A
vida pode imitar a arte, mas a política imita porca e parcamente um big
brother tupiniquim mal-ajambrado. Cada um dos participantes tem menos interesse
em demonstrar suas próprias potencialidades e suas personalidades do que
derrotar seus adversários. E, assim como no Grande Irmão, companheiros que
lutavam na mesma trincheira, com o afunilamento da disputa, partem para o “Seja
o que Deus quiser” das intrigas e das emboscadas.
Amigos,
amigos, vitória à parte. E a vida naquela grande redoma televisiva atrai simpatias ou define repulsas a um ou outro e,
caso algum se veja banido por paredões democráticos, redefine-se a preferência
em tantos turnos quantos necessários.
No
entanto, por mais que desperte e prenda a atenção, o público sempre estará
separado dos “escolhidos”, dos vitoriosos e do próprio jogo. O público vota,
escolhe e define, mas não recebe o bônus do prêmio.
Você,
leitor, pode até enxergar certo exagero na comparação, mas tente lembrar-se do
vencedor da última edição e, se você participou, tente lembrar o nome do “brother”
que mereceu seu voto. Tente mais, mova e remova sua memória e siga mentalmente
os passos do vitorioso, aquele que mereceu tempo precioso da mídia televisiva,
o “herói ou heroína” descritos em prosa e verso por Pedro Bial, após sua
reintegração à vida cotidiana.
A
política está volátil como um boto exposto no aquário virtual. Diferente do
tempo dos embates públicos, de grandes comícios por falta de veículos de
comunicação que, na verdade, menos comunicam e mais massificam. Imagem sem
conteúdo para políticos vazios.
Talvez
por isso os Tiriricas, Romários, Popós. Com estes nos identificamos, destes nos
lembramos, estes acompanhamos.
A TV
completa 62 anos no Brasil e ainda não conseguimos enquadrar a política num
formato moderno que nos remeta aos comícios e nos faça participativos e
atuantes. Somos imprescindíveis ao show da eleição e descartáveis na ficção do
cotidiano dos gabinetes.
Editorial publicado no jornal Liberdade MS - Edição 58.
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