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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Violência, a Empresa Criminalidade e o engessamento da Lei

Operação Saturação, promovida pela PM na favela
 de Paraisópolis. (Foto Apu Gomes/Folhapress)


Falar de acontecimentos atuais e traumáticos como os de São Paulo, é expor-se a erros por falta de informações mais precisas ou falta de amplitude de tempo e espaço. Vou arriscar embasado no conhecimento adquirido da minha querida São Paulo e de alguns meandros da criminalidade.

É cansativo, por vezes, ver criarem-se heróis e profetas nas redes sociais, pessoas pouco responsáveis ou de visões estreitadas por viseiras e que difundem conceitos, ideias, e mágicas soluções que apenas turbam mais o entendimento do caos, jogando trevas onde já habita a escuridão

Não se pense o crime em São Paulo num comparativo com o modus operandi dos criminosos cariocas, gaúchos, mineiros, baianos, sul-mato-grossenses etc. Há um conceito na alta cúpula do PCC e uma organização empresarial tão bem pensada que as ações desenvolvidas pela polícia paulista pedem mais ações de inteligência do que, propriamente, a força policial.

Na ação anterior orquestrada pelo grupo criminoso, que desencadeou ataques contra delegacias e postos policiais, havia a condição de mapeamento dos ataques, portanto a reação pode ser mais rápida e contundente. Mas, se por um lado a ação forte e decisiva conteve a sanha sanguinária dos comandados do Primeiro Comando da Capital, por outro deu mídia para os boquirrotos pseudo defensores dos Direitos Humanos, que utilizam o termo sem que tenham sua mínima necessária compreensão. Usam-no por modismo. E aqui não se confunda estes “pseudos” com os reais e verdadeiros pensadores dos Direitos Humanos que, nesta época de exposição de pasmaceiras verbais e para não serem confundidos com estes, recolhem-se ao silêncio.

Na versão atual dos acontecimentos, a estratégia (diabolicamente bem pensada) do PCC consiste em ataques aleatórios, preferencialmente a policiais ou servidores da lei, nas ruas, por bandidos em motos (de fácil locomoção e manobra, e difícil identificação de cores, modelos e placas). E, na falta destas vítimas preferenciais, qualquer cidadão desavisado ou mesmo rivais de crime.

Como mapear ataques aleatórios? Não se pode antecipar a mente de banal psicopatia destes assassinos. E todas as noites os cadáveres são recolhidos em tantos e tão dispersos pontos da cidade, e assim será. Até quando?

Bem, é sabido que o PCC é uma Organização Empresarial com fins criminosos. Ponto. E esta organização não pauta suas ações pelas legislações Civil ou Criminal a que todos os cidadãos estão sujeitos. Fazem suas Leis, agem, julgam e executam pessoas e ações. E o que podemos depreender destas ações? Qual o objetivo?

O conhecimento que nos permitiu a vivência naquela cidade e a observação atenta dos atalhos e meandros da criminalidade, mais um tanto de amizades cultivadas entre bons policiais, leva a crer que a intenção primeira do PCC é acuar o governo paulista e obrigá-lo a sentar à mesa de negociação. Sentar à mesa de negociação com a marginalidade. Submeter o governo de toda uma população, eleito, responsável pelo bem estar social a coadunar e ser subjulgado pela chefia da miséria humana bandida. Pode parecer um absurdo. É um absurdo.


A polícia paulista sofreu um processo de desinfecção impetrado pelo atual secretário de Segurança, Antônio Ferreira Pinto, agindo sob ordens do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, que abalou o minucioso organograma do crime, controlado pela grande e economicamente poderosa empresa Primeiro Comando da Capital. Eis o motivo primeiro, reação.

Arriscam sacrificar os peões neste tabuleiro do poder e matam aleatoriamente, o que lhes é fácil tanto ao ordenar quanto ao executar. E a perda da vida, principalmente de policiais, somado à sanha midiática dos pseudo arautos do “poder extremo às milícias”, ansiosos por serem elevados a salvadores da pátria, somado ao silêncio safado dos pseudo defensores perpétuos dos direitos humanos, que teriam desmontadas suas falácias humanistas e expostas suas fraquezas de conhecimento – e peço, encarecidamente, que não confundam estes com os reais defensores dos Direitos Humanos, tão necessários e de ímpar consciência da premência desta defesa – abala e fragiliza toda uma população. Abala e fragiliza principalmente um governo democraticamente constituído. Um governo engessado pela Lei, que a ela se subordina, como deve ser.

Então, não é uma questão que se resolva em dias, colocando policiais na rua para demonstrar um mentiroso controle da situação. Não é o caso, ainda, de se recorrer às forças armadas, cujas funções são outras, tão importantes quanto. Ao Exército não cabe esta função.

Mas o que querem os brasileiros e, em especial, os paulistas? Que o governo se renda a esta tentativa de chantagem? Que retornem os policiais(?) defenestrados?

Acredito que a atitude está correta, bem como a decisão pela união de forças e capacidades do Estado em suas representações estaduais e federais. E não se negue capacidade ao secretário de segurança paulista, ao governador e ao ministro da justiça, José Eduardo Cardoso.

De início, seis pontos de ataque foram firmados: ação integrada, transferência de presos – líderes, contenção nos acessos ao estado, retirada maciça de drogas das ruas, criação de um centro pericial e de um comando de controle integrado.

Que nosso sentimento de pesar pelos inocentes mortos, não turve nossa visão. Não nos devemos ater ao aparente. Fazer isso seria acreditar numa falsa ideia de apocalipse, de fragilidade. Seria nos tornarmos partícipes do plano nascido nas prisões e, de certa maneira, soldados do crime. Ainda que pese o lamentar os mortos, a melhor e mais correta forma de reverenciá-los é darmos apoio aos seus colegas policiais, nossas preces e a confiança depositada na sua bravura e capacidade de exporem-se ao perigo em nossa defesa. Já lhes basta serem mal remunerados e mal armados.



4 comentários:

jornalista Dirceu Martins de Oliveira disse...

Denise Truyts Li sua matéria e alguns pontinhos eu, infelizmente, não concordo com você: o governo já fez anteriormente acordo com o PCC. Em 2003 que não foi divulgado mas houve ataques e em 2006 após aqueles dias funestos houve um acordo sim e a maior prova disso é que não se fez mais revistas em presídios, eles têm liberdade de controlar seus negócios com celular, internet, etc. Depois da prisão de um chefe e da Rota ter abatido outros é que o acordo foi rompido, digamos assim, e virou toda essa baderna. Outro ponto que eu vejo de forma diferente é justamente a desorganização destes ataques, os outros sim foram orquestrados, nestes eles recebem ordem de pagarem o PCC ou então, para não ficarem em divida eles tem que matar um PM, sinceramente a mim demonstra desespero e o Estado Constituído não está sabendo lidar com a situação. O governador e seu fiel escudeiro só concordaram com a ajuda federal porque houve repercussão na mídia. Hoje eu fui a pé a avenida toda e só vi uma viatura lá próximo ao Hospital da PM, não tem policial nas ruas. Não entendi porque. Será que para colocar a operação saturação em ação a população tem que ficar totalmente orfã de proteção? Como dizia meu professor na faculdade e olhe que isso já foi há muito tempo: quando o Estado Constituído não cumpre com seus deveres, o crime se fortalece naquele que está desprovido pela Instituição. O que eu sei é que já estão até atacando a família do policial e há muito choro e muita tristeza de pais, esposas e filhos, infelizmente. Mas acho primordial que a mídia de todo país continue divulgando o que acontece aqui. Bjsss amigo.

jornalista Dirceu Martins de Oliveira disse...

O comentário acima foi postado por Denise Truyts no facebook e reproduzido aqui pelo autor.

jornalista Dirceu Martins de Oliveira disse...

Denise, agradeço a atenção ao texto. Vou transcrever na área de comentário do blog. Por gentileza, compartilhe o link porque preciso de leituras.
Em relação ao comentário:
Em 2006 foi feito um acordo para pacificar, temporariamente, os presídios – é de conhecimento que as leis não escritas que regem o sistema penitenciário é totalmente diferente das aplicadas para a sociedade de forma geral. É outro e complexo mundo. Na época o governo não tinha qualquer preparo para enfrentar a situação até porque políticas equivocadas haviam desmoronado a polícia. Neste caso, o PCC está usando tática de guerrilha e para isso seu núcleo é de minúsculos grupos de ataque constituído por 2 a 4 bandidos que trabalham sob ordem e pagos com drogas. Impossível prevenir, no entanto, existem zonas de conforto, como a região onde você mora.
As medidas adotadas e divulgadas terão efeito positivo, no entanto o grande plano de desconstrução do esquema marginal não será divulgado com antecedência. Tenho plena certeza que, em breve, esse problema pontual será resolvido. Para bem de todos os brasileiros.

jornalista Dirceu Martins de Oliveira disse...

Recado postado por Rene Jean (São Paulo), no Facebook:

O GOVERNO FAZ AS LEIS E DEPOIS NÃO CONSEGUE SE LIVRAR DELAS, VOLTA A PERGUNTAR, CADE OS DIREITOS HUMANOS DE TODAS AS VÍTIMAS DA MARGINALIDADE.