É peculiar o fato de uma Comissão Parlamentar de Inquérito
de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul e os motivos que originaram tal CPI
serem tão, digamos, nacionais. A política nacional funciona de um mesmo modo,
dentro dos mesmos moldes, e as falcatruas e princípios aéticos, também.
Fico estarrecido com a agilidade com que se procedeu,
durante apenas um jantar entre os políticos envolvidos – governador André
Puccinelli (PMDB), o ex-prefeito e atual secretário de Estado, Nelsinho Trad (PMDB) e o
presidente da Câmara de Vereadores, Mário César (PMDB) -- e alguns dos membros que
formarão a Comissão -- o ex-líder do ex-prefeito vereador Flávio César (PTdoB) e outros
títeres --, coisa de poucas horas, terem engendrado o esvaziamento e
direcionamento das investigações e prováveis futuras conclusões. A capacidade
de ficar estarrecido é o combustível do jornalismo, enfim.
Tanto quanto eles podem urdir essa trama, podemos tentar
decifrar as entrelinhas deste roteiro.
O que querem os “amigos” na CPI? Julgar de tal forma que suas
conclusões finais apontem erros administrativos, apenas. Que o dinheiro
desviado caiba no relatório final da Comissão, dentro da “forma pouco ortodoxa
de administrar, errando, quando buscava acertar para oferecer o melhor para o
cidadão paciente” (não mais o paciente cidadão, pelo que vimos nas últimas
eleições e, oxalá, vejamos na futura).
Julgando assim, um mero erro administrativo, por não
configurar crime, desnecessário e impraticável restituir ao erário os valores
que na maldosa opinião popular – ah, este povo ingrato -- foi desviado. Isso implicaria remexer em finanças diversas, destino
das várias repartições desses valores, e até mesmo naquele que foi utilizado em
financiamento de campanhas políticas que elegeram os próceres que representam e
lutam por todos nós e em nosso benefício.
O Conselho Regional de Medicina (porque até o Federal não
chegará), nada fará porque “moral, caráter e ética tem subjetividade” e pesam
pouco se o médico que prestou atendimento utilizou a boa técnica médica.
Por fim, os réus responderão em liberdade pelo crime de
improbidade e nunca será caracterizada a formação de quadrilha. Afinal, são cidadãos
de uma família e destacados membros da sociedade campo-grandense.
Todo esse julgamento dará em nada, sem culpados, e estas
conclusões de tão isenta corte de averiguação de responsabilidades será utilizada
pelos crimin... digo, políticos, como bandeira de integridade moral a ser usada
nas próximas campanhas eleitorais.
Os semideuses da cura,
tocarão suas vidas, alterando os contratos sociais de suas empresas (como
fizeram anteriormente) e mantendo-se vencedores de licitações. Afinal, são os
ungidos senhores de uma casta, encastelados e protegidos pelo fosso da
ignorância alimentado pela deseducação, sobre o qual jogam os restos de
alimentos de suas mesas como benesses para aqueles que lhes vão saudar e dar
loas.
Condenação? Essa já receberam e cumpriram os pacientes. Uma condenação
além de nossas Leis: a Pena de Morte.
Entre seus defensores, o advogado que avisa com antecedência
sobre o dia e o modus operandi das investigações que seriam realizadas e que
continua, sob o seu conceito moral, processando por injúria e exigindo
reparação moral aos órgão e profissionais de imprensa que ousam descortinar e
informar erros médicos.
O malefício da dúvida
Neste empurra-empurra das responsabilidades, a definição que
nos parece, agora clara, é que se conclua ter havido vícios administrativos que
impera serem corrigidos e blá-blá-blá... Todos serão inocentados, se não por
outros vieses jurídicos, pelo benefício da dúvida: in dubio pro reo.
O benefício da dúvida que habitará as mentes do cidadão
eleitor de Campo Grande-MS e, de certa forma, de todos os lugares do Brasil
onde duas coisas não funcionem, a Saúde Pública e a política: Sou Imbecil?
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