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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A imprensa e a unanimidade burra


Se toda a unanimidade é burra, como muito bem descreveu Nelson Rodrigues, a imprensa sofre duas vezes: a primeira por se acreditar unanimemente isenta e verdadeira; a segunda por ser unanimemente desacreditada por todas as correntes políticas conhecidas ou ocultas.

No que tange a ideologia, os partidários radicais das esquerdas cobram que a imprensa trabalhe cada uma das informações veiculadas a partir dos seus significados com as estruturas capitalistas versus socialista/comunista. Ou seja, para cada ato governamental, como por exemplo, oferecer alguns cursos profissionalizantes, esperam que se faça uma análise da educação e as motivações e razões de a educação favorecer ao sistema capitalista, produzindo à custa do erário, mão de obra especializada para as multinacionais, e que deveriam dar um nível de educação que priorize e privilegie a formação do amplo saber que permita uma sociedade de cidadãos conscientes. Ufa.

No entanto, mesmo que o jornalista ou o órgão de imprensa tenha como linha editorial a defesa incontestável esta ou aquela cor partidária, o artigo em defesa da educação técnica ou da formação ampla seria maçante e enfadonho. Para estes artigos existem veículos especializados e público idem.
Seria essa a forma de informar? Não. Por melhor que seja o artigo, a ideia, o ideal, em primeiro lugar era teria a concordância plena de uma parcela e o repúdio de outra; segundo, se não lido porque enfadonho, não cumpriria sua função de informar.

Informar é levar o fato de forma mais isenta possível e permitir que o leitor desenvolva, a partir de tal informação, seu julgamento. Mas até ai há um adendo: a isenção total não cria estilo e sem estilo não se concebe um bom texto, e um texto ruim nunca é assimilado, e se não assimilado não é compreendido, e não resulta em consciência crítica.

Em nossa defesa digo que duas unanimidades, por lógica, criam uma não unanimidade. E, mesmo sob constante crítica ou enterrados sob confetes, vamos nos salvando da burrice.


Banco do Brasil anuncia concurso: R$2.732, para nível médio

O Banco do Brasil (BB) vai realizar novo concurso para escriturário. Foi publicada no Diário Oficial da União desta quarta-feira, dia 27, a prorrogação do contrato do BB com a Fundação Cesgranrio, para a abertura de nova seleção. A Assessoria de Imprensa do BB confirmou que os preparativos do concurso estão em andamento, mas não adiantou detalhes da seleção. Apesar de o banco ainda não ter informado quais serão os estados contemplados, a expectativa é que sejam os mesmos da seleção de 2012 (edital 2012/001), cuja validade vai somente até 6 de maio do ano que vem (já com prorrogação), que também foi organizada pela Cesgranrio.

Na ocasião, as oportunidades foram para Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará, São Paulo, Tocantins e parte de Minas Gerais. Um fonte ligada ao BB informou que o objetivo do banco é divulgar o edital de escriturário no início de 2014. Como tradicionalmente o banco publica o edital com cerca de três a seis meses antes da validade da seleção anterior terminar, para não ficar sem cadastro de reserva, o edital realmente deverá ser divulgado no início do ano que vem.

Outro fator a ser destacado é que 2014 é ano eleitoral e, por isso, o concurso precisa ser homologado até a primeira semana de julho, para que os aprovados possam ser chamados durante todo o ano. A lei eleitoral estabelece que a administração pública só pode contratar aprovados se os concursos forem homologados três meses antes do pleito. Caso contrário, as admissões só poderão ocorrer em 2015.

Nenhuma das localidades do edital 2012/001 foi abrangida nos últimos dois concursos do BB, organizados pela Fundação Carlos Chagas (FCC), um que contemplou 15 estados e foi homologado em abril, e outro para seis outros estados, homologado em 26 de setembro. Em ambas as seleções anteriores (editais 2012/003 e 2013/001), os candidatos foram avaliados através de uma prova objetiva, que contou com 60 questões, sendo 30 de Conhecimentos Gerais e 30 de Específicos, e redação.A remuneração de escriturário, cargo que exige o nível médio, é de R$2.732,04, sendo R$1.892 de vencimentos iniciais, R$472,12 de auxílio-refeição e R$367,92 de cesta-alimentação, para carga de 30 horas semanais. Os selecionados nos concursos do BB são contratados sob o regime celetista.
Fonte: Folha Dirigida

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Audiência Pública discute Políticas Públicas LGBT em Campo Grande

Precisamos estancar a violência, não o sangue derramado
A Comissão Permanente de Educação da Câmara Municipal de Campo Grande, por meio dos vereadores Eduardo Romero (PT do B) e Carla Stephanini (PMDB), e ainda com a participação da vereadora Luiza Ribeiro (PPS), promove no dia 3 de dezembro, a partir das 19h, uma audiência pública com o tema ‘Políticas Públicas LGBT em Campo Grande’.
O objetivo é debater com vários setores da sociedade sobre como a prefeitura municipal pode promover a cidadania do público LGBT. A ideia é ouvir o público, em conjunto com autoridades e segmentos criados para atender a sociedade sem distinção.
O vereador Eduardo Romero explica que a audiência pública foi solicitada pelo Conselho Estadual da Diversidade Sexual, presidido por Leonardo Bastos. Estão definidas na pré-pauta, com possibilidade de novas discussões durante o evento, as ações de enfrentamento a discriminação e a violência; promoção da cidadania da população LGBT; criminalização da homofobia; o Disque 100; famílias LGBT; processo de transexualização no SUS, entre outros
 ‘Protocolamos este pedido por considerar importante a participação da Casa de Leis nos debates sobre os Direitos Humanos’, destaca o conselheiro Leonardo Bastos.
Além da sociedade em geral, foram convidados instituições como secretarias de saúde, secretarias de assistência social e trabalho, secretarias de educação, polícias civil e militar, setor comercial, instituições de defesa dos Direitos Humanos e combate a homofobia, entre outros.
O evento será no Plenário Edroim Reverdito, na Câmara Municipal, no dia 3 de dezembro, a partir das19h. Mais informações pelo telefone 3316-1534, no gabinete do vereador Eduardo Romero.
Políticas públicas LGBT
Em 17 de maio de 1990, a Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde aprovou a retirada do código 302.0 (Homossexualidade) da Classificação Internacional de Doenças, declarando que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”. A nova classificação entrou em vigor entre os países-membro das Nações Unidas em 1993. Com isso, marcou-se o fim de um ciclo de 2000 anos em que a cultura judaico-cristã encarou a homossexualidade  primeiro como pecado, depois como crime e por último como doença.
Apesar do reconhecimento da homossexualidade como mais uma manifestação da diversidade sexual, as lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) ainda sofrem cotidianamente as consequências da homofobia que pode ser definida como o medo, a aversão, ou o ódio irracional aos homossexuais: pessoas que têm atração afetiva e sexual para pessoas do mesmo sexo.
A homofobia e transfobia se manifestam de diversas maneiras, e em sua forma mais grave resulta em ações de violência verbal e física, podendo levar até o assassinato de LGBT. A homofobia também é responsável pelo preconceito e pela discriminação contra pessoas LGBT, por exemplo, no local de trabalho, na escola, na igreja, na rua, no posto de saúde e na falta de políticas públicas afirmativas que contemplem LGBT.

A população LGBT fica submetida a toda essa lógica de preconceito que gera múltiplas formas de discriminação e sofrimentos, sendo que na maioria das vezes, por todos os aspectos citados, esse sofrimento e exclusão de políticas e serviços públicos não são percebidos pela sociedade e instituições como algo que mereça atenção e intervenção do Estado.

A incoerência da defesa burra

Nada mais incoerente do que colocar fatos dentro de nossas verdades. E temos visto uma arrazoado de encaixes imperfeitos na defesa do impossível, no todo do caso mensalão ou em cada caso em particular.

Uma das sandices, esta perdoável até por se tratar de filha e pai, é a defesa de Genoino, ou o contra-ataque desfechado por sua filha. Miruna Genoino emitiu nota ao portal Terra, afirmando que sente vergonha do Brasil, “que deixa que se condene uma pessoa à pena de morte enquanto seu único erro foi não ter medo de lutar pelos demais”.

Quais demais e onde a luta? Numa recente ditadura instaurada, nos arroubos cívicos da juventude que fizeram a ele e tantos outros acreditarem ser possível derrubar as Forças Armadas que tomaram o país como seu, apoiados e amparados numa Direita sedenta de poder e numa coligação de “forças econômicas supremas” que manipulam o mundo? Se isso, agradecemos. Se toda a trajetória após esse arroubo, dispensamos.

A junta médica determinada pelo Supremo Tribunal Federal concluiu que o estado de saúde de Genoino não é grave e o regime domiciliar ou hospitalar não é imprescindível para a continuação do tratamento de saúde a que vem sendo submetido desde que foi preso. Em defesa do pai, mesmo sem base de conhecimentos para tanto, Miruna desqualifica os médicos: “Com que autoridade os senhores sentem-se no direito de dizer que meu pai pode voltar para lá? Viram as condições oferecidas? Comeram a comida de lá? Foram ao banheiro de lá? Viram o ambulatório? Equipamentos de lá?”, questionou.

Então por que não questionar a filha daquele que “empenhou sua vida em prol de uma Nação”, os motivos de o sistema penitenciário brasileiro estar em tão lastimável situação mesmo após doze anos de governo dos devotados salvadores? Se a resposta for: “Ah, mas ele não fazia parte direta do governo, era um dos legisladores”, será patético.

Não fez parte do governo, mas está, conforme comprovado pelo STF, envolvido no desvio de verbas (menores que outros, sim, mas mesmo assim corrupção) do executivo. Verba essa que, empregada na melhoria de vida da população, digamos carcerária, impediria essa imundícia que é a Papuda.

Resta a esperança de que Miruna use de suas própria palavras para um julgamento mais real e menos emotivo: "No entanto, apesar de ser difícil, eu acredito que a justiça, não a dos homens, não falha jamais, e que vocês um dia sentirão na pele o que é agir com falta de humanidade e sem um mínimo de vergonha na cara." Quem merece ouvir e repensar sua vida baseada nestas palavras, Miruna? Não seria seu próprio pai, Genoino?



quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Dois Josés e um Amarildo - Eliane Brum

Eliane Brum para El País - 26/nov/2013

Imagem adicionada pelo blog.
Em seu gesto e na sua reivindicação, José Genoino e José Dirceu demonstraram não compreender o Brasil dos protestos: desde que as manifestações tomaram as ruas, presos políticos são os comuns

Havia algo de melancólico no braço erguido dos dois Josés, Genoino e Dirceu, ao serem presos por corrupção. E na afirmação: “Sou preso político”. O punho cerrado é o gesto de resistência de uma geração que lutou contra a ditadura, pegou em armas, foi presa, torturada e assumiu o poder na redemocratização do país. É também o gesto que não mais encontra destinatário para além de seus pares e de parte da militância do PT. É, principalmente, o gesto que não ecoa na juventude que se tornou protagonista dos protestos que mudaram o país. No Brasil que reconheceu Amarildo, o pedreiro, como mártir da democracia, a evocação vinda de José Genoino e de José Dirceu para ocupar esse lugar não encontra ressonância. Desde as manifestações de junho, os presos políticos são os comuns. Para um partido tão hábil em esgrimir simbologias, não compreender o Brasil forjado no ano que não terminou é uma tragédia talvez maior do que a prisão por corrupção de duas de suas estrelas históricas.

