Loading

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Entrevista: Erótico ou pornográfico?

Paula Aguiar,
presidente da Associação Brasileira do Mercado Erótico e Sensual
A presidente da Associação Brasileira do Mercado Erótico e Sensual, Paula Aguiar, elucida a questão em entrevista ao Jornal Liberdade e ainda fala sobre a história deste mercado, potencialidades, características e capacitação.

Afinal, o que é esta tênue linha que separa pornografia, erotismo, sensualidade, qualidade de vida? Numa época em que os casamentos e relacionamentos estáveis costumam se desgastar a partir dos cinco anos, como os quase 12 mil produtos eróticos e sensuais podem resgatar e melhorar os relacionamentos entre casais, elevando a autoestima e proporcionando qualidade de vida?


Dirceu Martins: Os mercados erótico e pornográfico ainda são vistos como iguais?

Paula Aguiar: Eu sempre falo que as pessoas desconhecem como nasceu o mercado erótico. A falta de informação fez com que se tivesse essa cultura errada do que é o mercado erótico, e do que é o negócio em si.

O mercado erótico nasceu em 1952, na Alemanha do pós-guerra, por meio de uma mulher, Beate Uhse, que era piloto de acrobacia e se viu impedida de voar por imposição dos aliados. Viúva e com filho pequeno, atuou no mercado negro vendendo produtos de porta em porta. Quando visitava essas pessoas, encontrava famílias destruídas, mulheres grávidas, algumas que haviam abortado, precárias condições de higiene e saúde, casais desestruturados.
Por ser uma mulher adiante do seu tempo e que havia tido uma educação sexual também para além do comum naqueles tempos, produziu e comercializou panfletos com o ”método da tabelinha”. Hoje é comprovado que este método não é confiável porque os ciclos variam de mulher para mulher, mas em 1952, era o que se tinha à disposição.
Martins: evitando gravidezes indesejadas, inclusive?

Paula Aguiar: Sim, e pelo fato de ela haver ganhado a confiança e pelo seu maior conhecimento e facilidade em falar sobre sexo, as clientes passaram a pedir conselhos matrimoniais.

A partir de então ela passou a comentar sobre a utilização dos óleos de massagem como forma de atração dos companheiros, resgatar os homens que apresentavam depressão pós-guerra, evitando até que procurassem pessoas fora do relacionamento. Essa conexão entre os casais deu certo, e ela pode ampliar seu atendimento contratando outras três pessoas para auxiliá-la.
Martins: A situação psicológica era instável.

Paula Aguiar: Era uma população com baixa autoestima que teve que reconhecer que o seu líder era o responsável por uma situação odiosa. Aquele povo estava em frangalhos. Este momento marca o nascimento de um negócio que passa a ter um catálogo de produtos que contem a tabelinha, preservativos, itens para as mulheres, para os relacionamentos. Em 1962 nasceu o que se considera a primeira sexshop do mundo, na cidade de Flensburg na Alemanha, com o nome de Casa de Higiene Marital, que tinha por finalidade ajudar a união familiar, ajudar a autoestima da mulher. Esse é o trabalho que é feito no Brasil. A gente está voltando e fechando um ciclo.

Martins: Como fechando um ciclo, houve alterações de rumo desde sua concepção?

Paula Aguiar: Na década de 1970, os americanos viram o sucesso deste empreendimento e levaram para os Estados Unidos. Em 1973 foi lançado o filme Garganta Profunda, que passou a ser disponibilizado em Sexshops. Eles colocaram dentro de cabines individuais, para que os homens pudessem se masturbar. E ganharam muito dinheiro com essa história.

Martins: Um desvio de objetivos?

Paula Aguiar: Desviaram. Esse modelo pornográfico chegou ao Brasil no início da década de 1980. As lojas eram escondidas da vista, um ambiente underground. Esse modelo contaminou o mundo.

Martins: Em São Paulo, as lojas eram invariavelmente em galerias.

Paula Aguiar: Escondidas, um ambiente underground. Esse modelo, e os produtos, vieram dos Estados Unidos e, obviamente, esse modelo contaminou o mundo.

Martins: Permanece?

Paula Aguiar: Hoje no Brasil, nós temos doze mil itens à disposição dos consumidores, um único é pornográfico, o vídeo. Que também tem a sua função na relação.

Martins: Você falou em doze mil itens...

Paula Aguiar: Eu estou usando um produto erótico neste momento, é um teste. É um brilho afrodisíaco nas minhas unhas. Se você cheirar, vai sentir que tem um aroma, que é afrodisíaco. Eu quero que perceba com isso, a evolução dessa linha de produtos. É chamado mercado de acesso, que é um produto que tem um apelo de sedução, que trabalho o psicológico. Hoje o mercado trabalha desde a autoestima, de como você ficar bem, se gostar, até o ato sexual, com géis funcionais, com próteses, com massageadores, vibradores, enfim. É muito mais avançado do que se consiga imaginar.

Um exemplo: o Brasil tem hoje à disposição dos consumidores, quarenta sabores de gel para sexo oral. É o único no mundo. Nos outros países só tem dez.
Martins: Por que essa diferença quantitativa?

Paula Aguiar: Porque nós não temos tanta tecnologia, mas criatividade não nos falta. Onde inventar um produto afrodisíaco que você passa na unha? A gente trabalha com os sentidos. O fabricante brasileiro é o mais criativo, aqui foi inventado o vibrador líquido, e com sabores. Acabaram de lançar uma calcinha solúvel que vibra. É mais uma criação brasileira.

Martins: A indústria brasileira está à frente?

Paula Aguiar: Hoje o fabricante brasileiro é o mais criativo do mundo. Aqui foi inventado o vibrador líquido, e com sabores. Acabaram de lançar uma calcinha solúvel que vibra. Eu trouxe agora, já está no mercado para comercializar. É uma calcinha solúvel, ou seja, comestível, que a mulher veste e, quando em contato com os lábios ou com a língua na região do clitóris, ela vibra. É mais uma criação brasileira.

Martins: Pouca tecnologia compensada por grande criatividade?

Paula Aguiar: Tem o vibrador líquido que permite fazer o sexo oral, que pode carregar na bolsa porque parece um gel como outro qualquer. Quer dizer, tem uma série de itens inovadores e essa criatividade está chamando a atenção do mundo.

Martins: o produto brasileiro está ganhando o mundo?

Paula Aguiar: Já existem que exportam, mas não na escala que a gente gostaria. A gente está sendo reconhecido agora como um país de alta criativa em cosmética sensual. Lingerie já é reconhecido como a melhor, mais bonita e sexy.

Martins: Mas no Brasil ainda existe um preconceito arraigado?

Paula Aguiar: Então, voltando na história, a gente trouxe esse modelo e ele ainda está enraizado em nossa cultura, que uma sexshop, uma boutique, uma loja, é um ambiente pornográfico, que lá vai encontrar pessoas pervertidas, ou que se insinuem, ou que deixem ela desconfortável.

Martins: Mas o que se sabe é que as pessoas se constrangem em serem vistas entrando ou saindo de uma sexshop.

Paula Aguiar: Aqui no Mato Grosso do Sul, eu tenho histórias hilárias de pessoas que vão de chapéu e óculos escuros e capote, com calor de 40ºC, disfarçadas. E chegam esbaforidas porque correram tanto para entrar na loja. É apenas falta de conhecimento.

Eu visitei várias lojas, porque eu venho para fazer visitas e avaliar e, estou muito feliz por ver um atendimento excepcional, com produtos de qualidade, o que não é comum em todos os estados. Eu acredito que o consumidor sul-mato-grossense está muito bem calçado em qualidade.
Martins: O consumo se restringe às classes A e B?

Paula Aguiar: Não. Eu visitei lojas e conheci pessoas que trabalham revendo produtos, já está disponível para todas as classes sociais, certamente.

Martins: Mas o mercado C e D adquirem esses produtos?

Paula Aguiar: Compram. Hoje nós temos uma gama de produtos e existem fábricas que se dedicam a fazer produtos em embalagens econômicas para as classes C e D. Os géis funcionais, os sachês que tornam os produtos baratos. Para ter uma ideia, tem sache de gel para sexo oral, tem sachê funcional, que provoca algum tipo de sensação. Ele excita, ele atrasa a ejaculação, ele aquece ou esfria, ou é lubrificante. A embalagem maior é mais cara, mas já se embalam os mesmos produtos em sachês, com um preço acessível.

Martins: E o fato da publicidade? Aqui em Campo Grande um determinado vereador quis proibir publicidades que indicassem qualquer ideia de sensualidade, esse tipo de atitude, que eu considero hipócrita, também existe em outros locais do país?

