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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Renan diz: Somos traidores e não temos caráter

Uma das principais funções do jornalista é traduzir termos ditos de forma e em contextos de forma que dificultem a compreensão. Somos, por dever de ofício, leitores de entrelinhas. É nosso natural a indignação com o que afronta a sociedade a sociedade que não nos permite calar, ainda que constantemente tentem nos silenciar, ou por vezes e em determinadas situações nos obriguem a isso.

No entanto, ouvir e suportar calado a uma declaração explícita de poder, que nos joga, nós cidadãos, na vala do “sem valor”, é impossível, fere a indignação. É isso o que o ilibado presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) – que gerou o neologismo renangate quando descoberto que uma empreiteira pagava pensão à sua ex-amante, Monica Veloso, formada em jornalismo – declarou após a aprovação pela Câmara dos Deputados por 452 votos favoráveis e nenhum contra a Proposta de Emenda Constitucional que derrubou o voto secreto em todas as votações em plenário no Congresso e que se estende e abrange as assembleias legislativas dos estados e câmaras de vereadores, passados 12 anos da primeira votação.

Renan foi claro ao se manifestar contra a abrangência da PEC, que irá a votação agora no Senado. O presidente do Senado disse textualmente, no que foi acompanhado pelo senador, segundo vice-presidente do Senado e porta voz não oficial de tudo o que o executivo lhe ordene, Romero Jucá (PMDB-RR), que o voto secreto protege o parlamentar de pressões, ou de autoridades, ou do próprio governo, já que vai apreciar vetos do executivo. “Queremos preservar a responsabilidade e a condição do parlamentar da base do governo ter condições de votar”, disse Jucá.

Essa aparente falta de caráter e coragem de assumir posições, mesmo estando embasados no poder que o voto popular consagra, grassa em todos os campos ideológicos, conforme podemos entender das palavras do presidente do PSDB e pré-candidato à presidência da República, senador Aécio Neves (MG), que também defendeu e pelos mesmos motivos a defesa dos parlamentares, mas garantiu apoiar a proposta da Câmara.

Não há outra forma de entender as posições defendidas pelos tentáculos necrosados que resistem no Senado, senzala de Sarney e seus asseclas, senão acreditar que sem a proteção do manto da covardia, da invalidade das palavras, da falta de caráter em assumir posições, defender as propostas que os elegeram, são vozes covardes, ruídos apenas.

Estranha essa Democracia sem independência de poderes. Não há, pois, outra forma de analisar sua declaração senão entender que declarou: somos traidores e não temos caráter.


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