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Diz o Gênesis que uma torre, chamada Babel, foi erguida pelo
povo com o objetivo de atingir o céu, celebrar o homem e igualá-lo a Deus, numa
clara afronta à Divindade. Como castigo, Deus fez com que estes falassem várias
línguas, obstruindo a construção pela impossibilidade de comunicação. O que
poderia explicar as várias etnias, explica a política.
O universo da política não corresponde à vida cotidiana,
como a vivenciamos. Os métodos, formas e objetivos são outros. Onde deveriam
existir cidadãos profissionais na função de políticos, temos políticos
profissionais que abdicaram de sua condição de cidadãos, em todo e qualquer
recanto do país. E vamos nos ater ao Brasil.
Este descompasso entre os que habitam os jardins do rei e os
que dormem fora dos muros do reino fica evidenciado em cada projeto que
beneficia clãs e grupos, conchavos rasteiros, feudos criados e mantidos,
denúncias não respondidas. Existem, então, três principais troncos linguísticos
em nossa Babel: idolatrados políticos, idólatras que gravitam ao seu redor, e a
imensa massa de vítimas.
João Ubaldo Ribeiro, com propriedade nos defronta com nosso
descaráter quando menciona o fato de que o brasileiro não se apercebe de suas
“pequenas” delinquências diárias, como fazer do material do escritório em que
trabalha, propriedade sua. Esta é a grande massa, que empresta o mesmo direito
de fazer pessoal o que é público, aos políticos. Mas a vergonhosa classe é dos
idólatras, que auxiliam a rapina dos idolatrados e alimentam a eterna inveja
por se tornarem ídolos.
Assim, e por não prestarem contas à sociedade das denúncias
propagadas pela imprensa, chegamos a um estado de caos em serviços que
beneficiam e são fundamentais exclusivamente à grande massa: saúde, transporte,
lazer e segurança.
Mas a população parece ter começado a aprender outras
línguas e, se não compreende plenamente sua gramática, já domina alguns verbos.
Basta fazer um comparativo dos resultados de urnas que enxotou grupos
arraigados e entronizados no poder.
Então, que não passe despercebido. Essa linguagem e esse
poder está confrontado pelo crescimento das oposições nas eleições por todo o
país, e nas grandes São Paulo e Rio de Janeiro por um outro poder tão nocivo
quanto: a marginalidade armada.
Que aprendam, assim, a ouvir as críticas populares que a
imprensa reporta e, mais do que isso, dar satisfações de ações e atos para a
população. E que a imprensa seja ética e, fazendo “mea culpa”, repense a frase
de Luís F. Veríssimo, “às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”.
Publicado como Editorial em Jornal Liberdade MS - ed. 64 - de 11/11/2012.
Um comentário:
O desencontro dos falares e a Torre de Babel:
Parabéns pela excelente contextualização da política e a sociedade, e mais ainda pela explanação sobre o papel da mídia, que é meio poderoso para expressão da voz popular, quando despida do caráter pleno de mercantilismo. Jovenilda
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