"O jornalismo
é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício
cotidiano do caráter"
Cláudio Abramo
Abrimos
e abrilhantamos esta matéria com uma citação de Cláudio Abramo, ícone maior do
jornalismo nacional, falando sobre a profissão de jornalista. Mas devemos
lembrar que a profissão só é plena se existe uma base para que se concretize,
um órgão administrado de tal forma que permita a plena expressão dos conhecimentos
jornalísticos, a divulgação dos fatos – e insistimos que são fatos, não a
verdade, porque verdade é relativa e a sua busca se dá no campo da filosofia.
De que vale a imprensa? Qual
o real teor do trabalho que desenvolvemos? Estas questões são a tônica do mover
jornalístico. Por vezes deprime, mas na maior parte do tempo atua como
combustível que alimenta o “proteger a sociedade”, na forma de informá-la e
equipá-la do conhecimento necessário, dos saberes cotidianos, com as quais se
municia para combater por sua própria força, os desmandos e descalabros que
tentam lhe impingir.
Noticiar um crime não é dar
vazão a sentimentos mórbidos, mas alertá-la dos frestas sociais que criam e
alimentam a violência. O mesmo com relação aos atropelamentos. Falar da guerra
é alertar para a necessidade da paz. Falar da miséria é fazê-la pensar nas
maneiras de se prover um mundo melhor. Os espaços estão em branco e devem ser
preenchidos, gostaríamos, como qualquer cidadão do mundo, de recheá-los de
coisas boas.
O jornal impresso não é além
de parte da imprensa, limitado pelo espaço físico da publicação, circunscrito
pela informação possível. A luta diária do informar é um caminhar em busca de
casos, causos, acontecimentos, possibilidades. Erramos, não estamos isentos de
uma informação mal formulada, de uma análise equivocada, mas não nos detemos.
Nosso erro é, ainda assim, um aprendizado para nós e uma reflexão aos nossos
leitores.
Sentimo-nos nesse momento,
orgulhosos pela nossa participação nas manifestações que ocorrem por todo o
país, nos seus resultados. Por quê? Pois muitas das reivindicações – e não são
poucas – são desde muito, erros denunciados pela imprensa de um modo geral.
Tarifas extorsivas, taxas
absurdas, impostos escorchantes, má gestão pública, insegurança
econômico-social, malversação do dinheiro público, condenações não cumpridas,
escárnio de homens públicos à opinião popular, descaso. Tudo visto, tudo
sabido, tudo refletido através da imprensa. Somos parte.
É possível independência?
A
imprensa sobrevive de publicidade, e o maior anunciante do Brasil, de forma
geral, e em particular nos estados fora do grande eixo de maior desenvolvimento
é o Estado. Não podemos prescindir das verbas do legislativo e executivo.
Queremos
e lutamos por publicidades públicas? Sim, temos uma empresa para tocar, mas não
significa que devemos estar atrelados e obedientes a esta verba.
Sempre
acreditamos na nossa utilidade para o crescimento social. Resta que os políticos,
de modo geral, compreendam que a imprensa livre é esteio de um estado forte e
dinâmico. Se não acreditavam por acanhamento, as ruas têm aberto seus olhos e
suas mentes.
Enfim.
O
jornal deve manter sua independência editorial, criticando ou elogiando sempre
de forma ética e respeitosa. Aos empresários cabe saber que a importância da
imprensa é maior do que anunciar seus produtos ou serviços, ela forja um povo
consciente, que faz o estado crescer, que gera o desenvolvimento que permitirá
que todos cresçam.
“Com uma pitada de
amargura, Abramo se perguntava qual o objetivo dos jornalistas brasileiros, e
como se estivesse seguro da resposta – fazer carreira, ganhar dinheiro –,
despedia-se, protestando: – Então já não sou mais jornalista, já pertenço a uma
espécie em extinção.”
Não queremos, definitivamente os bons
jornalistas extintos, não desejamos a boa imprensa esquecida, sobrepujada pelas
notas curtas e meramente informativas dos sites – embora sejam imprescindíveis
e atendam de maneira satisfatória a velocidade da informação num mundo globalizado,
mas pretendemos ser um espaço permanente para a discussão de ideias.
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