por Jô Soares / facebook
O Brasil ficou chocado
nos últimos dias de julho quando um garoto de 11 anos teve o braço direito
dilacerado por um tigre. O "acidente" ocorreu em um zoológico de
Cascavel, PR, quando o garoto, acompanhado do pai, pulou uma cerca de proteção,
ignorou os avisos de manter-se afastado e provocou primeiro um leão e depois o
tigre. O desfecho todo mundo viu: teve o braço amputado na altura do ombro e
terá a vida inteira para refletir sobre esse ato "corajoso". Esse
acidente é exemplar, em todos os sentidos.
Felizmente alguém
filmou e mostrou uma imagem que retrata o que vem acontecendo em uma sociedade
desacostumada a respeitar uma autoridade. O garoto ficou por cerca de seis
minutos atiçando dois felinos de grande porte, conhecidos por qualquer ser
vivente como predadores. Até as pedras sabem que esses animais se alimentam de
outros animais desde que o mundo é mundo.
Imediatamente após a
divulgação das imagens começaram os julgamentos, principalmente os do "contra"
e "a favor", seja do tigre, do garoto, do pai, do zoológico, de Deus
etc. No atual modus operandi social de palpitar sobre tudo houve a esperada
distribuição de culpa para todos os envolvidos, alguns até tentando amenizar o
lado do garoto sob a alegação de que era "incapaz" de avaliar os
riscos. Será? Com 11 anos você não sabe a diferença de um gato para um tigre?
Deixando um pouco o
tigre de lado, vamos lembrar um pouco das histórias da Bíblia. Sem a menor
conotação católico-cristã, mas apenas como exemplo. Muita gente atribui o
pecado original ao sexo, fazendo uma analogia direta da mordida na maçã com
rala e rola entre Adão e Eva. Mas Deus não poderia castigar pelo sexo, senão
inviabilizaria a reprodução humana e jogaria por terra o famoso "crescei e
multiplicai".
O pecado original que
condenou Eva e seu amasio ao mundo terreno foi a DESOBEDIÊNCIA. Deus deixou bem
claro: não coma a fruta dessa árvore! E quando virou as costas lá foi ela e
nhoc! Não tinha uma placa na macieira do tipo "fique longe, não
coma". Por trás da desobediência está o conceito que quero chegar: o
desrespeito!
Voltando ao zoológico,
qual o padrão de comportamento dos visitantes: enfiar o braço na jaula ou
manter-se afastado? Se uma criança violou o padrão é preciso olhar para esse
caso isolado e tentar entender melhor de onde vem o comportamento tão
prepotente.
Hoje em dia existe uma
enorme confusão aqui em terras brasileiras com relação à educação. E é um tal
de pais entregarem seus filhos às escolas na crença cega de que o pimpolho
sairá de lá um lorde inglês e com conhecimento de filósofo alemão. Mas em casa
o filho faz o que quer, passa o dia no videogame, desobedece os pais e
eventualmente despreza a autoridade dos empregados.
Educação é aquele
conjunto de regras transmitidos de pais para filhos como uma carga genética. O
que a escola transmite é conhecimento. Portanto, escola não educa, quem educa é
o convívio familiar.
Pergunto, que tipo de
pai pode gerar um filho tão incapaz de entender a regra mais elementar, bíblica
e basilar da educação que é a obediência? Que tipo de exemplo esse garoto tem
em casa para ignorar tão descaradamente os perigos que envolvem o enfrentamento
de um animal feroz? Uma criança que atiça descaradamente um animal selvagem
como o tigre respeita seus professores? Obedece seus pais?
É o reflexo da falta
de cuidado na educação, não da escola, mas aquela da formação do caráter. Quem
enfrenta um tigre não é corajoso - como escreveram alguns - ou simplesmente
desobediente?
Chamou-me a atenção o
comentário de vários jornalistas que reforçaram o fato de no momento do
acidente não ter nenhum vigia, embora o zoológico tenha se defendido alegando
que a área é monitorada por quatro fiscais.
Ora, jornalistas são
pessoas esclarecidas, viajam e normalmente voltam do exterior sempre com uma
história de civilidade na ponta da língua. Ficam impressionados que nos museus
americanos o visitante deposita o valor em uma caixa que fica ali, ao alcance
de qualquer um, mas ninguém pega. Contam - impressionados - que na Áustria as
padarias deixam o leite fora e as pessoas pegam e depositam as moedas em um
pote, sem ninguém vigiando.
Mas cobram o fato de
naquele local do zoo não haver um vigilante. É ISTO que quero chamar a atenção:
educação não é um comportamento expresso diante de fiscalização, o nome disso é
obediência. Educação é o comportamento do indivíduo quando não tem NINGUÉM
olhando!
Por isso a Prefeitura
de SP instalou mais uma centena de radares e câmeras de vigilância, porque o
motorista só consegue se manter educado sob constante fiscalização. Porque não
foi educado. Os motoristas/motociclistas mal e porcamente foram instruídos,
quando foram... E os ciclistas nem isso!
Pela ótica do
jornalismo sensacionalista podemos perder a esperança em trânsito solidário sem
que haja uma fiscalização opressiva e constante, como no zoológico. Não basta
uma placa de proibido estacionar, precisa ter um fiscal. Não basta investir em
passarela ou ciclovia, tem de fiscalizar. Não basta avisar que o leão é bravo,
precisa colocar o braço lá dentro!
Texto: Motite
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