O governo
Bernal tem muitos erros, é imaturo em suas ações, letárgico, mas afastá-lo
significa jogar no lixo o desejo de 270.927 eleitores, número muito superior à
soma dos votos dados aos vereadores da atual legislatura.
Para
eleger, o povo. Para cassar, 20 vereadores
O cerco se
fecha. Vereadores formaram uma frente de batalha desde os primeiros dias do
atual governo de Campo Grande, buscando enfraquecer um prefeito legitimamente
eleito. Com ele nas cordas, todas as negociações ficariam mais fáceis, acordos
passariam a ser vantajosos e o tapete que encobria “erros” de uma gestão de 20
anos, não se moveria, não teria sequer uma de suas pontas levantadas.
O governo
Bernal tem muitos erros, é imaturo em suas ações, letárgico, mas afastá-lo
significa jogar no lixo o desejo de 270.927 eleitores, número muito superior à
soma dos votos dados aos vereadores da atual legislatura.
De um lado um prefeito despreparado como político e como
administrador, movido por forças e interesses que ainda não se pode avaliar; de
outro um grupo de vereadores ensandecidos que perderam as benesses de um núcleo
de poder a quem sempre serviram, no centro desta disputa, a população mal
atendida porque o primeiro não consegue cumprir as promessas de campanha
melhorando a qualidade de vida dos cidadãos e os segundos não permitem que
qualquer ação positiva seja concretizada. Para sedimentar esse caos do “nada”,
um Ministério Público que em diversas ocasiões cria situações jurídicas
ficcionais pelas quais acaba sendo obrigado a se retratar e sofre penalidades.
No melhor estilo dos momentos políticos do passado, com
pinceladas de absurdos do período ditatorial, nossa Capital se transforma num
enorme tanque de lavadeiras.
Caso venha a ocorrer o afastamento do prefeito eleito de
Campo Grande, Alcides Bernal, será uma jogada política sem futuro, onde se
rasga os princípios democráticos e poderes se interlaçam e invadem a clara
linha que limita os poderes. Trinta anos passados do final da Ditadura, não
conseguimos limpar nossa postura política.
A maioria de nossos vereadores não sentiram de forma
contundente os efeitos daquele período negro, outros sequer eram nascidos e
nosso prefeito, àquela época (e talvez ainda agora) não tinha plena consciência
da arte da política. Mesmo com a oportunidade clara de resgatar os valores de
ética, postura cidadã e dedicação em prol do aprimoramento da Nação – porque
Nação se faz a partir de cada cidadão, em cada município –, pensam pequeno,
agem na mesquinharia de um poder inútil, de um poder que não detêm porque
servem a senhores maiores.
O senhor das
lambanças
Para que consiga visualizar – porque entender é impossível –
toda essa situação, temos que partir das ações do senhor Alcides Bernal, que
não conseguiu durante sua meteórica vida política, aprender além das primeiras
letras. Podemos até defini-lo como analfabeto funcional em política. Seus
mandatos como vereador e deputado foram pífios, com ações voltadas mais para a
mídia, sua própria mídia, diga-se. Ia na onda, criticava, vociferava contra
tudo e todos sem apresentar qualquer solução concreta. Seu temperamento arredio
e desconfiado, sua sede por algum poder o mantiveram isolado e rejeitado por
todos os grupos. Isso, em política, é ostracismo e morte.
Nas eleições arregimentou a totalidade dos votos de protesto
contra um grupo de governo envelhecido e desgastado, arraigado no poder e
sentindo-se senhor absoluto da terra. Foi eleito pelos mais humildes que
confiavam na voz possante embala ao som de músicas populares, diariamente
deitando críticas, e a um adversário economicamente forte, mas sem empatia com
o povo e acompanhado de inimigos em sua própria base.
Não percebeu que os votos eram por mudanças e não foram
dados a ele, mas permitidos a ele para que capitaneasse essas mudanças. Não se
apercebeu, não aprendeu, deitou na cama da glória que não havia sido preparada
especificamente para ele. Era e é um Rei sem Governo. Não tinha e não tem
equipe, e mesmo os que almejam o poder, nele não confiam e recusam os convites.
Aos trancos e barrancos, com o que pode arranjar, constituiu a quase totalidade
de seu secretariado, mas não lhes dá autonomia.
Usou da fé imatura do povo atraindo o vice, Gilmar Olarte,
evangélico, amarrando as pontas soltas de sua candidatura, para logo após
diplomado, descarta-lo. Ofendeu fé e fiéis. A necessária composição política
com o poder legislativo, desprezou. Entrou em uma guerra, foi para o território
inimigo sem levar tropas. Contou com a força dos votos, mas para grande parte
dos vereadores, a força do voto tem validade (e preço) apenas durante a
campanha. Se Bernal era um Rei sem Governo, também vivia num castelo sem fosso.
Foi e está sendo atacado em todas as frentes e sua imaturidade, arrogância e
incapacidade para o diálogo pode dar fim ao seu governo.
Base aliada e
independentes
A base aliada está mais para um bloco de oposição ferrenha
ao antigo poder, buscando inovações, ou mantendo o protocolo de alianças e
vínculos partidários. Mingua a cada dia que não tem seus pleitos atendidos, a
cada audiência que não conseguem marcar, a cada resposta negada. Cresce mais a
bancada dos independentes, roubando vereadores de oposição e aliados. Esses
vereadores, aliados e independentes, seguem pelos seus próprios princípios,
lutando mais contra a injustiça dessa perseguição desvairada, do que em defesa
daquele que se encastela. Querem permitir a governabilidade necessária para que
não se prejudique e penalize ainda mais a população.
Oposição e o golpe
Lá como cá, não existem santos, no entanto essa oposição, da
forma como se apresenta e age, sem a menor preocupação com os danos causados à
população, serve a senhores poderosos, de vários nomes porque são grupos,
experientes no mandar prender e no mandar soltar.
Destes, cinco foram cassados em primeira instância, por
comprovada compra de votos, recorreram, mantém seus mandatos e, alguns deles,
fazem parte da mesa diretora – Thais Helena é secretária de Assistência Social
do governo Bernal. Paulo Siufi, ex-presidente da Câmara e um dos responsáveis
pelo não pagamento dos aluguéis (ou negociação da dívida) daquela Casa que está
sob ordem de despejo, é acusado de não cumprir integralmente suas funções como
servidor da saúde.
Pois essa oposição, auxiliada e muito pelas sandices do
prefeito, somada ao deslumbramento de novatos eleitos na bacia das almas, com
votações pífias em coligações engendradas para permitir a ocupação de espaços e
poucos questionamentos, que mal somam 50% dos votos dados a Alcides Bernal,
querem a cassação do chefe do executivo.
O que se comenta com poucos pudores nos corredores da
Câmara, é que sentindo-se usado e desprezado, Gilmar Olarte, também ele imaturo
e manipulável, vem sendo preparado para assumir o cargo, trazendo de volta ao poder,
por outras vias, o grupo que o povo, pelo voto, democraticamente, derrubou.
Manifestações
Último suspiro ou ataque com as últimas munições, um grupo não
claramente ligado ao prefeito vem articulando manifestações, querendo fazer
parecer parte das manifestações cívicas que tomaram o país em junho, e
dando-lhe uma imagem de moralidade. Não conseguiram ser originais, distribuindo
adesivos com ideias usadas bem antes por Getúlio Vargas e até Lula, com os
dizeres “Deixe o Homem Trabalhar”. Fizeram barulho, conseguiram o espanto de
alguns vereadores, o apoio de outros e o deboche de uns tantos. Seria bom se
fosse sério, torcemos por isso, desejamos isso.
Fim de um capítulo
É um golpe cuja maior vítima é a população. Engendrado por
um grupo arraigado ao poder como um câncer, que não dá importância à pasmaceira
da falta de ações pelo município e que se aproveita de um prefeito fraco que
faz da rede social, sua última grande trincheira, disparando xingamentos aos
que deve respeito por serem, também eles, representantes eleitos de um poder
soberano.
O Ministério Público, respeitável e necessário, por vezes se
pretende mais realista que o rei e, no afã de ver a justiça triunfar de forma
clara e transparente, resvala na ansiedade e se permite erros, depois punidos e
que terminam por beneficiar quem mereceria punição, como é o caso recente dos
descaminhos cometidos na Operação Uragano em que o MP deverá ressarcir os
acusados.
A Câmara usou a força da CPI da Calote, que beneficia
principalmente um grupo de empresas financiadoras de suas campanhas, em
detrimento de uma CPI da Saúde, que provocou ou acelerou a morte daqueles que
não têm outra forma de tratamento senão o oferecido pelo setor público, mas que
respingava no grupo de poder que eles representam e defendem.
A se efetivar esse
golpe, apenas esse grupo será vitorioso, e por mais que tentem dizer diferente,
com todos os argumentos possíveis, a população, a cidade e a própria democracia
serão os perdedores, os derrotados.
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