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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Revezes de ética e trabalho na batalha dos perdedores

Nos nossos revezes, queremos antes passar por infelizes, do que por imprudentes, ou inábeis. – Marquês de Maricá.

Um ano infeliz para a política, ou o contrário? Julgamento do mensalão com condenações dos envolvidos, personalidades tidas até então como impolutas. Denúncias de superfaturamento e desvios nos Metrôs de São Paulo, de supercaixinha de fiscais no governo Kassab.

Ano infeliz para a política. Sarney continua na ativa, Renan Calheiros, também. Dilma Rousseff é uma excelente ministra no posto de presidente, Ideli Salvati não é excelente em nada, mas continua ministra, temos mais ministros do que podemos lembrar, temos menos um país do que deveríamos ter.

Aqui para nós

Bernale Mario Cesar (Foto: Deurico Brandão / Capital News)
Mais próximo de casa, ano ruim para Mato Grosso do Sul que mantém sua Assembleia sob ordens do trio de ferro: deputados Londres Machado e Jerson Domingos, e governador André Puccinelli. Despontam como fortes oponentes o clã dos Trad, que passou a ser capitaneado pelo deputado federal Fábio Trad – que herdou as sanhas e manhas de seu pai – depois que seu irmão ex-prefeito da Capital e atual secretário de Estado de Articulação, Desenvolvimento Regional e dos Municípios, foi derrubado pela população de seu sonho de força e poder; Marquinhos Trad, que ataca o governador a varejo, mas não apresenta muito mais que isso e, como troco, o mais jovem membro do clã, vereador Otavio Trad. Mas essa acirrada disputa se dá dentro do PMDB, que segue rachado pela insistência de Nelsinho se postar como candidato ao cargo de governador do Estado, tendo contra si, Esacheu Nascimento e seu grupo e o pouco esforço do governador. Nelsinho quer, mas não pode.

A ponta do iceberg da vergonha política foi a CPI da Saúde que não apresentou resultados, pois responsáveis foram blindados e ações diversionistas lançadas em todas as frentes para evitar uma análise mais acurada sobre a administração da capital durante a gestão de Nelson Trad Filho (ele aqui, novamente), familiares e amigos. Não bastasse, foram gastos aproximadamente R$ 350 mil, ainda não explicados pelo presidente da comissão, Amarildo Cruz do PT (olha o partido ai com seus gastos insondáveis). Provou-se tudo, menos que haviam culpados. Antigamente era voz comum que o erro do médico a terra encobria, agora, o erro da saúde a burocracia (bem dirigida), enterra.

Em termos de eleições, Delcídio deve levar tranquilo e sagrar-se governador do Estado, se não ceder às insânias petistas e acertar de vez e rápido uma dobradinha com o inimigo federal PSDB, atraindo Reinaldo Azambuja para uma parceria que pode e deve render grandes frutos para o Mato Grosso do Sul. Todo o resto é juntar lenha para vender na hora que precisar de mais fogo.

Mas a pérola lançada aos porcos estava na Capital. Não foram uma ou duas ou dez questões que levaram a política a ser comentada de forma séria apenas pelas vizinhas dependuradas em janelas a observar a vida alheia. O próprio andar manco de legislativo e executivo atraía a atenção menos pela direção enviesada e mais pela estranha dança de bêbados que traçam as pernas enquanto caminham.

Salvo por vereadores que permitiram honrosas exceções, a grande maioria se direcionou mais para impedir que o atual prefeito Alcides Bernal, governe, do que exercer suas funções em todas as suas amplitudes. Alguns, nem isso. São nomes perdidos na inoperância.  Cinco dos vereadores foram cassados por compra de votos, quatro em segunda instância, suplentes convocados e a cavalaria da justiça entra na última cena do filme para salvar temporariamente seus mandatos até que julgados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Suplentes desconvocados, contas apagadas.

Triste é a posição do presidente da Mesa Diretora, Mario Cesar (PMDB), de rara inteligência e bom articulador se colocar a serviço de alguns, capitaneando o período mais improdutivo, conturbado e vexatório da Casa. Ele também acusado de compra de votos, segue no cargo por liminar da justiça, corre o risco de administrar uma Câmara sem local de trabalho, vendo esvair seu último prazo antes do despejo judicial. Enfim, joga tudo na esperança de que as eleições de 2014 mantenham o poder nas mãos do grupo, por conquista de cadeiras na Assembleia estadual (ele mesmo pretendente a uma delas), Senado e Câmara dos Deputados.

"A batalha consiste em procurar cobrir o inimigo com a titica que se pode lançar."


Para escolher quais peripécias tem atrasado o andamento dos negócios da capital, podemos escolher entre CPI do Calote, da Saúde, Comissão Processante... Todas em mãos do antigo grupo dominante blindando envolvidos do mesmo grupo. A mesma Câmara que aprovou tudo o que lhe era enviado, agora vai contra tudo que possa permitir a governabilidade e não investiga todas as falcatruas cometidas no passado. Dos 30% de remanejo de verbas permitidos a Nelsinho, permitiram 5% a Bernal e, na última sessão deste ano, queriam lhe dar ZERO %. Não fossem políticos, sentiriam vergonha pelo papel que desempenham.

A voz que não faz

Como diz o dito que “desgraça pouca é bobagem”, Bernal que sempre se mostrou incompetente politicamente, se mostrou inoperante administrativamente. Apontar erros é para muitos, capacidade para solucioná-los é para raros. Bernal não é raro. Construiu sua carreira política através de seu programa de rádio, apontando problemas e cobrando soluções, por vezes mágicas. Passou despercebido como vereador e como deputado. Por questões que não nos cabe analisar, jamais conseguiu fazer o be-a-bá da política, articular e participar, discutir ideias e aceitar sujeições em seus projetos. Bernal nunca teve projeto, apenas a ânsia pelo poder. Se o legislativo atua como uma raposa a acuar as galinhas, o executivo atua como a avestruz que enterra a cabeça no solo e acredita-se livre do perigo.

Com uma equipe de secretários que vai de raros competentes, alguns servíveis e vários estultos, prejudicado ainda pelo orçamento comprometido pela sanha desarticuladora da Câmara, sem capacidade administrativa e com neuroses de articulações e golpes contra si, não consegue trabalhar bem e, pior, não permite que os que podem, consigam. O medo da traição engessa suas ações.

O grande temor é que esta política capenga se prolongue por mais três anos. Pedro Chaves, suplente de senador, inteligente, articulado, gestor experimentado e, por tudo isso respeitado nos meios empresariais e políticos do estado, usa da diplomacia e tudo o mais que possa para carrear apoios ao prefeito. Para tanto usa os princípios básicos da Democracia, o governo da maioria. O que Bernal parece não entender é que as articulações exigem parcerias no poder, que significam “Partidos Políticos” em sintonia comandando a máquina pública, não nomes esparsos que agregam apenas a si e a seu grupo. Tem medo de... que pareçam mais competentes do que ele? Que seja, que sejam, mas o povo elegeu a ele para governar a Capital por quatro anos e espera que tenha a inteligência e humildade de montar uma boa equipe.

Esses três próximos anos prometem perdas, derrotas de ambos os lados. Quem se sairá melhor, porque vitorioso nenhum deles? Não busquem as respostas entre si. Lembrem-se das últimas eleições e de quanto elas despertaram a noção do poder do eleitor, entre os próprios eleitores. Lembrem-se que as forças latentes que levaram as massas às ruas nas manifestações de junho, ainda habitam corações e mentes. Não se julguem vencedores de nada por antecipação. Se pensarem que essa exposição na mídia pelo excesso de acusações vai lhes garantir as eleições de 2014, não se esqueçam de combinar com o eleitor, que derrubou um grupo e está atento aos acontecimentos.


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