Loading

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Predadores

Publicado em  por joaocamposonline


Os piores predadores gostam das sombras da noite. É quando as presas têm menos chances de escapar. Assaltantes costumam “trabalhar” com suas gazuas e pés-de-cabra em feriados e fins de semana, quando a família sai a passeio ou férias, ou quando a polícia trabalha de má vontade.
Agora a Capital conhece outra espécie de malandros, travestidos de vereadores que resolveram concluir um processo de cassação do Prefeito precisamente no período de festas de fim de ano, quando o Judiciário está atuando por plantões e, de modo geral, a cidade está em ponto-morto.
No passado recente, o prefeito Nelsinho Trad fez tramitar no dia 28 de dezembro um processo licitatório (do lixo, salvo engano), envolvendo milhões e milhões de reais e uma concessão de mais de 25 anos. Em 28 de dezembro, sem uma alma viva na cidade, ninguém para contestar ou discutir a concessão, a ilegalidade campeou solta.
Deu no que deu: processo obstado pelo Ministério Público, cidade cheia de lixo enquanto o ex-prefeito culpado, na maior desfaçatez, trafega todo pimpão em sua campanha eleitoral pelo governo do Estado.
Então, já se sabe, os vereadores tiveram com quem aprender, embora, pelo histórico de alguns deles, políticos emplumados de vários mandatos, essa malandragem é hábito que já está no sangue.
A professora Gizeli Costa, no Facebook, disse sobre o processo de cassação: “Esse povo conta com a inércia da maioria popular. Cem pessoas se manifestando contra alguma coisa é nada diante do número de eleitores que votaram no prefeito. Ano passado, quando da licitação do lixo, ninguém sabia de nada. Estavam preocupados unicamente em liquidar com a “ceia” de Natal e em comprar o carvão pra assar o gato na passagem do ano. Logicamente, os políticos sabem disso e por isso agem como ratos”.
No fórum “Fala, Campo Grande” (facebook), Marco Aurélio Barbosa d’Oliveira acentuou: “O que é preciso é urgente uma agenda positiva para Campo Grande, com melhoria nos serviços públicos, mais cuidado e limpeza da cidade, uma renovação na sinalização semafórica que está um caos, mais investimos e fomento à produção, mais preparo e qualificação da “máquina pública”, dentre outras ações de responsabilidade da boa, eficaz e responsável gestão pública”.
Nem se trata de defender o prefeito, que já tem seus próprios defensores. Se ele errou, e não conheço prefeito e ex-prefeito inocentes, há sanções na lei de responsabilidade fiscal (que é precisamente o caso tratado na Câmara!). Há o Ministério Público, há o Tribunal de Contas e a própria Câmara pode obstar os projetos do Executivo enquanto ele não cumpre com a lei. A cassação é recurso extremo, quando não há conserto, o processo é desgastante e a cidade não recebe qualquer benefício em trocar seis por meia dúzia.
Um “novo” prefeito representa a troca de secretários, a paralisação da máquina pública, com enormes custos para a cidade, que já está mais do que parada. Ainda mais ao preço que os edis estão cobrando para votar assim ou assado, o que, por si só, já é uma indignidade.
Afinal, o campo-grandense está abandonado nos postos de saúde, nos terminais de ônibus, nas esquinas e ruas sujas de lixo, no centro depauperado pela feiura e pelo descaso urbano, e ninguém notou nenhum traço de piedade por parte de qualquer dos vereadores. É como se o sofrimento do povo lhes fosse algo estranho. Para eles, povo que é povo sofre calado.
Seu único objetivo, sua única missão, é trocar o prefeito por alguém que lhes ofereça cargos (e vencimentos, mordomias, prestígio) como moeda de troca. Uma vergonha da qual ninguém será absolvido: nem os vereadores que se oferecem para compra, nem o prefeito que se dispõe a pagar o vergonhoso e indigno preço.
Predadores. Nada mais são do que isso. São pseudo-funcionários públicos que trabalham em seu próprio interesse, alguns com processos de cassação pendentes de recursos junto ao TSE, maus inquilinos com aluguel em atraso, ocupando indevidamente propriedade alheia, na maior desfaçatez.
Qual é a autoridade dos senhores vereadores? Que estranho tipo de moral reveste seus atos? Que apreço têm pela res publica e pelos votos que receberam de tantos pobres-diabos que votaram por camisetas, churrascos com mandioca ou promessas de empregos? A resposta é: apreço zero.
Não me emociona esse processo de cassação. Todos estão no mesmo barco, o alvo e o atirador. O prefeito não escolheu bem seus assessores, não criou uma agenda positiva de governo e provocou a sanha ambiciosa de seus algozes. Os vereadores, desocupados a maior parte do ano, encontraram um brinquedinho lucrativo de fim de ano. Com um mínimo de esforço, que lhes reconheço por hábito, darão mais uma mordida no bolo municipal, no patrimônio da viúva.
A verdade é que, registre-se para a história, a casa e a cidade estão à mercê dos predadores, sejam eles assaltantes de fim de ano ou parlamentares dedicados ao enriquecimento ilícito.
O povo está só.


Nenhum comentário: