Juíza Elisabeth Rosa Baisch |
Uma situação delicada está prestes a ter um fim. O
jeito político de resolver questões judiciais, com os velhos argumentos do
melhor não mexer para não feder – perdoem os termos chulos –, está com seus
dias contados.
Vereadores
entre a cruz e a espada
A juíza da 35ª Zona Eleitoral, Elisabeth Rosa Baisch, cassou o
mandato de Mário César (PMDB), vereador do presidente da Câmara Municipal de
Campo Grande, que recorreu e foi reconduzido ao cargo. Depois cassou pelas
mesmas denúncias – compra de votos por meio de distribuição de combustível nas
eleições de 2012– os mandatos de Thais Helena
(PT), Paulo Pedra (PDT), Delei Pinheiro (PSD). Estes vereadores devem
recorrer até a terça-feira (6), ou a Câmara irá solicitar à justiça a
recontagem de votos e a convocação dos suplentes. Alceu Bueno ainda não foi
julgado porque a juíza ainda ouvirá testemunhas nesta sexta-feira (2).
Delei Pinheiro |
Existem duas maneiras de ver a questão:
a primeira sob o prisma dos políticos, que se acostumaram a
verem as diversas denúncias de erros de conduta e outros, durante o período
eleitoral analisadas e julgadas na base do “não existem provas cabais do
delito”. Desqualificavam-se testemunhas, baseavam-se na miraculosa
contabilidade de contas de campanha, acreditava-se na lisura dos atos e
atribuía-se o caixa dois à denuncismo dos derrotados. Neste caso, utilizavam-se
os olhos vendados de Têmis, deusa que simboliza a justiça, menos como a
premissa de não ver as diferenças entre as partes do processo, e mais para
turvar a verdade não contida em leis e que salta aos olhos;
Paulo Pedra |
a segunda, sob o ponto de vista da população acostumada pela
impotência de nunca estar representada, sabendo que tudo será o nada, ou nos
termos mais comuns, tudo acabará em pizza. Os índices de confiança na justiça
provam isso. Aos amigos, tudo; aos inimigos a Lei. Putas, pobres e Pretos,
tremei; a Lei os alcançará, a Justiça, nunca.
O que mudou?
Para um Estado que foi reconhecido como tendo um dos
judiciários mais corruptos do Brasil (conforme declaração da ex-Corregedora Eliana Calmon – Revista
ISTO É, 5 de dezembro de 2012, pg. 32), assusta beneficamente estas cassações
que vêm ocorrendo, fundamentalmente por estarem ocorrendo na justiça eleitoral.
Reflexo
do julgamento do Mensalão? Provavelmente sim, pois que a partir de então o Poder Judiciário rugiu sua
independência fazendo tremer e temer barganhas indecorosas e indecentes. Nas
palavras de Eliana Calmon, por ocasião do julgamento que prendeu a atenção de
todo o país e que cabe bem neste momento, nesta Capital, “a corrupção [...] a partir de agora tem um freio, e
esse freio está no Poder Judiciário [...] que começa a perceber as mudanças que
a Constituição trouxe [...] e o julgamento deve fazer a ligação entre o legal e
o justo e este corpo único deve invadir todas as Cortes”. O que se está
contendo, não é a Corrupção, mas a sangria.
Mario Cesar |
Inimigos, inimigos,
combustível a parte
Estarrecedor
para os cidadãos foi a descoberta recente de que um mesmo diretório guardava
notas de compra de combustível de vários dos envolvidos, mesmo que de
coligações rivais, inclusive Thais Helena de orientação política oposta. Por
quê? Conforme a juíza bem ponderou, “por terem feito a compra em conjunto por
conveniência de preço”.
Thais Helena |
Quem ficará em xeque?
A
justiça ficará em xeque caso os recursos tenham provimento e sejam impetrados
tantos quanto sejam necessários até que os políticos cassados façam candidatos
viáveis suas esposas, amantes ou cúmplices.
Os
vereadores já estão na berlinda, o que pouco lhes importa, afinal,
estabeleceram e devem manter base eleitoral. Quando
a crença geral é de que nenhum político tem caráter, a compra do voto é a forma
de conseguir um mínimo retorno. Políticos não cumprem leis, Leis são criadas por
eles e julgadas sempre em seu benefício. Haverá sempre atenuantes.
Os
eleitores, tanto se lhes faz, são pouco mais de 24 mil votos sem o menor valor,
sem noção democrática, pessoas não atendidas em seus direitos, que veem seus
filhos morrerem nas filas dos postos de saúde, mas receberão a visita de
ilustre político no velório pobre.
Alceu Bueno |
No viés torto de nossa
democracia a grita geral é pela consciência popular, no cívico apelo do “Não
Vendam Seus Votos”. Não se elaboram campanhas direcionadas aos candidatos a
cargos públicos, “Não Comprem Votos”.
Suplentes
Bem,
a situação de descrédito é tamanha que sequer os suplentes prováveis
substitutos dos atuais vereadores acreditam que vem a ser diplomados. Talvez a
grita parta do minúsculo PTN, que emplacaria o candidato veterano de campanhas,
Acumulou. Boa visibilidade para um Partido que pretende vir com chapa pura para
2014, capitaneada pelo, no mínimo controvertido Eduardo Bottura.
Todos
os outros não têm interesse que se faça cumprir a lei, como bem detalhou o
ainda presidente do PSD – do cassado Delei Pinheiro –, Antonio João Hugo Rodrigues: "As cassações possuem fundo
político [...] que visam manter a administração decadente do atual prefeito da
Capital”. Alguém entendeu?
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