Mártir político é Amarildo de Souza. Favelado, negro, analfabeto, 43 anos, o ajudante de pedreiro conhecido como “boi” pela sua capacidade de carregar sacas de cimento desapareceu em 14 de julho ao ser levado a uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, no Rio de Janeiro. Amarildo, o homem comum vítima da política de criminalizar, torturar e executar os pobres. Uma política que atravessa a história do Brasil, persiste na redemocratização e se manteve nos governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma. Não era o primeiro a desaparecer depois de entrar num posto policial, não foi o último. Mas, pela primeira vez, um homem comum, carregando em si todas as marcas da abissal desigualdade do Brasil, foi reconhecido como um desaparecido político da democracia, lugar destinado a ele pela convulsão das ruas. Esta pode ter sido a maior transformação colocada em curso pelos protestos.

"Pela primeira vez, um homem comum, carregando em si todas as marcas da abissal desigualdade do Brasil, foi reconhecido como um desaparecido político da democracia"

Preso político é Rafael Braga Vieira, 26 anos, catador de latas, morador de rua, negro. Ele foi preso em 20 de junho, durante uma manifestação na Avenida Presidente Vargas, no Rio. Já tinha sido preso por roubo em duas outras ocasiões e cumprido as penas completas. Desta vez, está encarcerado, sem julgamento, há cinco meses no presídio de Japeri. Seu crime: carregar uma garrafa de Pinho Sol e outra de água sanitária. E uma vassoura, mas esta não foi considerada suspeita. Seu caso foi relatado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) e ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Desaparecido político é Antônio Pereira, 32 anos, auxiliar de serviços gerais, negro. Sumiu em 26 de maio, em Planaltina, no Distrito Federal. Há suspeita do envolvimento de policiais militares no seu desaparecimento. Manifestantes marcharam até o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios para protestar pelo seu sumiço. A Comissão de Direitos Humanos do Senado passou a investigar o caso.
Morto político é Douglas Rodrigues, 17 anos, estudante do terceiro ano do ensino médio e atendente de lanchonete. Levou um tiro no peito de um policial numa tarde de domingo, 27 de outubro, quando estava diante de um bar com o irmão de 13 anos, na Vila Medeiros, em São Paulo. Só teve tempo de dizer uma frase, que se transformou num símbolo contra o genocídio de gerações de jovens negros e pobres das periferias do Brasil. Douglas fez sua última pergunta, um conjunto de vogais e consoantes onde cabia uma vida inteira, antes de cair morto: “Por que o senhor atirou em mim?”. Em protesto pela sua morte a população incendiou ônibus, carros e caminhões e depredou agências bancárias.
Estes – e muitos outros – tornaram-se os presos políticos, os desaparecidos políticos e os mortos políticos da democracia desde que os brasileiros redescobriram as ruas e deslocaram a política para fora dos partidos e das instituições. Por isso o braço erguido, o punho cerrado, dos dois Josés, Genoino e Dirceu, é tão melancólico. É o gesto que não se completa ao não encontrar o presente. Lula, o PT e a cúpula do governo concentram sua preocupação e seus esforços para reduzir o impacto das prisões de figuras históricas na eleição de 2014, na qual Dilma Rousseff é a favorita para um segundo mandato. Talvez devessem se dedicar mais a escutar as novas simbologias forjadas nos protestos.
"A frase “por que o senhor atirou em mim? se transformou num símbolo contra o genocídio de gerações de jovens negros e pobres das periferias"
Foi justamente Lula, com a enorme força simbólica de ser o primeiro homem comum a chegar ao poder no Brasil, que em 2009 compactuou com a desigualdade histórica e a política arcaica, em uma frase: “Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum”. Ao pronunciá-la, protegeu o político oligarca que há décadas colabora para promover a miséria de milhões de homens, mulheres e crianças comuns no Maranhão, um dos estados mais pobres do país, e mostrou, como na frase famosa do clássico de George Orwell, hoje um clichê, que, quando convém, compartilha da ideia de que existem aqueles que são mais iguais que outros, tão iguais que merecem tratamento diferenciado.
A reivindicação de “preso político” por Genoino e Dirceu aponta para um cálculo que visa à biografia pessoal de cada um e à do próprio PT, assim como à disputa na construção da memória do país e do imaginário imediato. É também um apartar-se, na linguagem, do preso comum, uma impossibilidade de igualar-se a todos os outros detentos, que também declaram-se, em sua maioria, “inocentes”. Nos dias que antecederam à prisão, José Dirceu, aquele que anunciaria ser um “preso político da democracia por pressão das elites”, descansava num resort de luxo na Bahia que só as elites têm dinheiro para frequentar. Na primeira semana de prisão, foi citado, como exemplo de maus tratos, que Genoino estava tomando “água da torneira”. Isso num país em que “água da torneira”, mesmo depois de dois mandatos de FHC, dois de Lula e três anos do governo de Dilma Roussef, é sonho distante para muitos, uma realidade que o sertanejo Genoino conhece bem. Familiares de presos – estes comuns –, condenados sem crime e sem pena a noites de espera e humilhações para conseguir visitar pais, maridos e filhos na prisão da Papuda, em Brasília, revoltarem-se com o que definiram como “privilégio” daqueles que reivindicam o status de “presos políticos”.
Na prisão, a estrela do PT, que simbolizou – e ainda simboliza para muitos – tanta esperança de igualdade, foi reduzida ao sentido original do jargão publicitário: os presos do “mensalão” ganharam na prática e no imaginário da população o status de gente diferenciada. Esta é uma perda importante para o patrimônio simbólico construído pelo partido a qual seus líderes parecem estar dando pouco valor. O espetáculo promovido pelo ministro Joaquim Barbosa, ao levar os presos algemados para Brasília no feriado da Proclamação da República, foi um excesso em um momento histórico que exigia serenidade e contenção. Deixar presos de regime semiaberto em regime fechado foi um abuso, a que milhares são submetidos por falta de vagas no cotidiano do sistema prisional. A saúde e a vida de José Genoino devem ser protegidas. Não por conta de sua história, mas porque é dever do Estado proteger todos os presos sob sua tutela. 


