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sábado, 10 de novembro de 2012

O desencontro dos falares e a Torre de Babel


Imagem: http://levibronze.blogspot.com.br
Ainda sob o impacto das eleições que conseguem, por sua proximidade com o eleitor, maior participação popular, podemos nos atrever decifrar os diversos falares dos diferentes universos que orbitam entre os políticos e o povo.

Diz o Gênesis que uma torre, chamada Babel, foi erguida pelo povo com o objetivo de atingir o céu, celebrar o homem e igualá-lo a Deus, numa clara afronta à Divindade. Como castigo, Deus fez com que estes falassem várias línguas, obstruindo a construção pela impossibilidade de comunicação. O que poderia explicar as várias etnias, explica a política.

O universo da política não corresponde à vida cotidiana, como a vivenciamos. Os métodos, formas e objetivos são outros. Onde deveriam existir cidadãos profissionais na função de políticos, temos políticos profissionais que abdicaram de sua condição de cidadãos, em todo e qualquer recanto do país. E vamos nos ater ao Brasil.

Este descompasso entre os que habitam os jardins do rei e os que dormem fora dos muros do reino fica evidenciado em cada projeto que beneficia clãs e grupos, conchavos rasteiros, feudos criados e mantidos, denúncias não respondidas. Existem, então, três principais troncos linguísticos em nossa Babel: idolatrados políticos, idólatras que gravitam ao seu redor, e a imensa massa de vítimas.

João Ubaldo Ribeiro, com propriedade nos defronta com nosso descaráter quando menciona o fato de que o brasileiro não se apercebe de suas “pequenas” delinquências diárias, como fazer do material do escritório em que trabalha, propriedade sua. Esta é a grande massa, que empresta o mesmo direito de fazer pessoal o que é público, aos políticos. Mas a vergonhosa classe é dos idólatras, que auxiliam a rapina dos idolatrados e alimentam a eterna inveja por se tornarem ídolos.

Assim, e por não prestarem contas à sociedade das denúncias propagadas pela imprensa, chegamos a um estado de caos em serviços que beneficiam e são fundamentais exclusivamente à grande massa: saúde, transporte, lazer e segurança.

Mas a população parece ter começado a aprender outras línguas e, se não compreende plenamente sua gramática, já domina alguns verbos. Basta fazer um comparativo dos resultados de urnas que enxotou grupos arraigados e entronizados no poder.

Então, que não passe despercebido. Essa linguagem e esse poder está confrontado pelo crescimento das oposições nas eleições por todo o país, e nas grandes São Paulo e Rio de Janeiro por um outro poder tão nocivo quanto: a marginalidade armada.

Que aprendam, assim, a ouvir as críticas populares que a imprensa reporta e, mais do que isso, dar satisfações de ações e atos para a população. E que a imprensa seja ética e, fazendo “mea culpa”, repense a frase de Luís F. Veríssimo, “às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data”.

Publicado como Editorial em Jornal Liberdade MS - ed. 64 - de 11/11/2012.

Um comentário:

Anônimo disse...

O desencontro dos falares e a Torre de Babel:

Parabéns pela excelente contextualização da política e a sociedade, e mais ainda pela explanação sobre o papel da mídia, que é meio poderoso para expressão da voz popular, quando despida do caráter pleno de mercantilismo. Jovenilda