano, conseguiu o que pretendia, exposição pública, e com isso pretende concorrer ao senado em 2014 quando ainda estará fresco na mente dos eleitores, não os motivos pérfidos que o levaram à mídia, mas apenas e tão somente seu nome. Pertencente à grande Bancada Evangélica que utiliza o Santo Nome em vão para conquistar poder político, acima de sua moral pouco recomendável por vezes, suas estapafúrdias posições lhe angariam votos suficientes para isso.

Feliciano consegue ver positividades no trabalho desenvolvido durante sua passagem pela comissão: “Essa comissão agora vai ser disputada. Colocamos os direitos humanos na pauta das pessoas. O Brasil viu isso”, comentou.

Jogou com o acirramento das intolerâncias e ódios e com eles pavimentou sua candidatura ao senado, que passa a ser possível mesmo pertencendo a um dos muitos partidos de aluguel sem expressão ou representatividade. Agora pede as orações de seus fiéis filhos de fé cega para que Deus coloque como adversário em seu caminho o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) que, segundo ele, carrega um nome ligado à sua ex-esposa Marta, que os evangélicos não gostam.

Enfrentar outros nomes, tão fortes quanto o de Eduardo Suplicy, porém menos odiados pelos filhos de Deus que carregam ódios e preconceitos, como José Serra (PSDB) ou Gilberto Kassab (PSD), pretendentes à pré-candidatura ao Senado, não está nos seus planos, afinal muitos dos fiéis de sua igreja sabem que o Diabo já foi o anjo mais ligado ao Criador.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Cassação: quantos idiomas fala uma mesma justiça?

Vereadores de Campo Grande cassados, são descassados; suplentes aguardam
Quatro horas após o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul anunciar os novos vereadores que substituiriam os recentemente cassados em decisão desse mesmo tribunal, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acata liminar e concede efeito suspensivo às cassações dos vereadores Paulo Pedra (PDT), Delei Pinheiro (PSD) e Thais Helena (PT).
Apenas Alceu Bueno (PSL) permanece com o mandato casado e dará lugar a Saci (PRTB), os outros suplentes que assumiriam nesta quinta-feira, em diplomação do TER, continuarão no aguardo de uma decisão superior.
Afinal, o que impede que as justiças conversem entre si? É tão estranho que o TSE tenha mantido os mandatos até a sentença final daquela corte?
Obedece aos trâmites? Sim, mas fica sempre a impressão de inoperância, enfim, de injustiça. Como explicar que alguns juízes são mais juízes que outros num caso tão banal quanto a comprovada compra de votos? Se era previsto que os vereadores seriam mantidos em seus cargos até julgamento final, não era necessário esse exercício de recontagem, acionando toda a estrutura judicial.
Enfim, coisas de nossa justiça que fala tantas línguas quanto sejam as instâncias. E a impressão de “conchavo” que já adjetiva o legislativo, começa a suceder perigosamente o termo judiciário.


Vereadores, mudar para ficar igual

Eduardo Cury, Saci, José Chadid e Alex do PT
O Tribunal Regional Eleitoral procedeu nesta tarde de quarta-feira (18) à recontagem dos votos das eleições de 2012 em função da cassação do mandato de quatro vereadores da Capital. Condenados por compra de voto, perderam seus mandatos a vereadora Thais Helena (PT), agora secretária de Assistência Social de Campo Grande; Alceu Bueno (PSL) que já havia sido flagrado em gravações vendendo o partido para interessados em concorrer a cargos públicos no interior do Estado; Delei Pinheiro (PSD) para deixar o onisciente e onipresente presidente do partido, Sr. suplente, longe das redes sociais por algum tempo; e Paulo Pedra (PDT).

Saci (Francisco Luis do Nascimento) (PRTB) 2.758 votos, cria do ex-prefeito Nelsinho Trad, assume na vaga de Alceu Bueno. Nada muda, sem projetos, fica na oposição agindo conforme ditar seu chefe. Alex do PT (PT), que era suplente de Thais Helena, garante sua vaga em definitivo e manterá sua linha de ação como líder do prefeito. Eduardo Cury (PTdoB), partido de forte ligação com o governador André Puccinelli, assume a vaga de Paulo Pedra, e vai seguir na oposição ferrenha mesmo que não explique denúncia de recebimentos irregulares por serviços não prestados. José Chadid, atual secretário de Educação de Campo Grande, deixa a pasta e assume a vaga de Delei Pinheiro, alterando um voto para Bernal na base aliada e fazendo o trabalho de convencimento de vereadores que são oposição, mas não estão presos ao antigo grupo que comandava a Capital e ainda comanda o Estado, e que podem vir a mudar de posição.

Fica assim a composição da Casa de Leis até que sejam julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) os recursos dos cassados, e até que seja definitivamente julgado o atual presidente da Câmara, Mario Cesar (PMDB) que exerce o mandato e a presidência com liminar da Justiça, pois foi cassado em primeira instância.

Em relação às denúncias contra Eduardo Cury, mesmo que comprovadas não devem promover alterações, afinal Paulo Siufi (PMDB) sofre as mesmas acusações, Elizeu Dionizio é acusado de se beneficiar do cargo para conseguir publicidade para um jornal de sua propriedade, que ninguém leu e ninguém viu, e nada além de desmentidos...

 Os novos vereadores foram diplomados pelo TRE na quinta-feira (19), na 54º Zona Eleitoral.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Imóvel sem utilidade vira "utilidade pública"

O capitalismo impõe riscos, por esse motivo premia os ousados, aqueles que arriscam seus patrimônios e nomes em empreendimentos que, por vezes, nascem de sonhos. Isso é verdade em qualquer lugar do mundo, exceto no Brasil e, mais particularmente em Mato Grosso do Sul apossado pelo governador André Puccinelli (PMDB) e seu vasto e ambicioso grupo.

Prova disso é que o Shopping 26 de Agosto, na área central de Campo Grande, um empreendimento fracassado, que levou ao prejuízo alguns pequenos comerciantes que investiram seus poucos recursos nas minúsculas e mal ajambradas lojas, agora com as benesses do governo André, teve sua área declarada de “Utilidade Pública”, conforme Decreto publicado nesta segunda-feira (16) no Diário Oficial do Estado.

Segundo o Decreto “e” 32, o Tribunal de Justiça do Estado está autorizado a promover a desapropriação “em nome do Estado” ou mediante convênio com a Procuradoria-Geral. Também poderá invocar caráter de urgência na desapropriação.

Motivos, não foram dados. Qual o uso a ser dado ao imóvel?... Ninguém sabe.  O porquê da urgência?... Talvez um dia mais tarde.

Para quem sofre ações dos locatários, investiu sem obter retorno e estava prestes a falir, qualquer quantia “salva a lavoura”. O fato de estarmos prestes a entrar em ano de campanha eleitoral – que indica ser acirrada depois da derrota peemedebista na Capital – não fosse a lisura dos envolvidos, poder-se-ia pensar em desvio de verbas para caixa de campanha. Mas, não deve ser esse o caso. O imóvel deve ter, no fundo, no fundo, alguma real utilidade que justifique a “utilidade pública”


domingo, 15 de dezembro de 2013

Governo firma contrato de R$ 6,4 milhões Ibope

(Veja também neste blog: Absurdos 0%)

O Palácio do Planalto firmou dois contratos avaliados em R$ 6,4 milhões para realizar pesquisas de opinião pública que se estenderão até as vésperas da campanha eleitoral de 2014. Celebrados com o Ibope Inteligência e Virtú Análise na sequência das manifestações de junho, os contratos, que preveem sigilo indefinido dos temas, perguntas e resultados das pesquisas, são os primeiros dessa natureza celebrados pela Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) na gestão Dilma Rousseff após a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação (LAI).
Em sua cláusula segunda, inciso 10, os contratos dizem que os institutos de pesquisa deverão manter "irrestrito e total sigilo" sobre os "assuntos de interesse" do governo. O Estado solicitou o conteúdo das pesquisas já realizadas com base na Lei de Acesso. 

A Secom, no entanto, rejeitou o pedido. O sigilo contraria entendimento do próprio órgão federal responsável pela transparência, a Controladoria-Geral da União (CGU). Segundo o ouvidor-geral da União, José Eduardo Romão, todas as informações que constam das pesquisas deveriam ser divulgadas imediatamente e o sigilo contratual não afasta o princípio da publicidade. "A informação é pública, mesmo que o contrato estabeleça que a informação é sigilosa. A CGU já entendeu em casos anteriores semelhantes que esse sigilo não afasta a aplicação da Lei de Acesso à Informação. No momento em que a empresa repassa a informação para órgão público, essa informação torna-se pública."

O procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Marinus Marsico, também critica a falta de transparência. "É um procedimento perigoso. Pelo princípio da publicidade, tudo é público. Essas informações só podem ser sigilosas se a lei especificar a preservação do sigilo, o que não é o caso. Os documentos quando sigilosos são regulados por lei. Todos têm de entender que isso envolve dinheiro público."

A Secom informa que as pesquisas serão divulgadas três meses após o governo recebê-las. Esse prazo, porém, além de não constar do contrato, não vai ser cumprido na primeira leva de pesquisas porque a Secom definiu que apresentará os resultados apenas em dezembro. Além de serem os primeiros contratos de pesquisa realizados após a LAI, são os primeiros sob a égide de uma nova legislação de 2010, decorrente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, que obrigou, dentre outros pontos, o governo a firmar acordos específicos para pesquisas de opinião sobre serviços públicos. Antes, as agências de comunicação responsáveis pelas campanhas de publicidade também realizavam as pesquisas, em um contrato que abrangia os dois serviços.

Tarefas. O Ibope Inteligência ficou responsável pelas pesquisas quantitativas e telefônicas, ao valor de R$ 4,6 milhões. O Virtú Análise, contratada por R$ 1,8 milhão, cuida das pesquisas qualitativas. Em ambos os casos, o período das pesquisas se encerra a poucos dias do início da campanha eleitoral de 2014. O contrato da Virtú Análise foi fechado no dia 1 de julho deste ano e se encerra em 1 de julho de 2014. O do Ibope foi firmado em 27 de junho e também terminam um ano depois. A campanha eleitoral começa no dia 6 de julho de 2014.

O presidente da ONG Transparência Brasil, Cláudio Abramo, afirma que o modelo adotado pela Secom pode ser aproveitado para fins eleitorais. "São contratos que parecem ser muito vulneráveis. O formato abre possibilidade de que pesquisas realizadas às vésperas da eleição possam ser utilizadas durante a campanha. Além disso, a data do término do contrato, em junho de 2014, é muito conveniente para que as informações adentrem a campanha com exclusividade para apenas uma candidatura", diz.
Para o ministro José Jorge, do TCU, conforme se aproxima o período eleitoral "tudo é olhado pela opinião pública como se tivesse esse viés". "Por isso é bom evitar procedimentos como esse."

Os dois institutos disseram que cláusulas de sigilo são comuns nesses tipos de contrato.
Presidenciáveis. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), provável candidato a presidente, foi questionado, via assessoria, sobre as pesquisas de opinião contratadas por sua gestão, os valores gastos e os temas abordados, mas não respondeu. Outro provável candidato, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), também foi questionado, por meio da assessoria do PSDB, sobre o valor dos contratos de seu partido com institutos de pesquisa. Também não houve resposta. 


Veja abaixo esta noticia antiga:




sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

HIPOCRISIA VIRTUAL

O rosto oculta o que o coração sabe


Nada é mais falso do que uma verdade estabelecida. (Rui Barbosa).

Se o que está estabelecido é uma rede “social” que facilite os contatos, aproxime as pessoas e amplie o universo de amigos, tudo correto, mantemos a mesma hipocrisia que cercam templos religiosos, ambientes de trabalho, clubes... mantemos nossa rotina de mentiras e falsidades. Mentiras e falsidades? Podemos crer que retratamos num desespero surdo, o mundo que já não cabe dentro de nós. Gostamos de animais, crianças e lutamos pelos desprotegidos. Nos indignamos com as injustiças e até aceitamos convocações para manifestações cívicas.


Tudo é tão falso quanto a atribuição da frase acima para Rui Barbosa, quando na verdade o frasista é Millôr Fernandes. Erros de atribuições onde se conferiu citações de Cecília Meireles ao padre Zezinho, Machado de Assis fala sobre coisas acontecidas décadas após sua morte e por ai vai. Podemos até atualizar o poema Autopsicografia de Fernando Pessoa, substituindo a palavra “poeta” por ‘navegante do facebook”: O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente. // E os que lêem o que escreve, / Na dor lida sentem bem, / Não as duas que ele teve, / Mas só a que eles não têm. // E assim nas calhas de roda / Gira, a entreter a razão, / Esse comboio de corda / Que se chama coração.

O rosto enganador deve ocultar o que o falso coração sabe. (William Shakespeare). E este rosto enganador pode não ser a real face de quem navega. Falamos com um, mirando no olhar estático de outro. Imagens nos substituem.

Ali, somos heróis defensores da Justiça, mas também somos bocas, caras, seios e bundas. Uma enorme vitrine de almas e corpos. Alguns levam tão a sério que rompem amizades e laços familiares, outros não lhe dão a menor importância. O mercado descobriu este consumidor de portas e mentes abertas, convidativo e indefeso. O que era uma rede social logo se transformou numa enorme vitrine de inutilidades.

Como não poderia deixar de ser, Deus está presente nas mais diversas postagens. O meu, o seu, o dos outros, juntos com a negação dos ateus. Deus é um grande mercado e nessa hipocrisia consentida seu santo nome atribui, em vão, qualidades que não carregamos.

Talvez seja menos uma hipocrisia e mais um enorme biombo, detrás do qual gritamos por um mundo que não conseguimos ter. Quase como quando se lê Drummond, Pessoa, Vargas Llosa, Vinicius... um querer estar ali, naquelas linhas, tomados do mesmo sentimento.

Chegamos à pieguice de supor que crianças doentes, adultos moribundos e a própria miséria serão amparados em generosas doações por compartilhamentos, cutucadas, curtidas. Essa concepção de esmola cibernética retoma o velho hábito de comprar as portas do céu, nos eximindo de nossas responsabilidades sociais.

Talvez o grande problema do mundo virtual é o fato de não ser exclusivo e único. Existe uma realidade que nos assombra quando saímos da frente do computador, de dentro do facebook e caímos na mesma rotina. Deixamos a perfeição e vivenciamos nossos erros, nossos preconceitos, racismos, intolerâncias.

Todo o amor compartilhado e as assertivas de justiça e ética, não resistem à dura realidade da concorrência pela vida.

Mas não é só de amores e seres perfeitos que vive nosso mundo virtual. Quem não presenciou, ainda, as trocas de farpas entre concorrentes, as invejas dissimuladas, os mal-quereres disfarçados?

Os políticos descobriram as redes e, como tudo o que tocam, conseguiram conspurcá-la. Ataques e autoelogios convivem num mesmo espaço. Essa virtualidade das benevolências  e competências por momentos nos leva a crer que presenciamos e vivenciamos num mundo só nosso, com suas imperfeições, sujeiras, buracos, misérias. Afinal, tudo o que fazem e fizeram melhoraram tanto nossa qualidade de vida. Os que saíram dizem que os que estão destruíram as cidades, os que estão dizem que salvaram a cidade da destruição.

A hipocrisia do facebook é igual à hipocrisia da nossa realidade, nosso cotidiano de religiões, políticas, empregos, estudos...

Por vezes é melhor, porque nosso cérebro vive por instantes a virtualidade dessa realidade subjetiva. Estamos em nosso mundo perfeito, sem arrotos, sem flatulência.

O facebook, no dizer de Eduardo Cabral, é “A Tecnológica Reinvenção da Solidão”. Nos fechamos nisso, queremos isso. Assim como um livro no silêncio ou um filme na sala de cinema, somos os senhores de nosso mundo, perfeito.


Tudo é novo. Tudo é excesso. Até que se ajusta.

Houve tempos em que atores de novelas eram abordados nas ruas e agredidos por palavras ou mais, quando interpretavam os vilões; e consolados e agraciados quando eram os pobres mocinhos e mocinhas que sofriam as agruras das maldades alheias. Isso acabou. Aquela virtualidade antiga dos pais e avós, sofrendo , sorrindo e vivendo a vida de seus heróis/vilões, hoje é um grande anedotário.

Assim será com as redes sociais. O exagero que se ajusta, porque nada muda nossa realidade de pessoas sórdidas ou não. Agiremos da mesma forma sempre, com nossos preconceitos e nossas imperfeições, buscando nas mais diversas fontes o perdão que não nos permitimos.
E ficará em nós um pouco das coisas recebidas, um tanto dos lamentos dos negros, dos brancos, dos amarelos e vermelhos. A rede veio para ficar e escancarar as verdades. Para os observadores poderem pesar a diferença entre discurso e prática; para os noticiários serem desmentidos, para que a miséria humana tenha suas vísceras expostas.

Para o bem ou para o mal. Como sempre, desde tempos imemoriais, seu livre arbítrio lhe conduzirá.