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segunda-feira, 27 de maio de 2013

A Santa Casa, o Escândalo da Saúde e a CPI de Araque – por José Tolentino

A Santa Casa é um hospital mantido por uma entidade filantrópica, a Associação Beneficente de Campo Grande. Foi fundada em 1928. É considerada a quarta maior das Santas Casas do país, ficando atrás apenas das de Porto Alegre, São Paulo e Belo Horizonte. É considerada um dos maiores hospitais do Brasil e também um dos mais renomados do Centro-oeste, sendo a referência em alta complexidade em Campo Grande, no estado e nos países vizinhos.

Em janeiro de 2005, a Prefeitura de Campo Grande, na gestão do prefeito Nelson Trad Filho, decretou a intervenção da Santa Casa. A alegação era de que o hospital enfrentava grave crise, prejudicando o atendimento à população. 

As causas da crise seriam a deficiência da direção da entidade na gestão e na interlocução com os trabalhadores e médicos e uma enorme e impagável dívida.

O ato, no início, parecia algo bem intencionado, uma ação realizada para melhorar o atendimento à população e sanear as finanças da entidade. Tanto é verdade que obteve o apoio de toda a sociedade, do Ministério Público Estadual, do Ministério Público Federal e da Justiça.

O tal saneamento tomou novos rumos quando André Puccinelli assumiu o governo do estado. Uma engendrada engenharia foi montada para que muita gente se enriquecesse através da saúde. A coisa tomou outras dimensões e um grande e terrível esquema foi montado envolvendo, além da Santa Casa, o Hospital Universitário, Hospital do Câncer e o Hospital Regional Rosa Pedrossian.

O objetivo passou a ser “ganhar dinheiro” com o “esquema” e para tal precisavam manter a intervenção da Santa Casa, deixando a entidade fora das mãos da sociedade mantenedora. 

Um conluio, capitaneado pelo prefeito de Campo Grande, com o apoio do governador, ambos médicos, conseguiu manter a medida por longos sete anos e hoje pouca gente sabe qual foi o resultado da intervenção.

Pois bem, o resultado foi catastrófico. 

Aniquilaram o patrimônio da Santa Casa de Campo Grande, diminuíram sua capacidade de atendimento, detonaram sua saúde financeira e, com isto, estão causando enormes prejuízos à saúde da população de Campo Grande e do Mato Grosso do Sul.

Na época da intervenção a dívida total da entidade girava em torno de trinta e dois milhões de reais, montante que justificou a tal intervenção. Hoje, ultrapassa a bagatela de cento e sessenta milhões de reais.

Ao longo desse período que perdurou a intervenção, o número de ações trabalhistas se multiplicou, a Santa Casa foi esgotando os recursos protelatórios e hoje tem uma quantidade enorme de execuções e as penhoras online acontecem diariamente, de modo que atualmente não pode mais sequer movimentar suas contas bancárias. Hoje, quando um dinheiro entra na conta da Santa Casa, um repasse do SUS, por exemplo, imediatamente tem que ser sacado, sob pena de efetivação da penhora. 

Antes da intervenção, apenas sete serviços da Santa Casa eram terceirizados, hoje são mais de trinta. Antes da intervenção, a Santa Casa possuía 750 leitos, hoje são apenas 500. Antes da intervenção o prédio estava em condições razoáveis de conservação, hoje está uma lástima, totalmente depredado. 

O atual deputado federal e ex-secretário de saúde de Campo Grande, Luiz Henrique Mandeta, primo do ex-prefeito, transformou o hospital num gigantesco comitê eleitoral, onde realizava reuniões, pedia votos descaradamente, encaminhava pessoas para atendimento, sempre utilizando a estrutura do local, que diga-se, ainda foi utilizada pelos quatro Trad (Nelsinho, Fábio, Marcos e Otávio) e pelo vereador Paulo Siufi, primo do quarteto e primo do Dr. Adalberto Siufi, o moço que protagonizou o “Escândalo do Hospital do Câncer”. 

O parentesco existente entre os envolvidos, provavelmente foi preponderante para a formação do esquema.

O rombo é enorme. 

Eis que recentemente a Câmara Municipal de Campo Grande, pressionada pela opinião pública, instalou a “CPI da Saúde”. Mesmo diante de um esforço colossal para evitá-la, do presidente, o vereador Mario Cesar – um reles serviçal do governador. 

A sociedade, evidentemente, aplaudiu. 

Entretanto, infelizmente, já se vê que a tal CPI da saúde é um engodo. Composta por cinco vereadores, a absoluta maioria é de estreita confiança do ex-prefeito e não tem qualquer interesse em apurar absolutamente nada. 

O presidente, vereador Flavio Cesar, foi líder de Nelsinho Trad na Câmara, é sobrinho de Jorge Martins, que comandou a Junta Interventora da Santa Casa e, obviamente sendo responsável direto pela situação que o hospital se encontra. Acrescente-se a isto o fato do vereador ser também sobrinho de Adair Martins, autor de uma farsa que tentou prejudicar o prefeito Alcides Bernal na campanha eleitoral.

A relatora é a vereadora Carla Stephanini, pessoa de forte ligação com André Puccinelli, era uma das beneficiárias do famoso vídeo em que o governador foi flagrado determinando aos funcionários que votassem nela.

Completa a maioria, o vereador Coringa, um verdadeiro pau mandado do Jornalista Antonio João, presidente do PSD, ora aliado do governador e do ex-prefeito.

A CPI, por exigência do vereador Flavio Cesar, não irá investigar a Santa Casa. Ou seja, a CPI da Saúde é na realidade de araque e não chegará a qualquer resultado.

A situação é desesperadora e para desviar o foco, tentam de todas as maneiras, usando de estratégias espúrias e traiçoeiras cassar o mandato do prefeito Alcides Bernal. 

José Tolentino
Editor do Jornal da Cidade Online

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