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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Se não for pelo amor, será pela dor


Este texto foi escrito em 2006, creio que setembro, e publicado no jornal diário Folha do Povo de Mato Grosso do Sul, anterior à criação do blog. No entanto, caiu em minhas mãos, por estes dias, o original. Reproduzo por acreditar que ainda hoje, e por um bom tempo, refletirá sempre a verdade (do meu ponto de vista) sobre a política em época de eleições.

setembro de 2006

Alguns fatos tipificaram esta eleição:

1 – Alterações da lei eleitoral em cima da hora deixaram candidatos com dinheiro de caixa dois que não pode ser “esquentado”, e seu destino (camisetas, brindes etc.) perdeu a razão de ser, e os materiais permitidos são, desde sempre, confeccionados com notas fiscais de valor fictício;

2 – Este dinheiro que é maior para uns, está servindo de compra de votos, como prova pesquisa recentemente divulgada;

3 – O horário eleitoral (que penaliza as emissoras, mas de gratuito não tem nada) é tão acompanhando pela população quanto ”A Voz do Brasil”, não determina voto;

4 – As reuniões residenciais contam com a média de 50 eleitores. Sabendo que um deputado estadual se elege com 25 mil votos e um federal com 40mil votos (Mato Grosso do Sul), façam as contas do número de reuniões necessárias (nem todos saem destas reuniões com seu voto definido e os que o fazem não são multiplicadores de votos);

5 – No frigir dos ovos, o eleitor votará naqueles que já exercem o cargo até porque  não memoriza o número do candidato que porventura tiver escolhido. A maioria dos candidatos será reeleita apenas e tão somente em função disso.

E o que significa o voto nulo ou o voto em branco? Há certa exacerbação de temor do voto nulo, talvez maior até do que no voto facultativo. Por quê? Talvez por referendar uma democracia capenga onde os opostos se atraem, se completam e passam a ter a mesma face na mesma Casa de Leis.

Aproximadamente 60% dos eleitores, a poucos dias das eleições, não tem definido seu candidato aos cargos de deputado estadual e federal. Se não levarmos em conta a hipótese número 5, se contarmos que estes votos se definam como nulos, qual será o foco desta luz? Qual fato é iluminado?

Esses 60% de votos nulos indicariam claramente o que a consciência grita. O poder legislativo está desacreditado como um todo. Ninguém sabe em quem votar... ninguém sabe em quem votou... ninguém sabe o que faz o eleito (exceto os habituée de páginas policiais).

Esta realidade, confirmada com o voto nulo nos coloca frente a frente com o perigo iminente das articulações de quem e sonha um governo ditatorial. E não são poucos. E não estão tão distantes do poder.
Da nossa história, por força do ensino (e não me refiro a educação), conhece-se a “oficial” e nada além. Assim como hoje não se tem consciência dos nefastos anos de inflação e seus sobressaltos, perdeu-se a noção da ditadura que quase nos destruiu como cultura, como Nação.

Como desejamos um Congresso, qualquer que fosse, mesmo este... Como desejamos liberdade para contestar, protestar, inquirir, mesmo que fossem poucos os “com permissão” para isto.

O voto nulo pode ser questionável, mas é um direito do eleitor

Contabilizados os votos, que os eleitos pensem a respeito. Contem brancos e nulos, some parcela dos votos dadas aos reeleitos (lembrem-se da forma pouco ortodoxa de pensar do eleitor, que prefere deixar como está para não correr o risco de ver como fica, ou a situação pior).

Num golpe de estado aos moldes da “Redentora”, ninguém é amigo do rei, que o digam Carlos Lacerda e outros golpistas de primeira hora.

Quedas de avião e abalos democráticas, diz a sabedoria popular, vêm sempre em três. Mirem-se nas mulheres de Atenas, na Bolívia, na Venezuela,  mirem-se onde quiserem... mas, mirem. Mirar é mais que apenas olhar.

Voto nulo é um protesto válido e legal, mas como todo protesto tem suas consequências para o bem e para o mal.

E os jornalistas que poderiam e deveriam agir como agentes da inquirição e arguição portam-se como atores de ópera bufa. Seguem o script: pergunta – resposta, sem conteúdo, sem malícia, sem nada. É triste ver candidatos relatando dados falsos, mentiras escancaradas, e estes jornalistas seguirem para a próxima questão sem o menor questionamento, sem qualquer pudor, como se estagiários ainda, sem a postura jornalística, sem o verniz com que o tempo adorna.

É triste. Soa como se as perguntas contundentes fossem feitas sem embasamento, apenas por ouvir falar, tão somente para ter uma resposta, seja qual for. O que o espectador deduz é que: é tão importante a presença desses candidatos para as emissoras, um enorme favor que eles fazem, que lhes é submetido antecipadamente o script dessa entrevista e há aprovação e respostas acertadas entre as partes.

E a mídia impressa se rendeu perdida entre a internet e a queda de leitores, e continua estampando notas curtas sobre todos os assuntos, buscando um tempo em que não há tempo, esquecidos que ler um jornal é prazer e cultura adquirida. Não é uma questão de tempo de informação, é questão de qualidade de informação.

Podemos aproveitar essa eleição sem graça, sem chame e, pior, sem consciência. Podemos nos redirecionar para uma Nação mais completa e digna. Sempre haverá políticos corruptos, aproveitadores travestidos de eleitores, golpistas, mas respeitado o princípio básico da democracia: que a maioria dite os rumos deste país e que esta maioria esteja efetivamente comprometida com este povo que,em síntese é sua razão de ser. É a Nação.

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