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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Bandidos de branco matam quem já não pode reagir (*)

VEJA O RELATO DRAMÁTICO DE FAMILIARES DE PACIENTES QUE MORRERAM COM CÂNCER, TRATADOS NO HU E NO HOSPITAL DO CÂNCER

"Já pensou: uma pessoa com câncer tomando dipirona?”, Gabinno Lino

Iara Camila Dipp:
 "Ele entrou no hospital andando e saiu
 minando água dos pés de tanto inchaço".
No último dia 31 de julho, os vereadores Flávio César (presidente), Carla Stephanini (relatora), Alex do PT, Cazuza e Coringa, que compõem a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito)  ouviram familiares de pacientes e usuários dos serviços do Hospital do Câncer e do HU (Hospital Universitário). 

Ivone Celeste Marcolino Laurindo de Oliveira foi a primeira a ser ouvida e reclamou do tratamento médico dado à seu pai, José Marcolino, falecido no último dia 3 de janeiro, pelo Centro de Oncologia de Mato Grosso do Sul, anexo à Santa Casa. O principal questionamento de Ivone foi com relação a uma troca de medicamentos, a qual a própria força-tarefa do Ministério da Saúde constatou que o SUS pagou um dos remédios até o fim de seu tratamento, que segundo ela não foi utilizado por seu pai.

"Essa infelizmente é a realidade no Brasil. Eu acredito no Ministério Público. Eu acredito na justiça desse País. Não vim aqui buscar justiça apenas pelo meu pai. Quero reiterar minha confiança e meus sinceros desejos que nós possamos mudar essa triste realidade de nosso Estado. Acredito nos vereadores que estão aqui. São de parlamentares como vocês que estamos precisando", destacou.

Em seguida, Gabino Lino, que perdeu o genro Rodrigo Santana da Rocha, foi ouvido pelos vereadores e questionou se o HC foi negligente. O rapaz foi diagnosticado com câncer gástrico em agosto de 2012 e faleceu no dia 9 de março de 2013, no Hospital do Câncer. Com um relatório do Denasus (Departamento Nacional de Auditoria do SUS), Gabino afirmou que Rodrigo foi tratado com dipirona.

“Ele faleceu dentro da casa dele. Deus estava presente junto com minha filha”, disse, bastante emocionado. “Não quero crucificar alguém. Quero que me esclareçam se isso foi o correto. Eles davam dipirona. Está aqui no relatório (da força-tarefa do Denasus, apresentado por Gabino). Já pensou: uma pessoa com câncer tomando dipirona?”, questionou. 

Conformo o sogro, Rodrigo fez a primeira sessão de quimioterapia e reagiu bem. Mais tarde, após a segunda, seu corpo começou a inchar. “No relatório (do Denasus) diz que não tinha exame de sangue, nada que mostrasse se ele progredia ou regredia”, disse. Quando buscou tratamento no Rio Janeiro (RJ), Rodrigo retirou oito litros de fluidos de seu corpo.

No depoimento mais emocionado na tarde, Iara Camilo Dipp descreveu, passo a passo, o martírio de seu pai, Luis Dipp Ramos, que morreu em março por complicações de um câncer no pâncreas. Assim como Gabino, ela acredita que seu familiar foi à óbito por negligência da equipe médica do Hospital do Câncer. Desde o diagnóstico, Luis Dipp lutou por 80 dias contra a doença. 

“Ele entrou no hospital andando e saiu minando água dos pés de tanto inchaço. Parecia que não estava adiantando. Ele estava se estourando de dentro para fora. Ele já não andava e não respirava direito. Ele só tinha conforto quando eu colocava almofadas para passar a noite inteira sentado”, lembrou.

Segundo Iara, seu pai foi liberado do hospital, após tomar soro novamente, e morreu em seus braços. “O enfermeiro falou que ele ia melhorar. Levei meu pai para casa e ele piorou muito. Levamos para o El Kadri, ele já estava se entregando. Quando começou os preparativos (para a internação), (o médico plantonista) viu que meu pai precisava de uma sonda urinária. Foi soro demais nele, sem assinatura de nada. Ele (médico) tentou de tudo. Passou sonda no meu pai, mas ele já não falava. A gente foi tentando de tudo. Meu pai morreu nas minhas mãos”, narrou aos prantos. 

Também ouvida na CPI, Kátia Rosângela de Menezes, que perdeu o esposo vítima de câncer em 2008, afirmou que foi alertada sobre o médico Adalberto Siufi: ele teria adotado procedimentos errados durante o tratamento. “Hoje, vejo os erros médicos que foram cometidos. Diagnosticou e, na época, para colher material da biópsia, abriu meu marido sem precisar”, contou, acrescentando que, quando seu marido realizou tratamento no AC Camargo, em São Paulo (SP), os médicos já conheciam Siufi. “Disseram que, antes, ele tinha 90% de chances de cura e, depois, 60%. Falaram: a gente vai fazer tudo, mas esse médico (Adalberto Siufi) merece um processo. Ele brincou com sua vida e não é só você. Tem outros casos que ele fez procedimento errado”, denunciou.

Mirian Dias, filha de Maria Domingues Lopes Dias, que passou por uma cirurgia cardíaca no HU com a equipe de José Carlos Dorsa Vieira Pontes e faleceu no dia 21 de junho de 2012, também denunciou irregularidades. “Se fosse uma pessoa humilde, já estava presa. Espero que, como o Siufi fez, o Dorsa não faça (deixar o Brasil). Se ele errou, que seja julgado. Eu lembro da minha mãe andando, normal. A gente está esperando Justiça”, clamou.

Por fim, o vereador Flávio César reafirmou que o objetivo da CPI é punir os culpados pelas irregularidades. “Não podemos trazer ninguém de volta, mas queremos que isso não aconteça com mais. Fica o nosso compromisso de lutar até o fim para que todos aqueles que cometeram negligência, que foram cruéis com os seres humanos, paguem por seus erros. É isso que vamos lutar e cobrar”, finalizou.

 Matéria reproduzida conforme divulgada por
Paulline Carrilho de Câmara Municipal de Campo Grande

Título: jornalista Martins



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