"A reivindicação de “preso político” por Genoino e Dirceu aponta para um cálculo que visa à biografia pessoal de cada um e à do próprio PT"


Defender a proteção da vida em nome da “dignidade da biografia” é uma distorção. Só colabora para justificar atrocidades cometidas fora e dentro do sistema prisional contra aqueles cuja história é reduzida ao termo encobridor de “bandido”. Os mesmos que, com frequência escandalosa, são executados sem julgamento num país que não tem pena de morte. Crimes cometidos, por exemplo, por polícias como a Rota, a brutal tropa de elite da PM paulista, há quase duas décadas sob o comando dos sucessivos governos do PSDB. Mas é preciso lembrar que também faz parte da biografia de Genoino tê-la defendido em 2002, ao se candidatar ao governo de São Paulo, numafrase que obedecia ao pragmatismo eleitoreiro: “Uma política de direitos humanos não deve impedir a Rota de agir com energia e com força”.
O fato é que Genoino só teve seu direito assegurado por ser um preso privilegiado. Mas a distorção não é a de ele ter recebido assistência, mas a de que todos os outros presos continuem sem ela, a de que é preciso ser um preso “diferenciado” para ter seus direitos básicos garantidos pelo Estado. As vozes que se ergueram para denunciar os maus tratos a que ele era submetido jamais foram tão fortes para defender os presos comuns que adoecem de tuberculose e Aids no cárcere e morrem sem tratamento. É um passo atrás no processo civilizatório quando as pessoas gozam com o sofrimento de Genoino, como ficou explícito nos comentários das redes sociais, alguns torcendo até mesmo pela sua morte, como se não fosse de um ser humano que se tratasse. Mas é preciso escutar também os “bárbaros” para compreender que os mais pobres, sem nenhum problema com a lei, com frequência criminosa não encontram tratamento digno – ou mesmo tratamento algum – no Sistema Único de Saúde (SUS). E que cada vez mais é claro para todos que o dinheiro que se esvai na corrupção é também o que falta na saúde. 


"Defender a proteção da vida em nome da “dignidade da biografia” é uma distorção"

Do partido que diz falar em nome do homem comum esperava-se a grandeza de declarar que mártires são todos os outros. E que direitos de todos não podem ser privilégios de um. Ao demonstrar preocupação por Genoino, Dilma Rousseff demonstrou também omissão por todos os outros presos que vivem uma rotina de ilegalidades e desrespeitos aos direitos humanos mais básicos nas prisões do país que o PT governa há mais de uma década e que tem a quarta maior população carcerária do mundo. Sem esquecer que é dos estados o encargo de construir e administrar os presídios, assim como proteger os presos, obrigação em que todos, de diferentes partidos, falham. A responsabilidade ao perpetuar o que o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Cezar Peluso chamou de “masmorras medievais” é compartilhada. São mais de meio milhão de presos encarcerados em situação tão brutal que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, chegou a dizer que preferiria morrer a cumprir pena.
Assumir-se como preso comum teria sido um gesto simbólico mais forte para quem estreou na vida pública como preso político de uma ditadura, daquela vez sim sem julgamento. Aqueles forjados na luta armada contra um regime de exceção, ao assumirem o poder, lutaram menos do que deveriam pelos presos comuns que continuaram e continuam sendo torturados e mortos nas delegacias, cadeias e prisões do país. Ainda hoje a tortura dos presos políticos na ditadura, a maioria deles de classe média, recebe muito mais atenção do que a tortura sistemática dos presos comuns que perdura na democracia. Sem esquecer que a maioria dos presos torturados e confinados no sistema carcerário brasileiro é composta por negros e pobres. 


"É um passo atrás no processo civilizatório quando as pessoas gozam com o sofrimento de Genoino, como ficou explícito nas redes sociais"


É também de classe social que se trata. Não é um acaso que Manoel Fiel Filho, o operário assassinado pela ditadura, tenha muito menos ressonância na democracia do que Vladimir Herzog, o jornalista assassinado pela ditadura, embora a morte de ambos tenha impulsionado o movimento da sociedade pelo fim do regime militar. Quando Dirceu e Genoino levantam o braço e cerram o punho, declarando-se “presos políticos”, não estão denunciando apenas o que consideram um “julgamento de exceção”, mas colocando-se diante de todos os outros presos como “exceção”. É como dizer: “Eu estou aqui, mas sou melhor do que vocês”.
O espetáculo promovido por Joaquim Barbosa para o que chegou a ser interpretado, com um tanto de exagero, como uma “refundação da República” revelou mais do que estava programado. Mostrou esse lapso, esse corte no tempo, em que o braço erguido, o punho cerrado, se alienou das ruas. Quando as manifestações de junho começaram, a classe média conheceu a truculência da polícia sem perceber que estava diante de seu espelho. Nas quebradas de São Paulo, o poeta Sérgio Vaz ironizou: “Aqui na periferia as balas continuam sendo de chumbo. Estamos reivindicando um upgrade para balas de borracha”. E logo as balas de chumbo acertaram dez (nove moradores e um policial), no complexo de favelas da Maré, no Rio, na sequência de um protesto. E então, em 14 de julho, ao desaparecer, Amarildo de Souza apareceu diante do Brasil. 


"Para a juventude que protestou, os presos políticos passaram a ser os manifestantes levados para a cadeia pela polícia"

Para a juventude que protestou – e em vários momentos expulsou das ruas os militantes de partidos, incluindo os do PT –, os presos políticos passaram a ser os manifestantes levados para a cadeia pela polícia do Estado democrático. Nesta apropriação simbólica – que se inicia antes, mas se consolida a partir dos protestos –, ao mesmo tempo retoma-se o conceito de preso político da geração de Genoino e Dirceu, forjado nos atos contra a ditadura, mas com um sentido próprio, na medida em que a democracia traz uma nova complexidade para as questões que envolvem o termo. No mesmo movimento, assume-se o nome e o rosto das vítimas anônimas e despolitizadas da violência racial e de classe e se dá a elas um conteúdo político. Como aconteceu com Amarildo – mas não só. Vale a pena lembrar que o estopim dos protestos foram 20 centavos – que muitos, em especial a classe média, acharam pouco para tamanha comoção, mas que se tratava da dor de milhões de invisíveis cuja vida é mastigada dia após dia em horas perdidas dentro de ônibus superlotados. Era uma escolha pelo homem comum – incorporando-o em cada um.
É importante perceber ainda que, para uma parte significativa dos manifestantes, os presos políticos são aqueles que a maioria dos partidos, assim como grande parte da imprensa, chamam de “vândalos”. Se os Black Blocs têm vários motivos para cobrir a face, há neste ato também uma escolha pelo anonimato, um fundir-se na multidão. Apoiando ou não suas ações, é preciso reconhecer que escolher se mostrar “sem rosto” é um gesto político de grande significado.
A cara desses movimentos sem líderes anunciados e com causas múltiplas é a da multidão. Mas, a cada momento, a multidão pode assumir a face de um anônimo, para lhe dar coletivamente um nome e uma história. Na hashtag do Twitter, #SomosTodosAmarildo. Ou somos todos aquele que é torturado, violado, morto. #SomosTodosUm. Esta é uma mudança profunda que os homens que levantaram o braço e cerraram o punho parecem não ter compreendido. Se ela parte dos protestos nas ruas, também os transcende para ocupar outros redutos. Enquanto a pequena saga de Genoino se desenrolava, na semana passada, Caetano Veloso e Marisa Monte cantavam no Circo Voador, no Rio, para levantar fundos para a família de Amarildo. A certa altura, a cantora pediu à plateia que vestissem a máscara de Amarildo que haviam recebido na entrada: “Vamos deixar registrado para a posteridade esse momento onde a gente incorpora o Amarildo e graças a isso consegue transformar tantas coisas. É assim que a gente consegue mudar esse país”. A máscara é a possibilidade de ser um e, ao mesmo tempo, todos os outros.
A mudança é um momento agudo de um processo histórico no qual Lula e o PT tiveram, mais do que qualquer outro político e partido, uma contribuição decisiva, no concreto e no simbólico de sua ascensão ao poder. Apartaram-se, porém, e parecem estar bem menos preocupados do que deveriam com seu divórcio com as ruas. O braço erguido, o punho cerrado, é um capítulo melancólico de um partido que parou de escutar. Em parte porque acredita conseguir manter o voto dos homens e mulheres comuns que recebem o Bolsa Família e ainda se contentam com o que, se por um lado é enorme, ao reduzir a miséria e a fome, também é pouco para a potência contida numa vida humana.
A tragédia dos dois Josés do PT não é apenas terem sido presos por corrupção, mas a impossibilidade de dizer #SomosTodosOsPresos. 

Hotel da Sucessão - Carlos Brickmann

Coluna de Carlos Brickmann

A imagem foi incluída para ilustrar matéria no blog
Só quem conhece a história da TV brasileira recorda deste programa de sucesso de 1955, na época da eleição que levou Juscelino Kubitschek ao poder. No hotel se hospedavam os personagens da campanha. Lá circulava não muito discretamente um objeto misterioso que convencia os políticos a mudar de opinião.

Pois agora, a um ano da eleição, 58 anos depois, outro hotel entra em cena. O ex-ministro José Dirceu pediu ao Supremo que o autorize,como presidiário em regime semiaberto, a trabalhar durante o dia na gerência do Hotel St. Peter, em Brasília. José Dirceu, trabalhando em hotel, sem qualquer experiência no ramo?

Depende do ramo. O proprietário do Hotel St. Peter é Paulo Abreu, empresário de comunicações, de tradicional família de políticos (como os ex-deputados Dorival de Abreu e José de Abreu). É dele a Rede Mundial, que engloba uma série de emissoras de rádio em São Paulo, Supertupi AM e FM, Kiss FM, Scalla FM, Apollo FM, Terra AM e FM, Atual, com ótima audiência. Mas seu sonho é maior: ressuscitar a TV Excelsior, que já foi a maior rede do país sob o comando de Mário Wallace Simonsen, e destruída pelo regime militar. Paulo Abreu, ao longo dos anos, obteve os direitos da TV Excelsior; e não encontra resistência no Ministério das Comunicações. Só falta um decreto presidencial, que elimine eventuais pendências da velha Excelsior com o Governo Federal e lhe deixe o caminho livre.

Como dizia José Dirceu, quando ele dava um telefonema "era um telefonema!" Prestar-lhe um favor, tê-lo ao lado todos os dias - que mal faz?

Os mais iguais

O artigo 231 do Estatuto do PT determina a expulsão de petistas condenados "por crime infamante ou práticas administrativas ilícitas, com sentença transitada em julgado". Nenhum dos condenados com trânsito em julgado no processo do Mensalão foi expulso, ou teve o processo de expulsão iniciado.

O decreto 4.207/02 determina a cassação de medalhas oficiais de condenados com trânsito em julgado. José Dirceu tem a Medalha da Ordem do Mérito Militar; José Genoíno, a Medalha do Pacificador; Roberto Jefferson, a Medalha do Pacificador e a Ordem do Mérito Militar; Valdemar Costa Neto, a Medalha do Pacificador. A Medalha do Pacificador deve ser cassada por ato do comandante do Exército, general Enzo Peri; cabe ainda a ele notificar o Conselho da Ordem do Mérito Militar da situação dos condenados. Mas até agora ninguém se moveu, muito menos ele: essa história de obedecer às normas é para os menos iguais.

carlos@brickmann.com.br 
www.brickmann.com.br

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Índios Terena completam etapa de livro em língua nativa

Obra em língua nativa está sendo escrita sob a coordenação do Programa de Educação Ambiental

Professores da aldeia Lagoinha, localizada no distrito de Taunay, a 50 km da sede do município de Aquidauana, participaram de mais uma etapa da elaboração do livro que trará aspectos ambientais pela ótica da cultura Terena e que está sendo escrito em língua nativa. Junto com a professora doutora Christiane Gioppo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), os professores fizeram uma nova revisão da obra que vai contar com 22 lições, entre textos e atividades.O encontro ocorreu nesta quinta-feira (21) na Escola Municipal Marcolino Lili.

O livro "Lições Ambientais dos Terenas" ensinará as crianças indígenas por meio de poemas, trava-línguas, lendas, mitos e histórias reais. Segundo a professora Christiane, além do livro que será distribuído aos estudantes os professores estão elaborando também sequencias didáticas para desdobrar as atividades, inter-relacionando as diversas áreas de conhecimento e que serão usadas em sala de aula. "O trabalho não acaba com a publicação da obra. Ela se tornará material de apoio ao ensino, com ele as crianças aprenderão mais do que lendas. Os estudantes poderão relacionar as histórias com conhecimento da matemática, das artes plásticas, teatro, geografia e, principalmente, relacionar com aspectos do cotidiano deles", explica.

Nos encontros para revisão do material, sob a coordenação da professora Christiane, os professores aperfeiçoam a escrita Terena e também elaboram as sequências didáticas. Ontem o grupo desenvolveu dois materiais, um para a lenda da Sereia e outro para O Mito do Arco-íris. Segundo Crhistiane, nessas atividades a história será trabalhada sob diversos aspectos, inclusive o científico, já que é possível discutir como o arco-íris é formado por micro gotícula de água que estão na atmosfera e que atuam como um verdadeiro prisma, quebrando a luz branca." Outras abordagens incluem um experimento usando o disco de Newton, um prisma e a luz do projetor, uma discussão sobre cores, numerais e gráficos de preferências da turma sobre as cores, apenas para listar algumas sugestões, afinal temos foco no científico e na criatividade", afirma a professora.

Os professores estão animados com a elaboração do material. Para Rosemeire Moreira, que leciona na Aldeia Lagoinha, o livro e as atividades propostas em grupo irão tornar as aulas mais atrativas para as crianças. " É interessante misturar lendas com o dia a dia das crianças. Elas vão aprender sobre a cultura Terena e história, por exemplo, já que terão que pesquisar na aldeia, conversar com os mais velhos", diz.

A produção do livro faz parte do Programa de Educação Ambiental (PEA) do projeto " BR-262 - Faço parte desse caminho" que é desenvolvido pelo Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura (ITTI) da UFPR. O objetivo da publicação é contribuir com a disseminação da língua mãe entra aproximadamente 2.000 crianças Terena matriculadas nas séries iniciais de 15 aldeias dos municípios de Anastácio, Miranda e Aquidauana.

BR-262 – Faço Parte deste Caminho

O Projeto de Gestão Ambiental das Obras de revitalização na rodovia BR-262/MS, entre Anastácio e Corumbá, é realizado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) por meio do Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura (UFPR/ITTI). A parceria é realizada através de cooperação com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), com o objetivo de cumprir as condicionantes para a emissão e/ou manutenção das licenças requeridas por órgãos ambientais.


Fonte: ITTI – Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura

10 razões para não pedalar

Sabemos que está na moda pedalar, para o trabalho, por desporto, para estar com os amigos e até para competir. Mas há também razoes fortes para não o fazer e vou deixar aqui algumas das mais pertinentes.

1. Pedalar torna as pessoas mais atraentes. Sabemos bem que a determinada altura se torna aborrecido ser o centro das atenções, especialmente numa coisa que é difícil de reverter depois de conseguido.
2. Pedalar torna as pessoas mais saudáveis. É feio andar a vender saúde hoje em dia, com todos os colegas do escritório a queixarem-se da obesidade, das varizes, da falta de ar e outras que tal, é quase ofensivo sermos o único com saúde no meio deles, arranje um problema de saúde e conviva mais com os seus colegas.

3. Pedalar faz as pessoas inevitavelmente mais felizes e com autoestima elevada. Num pais onde a venda de antidepressivos aumentou consideravelmente nos últimos anos, chegar ao trabalho a sorrir é quase como por um alvo nas costas, pior é que o sorriso tem tendência a ser constante durante o dia, não ofenda os seus colegas com alegria desnecessária.

4. Pedalar não gera impostos. A bicicleta não usa gasolina, diesel, ou GPL, não tem seguros obrigatórios, nem inspeções obrigatórias, a manutenção é ridiculamente baixa e não paga taxas de estacionamento. Num momento difícil em que o pais atravessa é egoísmo não contribuir com as carradas de impostos como as que os automóveis pagam. Contribua com muitos impostos, vá de carro, o pais agradece.

5. Pedalar irá prolongar a sua vida na velhice e com mais qualidade de saúde. O problema do pais é a sustentabilidade da Segurança Social por ter de pagar reformas até muito tarde, alem do mais ao envelhecer com mais saúde não irá deixar a reforma na farmácia todos os meses.

6. Pedalar dá má fama na vizinhança. Por mais que aumente a sua qualidade de vida financeira depois de abdicar do automóvel, os vizinhos nunca saberão, pensarão que é pobre. Esqueça essa ideia de viver bem e até poupar dinheiro para as alturas difíceis, compre um bom carro de alta cilindrada, mesmo que não tenha dinheiro para dar de comer aos seus filhos, os seus vizinhos pensarão sempre o melhor de si, o que se passa dentro de portas ninguém sabe.

7. Pedalar para o trabalho é entediante. Chegar sempre a horas, demorar sempre o mesmo tempo no trajeto casa-trabalho-casa é entediante. Todos sabemos como sabe bem passar 30, ou 45 minutos fechados no carro a ouvir comerciais no meio de um engarrafamento, nunca saber a que horas chegaremos ao trabalho, ficar bloqueados por acidentes, trânsito inconstante e ainda ter de procurar o tão difícil local para estacionar.

8. Pedalar tonifica o corpo. Rapidamente as suas amigas vão espalhar o boato de que esse corpinho tonificado, o desaparecimento da celulite e o sorriso constante no rosto se deve a um colossal investimento numa cirurgia estética e de que a bicicleta é apenas a tentativa de encapotar isso.

9. Pedalar favorece o comercio local. As visitas aos estabelecimentos locais tornar-se-ão mais frequentes, as pessoas que pedalam deslocam-se mais vezes aos estabelecimentos perto de casa, os cuscos (cachorros) das redondezas podem começar a falar da sua vida.

10. Pedalar para o trabalho contagia os amigos e colegas. Tenha cuidado para que não lhe sigam o exemplo, é que as pessoas que pedalam tem uma autoestima mais elevada e têm tendência a não se deixarem acomodar, em breve a vida ai no escritório pode começar a ficar agitada. 

Fonte: oprojetopedal.wordpress.com


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Penteadeira de Puta

Vanda Ferreira

Roda de amigos é uma delicia de roda de prosa, rica em sinceridade e espontaneidade. Em roda de amigos rola prosa de inusitados temas onde todos falam e todos escutam. Acredito que a realeza de terapia em grupo é de incomparável resultado de roda de amigos porque todos falam, sem rodeios, de inesquecíveis momentos, saudosos ou não, disputando a vez para falarem de passado, presente e futuro. Tipo um confessionário descompromissado com o pudor. 

Certa vez, em uma pequena roda de prosa, animado o papo fluía escancarando segredos. Um dos amigos contava lembranças de sua mocidade, os flertes, as paqueras, e suas traquinices com as mulheres. Contava episódios engraçados e todos se divertiam, riam, especulavam sobre detalhes sórdidos da época de travessuras de homens jovens na década de 60, em especial sobre as “Casas de tolerância”, as “Zonas de baixo meretrício”, os “Puteiros”. 

Tudo contado com riqueza de detalhes, em especial quando se referia às “mulheres da vida”, as prostitutas. Aquele papo me despertou a curiosidade e fiquei atenta aos causos daquele amigo, cujas histórias explicitavam sua iniciação sexual, que, até então, nunca havia ouvido de ninguém, depoimento de tamanha envergadura intima, inda mais imaginado que havia tanta graça nas histórias masculinas.

Devaneei e fui imaginando cenários, decorações, vestuários e as casas de prostituição, as ditas Zonas. Vislumbrei os grandes salões barulhentos, sedutores de uma sociedade hipócrita em um particular mundo de plena felicidade masculina.

Em certo momento ouvi o amigo protagonista fazer referência à penteadeira de puta, que, segundo o referido amigo, era farto de produtos de beleza.

Vislumbrei a penteadeira antiga: um abarrotado móvel-aparador com enorme espelho oval emoldurado na parede, cujo aparador era atulhado de maquiagem, caixinhas encantadas, potes de cremes mágicos, coleção de batom de todas as cores e de todos os sabores, sobrecarregada de pentes, outros objetos para cabelos, e de sabonetes perfumados.

Vislumbrei o vaporizador de perfume revestido com fino tecido de seda ou de tule e uma peninha cor-de-rosa no gargalho do redondo frasco de vidro furta-cor. E os cheiros? Florais! Jasmim, rosa, violeta.

E, então, conectei-me àquele cenário genuinamente feminino e revi meus cosméticos, meus perfumes, minha coleção de batom, de pentes, e de xampus, presilhas de cabelo, colares e brincos, e anéis, e sabonetes líquidos e em barra, além de saches e aromatizantes. Tenho uma verdadeira coleção de tudo, bem semelhante à penteadeira descrita pelo amigo, a “penteadeira de puta” segundo o tal amigo. 

Ufa, sim, tenho e adoro.

Gente! Há uma puta em mim? Tenho um lado puta? Eis a indagação, e eis a resposta que encontrei em mim e em outras mulheres:


Coisa de mulher é coisa de mulher. Independente de ser ou não puta, mulher investe em beleza, prezando pelo belo e bem-estar. Mulheres são as pioneiras no uso de produtos embelezadores, usam cremes para a pele do rosto, a pele do corpo, para os pés e mãos. Mulheres usam abusadamente de cosméticos simplesmente porque é sábia e sabe que beleza é um fator importante, afinal beleza também se põe na mesa, no banheiro, na cozinha, na parede, no carro, no jardim, na calçada, na pele, nos olhos e no coração. Perfumamos o corpo, os móveis, as roupas. 

Memorável a visão das mulheres putas de antigamente que valentes expressaram a importância do embelezamento pessoal. Louváveis aquelas mulheres que calçaram o desenvolvimento da indústria de cosmetologia, coisas do aparente universo exclusivamente feminino que deixou de ser coisa de mulher e passou a ser adotado pela sociedade masculina, garantindo o sucesso para imperioso comercio que agrega adeptos crianças, homens, mulheres e animais de estimação ao uso de produtos de beleza e higiene. Mas esta é uma pauta para outra crônica.

Vanda Ferreira é escritora sul-mato-grossense

me pediu que revisasse o texto, mas seria perder o cheiro da originalidade caso alguma correção coubesse. 


Show de Horrores

Não bastou à Câmara Municipal de Campo Grande haver presenteado a população de Campo Grande com uma Ópera Bufa que se arrastou até se transformar em um Dramalhão Mexicano escrito a quatro mãos pelos dois vilões sem caráter e tendo por atores e corpo técnico, profissionais contratados e bem pagos para que não fujam do script, agora também querem esquartejar e expor as vísceras do prefeito num espetáculo escatológico.


Um buraco, se não para fugir,

ao menos para enfiar a cabeça



Duas derrotas seguidas para a Justiça, este o saldo das ofensivas da Câmara Municipal de Campo Grande contra o prefeito Alcides Bernal. Se antes criticávamos Bernal acusando-o (não sem justiça) de teimosia, agora a carapuça cabe perfeitamente aos vereadores que tentam desesperadamente colocar o vice, Gilmar Olarte em seu lugar antes que fique impossível conter a exposição das diversas falhas – para falar o mínimo – do antigo governo da dinastia Trad, alicerçada e ensandecidamente apoiada por grande parte dos vereadores da atual legislatura.

