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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

GOLPE quer afastar Bernal

O governo Bernal tem muitos erros, é imaturo em suas ações, letárgico, mas afastá-lo significa jogar no lixo o desejo de 270.927 eleitores, número muito superior à soma dos votos dados aos vereadores da atual legislatura.


Para eleger, o povo. Para cassar, 20 vereadores

O cerco se fecha. Vereadores formaram uma frente de batalha desde os primeiros dias do atual governo de Campo Grande, buscando enfraquecer um prefeito legitimamente eleito. Com ele nas cordas, todas as negociações ficariam mais fáceis, acordos passariam a ser vantajosos e o tapete que encobria “erros” de uma gestão de 20 anos, não se moveria, não teria sequer uma de suas pontas levantadas.

O governo Bernal tem muitos erros, é imaturo em suas ações, letárgico, mas afastá-lo significa jogar no lixo o desejo de 270.927 eleitores, número muito superior à soma dos votos dados aos vereadores da atual legislatura.


De um lado um prefeito despreparado como político e como administrador, movido por forças e interesses que ainda não se pode avaliar; de outro um grupo de vereadores ensandecidos que perderam as benesses de um núcleo de poder a quem sempre serviram, no centro desta disputa, a população mal atendida porque o primeiro não consegue cumprir as promessas de campanha melhorando a qualidade de vida dos cidadãos e os segundos não permitem que qualquer ação positiva seja concretizada. Para sedimentar esse caos do “nada”, um Ministério Público que em diversas ocasiões cria situações jurídicas ficcionais pelas quais acaba sendo obrigado a se retratar e sofre penalidades.

No melhor estilo dos momentos políticos do passado, com pinceladas de absurdos do período ditatorial, nossa Capital se transforma num enorme tanque de lavadeiras.

Caso venha a ocorrer o afastamento do prefeito eleito de Campo Grande, Alcides Bernal, será uma jogada política sem futuro, onde se rasga os princípios democráticos e poderes se interlaçam e invadem a clara linha que limita os poderes. Trinta anos passados do final da Ditadura, não conseguimos limpar nossa postura política.

A maioria de nossos vereadores não sentiram de forma contundente os efeitos daquele período negro, outros sequer eram nascidos e nosso prefeito, àquela época (e talvez ainda agora) não tinha plena consciência da arte da política. Mesmo com a oportunidade clara de resgatar os valores de ética, postura cidadã e dedicação em prol do aprimoramento da Nação – porque Nação se faz a partir de cada cidadão, em cada município –, pensam pequeno, agem na mesquinharia de um poder inútil, de um poder que não detêm porque servem a senhores maiores.

O senhor das lambanças

Para que consiga visualizar – porque entender é impossível – toda essa situação, temos que partir das ações do senhor Alcides Bernal, que não conseguiu durante sua meteórica vida política, aprender além das primeiras letras. Podemos até defini-lo como analfabeto funcional em política. Seus mandatos como vereador e deputado foram pífios, com ações voltadas mais para a mídia, sua própria mídia, diga-se. Ia na onda, criticava, vociferava contra tudo e todos sem apresentar qualquer solução concreta. Seu temperamento arredio e desconfiado, sua sede por algum poder o mantiveram isolado e rejeitado por todos os grupos. Isso, em política, é ostracismo e morte.

Nas eleições arregimentou a totalidade dos votos de protesto contra um grupo de governo envelhecido e desgastado, arraigado no poder e sentindo-se senhor absoluto da terra. Foi eleito pelos mais humildes que confiavam na voz possante embala ao som de músicas populares, diariamente deitando críticas, e a um adversário economicamente forte, mas sem empatia com o povo e acompanhado de inimigos em sua própria base.

Não percebeu que os votos eram por mudanças e não foram dados a ele, mas permitidos a ele para que capitaneasse essas mudanças. Não se apercebeu, não aprendeu, deitou na cama da glória que não havia sido preparada especificamente para ele. Era e é um Rei sem Governo. Não tinha e não tem equipe, e mesmo os que almejam o poder, nele não confiam e recusam os convites. Aos trancos e barrancos, com o que pode arranjar, constituiu a quase totalidade de seu secretariado, mas não lhes dá autonomia.

Usou da fé imatura do povo atraindo o vice, Gilmar Olarte, evangélico, amarrando as pontas soltas de sua candidatura, para logo após diplomado, descarta-lo. Ofendeu fé e fiéis. A necessária composição política com o poder legislativo, desprezou. Entrou em uma guerra, foi para o território inimigo sem levar tropas. Contou com a força dos votos, mas para grande parte dos vereadores, a força do voto tem validade (e preço) apenas durante a campanha. Se Bernal era um Rei sem Governo, também vivia num castelo sem fosso. Foi e está sendo atacado em todas as frentes e sua imaturidade, arrogância e incapacidade para o diálogo pode dar fim ao seu governo.

Base aliada e independentes

A base aliada está mais para um bloco de oposição ferrenha ao antigo poder, buscando inovações, ou mantendo o protocolo de alianças e vínculos partidários. Mingua a cada dia que não tem seus pleitos atendidos, a cada audiência que não conseguem marcar, a cada resposta negada. Cresce mais a bancada dos independentes, roubando vereadores de oposição e aliados. Esses vereadores, aliados e independentes, seguem pelos seus próprios princípios, lutando mais contra a injustiça dessa perseguição desvairada, do que em defesa daquele que se encastela. Querem permitir a governabilidade necessária para que não se prejudique e penalize ainda mais a população.

Oposição e o golpe

Lá como cá, não existem santos, no entanto essa oposição, da forma como se apresenta e age, sem a menor preocupação com os danos causados à população, serve a senhores poderosos, de vários nomes porque são grupos, experientes no mandar prender e no mandar soltar.

Destes, cinco foram cassados em primeira instância, por comprovada compra de votos, recorreram, mantém seus mandatos e, alguns deles, fazem parte da mesa diretora – Thais Helena é secretária de Assistência Social do governo Bernal. Paulo Siufi, ex-presidente da Câmara e um dos responsáveis pelo não pagamento dos aluguéis (ou negociação da dívida) daquela Casa que está sob ordem de despejo, é acusado de não cumprir integralmente suas funções como servidor da saúde.

Pois essa oposição, auxiliada e muito pelas sandices do prefeito, somada ao deslumbramento de novatos eleitos na bacia das almas, com votações pífias em coligações engendradas para permitir a ocupação de espaços e poucos questionamentos, que mal somam 50% dos votos dados a Alcides Bernal, querem a cassação do chefe do executivo.

O que se comenta com poucos pudores nos corredores da Câmara, é que sentindo-se usado e desprezado, Gilmar Olarte, também ele imaturo e manipulável, vem sendo preparado para assumir o cargo, trazendo de volta ao poder, por outras vias, o grupo que o povo, pelo voto, democraticamente, derrubou.

Manifestações

Último suspiro ou ataque com as últimas munições, um grupo não claramente ligado ao prefeito vem articulando manifestações, querendo fazer parecer parte das manifestações cívicas que tomaram o país em junho, e dando-lhe uma imagem de moralidade. Não conseguiram ser originais, distribuindo adesivos com ideias usadas bem antes por Getúlio Vargas e até Lula, com os dizeres “Deixe o Homem Trabalhar”. Fizeram barulho, conseguiram o espanto de alguns vereadores, o apoio de outros e o deboche de uns tantos. Seria bom se fosse sério, torcemos por isso, desejamos isso.

Fim de um capítulo

É um golpe cuja maior vítima é a população. Engendrado por um grupo arraigado ao poder como um câncer, que não dá importância à pasmaceira da falta de ações pelo município e que se aproveita de um prefeito fraco que faz da rede social, sua última grande trincheira, disparando xingamentos aos que deve respeito por serem, também eles, representantes eleitos de um poder soberano.

O Ministério Público, respeitável e necessário, por vezes se pretende mais realista que o rei e, no afã de ver a justiça triunfar de forma clara e transparente, resvala na ansiedade e se permite erros, depois punidos e que terminam por beneficiar quem mereceria punição, como é o caso recente dos descaminhos cometidos na Operação Uragano em que o MP deverá ressarcir os acusados.

A Câmara usou a força da CPI da Calote, que beneficia principalmente um grupo de empresas financiadoras de suas campanhas, em detrimento de uma CPI da Saúde, que provocou ou acelerou a morte daqueles que não têm outra forma de tratamento senão o oferecido pelo setor público, mas que respingava no grupo de poder que eles representam e defendem.

 A se efetivar esse golpe, apenas esse grupo será vitorioso, e por mais que tentem dizer diferente, com todos os argumentos possíveis, a população, a cidade e a própria democracia serão os perdedores, os derrotados.

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