Loading

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Há três anos a dor da morte clama por justiça

Maíra Ferreira de Oliveira

Qual das ofensas é a mais profunda: o sentimento impotência ou o menosprezo? Neste caso, especificamente, as ofensas são uma só dor, alimentadas pela saudade. Maíra Ferreira de Oliveira morreu há exatos três anos (31 de outubro de 2010) quando, mesmo tendo sido atendida com um atraso inexplicável, não teve diagnosticada, em tempo hábil, a meningite que a acometia. Para sua mãe, Maria Esmeralda, o desespero, a impotência de acompanhar uma criança de 10 anos morrer, sua própria filha, esquecida, ignorada.

Erro médico? Assim entendemos. Erro médico? A Justiça, em sua morosidade, algum dia irá decidir.

Maíra Ferreira de Oliveira, estudante, modelo, que morreu em 2010, aos 10 anos de idade, vitimada mais pelo descaso do que pela meningite. Seus algozes? Profissionais do Centro Regional de Saúde do Bairro Coophavila II, que deveria prestar atendimento de urgência e emergência para adultos e crianças; Hospital Regional de Mato Grosso do Sul – Rosa Pedrossian.
Maíra começa a vomitar durante a madrugada e sua mãe, enquanto aguardava os coletivos circularem às 5 horas da manhã, lhe ministra Dipirona e soro fisiológico. Vai para o ‘‘24 horas da Coophavilla II’ [Centro Regional de Saúde do Bairro Coophavila II], pois no seu bairro [Lageado] não tem [posto de atendimento médico] 24 horas. Por volta das 6h20, foi atendida e o médico informado de que ela havia tido meningite viral em 2004. Foi diagnosticado “virose”. Não fez o teste da meningite.
Mesmo medicada, a febre não cedia e o vômito e a dor eram constantes. A médica aguardava a melhora de um improvável caso de “virose” para liberá-la para casa. Às 10h30, Maria Esmeralda pediu encaminhamento para o hospital, mas não havia ambulância. Conseguiu, enfim o transporte em ambulância compartilhada com outro paciente, sentada.
Às 12h no Hospital Rosa Pedrossian, "entregamos o encaminhamento e fomos para a pediatria. A todo o momento eu pedia socorro. Pedi para a enfermeira e até mesmo para a estagiária [residente] para medicar minha filha. Mas elas falaram que não podiam fazer nada enquanto não fizesse a coleta para o exame, pois esse era o procedimento do hospital” relata Maria Esmeralda.
Quando, às 16 horas notaram vestígios de sangue em sua boca, porque em função da dor havia engolido um dente, uma médica acompanhada de um enfermeiro, perceberam a gravidade e solicitaram a presença de uma infectologista... doutora Tatiana, que solicitou uma tomografia e a coleta de líquido da coluna. Foi confirmada a meningite.
Entraram com ela na UTI, Maria Esmeralda, parada na porta, viu sua filha desfalecida, mas viva, pela última vez. Maíra não resistiu ao avanço da doença enquanto a burocracia e o descaso caminhavam lentos.
31 de outubro de 2010

Faz três anos que Maíra foi vitimada pela morosidade da saúde, descaso dos profissionais. Faz três anos que sua memória vem sendo vilipendiada pela morosidade da justiça, descaso de nossas leis.

Um comentário:

Dario Martins de Oliveira disse...

Hospitais não abrem mão de seus protocolos burocráticos nem em caso de emergência pq para constatar a emergência é preciso passar pelos ... protocolos burocráticos . Ah, se fosse um parente ou um amigo do médico atendente! Judiciário não abre mão de suas férias mais do que dobradas (60 dias mais recesso de fim de ano, beneplácito concedido na ditadura, por razões óbvias). Ah, se fosse um caso que afetasse um familiar ou um amigo do juiz ou do promotor! E assim vai...