Uma das principais funções do jornalista é traduzir termos
ditos de forma e em contextos de forma que dificultem a compreensão. Somos, por
dever de ofício, leitores de entrelinhas. É nosso natural a indignação com o
que afronta a sociedade a sociedade que não nos permite calar, ainda que
constantemente tentem nos silenciar, ou por vezes e em determinadas situações
nos obriguem a isso.
No entanto, ouvir e suportar calado a uma declaração
explícita de poder, que nos joga, nós cidadãos, na vala do “sem valor”, é
impossível, fere a indignação. É isso o que o ilibado presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL) – que gerou o neologismo renangate quando descoberto
que uma empreiteira pagava pensão à sua ex-amante, Monica Veloso, formada em
jornalismo – declarou após a aprovação pela Câmara dos Deputados por 452 votos favoráveis e nenhum contra a
Proposta de Emenda Constitucional que derrubou o voto secreto em todas as
votações em plenário no Congresso e que se estende e abrange as assembleias
legislativas dos estados e câmaras de vereadores, passados 12 anos da primeira
votação.
Renan foi claro
ao se manifestar contra a abrangência da PEC, que irá a votação agora no
Senado. O presidente do Senado disse textualmente, no que foi acompanhado pelo
senador, segundo vice-presidente do Senado e porta voz não oficial de tudo o
que o executivo lhe ordene, Romero Jucá (PMDB-RR), que o voto secreto protege o
parlamentar de pressões, ou de autoridades, ou do próprio governo, já que vai
apreciar vetos do executivo. “Queremos preservar a responsabilidade e a
condição do parlamentar da base do governo ter condições de votar”, disse Jucá.
Essa aparente
falta de caráter e coragem de assumir posições, mesmo estando embasados no
poder que o voto popular consagra, grassa em todos os campos ideológicos,
conforme podemos entender das palavras do presidente do PSDB e pré-candidato à
presidência da República, senador Aécio Neves (MG), que também defendeu e pelos
mesmos motivos a defesa dos parlamentares, mas garantiu apoiar a proposta da
Câmara.
Não há outra
forma de entender as posições defendidas pelos tentáculos necrosados que
resistem no Senado, senzala de Sarney e seus asseclas, senão acreditar que sem
a proteção do manto da covardia, da invalidade das palavras, da falta de
caráter em assumir posições, defender as propostas que os elegeram, são vozes
covardes, ruídos apenas.
Estranha essa
Democracia sem independência de poderes. Não há, pois, outra forma de analisar sua declaração senão entender que declarou: somos traidores e não temos caráter.
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