Se toda a unanimidade é burra, como muito bem descreveu
Nelson Rodrigues, a imprensa sofre duas vezes: a primeira por se acreditar unanimemente
isenta e verdadeira; a segunda por ser unanimemente desacreditada por todas as
correntes políticas conhecidas ou ocultas.
No que tange a ideologia, os partidários radicais das
esquerdas cobram que a imprensa trabalhe cada uma das informações veiculadas a
partir dos seus significados com as estruturas capitalistas versus socialista/comunista. Ou seja,
para cada ato governamental, como por exemplo, oferecer alguns cursos
profissionalizantes, esperam que se faça uma análise da educação e as
motivações e razões de a educação favorecer ao sistema capitalista, produzindo
à custa do erário, mão de obra especializada para as multinacionais, e que
deveriam dar um nível de educação que priorize e privilegie a formação do amplo
saber que permita uma sociedade de cidadãos conscientes. Ufa.
No entanto, mesmo que o jornalista ou o órgão de imprensa
tenha como linha editorial a defesa incontestável esta ou aquela cor
partidária, o artigo em defesa da educação técnica ou da formação ampla seria
maçante e enfadonho. Para estes artigos existem veículos especializados e
público idem.
Seria essa a forma de informar? Não. Por melhor que seja o
artigo, a ideia, o ideal, em primeiro lugar era teria a concordância plena de
uma parcela e o repúdio de outra; segundo, se não lido porque enfadonho, não
cumpriria sua função de informar.
Informar é levar o fato de forma mais isenta possível e
permitir que o leitor desenvolva, a partir de tal informação, seu julgamento. Mas
até ai há um adendo: a isenção total não cria estilo e sem estilo não se
concebe um bom texto, e um texto ruim nunca é assimilado, e se não assimilado
não é compreendido, e não resulta em consciência crítica.
Em nossa defesa digo que duas unanimidades, por lógica,
criam uma não unanimidade. E, mesmo sob constante crítica ou enterrados sob
confetes, vamos nos salvando da burrice.
Nenhum comentário:
Postar um comentário