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sábado, 29 de setembro de 2012

Sem chances de reconciliação


O aprimoramento das regras eleitorais é mais que urgente, pois estão atrasadas no que se pode considerar, pela velocidade das mudanças que a sociedade assiste, em séculos.

Não importa aos candidatos, aos institutos, à mídia que divulga os resultados, mas seria lógico questionar a população, em pesquisas, o grau de conhecimento dos currículos, programas partidários e propostas de cada candidato da majoritária. Cremos que o resultado não surpreenderia.

E o que falar da avalanche de candidatos a proporcional, distribuídos pela infinidade de partidos. Candidatos e partidos sem significância, sem nada.

Mas a quem, senão à Democracia (governo do povo; governo em que o povo exerce a soberania) e por extensão aos cidadãos, interessa esta mudança que permita ao eleitor optar por aqueles que lhe representarão verdadeiramente e com os quais tenha afinidade de princípios.

Democracia e a atual classe política divorciaram-se, sem chances de reconciliação.

Somos cúmplices, sim. Quando calamos em relação ao desmoronamento da educação, que é brindada com sacolas de beneplácitos sociais. Investir na melhoria da qualidade de ensino desde as séries iniciais, instituindo além de salários e condições dignas aos professores, promoções meritórias, bem como aos alunos, para que estejam preparados para ingressar no ensino superior, todos em igualdade de condições. Preferimos as cotas, ou resolvemos dois problemas que sequer deveriam existir quando sustentamos através do Prouni, faculdades e universidades fadadas à falência pela baixa qualidade do ensino.

Um povo só exerce seus direitos quando consciente destes, e a conscientização passa por uma sociedade mais que letrada, culta. Fragilizaram o povo endeusando aqueles que deveriam ser seus representantes.

Cabe a cada um se apresentar à luta, questionando, desmoronando o castelo de cartas das mentiras repetidas como mantras, descortinando o palco desta apresentação bufa, até que as regras sejam mudadas, até que as ideias prevaleçam.

Postado como Editorial no Jornal Liberdade MS - ed. 59.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Se não for pelo amor, será pela dor


Este texto foi escrito em 2006, creio que setembro, e publicado no jornal diário Folha do Povo de Mato Grosso do Sul, anterior à criação do blog. No entanto, caiu em minhas mãos, por estes dias, o original. Reproduzo por acreditar que ainda hoje, e por um bom tempo, refletirá sempre a verdade (do meu ponto de vista) sobre a política em época de eleições.

setembro de 2006

Alguns fatos tipificaram esta eleição:

1 – Alterações da lei eleitoral em cima da hora deixaram candidatos com dinheiro de caixa dois que não pode ser “esquentado”, e seu destino (camisetas, brindes etc.) perdeu a razão de ser, e os materiais permitidos são, desde sempre, confeccionados com notas fiscais de valor fictício;

2 – Este dinheiro que é maior para uns, está servindo de compra de votos, como prova pesquisa recentemente divulgada;

3 – O horário eleitoral (que penaliza as emissoras, mas de gratuito não tem nada) é tão acompanhando pela população quanto ”A Voz do Brasil”, não determina voto;

4 – As reuniões residenciais contam com a média de 50 eleitores. Sabendo que um deputado estadual se elege com 25 mil votos e um federal com 40mil votos (Mato Grosso do Sul), façam as contas do número de reuniões necessárias (nem todos saem destas reuniões com seu voto definido e os que o fazem não são multiplicadores de votos);

5 – No frigir dos ovos, o eleitor votará naqueles que já exercem o cargo até porque  não memoriza o número do candidato que porventura tiver escolhido. A maioria dos candidatos será reeleita apenas e tão somente em função disso.

E o que significa o voto nulo ou o voto em branco? Há certa exacerbação de temor do voto nulo, talvez maior até do que no voto facultativo. Por quê? Talvez por referendar uma democracia capenga onde os opostos se atraem, se completam e passam a ter a mesma face na mesma Casa de Leis.

Aproximadamente 60% dos eleitores, a poucos dias das eleições, não tem definido seu candidato aos cargos de deputado estadual e federal. Se não levarmos em conta a hipótese número 5, se contarmos que estes votos se definam como nulos, qual será o foco desta luz? Qual fato é iluminado?