Paula Aguiar: Infelizmente existe, no Brasil inteiro, pessoas que desconhecem o trabalho, ou o próprio empresário que trabalha de forma errada e não consegue passar o que existe de novo. Houve casos de lojistas excomungados pelo padre, no Pará. Expulsos da cidade, achincalhados na rua, quase apedrejados. Existe esse tipo de fator, mas eu quero retomar uma coisa, a gente tem que preservar crianças e adolescentes a qualquer custo de objetos fálicos. Eu sou totalmente a favor de que este tipo de produto não deve ser visível. O mercado erótico tem responsabilidade, sim, com a infância e a juventude.
O empresário tem que ter o cuidado de, em nenhum momento incentivar a sexualidade precoce. Isso é muito importante, nós temos uma responsabilidade com isso. Fazer com que a criança e o adolescente sejam protegidos, porque eles terão o momento deles, de atingir a plenitude sexual.
Martins: Vocês têm cadeira no Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária – Conar?

Paula Aguiar: Eu sou publicitária por formação e digo que quem mais usa o erotismo não é o mercado erótico, são os outros mercados. E usam muito mal a questão da sexualidade, sensualidade e erotismo. O mercado erótico ele é muito mais cuidadoso, mas não temos representação no Conselho.

O mercado erótico tem pouco mais de 35 anos, é tudo muito novo, para nós e para as entidades e para a sociedade em si. Nós nem temos um poderio econômico, mas o crescimento indica que isso vai acontecer.
Martins: Nós podemos dizer que esse mercado é de um futuro imenso?


“As empresas têm se preocupado com qualidade, que o produto erótico seja visualizado e entendido não como pornografia, mas ligado à família, saúde e qualidade de vida.”

Paula Aguiar: Sim. Para você ter uma ideia, hoje cerca de 15% da população em algum momento teve contato com o produto erótico ou o consumiu. Quer dizer que 85% não tem o menor conhecimento do que é o produto erótico, dos benefícios que ele pode trazer para a suas vidas, para o seu relacionamento e também pela questão do preconceito.

Martins: Nossa formação cultural cristã leva a isso?

Paula Aguiar: Difícil dizer porque, na Espanha, de intensa formação cristã, eles estão muito mais avançados em relação ao erotismo.

Martins: Mas nessa questão a nossa colonização portuguesa é mais restritiva.

Paula Aguiar: Eu estive em Portugal e posso afirmar que Portugal está pelo menos dez anos atrasado em relação ao Brasil em termos de mercado erótico. Eu estive em Lisboa visitando uma grande rede de cerca de dez lojas, todas com peep show (box para apresentação de imagens pornográficas – shows ou filmes – que é visto através de um vidro). Respeito o empreendedor que quer usar esse tipo de artifício.

Martins: Mas você não considera isso erótico? É pornográfico, inclusive desmerece o mercado erótico.

Paula Aguiar: É pornográfico. Eu não considero que isso seja um caminho. Essa questão do pornográfico e erótico é um problema para os antropólogos, historiadores, porque a briga é boa.

Martins: Mas que fique bem definidas as fronteiras.

Paula Aguiar: Mas não há consenso na questão do que é erótico, pornográfico ou sensual. Eles se misturam de tal forma que há um debate envolvendo questões culturais e históricas, enfim. Mas, infelizmente Portugal não avançou. Lá o preconceito ainda é relativo ao que se tinha a quinze anos aqui no Brasil. Os homens ainda vão atrás de casos extraconjugais e mulheres da vida. Nada contra, respeito o trabalho.

Aqui no Brasil o público é caracterizado por mulheres casadas, como eu, ou que têm namorados, noivos, enfim, relacionamentos estáveis. Esse é o perfil, de casais estáveis.
Martins: Para um país que tem histórico de casamentos com duração média de sete anos, o mercado erótico permite uma sobrevida com qualidade à relação?

Paula Aguiar: Cada vez mais os produtos têm sido fundamentais na vida do casal, tanto que hoje existem consultores matrimoniais, formados dentro do mercado que a gente chama de erótico-sensual ou íntimo, nomenclaturas usadas conforme se trabalha o produto, porque hoje nós temos várias divisões de produtos dentro do mercado erótico. Hoje existem produtos que se levam nos encontros de casais, nas igrejas evangélicas, para a união do casal, a união familiar.

Martins: Quebrar paradigmas?

Paula Aguiar: Eles precisam se conectar e muitas vezes o produto entra como um “ajudador”, um acessório, um auxiliar dessa relação desgastada. Muitas vezes eles não se tocam, muitas vezes as mulheres não se conhecem, não conhecem seu corpo, não conhecem o corpo do seu companheiro. O produto e o falar sobre a sexualidade, que muitas consultoras da área da saúde, professoras de sedução, pompoarismo, sexual coach, têm levado como conselheiras matrimoniais. E o produto entra como um auxiliar ao trabalho dessas consultoras.

Martins: O perfil dos consultores implica que primordialmente venham da área de psicologia? Vocês têm uma relação de profissionais listados no site da ABEME.

Paula Aguiar: São diversas. Os constantes do site são pessoas que fizeram capacitação em sexualidade humana, porque hoje quem vende produtos acaba atendendo clientes que se abrem, como se falassem com um psicólogo ou líder religioso, e contam seus problemas, suas intimidades. E esta pessoa tem que saber até onde pode ir, porque por vezes os casos pedem um terapeuta, um psicólogo, um ginecologista ou urologista. O nosso curso permite que se reconheçam casos normais ou que apresentem anormalidades e, nesses casos, orientar que se busque um especialista na área de saúde sexual. Mas a formação desses profissionais consultores é diversa, temos sexólogos, psicólogos, psiquiatras, enfermeiros, profissionais coreógrafos, que desenvolvem um trabalho de autoestima, liberação da sexualidade e sensualidade através da linguagem corporal. Fisioterapeutas que falam de pompoarismo, o exercício íntimo da mulher para fortalecimento dos músculos da região vaginal, porque após uma certa idade há um afrouxamento. É uma questão de saúde, muitos ginecologistas têm indicado o pompoarismo para o fortalecimento da região pélvica por causa da bexiga caída (prolapso genital). Também produtos para a questão da falta de lubrificação após os quarenta anos por influência da menopausa, casos de vaginismo, cânceres da vagina, pois existem produtos específicos para isso.

Martins: O mercado consumidor ainda é dominado pelas mulheres?

Paula Aguiar: Sem dúvida nenhuma. Eu sempre digo que o local faz a freguesia. Hoje existem espaços lindíssimos, refinados, que promovem cursos diversos para a mulher, e ela se sente à vontade para ir nesses espaços, trocar confidências, receber assessoria em seu relacionamento. E é um ambiente que atende com mulheres, o que as faz sentirem-se à vontade. Chega-se a 90%, dependendo do formato da loja, de consumidoras. O homem é um consumidor de produtos via internet. Ele não faz uma compra consultiva, de perguntar sobre o produto. Homem vê uma coisa e decide, ou não, comprar. Homens são objetivos.

Agora, um detalhe é importante, a cuidadora da relação é a mulher. O homem não está preocupado com essa relação. A mulher tem essa preocupação constante. Será que ele gosta de mim? Será que ele me quer? Será que ele me ama? Será que eu estou linda? Será? A cabeça dela é um turbilhão. Então, é o dia inteiro a mulher fazendo o planejamento na cabeça dela e focando aquele homem. Estou boa? Não estou? Meu cabelo está bonito? É aniversário e ele não lembra... E a mulher lembra aniversário mensalmente: namoro, primeiro beijo, noivado, casamento... e todas ela quer comemorar. Detalhe: de forma diferente. Então tem uma fantasia para cada momento. Tem esse detalhe. Então, ela é a grande guardadora dessa relação, ainda hoje. Claro que os homens evoluíram, está ai a geração Z, que são jovens na faixa de 20 anos que, com três meses de relacionamento já estão buscando produtos, porque a mulher está tão antenada, elas têm tanta informação, elas sabem tanto de sexo, que ele se tornou um homem inseguro.
Martins: As gerações anteriores, ainda não conseguem estar à vontade com esses produtos, digo os homens?
Paula Aguiar: Chegamos numa segunda parte da questão, que é o trabalho que as consultoras têm feito. O tabu está sendo quebrado pelo trabalho delas. Os empresários estão indo apresentar os produtos e participar desse universo dos consumidores, levar os produtos até eles, quebrar esses paradigmas.
Existe um evento que tem acontecido no Rio de Janeiro, que é o Segundo Aniversário dos 18 anos, e acontece dentro das lojas. Um grupo de amigas, vão à loja e uma consultora dá uma aula de educação sexual para a aniversariante. Abrange sexualidade, amor, autoestima, cuidados. É tarefa dessa geração falar dos produtos enfocando em qualidade de vida, as revistas já têm tratado esse assunto.
Martins: E o sexo anda numa linha tênue entre a autoestima e a depressão.

Paula Aguiar: Quem não está bem, não tem como estar bem com o outro. Então a gente está procurando que o empresário entenda a necessidade da juventude, as necessidades dessa nova mulher, desse novo homem. Eu acho que a gente tem muito o que crescer. Mas eu vejo que nós estamos andando em dois caminhos muito específicos. Um é por estarmos junto com a área de saúde, em que se aprende muito a respeito de sexualidade porque o consumidor exige esse conhecimento, quer ser atendido por alguém capacitado. Ela não trata de determinados assuntos com o seu ginecologista, até com o seu terapeuta, mas fala com uma consultora. E percebi que aqui no Mato Grosso do Sul as pessoas estão capacitadas a isso.
A segunda questão é formar nos novos consumidores para que se tire da cabeça a pornografia. O mercado não é a pornografia.

Martins: É a valorização pessoal, das relações...

Paula Aguiar: E a gente tem percebido que estamos caminhando bem em relação a isso. O filme “De Pernas Pro Ar - II”, está censurado para a faixa etária de 12 anos. Algo mudou. Então a própria sociedade já está enxergando com outros olhos.

Martins: O empresário do ramo não é mais um aventureiro.

Paula Aguiar: Não, ele tem formação, não é aventureiro ou um pervertido que está ali para trabalhar com sexo. É um empresário e a primeira edição do filme deixa isso bem claro.

Martins: O amadorismo pode alimentar o preconceito?

Paula Aguiar: O que é incompreensivo gera preconceito. Existem estabelecimentos que alimentam esse preconceito quando se escondem, quando não se capacitam, quando não se informam a respeito de saúde sexual e o que isso implica em melhoria da qualidade de vida. Um produto mal indicado é danoso.

Martins: O que caracteriza o mercado erótico brasileiro?

Paula Aguiar: Uma coisa que ilustra bem, é que os cinco produtos mais vendidos aqui, são para casais. Não tem nenhum que de uso estritamente pessoal, ou solitário. Essa mentalidade de que a força de vendas é de vibradores para mulheres, isso não existe no mercado brasileiro.

Martins: O que é uma diferença com relação ao mercado norte-americano.

Paula Aguiar: A mulher americana é individualista e pensa em seu próprio prazer. Lá o produto mais vendido são os vibradores, seguidos pelos lubrificantes de pote grande. No entanto, não só os Estados Unidos, mas o mundo está passando por uma revolução, estão mudando o estilo de loja e as logomarcas, para serem mais agradáveis à mulher. Desde a primeira loja em 1962, 50 anos passados e eles estão se voltando para o mercado feminino.

No Brasil, nós tivemos a primeira boutique sensual aberta em 2003, um espaço voltado para a mulher, então estamos completando dez anos de um trabalho intenso focado na mulher.
Martins: Você é empresária do ramo?

Paula Aguiar: Não. Sou publicitária, consultora, estou presidente da Abeme – Associação Brasileira do Mercado Erótico, meu enfoque é desenvolvimento de produtos. Porque o conhecimento do produto é muito importante para fazer essa analogia entre o que busca a consumidora brasileira e o que a gente pode e esta oferecendo. Por vezes não adianta trazer produtos de fora, porque não foram pensados para nós, que temos um outro pensar a respeito da sua sexualidade.

Martins: Mas algumas coisas são universais.

Paula Aguiar: São. Aliás, o mercado brasileiro avançou muito. O mercado erótico brasileiro está tão importante que nós estamos em lançamento simultâneo com outras partes do mundo.

Martins: Com produtos, inclusive, pensados a partir daqui.

Paula Aguiar: Pensados aqui. E grandes marcas já estão abrindo aqui suas representações, ou atuando fortemente o marketing no país.

Martins: E a Associação oferece quais tipos de estrutura para quem pretende entrar nesse mercado?

Paula Aguiar: Cursos vários, inclusive em parceria com o Sebrae onde é disponibilizada assessoria gratuita em parceria Abeme/Sebrae e abrange gestão, marketing, internet; literatura de negócios, publicações relacionadas, relação de fornecedores avaliados etc.

Martins: O Sebrae com a sua estrutura de negócios e a Abeme com a especificidade?

Paula Aguiar: Eu brinco que eles são o genérico, mas a gestão financeira, por exemplo, é fundamental. Ninguém pode ser aventurar. Acreditar que vai entrar nesse mercado e ficar rido, não é verdade. É como qualquer outro negócio, se você não tiver capacitação, empreendedorismo, conhecimento de mercado e produto, em um ano fecha. Precisa querer e saber utilizar o apoio de entidades como a Abeme e o Sebrae.


Nenhum comentário: