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domingo, 2 de junho de 2013

Corpos caídos nas ruas, pontas soltas na segurança

A clara demonstração de fragilidade das instituições provoca um tal sentimento de impotência na população que a exceção às leis passa a ser o desejo de governo. Difícil compreender que, enquanto as instituições públicas são pautadas e margeadas pelas leis, comumente draconianas, a real exceção social, a marginalidade, possui agilidade no fazer e refazer sua própria Constituição, celeridade inconteste em sua “justiça” e execução penal imediata. Entra como fator complicador a modernização dos conceitos sociais defendida de forma pouco clara, ininteligível mesmo, para aqueles que são vítimas de uma minoria que transita à margem da sociedade, por acadêmicos, intelectuais ou apenas militantes de organizações que atuam em defesa dos Direitos Humanos.

O engessamento legal das instituições, somado à inépcia em enfrentar críticas por parte dos representantes dos executivos públicos responsáveis pelo enfrentamento do crime e do generalizado sentimento de insegurança das populações, gera o desejo da brutalização institucional aos modos dos governos ditatoriais que, por não haverem sido julgados em todos os seus crimes constituídos contra o desenvolvimento do país – falência da educação, enfraquecimento das instituições, cultura da vantagem a qualquer preço, atos públicos protegidos por inconcebível sigilo etc. – criam uma aura de proteção efetiva dos cidadãos. Boa parte dos neófitos “pró governos de mão de ferro”, não viveram efetivamente o período de chumbo.

Mas, assim como a violência tem causas muito mais profundas que a registrada nas ruas, nas manchetes, nas ações policiais, o seu enfrentamento deve ter ações mais efetivas que aquelas que vêm pautadas pelo receio do julgamento da intelectualidade e dos patrulheiros de ideologias politicamente corretas, bem escritas e de pouco efeito prático.

A marginalidade é profunda conhecedora das leis e suas brechas, e se defende usando os direitos da coletividade como se pertencesse a ela e não estivesse à sua margem. Esse sentimento é alimentado pelos discursos bom mocistas de nossos legisladores, protegidos em seu viver diário pelo fosso social que separa e distingue a patuleia pobre e mal assistida das periferias, da elite dos bairros nobres e condomínios bem vigiados. Poucos dos legisladores virão a ocupar cargos executivos, sobre os quais pesa a carga da inoperância no enfrentamento à violência, isso lhes dá essa margem de discursos inflamados prós e contras sem, no entanto, tocar no cerne da questão.

Ação gera reação. Ponto.

A cada ação marginal contra a sociedade deve haver uma reação igual de parte daqueles que são responsáveis por assegurar sua segurança, e recebem seus proventos devido aos impostos pagos por esta parcela de cidadãos, inclusive dos seus próprios tributos. Entre um agente policial e um transgressor homicida, quem o bom senso optaria por defender? E soltem seus cachorros sobre esta opinião, buscando minimizá-la dentro de um contexto mais amplo. Até concordo, mas não me queiram convencer de que o marginal não tem consciência dos riscos que derivam de sua opção (não necessariamente opção, num contexto mais amplo).

O país purgatório

É momento de pensar o país com a feição de Purgatório que apresenta. Não nos adianta ter Leis que contemplem o Paraíso, e não generalizar ao ponto de acreditar numa violência social que nos retrate o Inferno.

Ao Estado cabe proteger a totalidade de seus cidadãos, ai inclusos aqueles que transitam nos extremos sociais marginais. Se condenado – e todas as etapas de investigação, acusação e julgamento devem ser céleres –, sua pena é a perda da liberdade acompanhada de todas as tentativas possíveis de reinserção social. Para que os criminosos sejam levados a cumprir todas estas etapas, cabe ao Estado prover seus agentes das condições necessárias para que se façam mais fortes do que seus oponentes. Todas as condições, inclusive e principalmente o respaldo na responsabilidade das ações.

O que a sociedade não admite, e mais, bem mais, não suporta, é a apatia engessadora das ações. Nada se faz e policiais morrem, atitudes não são tomadas e civis morrem, enquanto isso se discute em gabinetes, longe das ruas, distante da violência, as relações entre anjos, as agruras dos condenados aos infernos. Enquanto isso, nossos espaços públicos retratam as incertezas entre o Diabo e o Bom Deus.

Liberdade para os cidadãos

Refazer a sociedade, em moldes “civilizados”, com oportunidades iguais, educação plena, justiça cega, caráter, não se faz por decreto e sim por ações efetivas. É um processo lento e profundo e pede ações de início imediato. Mas não cabe considerar que os marginais sejam ingênuos, estão longe disso. São mais assertivos em conhecer as mazelas sociais que geram o crime do que tantos acadêmicos formados apenas pela literatura científica.

Então que sejam tomadas ações imediatas contra o crime. Que se reestruture o sistema prisional dentro do que exige a Lei – e isso não se faz num passe de mágica. Que se reestruture e se faça obedecer a lei no que tange a Educação Pública. Que se aperfeiçoe os Programas de Renda e Cidadania exigindo uma contrapartida, mas antes oferecendo opções de reinserção no mercado de trabalho e, principalmente, mercado de trabalho.

O Estado precisa ter uma ação imediata em defesa do cidadão, para que este não se vire contra o Estado Democrático, como se antevê em diversos e velados pedidos se socorro que correm nas redes sociais, que passeiam por entre as conversas, que está tomando forma de desejo inconsciente.

Vejam o texto abaixo:

Após duas rebeliões, uma na Fundação Casa de Itanhaém, litoral de São Paulo, que começou quando os internos renderam seis funcionários, que foram foram levados para o telhado da unidade e agredidos pelos adolescente que também atearam fogo em colchões; outra na unidade Fazenda do Carmo da Fundação Casa, em Itaquera, Zona Leste de São Paulo, que teve um dos reféns agredido a pauladas, durante tentativa uma frustrada tentativa de fuga e, onde foram queimados colchões, cadeiras e mesas.

E acompanhem o pedido de matéria, e o relato de um funcionário de uma das unidades  divulgado em sua página na rede social. É o indício de um inconsciente de reação em resposta à omissão do poder público. A Democracia exige ação, nossa liberdade exige Democracia.

Dirceu Martins este é o desabafo de meu amigo [...] que passou por uma experiência no mínimo revoltante. É um problema de todos nós que tanto queremos que nossos parlamentares tomem vergonha na cara e façam o que queremos, colocar esses menores criminosos em presídios. Peço a você que divulgue para que aqueles que ainda têm alguma dúvida da necessidade de mudar essa legislação repensem e reflitam.
*** 
Dia tenso, depois de 12 horas de trabalho, quando resolvo e consigo ir dormir, fone toca me chamando para ajudar em rebelião. Ver amigos sendo mantidos como reféns, agredidos e humilhados, e não poder fazer nada é revoltante, mais revoltante ainda é ver as autoridades incompetentes, preocupadas com o bem estar dos menores enquanto pais de famílias e trabalhadores estavam com facas no pescoço e ameaçados a todo instante. A unidade toda destruída, logo será reformada porque estes filhos da puta, não podem sofrer maus tratos, afinal só tem gente boazinha, ladrões, assassinos, traficantes etc. ...
Revolta enorme por ver o que vi , e os incompetentes vão apurar os motivos de tal ato, talvez, peguem algum funcionário, para culpar e assim, encobrir a realidade da inutilidade da Fundação, que seria ressocializar estes bandidos. Tempos bom do Esquadrão... 

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