Esses 60% de votos nulos indicariam claramente o que a consciência grita. O poder legislativo está desacreditado como um todo. Ninguém sabe em quem votar... ninguém sabe em quem votou... ninguém sabe o que faz o eleito (exceto os habituée de páginas policiais).

Esta realidade, confirmada com o voto nulo nos coloca frente a frente com o perigo iminente das articulações de quem e sonha um governo ditatorial. E não são poucos. E não estão tão distantes do poder.
Da nossa história, por força do ensino (e não me refiro a educação), conhece-se a “oficial” e nada além. Assim como hoje não se tem consciência dos nefastos anos de inflação e seus sobressaltos, perdeu-se a noção da ditadura que quase nos destruiu como cultura, como Nação.

Como desejamos um Congresso, qualquer que fosse, mesmo este... Como desejamos liberdade para contestar, protestar, inquirir, mesmo que fossem poucos os “com permissão” para isto.

O voto nulo pode ser questionável, mas é um direito do eleitor

Contabilizados os votos, que os eleitos pensem a respeito. Contem brancos e nulos, some parcela dos votos dadas aos reeleitos (lembrem-se da forma pouco ortodoxa de pensar do eleitor, que prefere deixar como está para não correr o risco de ver como fica, ou a situação pior).

Num golpe de estado aos moldes da “Redentora”, ninguém é amigo do rei, que o digam Carlos Lacerda e outros golpistas de primeira hora.

Quedas de avião e abalos democráticas, diz a sabedoria popular, vêm sempre em três. Mirem-se nas mulheres de Atenas, na Bolívia, na Venezuela,  mirem-se onde quiserem... mas, mirem. Mirar é mais que apenas olhar.

Voto nulo é um protesto válido e legal, mas como todo protesto tem suas consequências para o bem e para o mal.

E os jornalistas que poderiam e deveriam agir como agentes da inquirição e arguição portam-se como atores de ópera bufa. Seguem o script: pergunta – resposta, sem conteúdo, sem malícia, sem nada. É triste ver candidatos relatando dados falsos, mentiras escancaradas, e estes jornalistas seguirem para a próxima questão sem o menor questionamento, sem qualquer pudor, como se estagiários ainda, sem a postura jornalística, sem o verniz com que o tempo adorna.

É triste. Soa como se as perguntas contundentes fossem feitas sem embasamento, apenas por ouvir falar, tão somente para ter uma resposta, seja qual for. O que o espectador deduz é que: é tão importante a presença desses candidatos para as emissoras, um enorme favor que eles fazem, que lhes é submetido antecipadamente o script dessa entrevista e há aprovação e respostas acertadas entre as partes.

E a mídia impressa se rendeu perdida entre a internet e a queda de leitores, e continua estampando notas curtas sobre todos os assuntos, buscando um tempo em que não há tempo, esquecidos que ler um jornal é prazer e cultura adquirida. Não é uma questão de tempo de informação, é questão de qualidade de informação.

Podemos aproveitar essa eleição sem graça, sem chame e, pior, sem consciência. Podemos nos redirecionar para uma Nação mais completa e digna. Sempre haverá políticos corruptos, aproveitadores travestidos de eleitores, golpistas, mas respeitado o princípio básico da democracia: que a maioria dite os rumos deste país e que esta maioria esteja efetivamente comprometida com este povo que,em síntese é sua razão de ser. É a Nação.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A política é um grande Big Brother


A vida pode imitar a arte, mas a política imita porca e parcamente um big brother tupiniquim mal-ajambrado. Cada um dos participantes tem menos interesse em demonstrar suas próprias potencialidades e suas personalidades do que derrotar seus adversários. E, assim como no Grande Irmão, companheiros que lutavam na mesma trincheira, com o afunilamento da disputa, partem para o “Seja o que Deus quiser” das intrigas e das emboscadas.

Amigos, amigos, vitória à parte. E a vida naquela grande redoma televisiva atrai  simpatias ou define repulsas a um ou outro e, caso algum se veja banido por paredões democráticos, redefine-se a preferência em tantos turnos quantos necessários.

No entanto, por mais que desperte e prenda a atenção, o público sempre estará separado dos “escolhidos”, dos vitoriosos e do próprio jogo. O público vota, escolhe e define, mas não recebe o bônus do prêmio.

