Virada de cabeça para baixo, assim está uma sociedade que não se sacia,
nunca satisfaz seus mais profundos desejos de uma beleza imposta, sabe-se lá
por quem. Mais uma morte na busca inconstante do desejo de se destacar num
mundo que valoriza, a cada vez mais, o aspecto físico, a beleza incomensurável,
a coisa feita de plástico, de produtos.
Quem terá mais culpa? A falta de família, que não
exalta e elogia os atributos físicos das pessoas, é permissiva com suas
vontades, seus desejos, sem conversa, sem compreensão? O mercado bandido e
marginal daqueles que arriscam tudo para obter lucros? A sociedade que se
degenerou a tal ponto de valorizar coisas tão imbecis quanto uma aparência de
estética de corpo perfeito, baseada nessa coisa de “imagens de computador” ao
prazer de seus criadores, sem entender que por detrás de imagens de telas
existe uma complexidade de chips e microchips enquanto a imagem real e palpável
das pessoas existe uma complexidade de órgãos e sutilezas psíquicas que as
máquinas, por mais avançadas que sejam, não conseguiram, ainda, definir e
compreender?
É compreensível a busca da beleza, a autoestima,
afinal todos querem e devem se mirar no espelho e ver-se belo. Dizia o poetinha
Vinicius de Moraes, com propriedade: “As muito feias que me perdoem / Mas
beleza é fundamental. É preciso / Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
/ Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture / Em tudo isso (ou
então / Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República
Popular Chinesa). / Não há meio-termo possível. É preciso / Que tudo isso seja
belo.”
Então de quem é a culpa pelas mortes?
É disso que falamos:
Uma jovem de 25 anos morreu na noite desta
quarta-feira (24) depois de passar por um procedimento estético ilegal em
Lorena (SP). Segundo o pai da vítima, ela contratou duas pessoas para injetar
silicone nos glúteos - a suspeita é que o produto era silicone industrial. A
Polícia Civil vai investigar a morte e procura os profissionais responsáveis
pela aplicação do produto em Dayane Rodrigues da Silva.
O pai disse que a filha contratou dois
profissionais de Jacareí que vendiam ‘tratamentos estéticos’ ao custo de R$ 1,5
mil.
Durante o procedimento, com base em informações
dadas por Dayane à uma amiga e conversas encontradas pela família no celular
dela, Dayane passou mal e foi abandonada pela dupla, que sugeriu que ela estava
tendo 'queda de pressão'.
Vamos sair da questão psicológica e estética
Quantas pessoas ainda sofrerão com deformações ou
mortes na busca pela beleza se permitindo buscar o melhor preço pela pior
qualidade? Será que não têm noção do custo de um curso de medicina, com
especialização em estética? Não sabem que esse conhecimento exige estudos sobre
o corpo humano, que é formado de diversos sistemas: respiratório, circulatório,
digestório, cardiovascular ou circulatório, muscular, nervoso, endócrino,
excretor, linfático, reprodutor e ósseo?
Não sabem, ou não querem saber? Essa jovem pagou R$
1.500, pela sua vida, de apenas 25 anos. Poderia, até ficar desfigurada ou com
sequelas, ainda que viva estivesse.
A culpa maior, sim, recai sobre esses bandidos
assassinos que fizeram o procedimento, mas respinga em várias outras pessoas
envolvidas. Recai um pouco sobre todos nós que exigimos por preconceitos de
beleza, a perfeição que não nos cabe.
A verdadeira beleza está em luto. A jovem morreu, a
vítima somos todos nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário