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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Qual o preço de cada uma das vítimas de Santa Maria?


Quando passada a comoção pelas mais de 230 mortes na cidade de Santa Maria (RS), creio que aflore um cansaço cívico, afinal, esta tragédia é apenas mais um “jeitinho”de assassinar em massa. A fadiga se dará por ver triunfar a impunidade.

Quantos perderão o sono por se saberem cúmplices por estas mortes? Todos os que com graus diferentes de responsabilidade permitiram ou planejaram este crime, porque houve premeditação deste crime. Foi uma tragédia, não uma fatalidade. E a tranquilidade perdida será menos pelas mortes e mais pela insegurança em ter descobertas duas responsabilidades.

Santa Maria tem seu ajustamento de autorizações para funcionamento de eventos públicos, igual a todos os locais do Brasil.

Que se apurem os diversos graus de responsabilidade:
aos quatro proprietários, aos funcionários despreparados, ao comando do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de Santa Maria, aos órgãos e funcionários públicos envolvidos com a liberação dos alvarás de construção e de funcionamento.

Que se apure e repense a responsabilidade da Justiça que, pela sua inoperância em punir com a Lei e fazer cumprir a aplicabilidade destas Leis, com suas varas eivadas, também elas, de corrupção, dão a guarida necessária aos criminosos, especialmente àqueles que se alojam nas camadas mais economicamente privilegiadas.


Baseados em que? Na falta de saídas de emergência, nos extintores que não funcionaram, no material de isolamento acústico e decorativo, na superlotação, no impedimento da fuga até que se apresentasse o comprovante de pagamento de consumo, em tudo o que permitiu e fez vistas grossas a este conjunto de irregularidades conscientes, propositais e assumidamente insanas.

Na minha concepção isso se caracteriza Homicídio Doloso. Assumiram o risco de matar.

Há exatos setenta anos, em 1942, tragédia semelhante impeliu o governo norte americano a adotar medidas preventivas. Há dez anos, incêndio em uma boate de Road Island vitimou 6 pessoas. Não fossem adotadas estas medidas, pode-se imaginar o vulto da tragédia. Aqui, dificilmente esta configuração de planta da boate Kiss seria defendida por algum técnico especialista em segurança. Mas esta boate possuía alvará de funcionamento.

Querem uma transformação na exigência do cumprimento das leis e punição para os que as descumprirem? Cobrem uma mobilização constante e permanente de seus filhos para que acompanhem este caso, que exijam punições exemplares aos culpados. Que se mobilizem para que normas de segurança sejam severas e que sejam expedidos alvarás de funcionamento de boates, clubes, edifícios etc., e vistoriados. Cobrem de seus filhos porque a celeridade da justiça brasileira provavelmente não nos encontrará vivos quando da sentença aos envolvidos nesta tragédia – volto a repetir, não fatalidade.


Parabéns à presidenta Dilma Rousseff que emprestou o peso do governo brasileiro, cancelando seus compromissos e determinando ações ao seu ministro da saúde, Alexandre Padilha, que atuou com agilidade e competência. Ambos, de maneira digna, representando todo o solidário povo brasileiro,


Possamos crer que, assim como aconteceu em outras tragédias recentes, a ação governamental desta vez não se restrinja a este primeiro momento. Ainda nos resta o otimismo da fé na competência e na sensatez do poder público.

Neste momento, tudo é mídia. Em todos os locais do país promessas de fiscalização estão sendo feitas pelos executivos municipais, estaduais e federal; s legislativos; pelos Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREAs); pelos Corpos de Bombeiros das Polícias Militares, pela pouco organizada sociedade. Mas a realidade é que “nosso jeitinho” deu um jeito de assassinar em massa.

Aprovar e permitir o funcionamento daquele estabelecimento teve um preço, menor do que o custo para obedecer aos padrões técnicos. Qual o preço de cada uma das vítimas de Santa Maria?

6 comentários:

Anônimo disse...

Essa foi mais uma tragédia anunciada. Como pode alguém, ou "alguens", em sã consciência pensar em soltar fogos de artifício, ou sinalizadores, ou seja lá o que for, em um ambiente fechado e lotado????? e já tem histórico de tragédias em função desses artefatos. Se lembram do que ocorreu em uma boate na Argentina há um tempo atrás, onde muitos jovens também perderam a vida? Começa daí... e depois, o que se seguiu, o total despreparo do local e de seus funcionários para lidar com um acidente dessas proporções... só temos a lamentar toda essa irresponsabilidade que acabou levando mais de 300 vidas, e ainda tão jovens... triste... muito triste.

Anônimo disse...

Denise Truyts Cada vez que um fato assim ocorre se levanta uma série de problemas ocasionados por negligência principalmente de competência pública. A mídia fica durante algum tempo dando ênfase e depois esquece e junto com a mídia a população também. Nesse caso em especial de Santa Maria fica claro que houve negligência tanto dos responsáveis da boate, como do evento mas o maior responsável é dos fiscais da Prefeitura que mantiveram aberta uma casa que não oferecia segurança. Até quando esse tipo de canalhice vai continuar? Se essa boate estava funcionando alguém autorizou e se autorizou deveria responder agora por homicídio doloso por sua conduta pois não é preciso ser muito inteligente para ver que houve corrupção em algum momento, infelizmente nada disso trará à vida novamente esses jovens, nem se criará uma cultura de honestidade no cumprimento de funções como a de fiscais que de seu aval pode significar vida ou morte.

Anônimo disse...

Poxa!!!!! Não liberou meu comentário por que? Tá muito ruim???

jornalista Dirceu Martins de Oliveira disse...

Denise Truyts:
A imprensa pega como gancho essas situações e as alardeia na vã esperança de alguma solução. No dia a dia, cobramos, denunciamos, expomos os vários casos de descumprimento da lei... Cumprimos o papel, mas cabe à população, informada dos fatos, exigir soluções.

jornalista Dirceu Martins de Oliveira disse...

Anônimo: é necessário que eu esteja com o administrador aberto para poder ver que existem comentários. Nem sempre isso é possível em um curto espaço de tempo entre a sua postagem e a minha leitura e consequente aprovação. AGradeço.

Anônimo disse...

Entendi, jornalista. Grata pela explicação (vivendo e aprendendo, sempre). Eu que fico agradecida pela oportunidade que você nos oferece de ter acesso a uma leitura de qualidade através de seu blog. Seus textos são de excelente qualidade, e muito embora nem sempre eu concorde com você, seus argumentos são sempre muito bem colocados, o que nos dá a oportunidade, ainda, de pensar, repensar, refletir. E eu acho que é justamente essa a função de um jornalista: informar e formar cabeças pensantes.
Voltando à matéria em questão, existe uma cadeia de pessoas responsáveis: o dono -ou donos- que não estão nem aí para a estrutura e condições de segurança do local, desde que que lote e gere muito lucro; o fiscal que autorizou o funcionamento, a prefeitura que não fiscaliza como deveria, a produção do show que permitiu o uso de fogos no local, o integrante da banda que soltou os fogos, enfim, é uma legião de responsáveis e co-responsáveis. Disso tudo, só fica a pergunta: será que daqui a 1 mês ainda se falará nisso, ou alguma outra tragédia, ou escandalo vai tomar conta da mídia e mais uma vez, isso tudo será lembrado apenas como a tragédia de Sta. Maria. E só.