136 médicos pedem
exoneração, projetos que estavam corrigindo problemas foram extintos, excessiva
pressão sobre os profissionais de saúde, política da delação entre
apaniguados...
Existe uma queda de braço entre os servidores médicos e a Secretaria Municipal
de Saúde Pública (Sesau) que envolve o clima de “denuncismo” contra os
profissionais médicos num claro jogo de repassar a responsabilidade a esses
profissionais e não à falta de gestão do atual secretário e da incapacidade
administrativa do governo municipal.
Denúncias indicam que alguns profissionais médicos assinam o ponto de
colegas que não comparecem às escalas de plantões. Isso implica, por exemplo,
que mesmo escalados seis médicos por plantão, muitas vezes apenas dois
profissionais cumprem a jornada, o que acarreta prejuízos à população. A Sesau
informa que seis sindicâncias foram abertas.
“Em março e abril, a
Sesau conseguiu flagrar seis faltas a plantões sem justificativa e investiga a
circunstância por meio de sindicância administrativa. As informações de que o
profissional escalado não apareceu ou ‘desapareceu’ no meio do expediente
chegam por meio de denúncias”, disse
o prefeito. No entanto estranho que apenas “seis” faltas causem tamanha deficiência
de atendimento nas unidades, isso é coisa que não explicaram.
Ainda que 136 médicos tenham pedido exoneração e que o atual prefeito
Marquinhos Trad (PSD) informa que buscou resolver a situação da saúde com a
convocação “temporária e para o setor de Saúde da Família” de profissionais
aprovados no último concurso durante o ano de 2016, e tenha determinado o
pagamento de gratificações para os plantões e finais de semana nas Unidades de
Pronto Atendimento (UPAs), como se houvesse novidade nisso, ainda assim a falta
ou abandono do posto impedem que a escala consiga ser cumprida. O Conselho Regional
de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM-MS) foi notificado, bem como o
Ministério Público Estadual (MPE).
Em meio ao
terror ditatorial
Ainda que houvesse extinto programas fundamentais para o bom
funcionamento da saúde pública, Marquinhos se apropriou de outros para, na pior
face do Big Brother, exercer um comando de terror nas Unidades. Por monitores
instalados, que antes serviam para atendimento da população por meio do
programa Equipe Móvel – sempre que havia ausência de médicos, equipes sediadas
na Sesau eram deslocadas para suprir essa lacuna – o prefeito aterroriza
servidores exigindo o atendimento deste ou daquele paciente, demonstrando total
ignorância dos procedimentos e da classificação de risco feita exclusivamente
por profissionais da área.
Não bastasse, menospreza – ou realisticamente entende – a incapacidade
administrativa de seu secretário da pasta, mais sócio de seu irmão do que um
administrador.
A partir da falta de atendimento, pode-se entender a extinção de outro
projeto que obteve mais de 85% de aprovação da população – conforme pesquisa da
auditoria do SUS – do projeto Posso Ajudar, quando universitários tinham seus
estudos pagos e davam suporte de atendimento nas unidades, esclarecendo e sendo
facilitadores dos pacientes.
Até mesmo o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Sebastião Junior,
afirma que falta organização, quando são constatados “abandono” e limite de
atendimentos provocando espera excessiva dos pacientes.
Triste realidade
Um médico (que destina pelo menos 6 anos de estudos e residência) concursado
recebe hoje do município R$ 2.516,72 para 12 horas por semana de trabalho, e
por plantões (com limite de carga) R$ 830,56 para cada 12 horas trabalhadas, R$
913,60 para plantão no período noturno e R$ 996,11 aos fins de semana e
feriados. A remuneração dos plantões dos pediatras é diferente.
Enquanto os médicos vêm sofrendo todo tipo de pressão e sendo responsabilizados pela falta de gestão (além, e muito além, de má gestão), ex-vereadores semianalfabetos ou de instrução mínima são
comissionados com rendimentos de até R$ 11 mil, leis são alteradas para favorecer
parentes de parentes, também com salários elevados, cabos eleitorais idem...
numa folha inchada em mais de 900 desses comissionados.
Entre o terror e a incapacidade administrativa, o prefeito ameaça com o
atraso do pagamento dos servidores, o que lhe permite o clima de denuncismo
feito por todos aqueles que entenderam que o melhor, em época de vacas
abandonadas no pasto seco, é ser amigo do rei.
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