Acabar com o marasmo e retomar a força da OAB
O pré-candidato à Ordem dos Advogados do Brasil, Marco Túlio Murano Garcia, teve seu nome indicado pelo grupo de oposição, após a desistência de Luís Claudio Pereira. Segundo Marco Tulio, o nome a capitanear a disputa tem menos relevância do que a proposta e a convicção de que é necessário um grupo de pessoas dedicadas e competentes para bem gerir a Ordem.
Fazer a campanha discutindo ideias, por uma OAB forte
Dirceu Martins: Você é pré-candidato após a desistência de Luís Claudio Pereira, o Bito, isso representa um rompimento?
Marco
Tulio Murano Garcia: Ele
desistiu. No primeiro arranjo que nós fizemos, nós somos um grupo,
e para nós, vale mais o grupo do que as pessoas individualmente
consideradas. Nós entendemos, e eu tenho convicção disso, de que
não se administra a Ordem dos Advogados sozinho. Você precisa de um
grupo de pessoas com vontade e com tempo para administrar a Ordem.
Essa é a primeira receita para administrar a Ordem: grupo. O
presidente sozinho não faz nada. Ele precisa de pessoas dispostas e
com disponibilidade de tempo para administrar.
Esse
grupo, num primeiro momento, quando começou a pensar nas
candidaturas, discutiu nome e chegou à conclusão que aquele momento
seria o ideal para o lançamento da candidatura do Bito, por uma
série de fatores. Só que infelizmente, no meio deste processo o
escritório no qual ele trabalha acabou se envolvendo numa demanda
judicial que ganhou a mídia. E isto acabou gerando uma exposição.
Lamentável, mas aconteceu.
Dirceu
Martins:
E o grupo entendeu que essa exposição prejudicaria...
Marco
Tulio: Ele
mesmo fez essa análise. O grupo o apoiaria em qualquer
circunstância. A gente nunca tem garantia, quando entra numa
eleição, de ganhar ou de perder. As vezes o cenário é bom e pode
ficar ruim e vice-versa. Chegou um momento em que ele resolveu
desistir e eu posso dizer que ele desistiu porque eu estava presente
na sala quando ele desistiu. Quando ele desistiu, que estávamos
cogitando outros nomes, inclusive o meu, deixei claro que com duas
condições eu seria candidato: primeiro que você desista, porque se
você não desistir eu estarei com você até o fim, acho que é uma
escolha sua; e a segunda que você possa me apoiar. Naquele momento
ele disse que me apoiaria e que não queria compor chapa porque era
um momento de cuidar da vida pessoal, responder às discussões.
Posteriormente ele, por circunstâncias políticas, se alinhando a
outro candidato. É importante frisar que eu não me considero
candidato de segunda ocasião, um estepe. Acho que a gente tem
pessoas no nosso grupo pessoas com condições de ser candidato, com
disponibilidade, com história dentro da Ordem.
Dirceu
Martins:
O Ary Raghiant não seria o nome mais lógico desde o princípio?
Marco
Tulio: Talvez
fosse o nome mais indicado, porque participou da última eleição.
Mas o Ary entende que tem que haver revezamento. Então, dentro do
grupo o meu nome era forte e surgiu naturalmente. Eu costumo dizer
que a OAB é uma noiva que eu sempre quis beijar, mas tem que
aguardar o momento. Acabou surgindo o momento de eu beijar a noiva.
Dirceu
Martins:
Seu nome foi o consenso do grupo?
Marco
Tulio: Foi
consenso de um grupo que congrega três ex-presidentes, Fábio Trad,
Geraldo Escobar e Vladimir Rossi, sendo que o Vladimir já foi
tesoureiro e vice presidente do Conselho Federal, Geraldo foi
presidente da Escola Nacional de Advocacia. Eu costumo dizer que para
nós a OAB é um corrida de revezamento, que não importa quem vai
passar na faixa segurando o bastão, porque a vitória vai ser de
todo mundo.
Dirceu
Martins:
O Júlio César Souza Rodrigues perde quando tem como opositor o
Alexandre Bastos, que faz parte do grupo que dirige a Ordem, hoje?
Marco
Tulio: Eu
vejo da seguinte forma, só existe uma oposição, que somos nós, o
nosso grupo apoiado pelo Othon Nasser. Os outros dois candidatos são
situação.
O
Alexandre faz parte da atual diretoria, como presidente da comissão
do exame da Ordem, está no grupo de apoio a ele parte da diretoria,
inclusive a secretária geral da ordem, Dra. Luciana [Cássia de
Azambuja], e vários conselheiros. Na essência a situação se
dividiu em dois.
Dirceu
Martins:
Isso enfraquece a situação?
Marco
Tulio: Eu
Acho que fica complicado para eles, porque se houve uma ruptura é
porque alguma coisa não foi bem, a tal ponto de esse grupo de
dirigentes e conselheiros terem saído.
Eu
não pretendo fazer campanha discutindo pessoas, tenho profundo
respeito por todos eles. Eu pretendo discutir ideias e, nesta ótica,
o discurso da situação com o Julio e o discurso da situação com o
Alexandre, fica complicado. Porque como dizer que farão alguma
coisa, como tem sido dito a jornais, se eles tiveram três anos para
fazer e não fizeram? Então eles terão que responder isso para os
advogados. Explicar, inclusive a dissidência.
Essa
administração da ordem, incluindo todos os que pertencem às duas
chapas, vai ficar marcada como a gestão que permitiu que o horário
de atendimento do Fórum fosse reduzida drasticamente.
Dirceu
Martins:
E não houve uma tomada de posição?
Marco
Tulio: Nenhuma.
Nada de efetivo, eficaz, forte.
A
semana passada a OAB ocupou o horário nobre da TV convocando os
advogados para reunião de emergência para tratar de um assunto que
é antigo, que é a morosidade da justiça.
Isso
enfraquece o discurso. Agora eles estão dizendo que vão trabalhar
para voltar o horário. Mas faz dois anos que isso mudou. Por que só
agora? Por que não discutir, colocar os interesses da advocacia para
uma discussão? Tem que ter uma posição. Nós advogados somos
acostumados a defender posições, a OAB não foi advogada nesse
momento, não defendeu a posição dela. E quando ela não defende a
posição da Ordem, ela vai defender a posição de quem?
Dirceu
Martins:
Nesta gestão a defesa da cidadania foi deixada de lado?
Marco
Tulio: A
OAB tem dois papéis muito importantes, o primeiro deles é a defesa
da advocacia e do advogado, porque sem advogado forte não existe uma
OAB forte e o segundo papel, que é uma missão constitucional é a
defesa da sociedade, que nós chamamos de defesa dos temais
institucionais. A OAB ganhou este status de defensora da sociedade
por conta da luta em defesa dos interesses sociais, mesmo e
principalmente nos momentos mais duros das diversas ditaduras.
É
fundamental que a OAB defenda essas causas e a sociedade espera isso
dela. Ela é uma caixa de ressonância da sociedade. Quando ela
discute um tema, ele passa a ser ouvido. Ela tem que levar a voz
daqueles que não podem gritar, dos excluídos, dos que estão
marginalizados e são vítimas de discriminação e violência. A OAB
precisa voltar a fazer isso. Quando a OAB perde força, o advogado
também perde.
Estamos
assistindo uma disputa e um conflito e uma disputa jurídica sem
precedentes, que é a questão da disputa por terras indígenas, que
está afetando os indígenas e os não indígenas, está afetando o
estado, gerando violência. A Ordem não se manifestou. Ela tem que
defender o Estado Democrático de Direito. Você tem nesse caso uma
omissão da União, e a Ordem não convocou a sociedade para uma
discussão.
Dirceu
Martins:
Uma das questões que também se coloca em épocas de eleições na
Ordem é que os advogados que se intitulam ‘da base’ se sentem
isolados, alheios à disputa e à administração. Qual a sua
posição?
Marco
Tulio: Pode
ter um fundo de verdade nessa reclamação, mas eu, Marco Túlio,
pretendo fazer uma chapa aberta. Aliás, quando houve o lançamento
da chapa da candidatura do Dr. Edgar Calixto, que representa este
grupo, eu fui a única pessoa que estava lá, antes mesmo de ser
candidato, que estava lá prestigiando esta candidatura. Eu acho que
todas as vertentes da advocacia têm que estar representadas na
Ordem. A Ordem não pode ser excludente, tem que ser inclusiva. Ela
tem que pensar no advogado individual, no novo advogado, no idoso,
corporativo, público então eu acho salutar esta movimentação. E
eu digo a você que na minha chapa tem espaço para este advogado.,
eu acho que a gente tem que aumentar o número de advogados que
administra a Ordem, ela não pode ser administrada por um grupo
apenas. Uma Ordem plural. Nós estamos com uma chapa aberta, sem
nenhum cargo fechado. O meu compromisso é fazer uma boa gestão para
o advogado, para isso eu preciso trazer para o grupo todos os
advogados e todos os interesses. Os advogados de base tem razão na
reclamação e eu espero que eles possam vir para somar conosco.
Dirceu
Martins:
Você está abrindo uma possibilidade de diálogo com todos os
segmentos?
Marco
Tulio: Com
toda a certeza. Tanto que eu estive lá. Talvez o único fora do
grupo que estava lá, em sinal de respeito a esta iniciativa.
Dirceu
Martins:
Exame da Ordem e a qualidade dos formandos em Direito. Como
administrar essa questão?
Marco
Tulio: Eu
sou um defensor intransigente do Exame da Ordem. Acho que é um mal
necessário, nós precisamos do exame como um mecanismo de controle
do acesso à advocacia. Para ser juiz é necessário concurso, para
promotor, delegado, defensor público, então para ser advogado você
também tem que se submeter a concurso. Porque nós temos uma
proliferação de cursos de direito, muitos de má qualidade,
preocupados em representar lucro para as universidades do que
investir na formação de um bom profissional. Não investem em
professor, não têm infraestrutura, livros. Não significa dizer que
aqueles que não passem sejam profissionais ruins, não é isso,
porque um exame tem uma série de fatores, mas de uma maneira geral
aqueles que não passam é porque não estão preparados para a
advocacia. As faculdades fazem pressão porque tem interesse em
“vender diplomas”, não em formar bons profissionais. Ai fica uma
massa que eu chamo de corpo a procura de alma.
E
vou criar uma comissão de ensino na OAB estadual para que a gente
fiscalize as condições de ensino nas faculdades. Se os professores
estão sendo bem remunerados, com condições dignas de trabalho, se
existe biblioteca, vamos fiscalizar o escritório de prática
forense. Existe um programa que é a OAB Vai a Escola, para discutir
cidadania, vamos criar a OAB vai à Faculdade, para visitar as
faculdades e fazer palestras sobre a advocacia, a ética. Porque a
faculdade não é de advocacia, é de direito. Precisamos inserir a
noção da advocacia. Ética, honorários, contratação,
prerrogativa.
Dirceu
Martins:
Inclui a Universidade Federal que está sucateada?
Marco
Tulio: Todas
as Universidades. Fui professor da Federal e posso dizer que o nível
dos alunos é muito elevado, mas falta infraestrutura.
Dirceu
Martins:
Advogados do interior: tem alguma proposta específica?
Marco
Tulio: Sou
do interior, tenho grandes amigos e advogo muito no interior, e a
classe é marginalizado. A Ordem só lembra na época de eleição e
na hora de cobrar anuidade. Nós tínhamos a OAB itinerante que ia ao
interior conversar com os advogados, conhecer os problemas in loco.
Eu tenho o compromisso de descentralizar a administração criando
polos em cidades chaves pela quantidade de advogados com certa
autonomia para resolver os problemas imediatos, e reativar a OAB
itinerante, que eu vou chamar de OAB Participativa. Eu quero ir além.
Eu quero despachar pelo menos uma vez por mês nas comarcas do
estado. Precisamos incentivar a cultura jurídica local através da
Escola Superior de Advocacia (ESA), através de palestras que
interajam com os advogados do interior. Eles são os que mais sofrem
com a violação das prerrogativas, com o autoritarismo do juiz, do
delegado, do promotor.
Dirceu
Martins:
Em função da distância, apenas?
Marco
Tulio: Em
função da distância e, nós temos que entender que os delegados e
promotores do interior estão em começo de carreira e estão em fase
de aprendizado que os faz serem, por vezes, mais autoritários. A
Ordem tem que estar lá, ser rápida em caso de desrespeito do
advogado. Eu não aceito que o advogado do interior seja esquecido ou
marginalizado.
Dirceu
Martins:
A campanha em prazo menor permite mais discussão de ideias e menos
ataques pessoais?
Marco
Tulio: Eu
não só acredito com espero. Meu compromisso é com isso, a
discussão de projetos e ideias. Se houver ataques é porque quem
ataca não tem ideias. Nós somos advogados, acostumados a combater,
com ideias e não com ofensas. Vamos discutir modelo de gestão.
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