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sábado, 27 de abril de 2019

Morreu por um glúteo. Mais uma vítima de assassinos que atuam entre a beleza e a morte


Virada de cabeça para baixo, assim está uma sociedade que não se sacia, nunca satisfaz seus mais profundos desejos de uma beleza imposta, sabe-se lá por quem. Mais uma morte na busca inconstante do desejo de se destacar num mundo que valoriza, a cada vez mais, o aspecto físico, a beleza incomensurável, a coisa feita de plástico, de produtos.

Quem terá mais culpa? A falta de família, que não exalta e elogia os atributos físicos das pessoas, é permissiva com suas vontades, seus desejos, sem conversa, sem compreensão? O mercado bandido e marginal daqueles que arriscam tudo para obter lucros? A sociedade que se degenerou a tal ponto de valorizar coisas tão imbecis quanto uma aparência de estética de corpo perfeito, baseada nessa coisa de “imagens de computador” ao prazer de seus criadores, sem entender que por detrás de imagens de telas existe uma complexidade de chips e microchips enquanto a imagem real e palpável das pessoas existe uma complexidade de órgãos e sutilezas psíquicas que as máquinas, por mais avançadas que sejam, não conseguiram, ainda, definir e compreender?

É compreensível a busca da beleza, a autoestima, afinal todos querem e devem se mirar no espelho e ver-se belo. Dizia o poetinha Vinicius de Moraes, com propriedade: “As muito feias que me perdoem / Mas beleza é fundamental. É preciso / Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso / Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture / Em tudo isso (ou então / Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa). / Não há meio-termo possível. É preciso / Que tudo isso seja belo.”

Então de quem é a culpa pelas mortes?

É disso que falamos:

Uma jovem de 25 anos morreu na noite desta quarta-feira (24) depois de passar por um procedimento estético ilegal em Lorena (SP). Segundo o pai da vítima, ela contratou duas pessoas para injetar silicone nos glúteos - a suspeita é que o produto era silicone industrial. A Polícia Civil vai investigar a morte e procura os profissionais responsáveis pela aplicação do produto em Dayane Rodrigues da Silva.

O pai disse que a filha contratou dois profissionais de Jacareí que vendiam ‘tratamentos estéticos’ ao custo de R$ 1,5 mil.

Durante o procedimento, com base em informações dadas por Dayane à uma amiga e conversas encontradas pela família no celular dela, Dayane passou mal e foi abandonada pela dupla, que sugeriu que ela estava tendo 'queda de pressão'.

Vamos sair da questão psicológica e estética

Quantas pessoas ainda sofrerão com deformações ou mortes na busca pela beleza se permitindo buscar o melhor preço pela pior qualidade? Será que não têm noção do custo de um curso de medicina, com especialização em estética? Não sabem que esse conhecimento exige estudos sobre o corpo humano, que é formado de diversos sistemas: respiratório, circulatório, digestório, cardiovascular ou circulatório, muscular, nervoso, endócrino, excretor, linfático, reprodutor e ósseo?

Não sabem, ou não querem saber? Essa jovem pagou R$ 1.500, pela sua vida, de apenas 25 anos. Poderia, até ficar desfigurada ou com sequelas, ainda que viva estivesse.

A culpa maior, sim, recai sobre esses bandidos assassinos que fizeram o procedimento, mas respinga em várias outras pessoas envolvidas. Recai um pouco sobre todos nós que exigimos por preconceitos de beleza, a perfeição que não nos cabe.

A verdadeira beleza está em luto. A jovem morreu, a vítima somos todos nós.



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