A cada
movimento social ocorrido por esgotamento absoluto ao suportar o escracho dos
políticos para com a sociedade, num “ao invés” da fortaleza sitiada, Brasília,
onde quem está dentro não quer sair e um sem número querem entrar, mais um
retalho foi oferecido para a confecção da imensa colcha de retalhos da reforma
eleitoral. Arrastada, penada, democraticamente desejada pela maioria e
ditatorialmente impedida pelos políticos, a reforma eleitoral buscando o
desejável mais e mais se aproxima do passado, esbarrando e quase entrando de
corpo e alma na Lei Falcão. (A Lei Falcão teve como seu principal objetivo evitar que o
horário eleitoral gratuito viesse a ser utilizado como forma de criticar a
ditadura daquela época. Na propaganda eleitoral, os partidos se limitassem a
mencionar a legenda, o currículo e o número do registro do candidato na Justiça
Eleitoral, divulgar sua fotografia pela televisão, podendo mencionar o horário
e local dos comícios.)
Após meses de
discussão e negociação partidárias, a Câmara dos Deputados aprovou, na noite
desta terça-feira (22), o projeto de lei da minirreforma eleitoral (PL 6397/13),
que apresenta como principais mudanças, limitações de publicidade em via
pública e a proibição em bens privados. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidirá
se as mudanças valem para as eleições de 2014, no entanto tem-se como certo que
deverão vigorar apenas nas eleições de 2016 pois quaisquer alterações na Lei
devem ser feitas antes de um ano das eleições. Foram
rejeitados um destaque do DEM que proibiria a utilização de bonecos e bandeiras
pelos candidatos; outro do PTB que permitiria o suo de outdoors eletrônicos; e
permitir que a propaganda de rádio e TV ridicularizem os candidatos, partidos
ou coligação – o partido queria evitar
que o juiz eleitoral enquadrasse o uso do humor na definição do termo,
proibindo inserções em que ele é usado.
Foram
aprovados o limite de dois fiscais por partido nas seções eleitorais; limite
para a propaganda em bens particulares – proíbe placas, cavaletes e
envelopamento de veículos; fixa teto com alimentação e aluguel de veículos em
campanha; retirada a restrição para a contratação de cabos eleitorais; permite
a manifestação em redes sociais, entre outros pontos mais técnicos.
Foram mantidas
duas pérolas da forçosa democracia de representação que, abaixo da linha do
equador, são conhecidas como balcão de negociatas: a que facilita a troca de
partidos, ao realizar a desfiliação automática quando ocorre a filiação à nova
legenda e a que determina que o candidato só pode ser trocado até 20 dias antes
da votação, para coibir que fichas sujas façam a campanha e sejam substituídos
por parentes às vésperas do pleito. Mas 20 dias não é às vésperas do pleito?
Mais polêmicas
É permitido
que concessionárias de serviços públicos façam doações para campanhas
eleitorais. As siglas defendiam a realização
de uma reforma mais ampla, que contemplasse o fim das doações de empresas e
mais mecanismos de participação popular na política. PMDB, PSDB, PR, PSD, DEM e
PTB foram os principais defensores da proposta, dizendo que assegurava mais
transparência e reduzia os gastos de campanha. Mas também é de levar em
consideração que são partidos ricos, muito ricos em relação a outros e, caso as
agremiações dependessem de financiamento público, o caixa dois – que segundo o
mensaleiro Delúbio, todos fazem, um crime que todos praticam acaba sendo menor
e perdoável – destes partidos tem um excelente amparo contábil, experimentado
ao longo dos anos.
Partidos
contrários ameaçaram com obstruções a aprovação do texto, mas como manda quem
pode e obedece quem tem juízo, o PT recuou após a ameaça feita pelo PMDB, de
não aprovar a proposta Mais Médicos, recentemente aprovada no Congresso e a
tábua de salvação da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Mas, enfim,
essa colcha de retalhos nunca se completa e, começa a ficar desgastada e
esfarrapada antes mesmo que consiga cobrir por inteiro nossa infantil
democracia. Ora cobre-lhe os pés, ora a cabeça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário