Loading

sexta-feira, 14 de março de 2014

Golpe ou incompetência? Arrogância, Golpe e Incompetência

Alcides Bernal deixa a Câmara após fazer defesa de seu mandato.
Foto: Geovanni Gomes/Top Midia News
Ficou evidente, assim que abertas as urnas, que o PMDB, seus aliados e uma enorme gama de partidos de aluguel que constavam da folha de pagamento da Campanha de Giroto, tentariam desestabilizar o governo Bernal. Assim havia sido feito em Dourados, com o prefeito Ari Aruzi. 

Lá como cá, os prefeitos apresentavam sérios problemas de relacionamento social, ou psicológicos. Lá como cá, caíram sem grande esforço dos opositores.



Bernal não teve competência para conter o golpe

Alcides Bernal tem uma estranha caminhada política. Um dos mais populares radialistas, acolheu sempre as reclamações de seus ouvintes, cobrando das autoridades diversas providências para estes pedidos. Também fez trabalhos assistencialistas, solicitando doações das mais diversas, de cestas básicas a cadeiras de rodas. Ganhou parcela considerável do público.


Na esteira dessa popularidade, Alcides de Jesus Peralta Bernal foi eleito vereador por Campo Grande em 2004 e reeleito em 2008. Quase nada fez, não apresentou projetos, não conseguiu conviver com seus pares naquela Casa de Leis. Como em seu programa, seu trabalho se restringiu a requerimentos e solicitações de pedidos, muitos, moções, mas quase nenhum projeto. No entanto dava publicidade aos seus atos, como se fosse o grande questionador e bravo lutador por um povo desassistido.

Em 2010 concorreu e venceu as eleições para deputado estadual, e seu modus operandi não se alterou. Pouco comparecia às sessões, nada apresentou de concreto. Discursos poucos e vazios. Mas nunca perdeu a popularidade e, em 2012 concorreu para prefeito da Capital de Mato Grosso do Sul.

Venceu as eleições na esteira de um cansaço cívico que exigia mudanças. Vinte anos de governo peemedebista na capital e com o comando do Estado, saturou. A Capital crescia e se modernizava, sim. Mas a população mais carente não podia usufruir desta modernidade porque estava doente e desassistida, e seus ônibus lotados lhes impediam de contemplar a beleza das novas avenidas. Andavam apenas pelas velhas ruas remendadas e impossíveis.

Assumindo a prefeitura de Campo Grande, com o apoio e parceria do PV, PPS, PT e PSDB, descobriu-se que, na verdade, Bernal não era popular, era apenas um populista sem a capacidade de aglutinação e projetos sociais que são o alicerce de manutenção do poder deste tipo de político. Ao prefeito eleito não faltava apenas capacidade legislativa, faltava também capacidade administrativa.

Assim não foi difícil perpetuar o Golpe que fora armado até antes do término do segundo turno das eleições. Afinal a equipe de governo acompanhava, em sua maioria, o perfil do líder: não tinham preparo para a função a qual foram indicados, eram apenas serviçais com os quais o prefeito poderia imputar, aos berros, sua própria inépcia. 

Entendeu de forma errada a separação de poderes e, em momento algum, buscou abrir entendimento com os vereadores de oposição e, os de sua base, ignorava ou desqualificava. Quando precisou dos nove vereadores que lhe eram fiéis, percebeu que ao invéz de somar aliados, perdera três deles. 

O Golpe

Por fazerem parte do antigo governo, ou por terem ligação com ele, ou por terem se prestado ao aluguel, ou pela própria arrogância de  Bernal, era impossível não supor que tudo seria feito para que seu governo fosse desmerecido. Afinal, de sob o tapete que se manteve imóvel por 20 anos, havia muita coisa para ser retirada. 

Comprovados, os erros e desvios passados se refletiriam no futuro. Afinal, a população insatisfeita que alijou o antigo grupo do poder ainda era aquela mesma massa de eleitores. 
Retiram do prefeito o controle de suas próprias contas, dinheiro que fartava a Nelson Trad Filho. Questionaram na sua administração as licitações duvidosas acertadas no fechar das cortinas da gestão anterior. Atribuiram a epidemia de dengue causada pelo descaso, ao mosquito. A CPI da saúde, onde os investigados estavam na mira da polícia e do ministério público, não deu em nada. Apontou como única culpada a população que teimava em adoecer.

Demonstraram uma incrível capacidade de esmiuçar preço de gás, mas não conseguiram encontrar um único centavo desviado da Saúde. Analisaram cada documento das empresas contratadas na gestão Bernal, mas não conseguiram enxergar erros nas licitações milionárias de trinta anos de prestação de serviços de limpeza. Descobriram que uma das empresas era recente e não teria capacidade operacional para distribuir alimentos em Ceinfs, mas não procuraram explicar porque uma empresa de apenas um escritório trabalhou com alimentos, merendas e produtos de escritório durante oito anos da gestão anterior.

Inocente arrogância

Mas a soma desses fatores foi a responsável pela mudança. Bernal foi de uma incrível inocência porque estava cego pela sua arrogância. Fez nomeações isoladas, não cooptou partidos. Thais Helena e Semy Ferraz não eram o PT no governo, como também não eram José Chadid e Leila Machado (PSDB).

Buscou socorro no suplente de senador e empresário Pedro Chaves Filho, mas o queria como feitor ou capitão do mato a buscar, no laço, aqueles que Bernal pretendia. O pouco que cedeu, o fez tardiamente e também de forma errada. Contemplar Dr. Jamal, Paulo Siufi e Edson Shimabukuru sem permitir que seus indicados tivessem autonomia administrativa, foi outro tiro que saiu pela culatra. Sequer a vereadora Juliana Zorzo, do mesmo PSC de Pedro Chaves, votou contra a cassação.

Epílogo

Sua defesa na Câmara, durante o histórico julgamento de 12 de maio de 2014, foi um discurso de palanque para um eleitorado desacreditado. Atacou a imprensa, os vereadores, disse perseguido e injustiçado e procurou fazer acreditar que, a partir daquele momento, governaria em consonância com o legislativo, como se num passe de mágica tivesse perdido seu perfil centralizador. Era tarde. Ele já havia se distanciado por quatorze meses, tempo em que ignorou a força do poder legislativo.

Foi um golpe, sim. Mas Bernal conhecia a força de seus adversários. Seu erro foi ter feito um exército de um general, ele próprio,  ladeado apenas por soldados que defendiam apenas seu soldo.

A Sessão de Julgamento começou por volta das 14h20 do dia 12 de março, com a leitura da denúncia feita pelos empresários Luiz Pedro Guimarães e Raimundo Nonato. O Decreto de Cassação do prefeito foi publicado no Diário Oficial de Campo Grande (Diogrande) na quinta-feira (13), triste data histórica.


Gilmar Olarte começa seu trabalho com total apoio político


Gilmar Olarte. Foto: Geovanni Gomes/Top Midia News
Acompanhado de representantes dos diversos partidos políticos que compõem a Câmara Municipal de Campo Grande, Gilmar Olarte (PP) assumiu em cerimônia simbólica, seu gabinete de trabalho no Paço Municipal, como 62º prefeito de Campo Grande. Fez questão de enfatizar que fará um governo com ampla participação dos partidos que fizeram oposição à gestão Bernal.

Seu secretariado está definido, com nomes indicados pelos antigos gestores que passaram a comandar um governo com o perfil de seu administrador: fraco e colocando unicamente nas mãos de Deus as aventuras e desventuras dos caminhos que trilhará.

Por haver sido alijado da administração durante a gestão anterior, Olarte pretende reunir informações do andamento de contratos e serviços e, só após este período e ouvindo os vereadores, definir o novo secretariado.

Da cerimônia de posse, oponto negativo foi a ausência de cinco dos vereadores que formavam a base da gestão anterior, Zeca do PT, Ayrton Araújo (PT), Alex do PT, Cazuza (PP) e Luiza Ribeiro (PPS), que tiveram uma postura radical e não participaram do exercício democrático da posse, reafirmando a postura antidemocrática que marcou a gestão anterior.