domingo, 12 de maio de 2013
O que virá depois da catarse?
Os mortos como que se levantaram e trouxeram em suas roupas rotas, em seus tumores expostos, mais que a constatação da morte, o cheiro fétido e depurador da verdade. E do meio deste putrefato líquido que inundou gabinetes políticos e arejadas salas administrativas dos hospitais envolvidos, boiaram o vil e deificado metal que compra inúmeras vidas e intensos sofrimentos, em detrimento de poucos.
Que seja, então, feito o velório e enterro de nossa saúde pública para que a medicina renasça no que ela tem de mais digna. É triste pensar que os que se foram, entre sofrimentos que deveriam ser poupados pelos medicamentos que lhes foram negados, ou que tiveram suas vidas abreviadas pelos trocados a mais a engordar contas bancárias, se libertaram do convívio de seres tão mesquinhos.
Campo Grande e o próprio estado de Mato Grosso do Sul, novamente ganham destaque em mídia nacional. Triste destaque dado pela morte.
Culpados? Sim, todos nós que nos permitimos uma revolta silente, inócua. Todos nós que angustiamos nossas revoltas e esquecemos. Punidos exemplarmente? Não, nem os mais crentes na raça humana, na justiça terrena, num lampejo de dignidade cívica, acredita realmente nisso.
Enterramos nossos mortos por vontade e desejo de um Deus, ou de Deuses. Os reverenciamos e esquecemos. E somos tangidos pela obrigação (nunca direito) do voto a nos repetir num moto contínuo de enganos e decepções.
Ninguém sabia dos erros cometidos e enterrados entre lágrimas, revoltas e resignação. Ninguém nomeou ninguém, ninguém percebeu o exagero contábil, ninguém acompanhou as denúncias pela imprensa local e ninguém chorou por tantos ‘alguém’ que morreram.
Depois da catarse poderá vir a mudança, a ressurreição da dignidade humana. Talvez não. Com certeza virão outras eleições, com o mesmo esquecimento, os mesmos candidatos, governo igual.
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