Você, leitor, pode até enxergar certo exagero na comparação, mas tente lembrar-se do vencedor da última edição e, se você participou, tente lembrar o nome do “brother” que mereceu seu voto. Tente mais, mova e remova sua memória e siga mentalmente os passos do vitorioso, aquele que mereceu tempo precioso da mídia televisiva, o “herói ou heroína” descritos em prosa e verso por Pedro Bial, após sua reintegração à vida cotidiana.

A política está volátil como um boto exposto no aquário virtual. Diferente do tempo dos embates públicos, de grandes comícios por falta de veículos de comunicação que, na verdade, menos comunicam e mais massificam. Imagem sem conteúdo para políticos  vazios.

Talvez por isso os Tiriricas, Romários, Popós. Com estes nos identificamos, destes nos lembramos, estes acompanhamos.

A TV completa 62 anos no Brasil e ainda não conseguimos enquadrar a política num formato moderno que nos remeta aos comícios e nos faça participativos e atuantes. Somos imprescindíveis ao show da eleição e descartáveis na ficção do cotidiano dos gabinetes.

Editorial publicado no jornal Liberdade MS - Edição 58.

Uma coisa puxa a outra


A semana ficou agitada em função da proibição de divulgação de pesquisa pelo jornal Correio do Estado, que apresentaria os índices obtidos pelos candidatos a prefeitura da Capital e a simulação de intenção de voto em um provável segundo turno.

Se por um lado, para nós jornalistas e em especial os que enfrentaram os anos de chumbo da Ditadura Militar é execrável a censura, pela qual os poderosos suspiram; por outro pode-se, a partir deste episódio, tentar avaliar todo o cerceamento que tem acompanhado o processo político eleitoral.

Estamos esbarrando no retrocesso da Lei Falcão, porém sem nenhum objetivo específico. Nada se pode e quase nada se deve fazer. Difícil, então, entender para onde caminha nossa democracia. É tanto remédio para conter a doença que pode vir a matar o doente.

Existem razões das duas partes. O candidato melhor avaliado seria, sim, beneficiado com a publicação, pois que a tendência do eleitorado é não desperdiçar o voto e, para isso, procura acompanhar a tendência em favor do favorito. Mas que o ônus não recaia sobre aquele quem melhor soube percorrer a senda a caminho do voto.

Pesquisas podem ser manipuladas, institutos sabem disso, candidatos sabem disso e a justiça sabe disso. Nesta terra de ninguém em que a política brasileira transformou-se em um coronelismo high tech, acreditamos que a juíza tenha se embasado na máxima: “In dubio, pro reo”.

Teremos, então, que conviver entre a desconfiança, a política pé torto e o peso da Lei. O povo, ainda é um detalhe.

Editorial publicado no jornal Liberdade MS - edição 56.

sábado, 15 de setembro de 2012

Reordenando a ordem


Reza a Constituição, e tem sido sempre desde a instauração da República, que três poderes independentes se completam, na divisão preconizada por Montesquieu em sua teoria da separação dos poderes. No entanto no Brasil, somente agora por ocasião do caso Mensalão, o Poder Judiciário parece rugir sua independência fazendo tremer e temer quem ainda tentou uma barganha indecorosa e indecente como costumam ser.

Nas palavras da ministra Eliana Calmon, que deixa a Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça, “a corrupção, que durante dois séculos reinou nesse país, a partir de agora tem um freio, e esse freio está no Poder Judiciário”, conforme entrevista concedida às páginas amarelas da revista Veja. E a verdade ferina de que o julgamento marca um momento histórico, está contida, talvez, em apenas uma palavra: reinou.

Ainda fazendo uso das palavras da ministra, a Justiça começa a perceber as mudanças que a Constituição Cidadã trouxe, e passa a conhecer o poder que tem e sua independência em relação aos outros poderes. Esse julgamento deve fazer a ligação entre o legal e o justo e este corpo único deve invadir todas as Cortes.

Corrupção haverá, como em todos os países, mas será estancada a sangria. Sempre terá espaço para aqueles que subtraem um país, mas no caso do Brasil após Mensalão, não irão rapinar a Nação, pelo fato de estes não pertencerem a Nação alguma. São apenas coisas, sem medidas, sem parâmetros, seres amorfos.

Ao Brasil a divisão de poderes preconizada por Montesquieu atrasou em séculos, que seja, então, infinita e que perdure. 

Publicado como Editorial no Jornal Liberdade MS- edição 12/set/2012.