Estava evidente que negociações diplomáticas mesmo que não acabassem com a guerra, manteria vivos os entrincheirados que não têm mais terreno a conquistar e não pretendem deixar o campo de forma humilhante, com um possível recuo obrigatório. Obedecendo cegamente o Estado Maior que não será jamais ferido em combate, para não perderem os anéis, arriscam os próprios dedos.


A segunda grande derrota da Comissão Processante aconteceu quando o procurador jurídico Fernando Pineis pediu prazo maior para conceder parecer sobre o pedido de afastamento do prefeito, sob a alegação de que “Este é um caso diferenciado, que exige um estudo profundo, porque isso nunca aconteceu numa Capital. Há muita divergência de jurisprudência e precisamos avaliar melhor o assunto para trazer algo mais conclusivo. Temos que trabalhar de forma segura, para chegar a uma decisão responsável”, afirmou o Procurador.

O relator da Comissão Processante, Flavio Cesar (PTdoB) alegava que o  prefeito Alcides Bernal (PP) deveria ser afastado do cargo para não atrapalhar as investigações. No entanto, ninguém conseguia explicar os reais motivos para o afastamento e quão grande era o temor de interferência. Diziam que Bernal buscava formas de trazer parte dos vereadores para sua base de apoio. Mas, estranho que os vereadores não entendam este ato como parte inconteste da Democracia.

Ademais, tirar Bernal por considerá-lo parte interessada e possível de interferência nos trabalhos da Comissão e colocar Gilmar Olarte, também ele que passaria a ser parte interessada, neste caso na cassação do prefeito eleito, e também ele podendo interferir nos trabalhos da Comissão só cabe na lógica patética do PTdoB, conhecido como time B do PMDB.
E, para quem entendeu que houve omissão no texto acima, por iniciar citando a “segunda” grande derrota, acreditamos que fica claro e patente que a primeira grande derrota é ter-se formado uma Comissão Processante ancorados na denúncia de Luiz Pedro Gomes Guimarães e Raimundo Nonato de Carvalho flagrado em gravações muito suspeitas – para quem ainda lhe dava crédito – e ainda não explicadas.
Trapalhadas e a pá de cal
Na quarta-feira (20), o desembargador Hildebrando Coelho Neto, com um parágrafo de fundamentação e baseado na teoria do princípio do Devido Processo Legal, decidiu a favor de Alcides Bernal, pela suspensão da comissão. Poucas horas depois, no começo da madrugada da quinta-feira (21), o desembargador Luiz Tadeu Barbosa Silva – elevado a juiz pelo quinto constitucional durante a gestão do atual deputado federal Fábio Trad (PMDB) na presidência da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Mato Grosso do Sul –, cassou a tutela antecipada que determinava a suspensão dos trabalhos.
Desembargador Luiz Tadeu Barbosa Silva, que cassou a tutela antecipada que determinava a suspensão dos trabalhos da Comissão Processante na madrugada do dia 21.
Nomeado pelo governador André Puccinelli na vaga destinada ao quinto constitucional durante a gestão do atual deputado federal Fábio Trad (PMDB) na presidência da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Mato Grosso do Sul.

O recurso impetrado pelo advogado e desembargador aposentado, Jesus de Oliveira Sobrinho, alegava que os vereadores, Paulo Siufi (PMDB), Elizeu Dionízio (SDD), Otávio Trad (PTdoB) e Chiquinho Telles (PSD), que haviam integrado a CPI da Inadimplência, seriam os reais artífices do procedimento de cassação e não Luiz Pedro Guimarães e Raimundo Nonato, estando portanto impedidos de ter votado a favor da criação da Comissão Processante.
Na tarde da sexta-feira (22) e após a Câmara de Campo Grande enviar convite para credenciamento da imprensa, com “prioridade aos veículos que vem cobrindo constantemente as audiências da Comissão”, em claro detrimento dos semanários, uma nova decisão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul suspendeu os trabalhos da Comissão Processante.

O desembargador João Maria Lós revogou a liminar concedida pelo desembargador Luiz Tadeu Barbosa Silva, retomando decisão anterior do desembargador Hildebrando Coelho Neto, que acatara o pedido do prefeito Alcides Bernal de suspender a investigação até o julgamento do mérito pela 1ª Câmara Cível. Bernal, que se diz vítima de um golpe, não precisará depor na segunda-feira.

Retomamos uma briga que movimenta as redes sociais, toma os espaços dos noticiários e impede que ações plenas e efetivas se tomem em favor do município e sua população. Agora, novos soldados parecem ter sido convocados para substituir os alquebrados do pelotão peemedebista, e chegam disparando para todos os lados, sem lógica, sem noção. O mais recente suboficial oriundo das academias e sem traquejo de batalha é o deputado federal Fábio Trad que usa de forma leviana e desclassificada a rede social para atacar a vereadora Luiza Ribeiro (PPS), como se isso fosse purificar os pecados cometidos pelo irmão Nelsinho. Nem isso, nem impedir que, mais cedo ou mais tarde, sua administração ocupe o banco dos réus.

Campo Grande ataca o que de melhor as lastimáveis eleições passadas produziu. O ataque ofensivo e baixo aponta para a sordidez que a corrupção chegou.
Vereadora Luiza Ribeiro
E assim caminha nossa política. Nelsinho desacreditado, André Puccinelli lutando pelo fim da Dinastia Trad, Alcides Bernal lutando contra suas próprias imperfeições e neuroses, Pedro Chaves e Santini buscando conseguir indicar secretários competentes para todas as áreas enquanto busca uma aproximação com vereadores que pensam abandonar o navio antes que seja tarde. E a Câmara, próxima do fundo do poço e cavando, porque sabe que outro lugar não tem para ir, mesmo porque os anteriores presidentes, entre os quais Edil Albuquerque e Paulo Siufi, durante a administração Nelson Trad Filho, levaram a Casa do Legislativo a forçosamente abandonar o edifício por ordem de despejo... ou será que a culpa também é da atual administração?